Rua Barão do Rio Branco, a antiga Rua Formosa
Na década de 1940, as pensões alegres situavam-se no centro
da cidade, de preferência no andar superior de velhos casarões, vizinhos ou
próximos a casas comerciais. A polícia realizava rondas frequentes nas ruas
mais procuradas pelos boêmios.
Para os de mais recursos, havia os motéis
ambulantes com os carros de praça, os
automóveis dos postos Mazine, Vitória, Nove e Pará, da Praça do Ferreira. Mediante pagamento de uma boa gorjeta, os
motoristas levavam os casais à Praia do Futuro, então sem asfalto e sem risco
de assalto. Ficavam fumando, sentados numa pedra, num monte de areia contando
as estrelas no céu, enquanto o banco traseiro do carro servia de quarto de
motel. Era incômodo, as moças ficavam “faladas”, mas ninguém deixava de namorar
por causa disso. A polícia agia com
frequência no contraditório combate à prostituição, que não podia nem seria
compensador extinguir.
Além do mais “a
caça” era dirigida aos desregrados, aos alcoólatras, e às mulheres
tuberculosas. Na Coréia, um dos bairros miseráveis localizados na Volta da
Jurema, situavam-se vários cabarés, um
deles, chamado de ”coaça”, estava localizado bem próximo aos grandes clubes e a
belas residências. Ali na Coréia, em casas toscas habitavam mundanas, maconheiros, ladrões
e criminosos “procurados”.
a desaparecida Rua Franco Rabelo, zona de prostituição no Arraial Moura Brasil
Em outros bairros da periferia, aumentavam as reclamações
contra os prostibulos. Em Porangabuçu e no Campo do Pio também residiam
mulheres suspeitas, que costumavam ser apanhadas por rapazes em automóveis,
muitas vezes dirigindo embriagados. O Arraial Moura Brasil representava uma das
zonas perigosas, bem próximo ao centro, onde crianças e adolescentes conviviam
com prostitutas. Calculava-se em cerca de 800 prostitutas no bairro, também conhecidas como as 'mulheres do curral", onde a água escorria pelo calçamento e poucos casebres dispunham de sanitários.
Nas proximidades do Estádio Presidente Vargas, na Rua Marechal
Deodoro, as casas suspeitas animavam as noitadas de pândega, gerando protestos
contra a gritaria e a bebedeiras, com as mulheres em trajes inadequados. No
Cercado Zé Padre, nas ruas desertas e escuras, também se encontravam mocinhas
prostituídas.
Carro de Polícia, chamado popularmente de "Madalena"
Rua Floriano Peixoto, início do século XX
Até mesmo as casas populares mantidas pela
Legião Brasileira de Assistência (LBA) eram denunciadas por serem utilizadas por meretrizes que recebiam
proteção de pessoas de recursos. A resposta da LBA aos ataques agravou a situação,
decidindo vender as casas e lançando diversas famílias ao desabrigo. A Delegacia de Ordem Política e Social
organizou uma campanha contra o meretrício, mas o próprio jornal defensor da
medida em defesa da moral pública (O Nordeste), reconhecia os exageros cometidos.
Nas proximidades do velho farol do Mucuripe, instalou-se uma das principais zonas de prostituição de Fortaleza (foto do blog)
Em 1952, na zona portuária do Mucuripe cerca de 600 mulheres
foram ameaçadas de despejo pela Secretaria de Polícia, pois algumas famílias exigiam
a transferência dos prostíbulos pra outros locais.
A decantada defesa da moral
pública, o combate à prostituição e malandragem criou um clima de medo
constante nos bairros pobres. O “regime da lata”, ou seja, o trabalho gratuito
e forçado dos presos em obras públicas foi uma imposição do secretário de
Segurança Cordeiro Neto, que ganhou prestígio e foi eleito prefeito da cidade.
Rua Major Facundo, início do século XX
Conta-se que certa vez a Polícia recolheu alguns
homossexuais que vadiavam pelas ruas de Fortaleza e os condenou ao “regime da
lata”. Eles passaram pela Praça do Ferreira, num caminhão da polícia, rumo à
tarefa que lhes fora imposta. Na Praça do Ferreira, naturalmente, levaram a
maior vaia. Um dos presos, um negro alto, forte e largo como um armário, que
destoava no meio dos rapazes, reagiu às vaias distribuindo “bananas” e
explicando com orgulho: Não sou veado, eu sou é ladrão.
fotos do Arquivo Nirez
Extraído do
texto de Gisafran Nazareno Mota Jucá
Fortaleza,
cultura e lazer (1945-1960)
Publicado no
livro Uma Nova História do Ceará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário