quinta-feira, 4 de julho de 2013

Fortaleza e a Iluminação a Azeite de Peixe

Pouco mais de dez anos após sua elevação a cidade, Fortaleza dá os primeiros passos para a introdução da iluminação pública. A pequena cidade evoluía, embora ainda bem atrás de outras vilas cearenses, como Aracati e Icó. Surge em 1824 o seu primeiro jornal, o Diário do Ceará, dirigido pelo Padre Mororó (Gonçalo de Loiola Albuquerque Melo). As letras e as artes são incentivadas.  Cidade ganha um arruamento ordenado, contando com novos prédios públicos, como a Alfândega e o Mercado Municipal.

 Passeio Público - Avenida Caio Prado em 1908

Em 25 de julho de 1834, o Conselho da Província, refletindo o anseio coletivo de dotar a cidade de melhoramentos que contribuíssem para o seu progresso, propõe ao Presidente Inácio Correa de Vasconcelos, que fossem instalados 100 lampiões de azeite de peixe nas principais ruas e travessas.
Acolhendo a proposição, o presidente da província oficiava então, a 5 de abril de 1834, ao ministro do Império Chichorro da Gama, pedindo que intercedesse junto à Assembleia Legislativa para que esse benefício fosse concedido à população, enfatizando na sua justificativa que “da escuridão da noite se valem os malvados”.

 Palacete Guarani, esquina da Rua Formosa com a Rua das Hortas (Barão do Rio Branco com Senador Alencar) foto de 1908

O primeiro ato efetivo para a introdução da iluminação pública ocorreria, porém, na gestão do padre José Martiniano de Alencar, que pela lei n° 18, de 6 de outubro de 1835 proclamava, em seu artigo 1°, que “haverá lampiões para iluminação das ruas desta cidade”.
O assentamento dos postes e a previsão orçamentária, no valor de um conto de reis, para o contrato de fornecimento de azeite de peixe, indicam o esforço do Presidente da província em cumprir o texto legal. Seu governo, porém, termina a 25 de novembro de 1837, quando renuncia, alegando enfermidade. 

 Avenida Epitácio Pessoa, atual Almirante Tamandaré

Da efetividade das medidas então tomadas para instalar na cidade a iluminação pública não se tem comprovação, no que pese o historiador Paulino Nogueira afirmar que “Alencar dotou-a também de uma iluminação a azeite, da qual ainda hoje se encontram nas esquinas de alguns edifícios particulares  os aparelhos já envelhecidos em que se dependuravam os lampiões”.

 Praça do Ferreira com o cajueiro da mentira e alguns lampiões

O momento histórico da introdução de iluminação pública na província, passa a ser definitivamente 1° de março de 1848, data em que por iniciativa do presidente Casimiro  José de Morais, são iniciados os trabalhos de instalação dos lampiões. 
Os termos contratuais do governo com Vitoriano Augusto Borges, cidadão português que se integrou à vida da cidade, para instalação de 44 lampiões, obrigava o contratado a mantê-los sempre limpos e brilhantes; a conservá-los acesos desde as 6 horas da tarde ate que amanhecesse o outro dia, ou, até que viesse a lua. Nas noites de luar, ficava obrigado a fazer acendê-los, do seu ocaso em diante. 

 Avenida Pessoa Anta (antiga Rua da Praia)

A opção pelo azeite de peixe acompanhava, àquela época, uma tendência nacional. Cidade como o Rio de janeiro já industrializavam a extração do óleo de baleia, comercializado para uso nos lampiões de óleo. Em 1810, na então capital do país, eram cobrados impostos para aplicação nos serviços de iluminação por lampiões de azeite de peixe, constatando que os mesmos eram falhos e deficientes.
Na costa do Ceará, teria ocorrido a dizimação das baleias e do peixe-boi a partir do século XVIII, utilizados para o consumo da carne e na produção de óleo, consequência da atividade predatória dos corsários e dos Tremembés, índios célebres pela ferocidade e que eram hábeis pescadores, o que se leva a deduzir que o azeite usado na iluminação de Fortaleza era importado de outros Estados.

 Antiga Rua Direita dos Mercadores (atual Rua Conde d'Eu) restaurada pro Sidney Souto
A do gás carbônico sucedeu a do azeite de peixe , que começou em 17 de setembro de 1866 com a iluminação de algumas ruas, do clube cearense e de alguns edifícios. Os combustores de gás foram instalados em ziguezague, com distância de 30 metros entre cada um e colocados do mesmo lado da rua.


Os lampiões tinham 4 faces, eram mais estreitos em baixo do que em cima, com tampa e fundo de metal. Ficavam suspensos de uma armação de metal, cravados nas esquinas de modo que iluminassem tanto as ruas como as travessas. Pendiam de uma corda, que passavam por duas roldanas que permitia que descessem até a altura necessária a que se pudesse limpar e acender. (imagem meramente ilustrativa, do blog vias positronicas)

Desse período de memorável, de experiências inovadoras na cidade, fica também a lembrança de um homem simples, o primeiro acendedor de lampiões a percorrer as ruas da cidade, na tarefa diária de acender e apagar os pontos de iluminação, cujo nome, Francisco, seria substituído na consagração popular pela alcunha de Chico Lampião.


Fotos do Arquivo Nirez
Extraído do livro de Ary Bezerra Leite
História da Energia no Ceará

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