quinta-feira, 25 de julho de 2013

Fortaleza, segunda metade dos anos 40


Praça do Ferreira em 1940, com o Edifício São Luiz em construção

Em meados dos anos 40, a população de Fortaleza, de cerca de 200 mil habitantes, assim como as demais cidades do Brasil e do mundo, vivia ainda a euforia pelo término da Segunda Guerra Mundial, e mostrava um clima de comemoração pelo fim do conflito.
Talvez por ser tão pequena, Fortaleza era uma cidade com ares aristocráticos, era francesa no seu aculturamento. 
A Franca determinara a formação das senhoritas de boa estirpe, comandava a moda, o padrão das lojas, e de suas artísticas vitrines, a vida social que acontecia no Clube Iracema, no Clube dos Diários e no Ideal Clube. Por isso era comum naquela época, as moças "de boas famílias"conversarem em francês e tocarem piano nos fins de tarde, nas senhoriais moradias do centro da cidade.

Edifício onde funcionava a Casa Parente na Rua Guilherme Rocha esquina com a Barão do Rio Branco

Também era chique assistir à sessão das sete e meia do Cine Diogo, fazer compras na Casa Sloper, ver as vitrines da Casa Parente, merendar no Jangadeiro ou no Eldorado, ter  na sala uma ampliação colorida da Aba Film, usar perfume Promesa, encomendar chapéus às Irmãs Almeida, frisar os cabelos na Madame Santinha, comprar tecidos finos na A Cearense ou na Broadway e, aos domingos, assistir a missa das 8 na Capela das Missionárias, na Avenida Rui Barbosa.

anúncio da loja A Cearense (Revista Verdes Mares)

Em agosto de 1945 com o término da guerra e a debandada dos soldados americanos, as “Coca-Cola” estavam em recesso, embora ainda fizessem sucesso. As damas de fino trato usavam peças de bronze e alabastro para ornamentar suas casas, não dispensavam os cristais da Bohemia, as baixelas de prata, os abajures com cúpula de pergaminho legítimo, os aparelhos de jantar em faiança “castelo azul” de origem chinesa, comprada via Inglaterra.

Vila Morena (Estoril) imóvel construído na Praia de Iracema entre 1920 e 1924 que durante a 2a. Guerra funcionou como cassino dos oficiais norte-americanos, baseados em Fortaleza.

Fortaleza nos idos de 1945 compunha-se além do centro, que era comercial e residencial, de poucos bairros e, consequentemente, de poucas linhas de bondes e de ônibus.  A vida era pacata. Nas calçadas das residências, à noite, formavam-se as chamadas rodas de calçadas com papos variados e as reuniões iam noite a  dentro. As ruas muito limpas eram pavimentadas com paralelepípedos, com pedras toscas ou concreto. As praças eram ajardinadas, fartamente arborizadas e frequentadas por pessoas de todas as idades. Havia segurança, não se ouvia a palavra assalto e ladrões, só os de galinha. Podia-se andar livremente, a qualquer hora do dia ou da noite, em todos os quadrantes da cidade, sem o menor receio.

 Praça da Sé, anos 40 (cartão postal da época)

Não havia exploração nem carestia, os preços das mercadorias, principalmente dos chamados “secos e molhados” passavam até um ano sem serem alterados.  A moda também era duradoura. Roupas, sapatos e chapéus eram usados até a saturação. Não havia técnicos de marketing determinando que a moda tinha de ser efêmera e mudar continuamente para agradar às indústrias têxteis. 

anúncio da Alfaiataria Amâncio, uma das mais famosas da cidade

Tampouco havia a indústria da confecção, todo mundo era obrigado a comprar os tecidos e procurar os alfaiates e as costureiras para a confecção de suas roupas.
Os homens usavam ternos de linho irlandês de dia, e de casimira inglesa à noite.  As mulheres usavam muita seda francesa,  com estampa florais sobre o fundo negro, musselinas para os vestidos de noite, com muito laço, muito drapeado e fivelas. Os sapatos eram quase sempre combinados de pelica e camurça, abertos de preferência e, não raro, os ditos plataforma, inspirados em Carmem Miranda. As luvas e os chapéus eram indispensáveis, até para as compras; os decotes eram discretos, as saias desciam até esconder os tornozelos envoltos em meias de seda.

 anúncio da loja Crysanthemo

As compras de mercearia e comestíveis importados eram efetuadas na Casa Tupy, na Casa Joana D’Arc, na A Miscelânea, na Casa Leitão, na Casa Tabajara e na Leão do Sul. O Posto Mazine oferecia os melhores carros de aluguel e era de bom tom, tomar sorvete no Café Belas Artes, no Palácio do Comércio, após sair das sessões noturnas do Diogo e do Moderno.
 
anúncio do Cine Moderno (do livro A Tela Prateada)

Os cinemas do centro apresentavam duas sessões, sendo uma às três e meia e a outra às sete e meia. Assim era Fortaleza em 1945, quando as mulheres se arrumavam para sair, se faziam elegantes para ir ao cinema, quando as bijuterias eram filigranas e marcassitas, quando as meias eram de seda, quando as sombrinhas protegiam dos raios solares as “cútis aveludadas como pétalas de rosas”.

Extraído do livro de Marciano Lopes
Royal Briar, a Fortaleza dos anos 40.

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