Estranha coincidência: o Cine Majestic desapareceu sob
chamas na noite do ano novo de 1968, e hoje o Cine Moderno encerra suas
atividades com o filme “Paris está em Chamas?”
em cartaz.
Manchete do Jornal no dia do encerramento do Cine Moderno
A chama da saudade vai se acender nos corações de milhares
de fortalezenses que contam acima de 50 anos de idade quando lerem esta
notícia. O Cine Moderno foi na década de
30 o ponto de convergência, de encontro, da sociedade de Fortaleza, lugar chique, elegante. No seu
hall ou na sala escura surgiram muitos amores e aconteceram momentos de alegria
e mesmo de tristeza na vida daqueles fortalezenses que viveram aquela época
suave e romântica de uma cidade ainda provinciana.
Um Pouco da História
Construído por iniciativa de Plácido Carvalho com o fim
específico de uma casa exibidora de filmes, o Cine Moderno foi inaugurado no
dia 7 de setembro de 1921. A
exploração do cinema ficou a cargo do Sr. Luiz Severiano Ribeiro, fundador da
Empresa Ribeiro, hoje o magnata da indústria e do comércio cinematográfico em
nosso País.
“Carmem” foi o filme que inaugurou aquela casa de
espetáculos, que hoje fecha as portas após 46 anos de atividades, exibindo o
filme “Paris está em Chamas?” O prédio
foi construído por Luis Gonzaga Flávio da Silva, ainda vivo, com 85 anos de
idade , construtor também do Palace Hotel, do Majestic, do Palácio do Plácido e
do Banco Frota Gentil.
Durante oito anos, o Moderno apresentou filmes mudos
animados por um piano perto do palco. As sessões eram noturnas (duas por noite)
e o preço do ingresso custava custa 1 mil reis (equivalente hoje a NCR$
1,00). Em 1930 o Moderno lançou em
Fortaleza o cinema falado, com o filme “Broadway Melody”, com Charles King e
Bessie Love. Somente há dois anos esse cinema passou a adotar o sistema de
exibição em Cinesmacope.
Um dos filmes que fez maior sucesso no Moderno foi “O Rei Vagabundo”, com Jonette Mac Donald. Até 1940 quando foi inaugurado o Cine Diogo apresentando o filme “Balalaika”, o Cine Moderno liderou em nossa capital, durante 18 anos, portanto, a vida social noturna de Fortaleza. Suas soirées eram sempre frequentadas pela alta sociedade de nossa capital, todos com suas melhores roupas e vestidos num verdadeiro desfile de elegância. Nesse longo período, o Moderno foi o que o Cine São Luiz (inaugurado em 1958), representa hoje para a nossa sociedade, ou seja, o cinema da elite.
Cinemas Desapareceram
Nos últimos dez anos quando a população de Fortaleza
duplicou, os cinemas, ao contrário de irem aumentando, foram desaparecendo. Assim
é que deixaram de funcionar os cinemas Rex,
Ventura (na Aldeota), Centro, Majestic, Nazaré, América, Mecejana, e
agora, o Moderno. A cidade conta
atualmente com apenas cinco casas no perímetro central; São Luiz, Diogo,
Samburá, Art e Jangada. Esses cinemas, a
maioria de péssimas instalações e oferecendo pouco conforto aos seus
frequentadores, são óbvios, insuficientes para atender ao publico, ocorrendo
sempre superlotação.
O Cine-teatro Majestic-Palace encerrou as atividades no mesmo ano do Cine Moderno
Destino do Moderno
O prédio do Cine Moderno foi vendido ao Sr. Edson Queiroz pelos herdeiros de Plácido de Carvalho ao preço de NCR$ 400 mil, devendo ser entregue ao novo proprietário dentro de trinta dias. O Sr. Edson Queiroz ainda não definiu como utilizará aquele imóvel, se instalará uma loja de eletrodomésticos ou se construirá um edifício.
Algum tempo depois, no mesmo ano de 1968, o prédio foi demolido - grifo nosso.
Reprodução de reportagem publicada no Jornal Correio do
Ceará, edição de terça-feira, 21 de maio de 1968.
fotos do Arquivo Nirez, do livro Tela Prateada e do Jornal Correio do Ceará
fotos do Arquivo Nirez, do livro Tela Prateada e do Jornal Correio do Ceará
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