quinta-feira, 13 de junho de 2013

O Riacho Pajeú

Primeiro Mapa de Fortaleza, feito pelo Capitão-Mor Manuel Francês. O traço forte do Pajeú divide em duas a Vila de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção.
  

A história de Fortaleza passa por esse fio de água que viu a cidade nascer. O Riacho Pajeú, com tempo de existência estimado em 7000 anos, aparece nos primórdios da cidade, quando esta nada mais era do que um pequeno povoado com algumas construções toscas e esparsas, como pode ser visto no primeiro Mapa de Fortaleza, feito pelo Capitão-Mor Manuel Francês. A intensa urbanização e a ocupação que começou desde de seu nascimento justamente pelas margens do Riacho Pajeú, trouxeram danos graves ao corpo hídrico.

 Trecho do Pajeú que corre ao lado do Mercado Central
Até as duas primeiras décadas dos 1900, o Riacho Pajeú era um norte para a cidade, que crescia formosa a oeste de sua margem esquerda. Até então a cidade era pouco mais do que hoje é conhecido como centro da cidade, limitada pelo riacho. Em 1918, foi canalizado pela antiga Diretoria de Obras Públicas. 
 O crescimento sem limites - inclusive, atropelando o espaço de mananciais como o Pajeú - é registrado a partir da década de 1960 e se intensifica na década seguinte. No início da década de 1980, a Prefeitura realiza uma obra de canalização que "afoga" 3.360 metros do Pajeú, modifica o leito original e desvia o curso pelas edificações já existentes. A partir daí o Pajeú, perde seu leito natural, sua fauna e sua flora. 

 trecho do Parque das Esculturas, entre a Avenida D. Manuel e Rua 25 de Março
O Pajeú, segundo estima a SER II tem 4.714 metros de extensão e a nascente, hoje aterrada,  fica na Aldeota nas proximidades da rua Silva Paulet. Percorre várias ruas do Centro até desembocar entre o Marina Park Hotel e a Indústria Naval Cearense. 
Mas não há consenso quanto ao local do nascimento do recurso hídrico. No recorte do Inventário, "suas nascentes, hoje aterradas para a implantação de edifícios sobre o leito natural, situam-se no quarteirão formado pelas ruas Silva Paulet, José Vilar, Bárbara de Alencar e Dona Alexandrina”.
O geógrafo José Borzachiello da Silva, por sua vez, aponta a nascente do Pajeú “nas proximidades da avenida Barão de Studart, na altura da avenida Heráclito Graça/rua Júlio Ventura”; o memorialista Nirez se aproxima de Borzachiello e marca o nascedouro no quarteirão da avenida Heráclito Graça, esquina com João Cordeiro. 

 O Riacho Pajeú, que viu a cidade nascer, sujo e poluído em toda sua extensão
Em 1995, quando o então prefeito Antônio Cambraia projetou a construção do atual Mercado Central, o problema de maus tratos contra o Pajeú veio à tona uma vez mais. A edificação se anunciava com quatro pavimentos, 596 lojas, estacionamento para 1.500 carros, 50 ônibus e 80 táxis. Detalhe: à beira do Pajeú.
O poder público, na época, anunciava a construção de um “Parque Ecológico às margens do Riacho Pajeú, com 15 mil metros quadrados de área”. Mas não foi feito nada além do Mercado.
Alvo de tantas agressões, sofridas no decorrer dos anos, ainda hoje corre incólume sob prédios, avenidas e em canais abertos.



Sujeira, lixo, lama, e esgotos clandestinos. O Riacho Pajeú de hoje em nada lembra as águas límpidas que abasteciam a vila com os primeiros moradores de Fortaleza, há 287 anos. A maior parte da população ignora a importância desse pequeno rio, de somente 4,7 km, para a formação do Município de Fortaleza. Muitos fortalezenses nem mesmo sabem que esse córrego de águas fétidas que corre ao lado do Mercado Central é o histórico Pajeú. 

17 comentários:

Fátima Garcia disse...

ninguém se importa nem com a memória da cidade, e muito menos com seu meio natural, Erivaldo Lima.

Anônimo disse...

Olá Sra. Fátima Garcia. Estou fazendo um trabalho acadêmico sobre o Riacho Pajeú e gostaria de saber se você tem algum arquivo (fotos, documentos, livros) que possa me auxiliar no meu trabalho. Grato, Francisco Fernandes.
e-mail: franciscofernandess@gmail.com

Unknown disse...

óla eu estou fazendo um trabalho do riacho pajeu e quero informaçoes sobre ele valeu bjs sofia

Fátima Garcia disse...

aurila freire, envie um email que eu lhe envio este post sobre o riacho

Unknown disse...

Muito bom, parabéns! Realmente é muito triste ver a situação desse antigo Riacho.Um problema que nós mesmos desenvolvemos e deixamos de lado, seria muito bom ver ele limpo novamente. Isso porque é nossa historia, e temos que conservar com muito vontade. :(

Unknown disse...

Parabéns a todos que se preocupam com o RIACHO PAJEÚ e que cada vez mais surjam pessoas e informações, que com certeza, um dia será visto por autoridades que ainda possam fazer algo pela sua revitalização ou pela sua MEMÓRIA. RONALDO NOGUEIRA.

Unknown disse...

Parabéns a todos que se preocupam com o RIACHO PAJEÚ e que cada vez mais surjam pessoas e informações, que com certeza, um dia será visto por autoridades que ainda possam fazer algo pela sua revitalização ou pela sua MEMÓRIA. RONALDO NOGUEIRA.

Érico Sales disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Érico Sales disse...

Fátima Garcia, onde tem início o Riacho Pajeú?

De acordo com as informações do seu blog (Fortaleza em Fotos), a nascente do mesmo não mais existe. Todavia deve haver um local onde o riacho começa. Como seria possível obter essa informação?

Obrigado.

AFSJ disse...

De um modo geral, brasileiros pouco se importam com as coisas do passado, muito menos com as marcas históricas. Recordo que algum professor do primário (Fundamental 1 - hoje) mencionou qualquer coisa sobre o riacho Pajeu. Foi coisa rápida... Surpreende-me a ignorância do povo de Fortaleza sobre esse corpo hídrico, tão importante para a cidade como meio natural e apontamento sócio-histórico. A origem do bairro Aldeota brota do seu nascedouro - águas límpidas e margeadas por palmeiras... Os índios residiam alí. A cidade cresceu e, desde o início do século XX, o pequeno Pajeú foi sendo aterrado a cada obra urbana para o DESENVOLVIMENTO INSUSTENTÁVEL da cidade. Subjetivamente, pode-se até pensar que o riacho era feio, descartável e/ou prejudicial aos habitantes da cidade, ou até mesmo à contemplação dos humanos ou ainda (em exercício de imaginação) era nocivo ao crescimento municipal. Na verdade, a exploração da área ganhou vulto após a Segunda Grande Guerra... Terrenos começaram a ser vendidos, casas foram construídas e muitas artérias urbanas foram abertas e outras ampliadas. Lembro que a cidade de Fortaleza, na primeira metade da década de 1970, praticamente encerrava na av. Estados Unidos (hoje av. Virgílio Távora) - indo pela av. Santos Dumento, logo depois do Center Um, primeiro Shopping de Fortaleza, inaugurado em 1974. Ufa!!! Alonguei-me demais. Apenas um desabafo. Quando as pessoas compreenderem que a História do seu espaço de vivência é importante para a sobrevivência da vida naquele lócus, naturalmente a cidade volta a embelezar-se e as pessoas espontaneamente se apresentarão bem mais alegres... Por enquanto, só matança (da História, dos recursos naturais e da própria vida - todas elas). Abraço forte e FELIZ 2018.

Antonio Ricardo disse...

Realmente lamentável. Esse riacho é algo quase inédito no mundo por ter sua nascente e fiz tão próximas uma da outra. O que lhe da tao pequena extensão. É a alma histórica da cidade, merece um melhor olhar do poder público.

Antonio Ricardo disse...

Perfeita observação. Vale também lembrar que o carrossel de vaidades dos que vivem o poder é tão grande que promove o soterramento da história da propria cidade. Nomes de Ruas, logradouros e monumentos históricos sao substituidos dia a dia por nomes de autoridades públicas e de pessoas que, pouquissimas vezes, contribuiram com a história da cidade. Onde anda a historica Avenida Aquidabã? Só pra citar um exemplo.

Anônimo disse...

Adoro historia, principalmente quando se abordam assuntos de preservação, seja de rusticas construções; demais prédios, igrejas, estações ferroviárias, escolas e em especial nossos mananciais, sejam lagoas, (açude aqui não houve, que eu saiba), rios e riachos, praças públicas, etc... mas, sempre tem algo mais que esta faltando nesse pequeno trecho da historia, pois sempre só vejo editarem conhecimentos da região do lado leste, bairro Aldeota... e sabemos que o famoso Riacho Pajeú, do belo baião, do Rei Luiz Gonzaga... ta incompleto, pois nada narram, em algo mais profundo de suas entranhas, especialmente da região do lado Oeste, que acredito seja o bairro antigo de Jacarecanga... Ou estou enganado, pois no mapa o Capitão Francês, o rabisca dessa forma e feição...

https://radionewsmorrinhos.blogspot.com/ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
https://radionewsmorrinhos.blogspot.com/ disse...

Todo esse descaso só vem a confirmar uma coisa que todos nós já sabemos: "O ser humano é um ser vil, sem memória, insensível e sem escrúpulos.

lucianohortencio@gmail.com disse...

https://www.youtube.com/watch?v=cwwsiocL148

Anônimo disse...

Eu só vejo aqui doutores no assunto quando se fala em riacho Pajeú, eu tinha um sugestão de um bem leigo, porém interessando em eliminar de vez esse lenga, lenga que não leva a nada, mas que só vai servir para que o problema continue ainda por muito tempo sem solução. Mas que tal a aprovação na Câmara municipal de um projeto de um vereador propondo a construção de viadutos em todo os locais por onde esses problemas se arrastam ao longo de tantos anos.