O Ceará ingressou nos anos 40 sob o impacto da
Segunda Guerra Mundial. Um intenso noticiário sobre os afundamentos de navios
brasileiros por submarinos inimigos, Buarque, Olinda, Cairu, Cabedelo,
Parnaíba, e outros, geravam manchetes nos jornais com narrativas dramáticas
sobre os afundamentos.
Depois começaram a chegar a Fortaleza as vítimas: os
náufragos americanos sobreviventes, recolhidos nas praias de Camocim após o
torpedeamento do Eugen, perto do farol de Jeriquaquara; em seguida, os náufragos portugueses do
Balkis, afundado a 63 milhas de Fortaleza, acolhidos no Astoria Hotel, no centro da Cidade. Há uma
comoção generalizada, acompanhando a indignação nacional, que se transforma em
festiva explosão, a 22 de agosto de 1942, quando o Brasil declara guerra ao
Eixo.
A história da capital ficou marcada por todos esses
eventos: as manifestações antifascistas, organizadas pela Comissão de Defesa
Nacional; a mobilização de reservistas para o serviço ativo do Exército; a
presença das Pirâmides para a Vitória, construídas pela população com materiais
inservíveis que seriam aproveitados na produção de guerra; a intensa
movimentação aérea das bases aliadas do Pici e do Cocorote; a partida dos
pracinhas para a Itália; os militares americanos inseridos no cotidiano da
cidade; as hostilidades contra súditos do Eixo; o racionamento de combustíveis,
os transportes a gasogênio, e os dirigíveis blimps nos céus da cidade.
Em 1942 têm inícios os exercícios de defesa passiva
antiaérea, após ampla divulgação de instruções para a população e determinações
rígidas para os serviços públicos. O sinal de alarme era dado por meio de
sirenes e sinos, com toques breves, repetidos a curto intervalo. A orientação
para os pedestres, em circulação pela cidade, era procurar abrigo imediatamente,
nos edifícios mais próximos; nas ruas
descobertas deitar-se de bruços. As instruções, bastante detalhadas, determinavam
a paralisação de todos os veículos em caso de ataque, e estabelecia
procedimentos para condutores e passageiros dos tramways.
Nessa época foi decretado rigoroso blackout na
região costeira de todo o Estado, segundo determinações das autoridades, no
sentido de que fossem eliminadas todas as luzes que pudessem ser observadas. A execução
plena dessa medida ocorreu na noite do dia 15 de dezembro de 1942: às 19:30 horas
foi apagada a iluminação interna dos prédios, e o escurecimento total da
cidade, meia hora mais tarde. No primeiro dia do corte de energia foi feito por
desligamento da força na própria usina; posteriormente foi transferida para a
população a responsabilidade pelo blackout da cidade.
flagrante de uma passeata ocorrida no dia 18.08.1942. Um popular carrega um retrato de Getúlio Vargas pedindo ao presidente que saia de cima do muro.
O Jornal “Gazeta de Noticias” publicou uma nota da
Secretaria do Serviço de Defesa Passiva Antiaérea de Fortaleza, onde se
estipulava que, em função do Estado de Guerra, o movimento nas ruas deveria ser
encerrado às 22 horas; a iluminação pública não seria permitida a partir desse
horário, principalmente na praia e no centro da cidade. Dentre estas normas do
blackout, por tempo indeterminado, as que se referiam às residências,
recomendavam: “todas as vidraças,
venezianas, etc, externas, deverão ser cobertas com papel ou fazenda preta, ou
reforçadas com madeira, de modo que não haja filtração da luz”.
Na noite de Natal desse ano, a “Missa do Galo”
deixou de acontecer à meia-noite, em função das regras rígidas de iluminação
noturna. Em 21 de dezembro de 1942, o “Correio do Ceará” anunciou: “em consequência do blackout adotado na
cidade, Fortaleza quebrará este ano, uma tradição, não realizando suas missas
das 24 horas, no Natal, tão a gosto do povo católico e sempre concorridíssima.
A providência, porém, não prejudicará o povo católico que no dia 25 poderá
acorrer em massa para as igrejas, comemorando liturgicamente a data do
nascimento de Cristo.”
A obrigatoriedade de cumprimento das leis do blackout
permaneceu em vigência até 1° de dezembro de 1943.
Ainda em 1942, as dificuldades se ampliam com novos problemas. O jornal “O Povo” descreve os problemas da cidade e a grave crise por que passa a Ceará Light, concessionária da energia e dos transportes públicos, impossibilitada de importar novos equipamentos e materiais imprescindíveis à manutenção preventiva: “Fortaleza está vivendo dias de falta. É a cidade dos sem. Sem água, sem carne, sem leite, sem luz”.
Ainda em 1942, as dificuldades se ampliam com novos problemas. O jornal “O Povo” descreve os problemas da cidade e a grave crise por que passa a Ceará Light, concessionária da energia e dos transportes públicos, impossibilitada de importar novos equipamentos e materiais imprescindíveis à manutenção preventiva: “Fortaleza está vivendo dias de falta. É a cidade dos sem. Sem água, sem carne, sem leite, sem luz”.
Com o inverso escasso de 1941 e a demora das chuvas de 1942, as cacimbas
secaram. A água do Acarape, principal fonte de abastecimento de Fortaleza, não chegava a abastecer 6.000 prédios. A usina da Light
consumia em suas caldeiras as águas do Pajeú,
os poços tubulares da usina não produziam nem 10% da água que as máquinas
necessitavam e consumia 20% de sua força no tratamento da água para
aproveitá-la novamente. Quando o Pajeú secou, a Light passou a utilizar a água
do mar que, apesar de tratada, tinha efeito corrosivo sobre os metais.
Fontes:
A História da Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite
Ideal Clube – história de uma sociedade, de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos do arquivo Nirez, Ah, Fortaleza e do livro de Ary Bezerra Leite
Ideal Clube – história de uma sociedade, de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos do arquivo Nirez, Ah, Fortaleza e do livro de Ary Bezerra Leite
Um comentário:
Minha avó, mineira, morava em Fortaleza com meu avô que era engenheiro agrônomo do Ministério da Agricultura . Eu me lembro de ela falar sobre esse blecaute em Fortaleza por causa da Guerra.
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