quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Encontros Inusitados: Padre Cícero x Lampião x Coluna Prestes

A Coluna Prestes foi um movimento encabeçado por líderes tenentistas, ocorrido entre os anos de 1925 a 1927.  O movimento deslocou-se pelo interior do país pregando reformas políticas e sociais e combatendo o governo oligárquico do presidente Arthur Bernardes (1922 – 1926), que governou o País sob constante estado de sítio.  

Em sua marcha pelo Brasil, os integrantes da Coluna Prestes denunciavam a miséria da população e a exploração das camadas mais pobres pelos líderes políticos.

Alguns membros da Coluna Prestes em sua passagem pelo Ceará

Sob o comando principal de Miguel Costa e de Luis Carlos Prestes, a Coluna enfrentou as tropas regulares do Exército ao lado de forças policiais dos vários Estados por onde passou, além de tropas de informais formadas por jagunços e outros “fora-da-lei”, que partiam para o confronto, estimulados por promessas oficiais de anistia. 
Durante dois anos e meio a Coluna Prestes percorreu 25.000 km pelo interior do Brasil. Apesar dos esforços, não conseguiu sensibilizar a população que, influenciada pela propaganda oficial, temia a presença dos revolucionários em seu território.

Por volta de 1925 rumores davam conta de que a Coluna Prestes se aproximava do Ceará. Diante disso, o governo federal encarregou o deputado federal Floro Bartolomeu de organizar a defesa do território cearense. 
Em dezembro de 1925, Floro chegou a Juazeiro trazendo armas, munição e dinheiro para organizar os chamados “batalhões patrióticos”, cujos componentes eram jagunços enviados por latifundiários da zona sul cearense. Com a proximidade dos tenentes, vários núcleos urbanos se despovoaram tamanho era o pânico dos moradores. 

Mas, não satisfeito com as medidas até então adotadas para enfrentar a Coluna Prestes, Floro Bartolomeu acabou por protagonizar um dos fatos mais pitorescos da passagem dos revoltosos pelo Ceará: resolveu convidar o cangaceiro Lampião, para combater os rebeldes e defender a legalidade.  Sediado em Campos Sales, cidade localizada no sul cearense, com seus batalhões de jagunços, Floro teria enviado um mensageiro portando uma carta para o “rei do cangaço” – carta referendada e assinada também por Padre Cícero – pedindo a presença do cangaceiro em Juazeiro.  

Padre Cícero e Floro Bartolomeu - a união entre religião e política no sertão do Ceará

Lampião por ser devoto de Padre Cícero, evitava atacar o Ceará, mas ao receber o convite do padre apressou-se a atendê-lo, chegando a Juazeiro com cerca de 50 homens, no inicio de março de 1926, quando a Coluna já havia deixado o Estado.  Naquela cidade, num único e marcante encontro, Lampião, após ser aconselhado por Padre Cícero a deixar aquela vida de bandidagem, comprometeu-se a combater a Coluna Prestes, recebendo armas, fardamentos e uma patente de capitão do Exército.

Capitão Virgulino Ferreira

A presença de Lampião em Juazeiro provocou alvoroço. Uma multidão se formou para ver o famoso cangaceiro e seu bando. Lampião concedeu entrevistas, bateu fotos, ofertou esmolas à igreja local, recebeu visitas e foi agraciado com presentes, sem ser incomodado pela polícia. 
O bando deixou Juazeiro satisfeito, sobretudo com o documento que dava ao chefe a “patente” de capitão – o que correspondia ao perdão de seus crimes e a não ocorrência de mais perseguições por parte da polícia – que havia sido assinado a pedido de Padre Cícero pela única autoridade federal em Juazeiro: um agrônomo do Ministério da Agricultura, chamado Pedro Albuquerque Uchoa.

Conta-se que chamado mais tarde a Recife, para explicar tamanho absurdo, o agrônomo teria dito aos seus superiores que, naquelas circunstâncias, e com o medo que tinha de Lampião, ele teria assinado até a demissão do presidente Arthur Bernardes.

Contudo, Lampião não foi combater a Coluna Prestes. O cangaceiro, agora definitivamente nomeado Capitão Virgulino Ferreira, talvez tenha temido a fama de guerreiros dos tenentes, talvez tenha ficado irritado ao descobrir que a “patente” não tinha valor legal, portanto, não valia nada. Virgulino ainda tentou falar com Padre Cícero, mas este se recusou a recebê-lo novamente. 

O patriarca de Juazeiro foi duramente criticado pela imprensa de Fortaleza, a qual usou o episódio como prova da proteção que o padre fazia a criminosos. Apesar do acontecido, Lampião nunca perdeu o respeito nem a admiração que tinha por Padre Cícero. 

Padre Cícero Romão Batista

Em junho de 1927, Lampião voltou ao Ceará, após uma fracassada tentativa de saquear Mossoró, no Rio Grande do Norte. O bando ocupou Limoeiro do Norte, exigindo uma quantia em dinheiro como “resgate”.


bando de Lampião em Limoeiro do Norte 

Chegando a Limoeiro, e ciente de que pisava em terras cearenses, Lampião ordenou aos seus bandoleiros que nada roubassem, pois em solo em que pontificava o padre Cícero não era para ser atacado. Supersticioso, o cangaceiro tinha pelo velho padre verdadeiro fanatismo. Os fazendeiros cearenses foram por isso, poupados da sanha destruidora de Lampião e seu bando. Antes de atingir a cidade, Lampião hospedou-se na casa de fazenda do coronel Anísio Batista dos Santos na Lagoa da Rocha, distante da sede 36 quilômetros. No dia 15 de junho, Virgulino Ferreira encontrou-se com o prefeito, coronel Felipe Santiago, exigindo deste a quantia de 15 contos de Reis pelo resgate da cidade que fora quase que totalmente abandonada pela população. O prefeito expôs a situação ao vigário padre Vital Gurgel Guedes e a outras autoridades. Foi então feito um apelo ao cangaceiro para que reduzisse a quantia imposta, pois as pessoas de posses haviam se retirado para um lugar seguro diante da aproximação do bando.Lampião diminuiu para 6 contos de Réis, ao que as autoridades asseguraram ser impossível juntar, acrescentando que só dispunham de 2 contos, o que levou Sabino, valente cangaceiro, a dizer que aquilo era uma ninharia. Lampião notando a intromissão de Sabino sem que tivesse sido chamado a isso, aceitou os 2 contos sem protesto.

Dias após deixar Limoeiro, Lampião sofreu uma emboscada feita por 500 policiais, perdendo grande parte das provisões, munições e montarias. 
Com poucas armas, a pé na caatinga, os cangaceiros travaram em seguida outro tiroteio com a polícia, desta vez na Serra da Macambira, em Pernambuco. apesar da escassez de armamentos, os bandidos derrotaram centenas de policiais, fazendo aumentar nos sertões a lenda do “rei do cangaço”. Ajudados por coiteiros, os cangaceiros escaparam para os sertões de Pernambuco.    

A Outra Versão para o Encontro

Os fiéis juazeirenses até hoje reagem com indignação a esse relato do encontro entre Padre Cícero e Lampião. Segundo uma versão que veio a público em data recente, Lampião teria “ouvido falar” que Padre Cícero precisava de ajuda para combater os “revoltosos”, e compareceu espontaneamente a Juazeiro.
Pego de surpresa com a presença dos cangaceiros, e sem outras opções, Padre Cícero viu-se obrigado a hospedar Lampião, por temê-lo e para evitar um confronto do bando com a população.  Padre Cícero encontrou-se então, duas vezes com o rei do cangaço e não lhe teria dado nem as armas nem a “patente”, porque como prefeito, não tinha poderes para tanto. 

O secretário de padre Cícero Benjamim Abraão em fotos dos anos 1930 ao lado do bando de Lampião. O libanês registrou as únicas imagens fotográficas do cangaço.

Segundo ainda essa versão, foi o secretário de Padre Cícero, o libanês Benjamin Abraão, que teria sugerido, em tom de brincadeira, que a “patente” poderia ser dada pelo agrônomo. Vendo o interesse do cangaceiro, Abraão viu-se obrigado a convencer Pedro Uchoa a redigir o documento.  

Benjamim Abraão ao lado de Padre Cícero 

Também teria sido sua a ideia de confeccionar e dar fardamentos dos ”batalhões patrióticos” aos cangaceiros. Essa versão exime totalmente tanto o Padre Cícero quanto Floro Bartolomeu de qualquer responsabilidade na contratação dos serviços do bando de Lampião. 


fonte: História do Ceará de Airton de Farias


10 comentários:

Jaime Silva disse...

Adorei. Ansioso para ler mais sobre a historia do nosso Ceará.

Franklin Dantas disse...

Muito bom....

Franklin Dantas disse...

Muito bom....

Luís Flávio disse...

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....... ( Família Accioly no Brasil ) ........ .

Compartilhem com os "Accioly's" que você conhece; Convidem à todos!!!

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Luís Flávio disse...

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Origem da família Accioly;

Por Francisco Antonio Doria:

Accioly, Accioli, Accioli, são variantes de Acciaioli, Acciaiuoli ou Acciajuoli, nome de uma família florentina patrícia, pertencente ao partido guelfo, de origens muito modestas e obscuras no século XII. Segundo a lenda, certo Gugliarello Acciaiuoli, de uma família de armeiros de Brescia (porque o nome se derivaria de acciaio, aço), sendo guelfo, teve que fugir de sua pátria devido às perseguições de Frederico Barbarroxa, que havia invadido a Itália.

Gugliarello chega a Florença em 1160, compra terras onde é hoje o Borgo de' S.S. Apostoli, e no Val di Pesa, onde edifica uma `casa di signore' nas ruínas do antigo castelo de Montegufoni. Era banqueiro, e comerciante de panos de lã.

Gugliarello é atestado em documentos (dois, se bem me lembro). O resto é fabulação, tirante as propriedades que se lhe atribuem (até hoje há, perto do castelo de Montegufoni, uma herdade de nome La Gugliarella). O nome da família pode derivar-se de accia, `meada' (eram comerciantes de panos), ou mesmo de acerola, pois há a forma `Azzaroli.' Era, de qualquer modo, um personagem modesto, embora rico, esse Gugliarello; uomo di bassa condizione...

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Luís Flávio disse...

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Apresentação "A Revolta do Juazeiro aconteceu no sertão do Cariri ...
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Causas - Intervenção do governo central no ceará, retirando do poder a tradicional família Accioly

http://slideplayer.com.br/slide/1752192/

Rochinha disse...

PARABÉNS PELA MATÉRIA

literatura e pensamento disse...

Muito bom a matéria histórica. Vou reporduzir no meu blog tarauacaagora.blogspot.com.br
Leandro Matthaus

Luís Flávio disse...

O Ceará de Nogueira Accioly Parte 1 Por:Manoel Severo

Nogueira Accioly

A mais longa e emblemática oligarquia da velha república no Ceará teve como principal protagonista Antônio Pinto Nogueira Accioly, que durante mais de dezesseis anos comandou com mão de ferro e um aguçado senso de sobrevivência política os destinos do Ceará em um dos mais conturbados e violentos períodos políticos da república.
Nogueira Accioly, nasceu na cidade cearense de Icó em outubro de 1840, era filho de portugueses e casou com dona Maria Teresa de Sousa, filha do casal, Tomas Pompeu de Sousa Brasil; senador e sacerdote; e dona Felismina Filgueiras; uma das mais tradicionais famílias do estado.
Em 1864 formou-se em direito em Recife e acrescentou o Accioly , da avó materna a seu nome. A partir do prestígio de seu sogro, senador Pompeu, tomou gosto pela política, ao qual quase veio a suceder na cadeira senatorial cearense, logo após o império, fato que não se concluiria em função da proclamação da república...

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2014/01/o-ceara-de-nogueira-accioly-parte-1.html

O Ceará de Nogueira Accioly Parte 1 Por:Manoel Severo
cariricangaco.blogspot.com/.../o-ceara-de-nogueira-accioly-parte-1.html
23 de jan de 2014 - A mais longa e emblemática oligarquia da velha república no Ceará teve como principal protagonista Antônio Pinto Nogueira Accioly, que ...
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Anônimo disse...


Bom demais. História do Ceará.