Conta Otacílio de Azevedo, em seu livro “Fortaleza Descalça”
que ele participou da passeata em repúdio aos atos de vandalismo da polícia do
velho oligarca Antônio Pinto Nogueira Accioly que, dias antes, investira contra
algumas crianças, esmagando-as sob as patas dos seus cavalos, no evento conhecido como a Passeata das Crianças.
À frente da passeata ia Odete de Paula Pessoa, levando um
estandarte. Ao dobrar a Rua General Sampaio rumo à Praça do Ferreira foram atacados
pela cavalaria. O povo reagiu: estavam todos armados e municiados. Do alto dos
prédios partiam balas de todas as direções, toda a província virou uma praça de
guerra. O povo assaltou as casas de venda de armas, a Casa Villar foi
arrombada.
A Casa Villar ocupava todo o quarteirão da Rua São Paulo entre As Ruas Major Facundo e Barão do Rio Branco, até 1959, quando encerrou as atividades.
A casa em que viveu o almirante Rufino de Alencar, na Rua
Antônio Pompeu, era uma bodega, onde havia um letreiro com o nome “Fortaleza de
Santa Rita”. Muitos soldados foram mortos ali. Os que se entregavam aos
revoltosos eram levados por Rodolfo Teófilo para sua residência, nas imediações,
tratados, alimentados e eles mudavam de
lado, passando para o lado dos revoltosos.
Muitos dos combatentes arrombavam a machado as portas das
mercearias, e saíam com garrafas de cachaça e, ao beberem, se refaziam e
voltavam à luta. Havia na Praça dos Voluntários, em frente ao antigo prédio do
Liceu, uma enorme cacimba que foi obstruída com corpos de soldados mortos pelos
adversários do oligarca, dominados pelo desejo de vingança.
Fábrica Progresso, fundada
em 1884 por Tomás Pompeu de Sousa Brasil, e Antônio
Pinto Nogueira Accioly exclusivamente para fabricação de redes. A implantação
dessa indústria foi o marco inicial do processo de industrialização do
Ceará, onde até então a única atividade equipada com maquinário era a
tipografia. O estabelecimento foi depredado durante a Revolta Popular de 1912
Todas as casas da família de Accioly foram incendiadas,
inclusive a sua grande fábrica de tecidos, a maior do Estado. Era uma multidão de homens, mulheres e até
crianças, que avançavam numa onda compacta, derrubando tudo à sua passagem,
avançando sempre, não importando os obstáculos. Havia os ladrões, que se
aproveitavam da situação.
Durante três dias e três noites as balas sibilaram. O
bispo Dom Joaquim saiu a pé do Palácio Episcopal e foi buscar o oligarca
Accioly, com risco de ser morto, e levou-o para a Escola de Aprendizes
Marinheiros, de onde o velho babaquara foi embarcado para o Rio de janeiro. Se
ficasse aqui, sua morte era certa.
Paço Municipal no início do século XX, de onde o bispo Dom Joaquim saiu em busca de Nogueira Accioly, para levá-lo à Escola de Aprendizes Marinheiros
Mas Accioly voltou, apoiado por Pinheiro
Machado e Hermes da Fonseca. Fizeram-no voltar ao governo, desta vez apoiado
pelo Exército. Teria que governar mesmo contra a vontade do povo. Entretanto, o
próprio comandante do Exército, vendo que, longe de resolver a situação, isso
pioraria as coisas, recusou-se a empossar Accioly.
E Accioly ficou assim, à mercê de quem o prendesse. O Batalhão
dos Revoltosos procurava-o por toda parte, até que o velho foi localizado:
estava escondido na casa de seu filho, à Rua Guilherme Rocha, esquina com a
Teresa Cristina, debaixo de uma cama. Intimado a levantar-se, encostou-se a um
canto do quarto, lívido, os olhos cheios de lágrimas. Não houve por parte dos
revoltosos, nenhum ataque pessoal ao oligarca.
O deposto agradeceu o fato de ter sido deixado com vida, e
pediu para chamar o seu boleeiro, que se achava escondido no quintal da casa
com o cabriolé. Este era um negro forte, porém covarde, visto que se negou a
sair com o presidente deposto, alegando que poderia ser morto pela
multidão.
Apareceu, porém, NorbertoGolignac que se prontificou a levar Accioly. O velho pediu para ser conduzido
para a residência de Zacarias Bayma, seu maior amigo. Os dois partiram rumo ao
destino indicado.
O presidente deposto é levado para o vapor, que o levará para o Rio de Janeiro
Mais tarde, Golignac contou o resultado da arriscada
aventura: receberam uma descarga de balas, partida da torre da Igreja do
Patrocínio, mas só o cabriolé ficou danificado. Na casa de Bayma, este, ao ver
Accioly, ficou aterrorizado e disse que não podia tê-lo em casa, em razão das
constantes vistorias que os revoltosos faziam na casa. O mais que podia fazer
era leva-lo à Escola de Aprendizes Marinheiros, onde ficaria em segurança.
Afinal, Golignac levara Accioly à Ponte Metálica, guardada pela Polícia, embarcando o velho governante para o Rio de
Janeiro, pela segunda e última vez.
fotos do Arquivo Nirez
Extraído do
livro de Otacílio de Azevedo
Fortaleza Descalça:
reminiscências
Um comentário:
melhor momento de fortaleza
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