segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Formação de Novos Bairros


Avenida Treze de Maio, trecho em frente a então Escola Industrial de Fortaleza, atual IFCE  (foto do Arquivo Nirez)

Nos anos 1970, os setores médios com rendimentos que não permitiam adquirir os cada vez mais caros imóveis na Aldeota, foram ocupando áreas ao redor desta, com menor infraestrutura. Daí surgiram ou foram ampliados bairros como Joaquim Távora, Fátima, Varjota, Papicu, Praia do Futuro. Não raras vezes essa ocupação se fez via especulação imobiliária, expulsando populações de favelados, migrantes e pescadores que residiam na região – embora muitas dessas populações continuassem a residir na zona leste, como autênticos guetos de pobreza, fornecendo mão-de-obra barata para as elites: lavadeiras, empregadas domésticas, vigias, biscateiros.

Em 1950, a Imobiliário Diogo pôs á venda o loteamento que é hoje a Praia do Futuro. O terceiro da esquerda para a direita é o Governador Faustino de Albuquerque (foto do Arquivo Nirez)
 
As classes médias baixas, por sua vez, passaram a morar em residências ou edifícios construídos conforme seu padrão financeiro, em áreas ao redor do Centro ou nas proximidades das principais vias da cidade e de alguma proximidade com áreas mais caras. Surgiram então bairros como Parquelândia, Montese, Monte Castelo, Maraponga, São Gerardo. Tais regiões tornaram-se na prática, centros secundários, pelos serviços e estruturas ofertadas ao longo dos anos – comércio variado, autopeças, supermercados, agências bancárias – portanto, Fortaleza passou a ter outros centros que não apenas o tradicional centro histórico. Outra referência no crescimento da cidade era a Avenida João Pessoa, que ligava o Benfica à Parangaba. Em virtude do intenso tráfego e dos acidentes ali registrados, ela chegou a ser conhecida como “Avenida da Morte”. Em 1957 a velocidade máxima permitida na via era de 40 quilômetros por hora. 

 Avenida João Pessoa, fins da década de 40/início da década de 50 (foto do Arquivo Nirez)

Em 1950, a Avenida 13 de maio encontrava-se aberta, ligando o Benfica ao Bairro de Fátima. À proporção que os poderes públicos criavam uma infraestrutura mínima numa região da cidade, poderia ocorrer também a ação de setores imobiliários especulativos, elevando os preços dos terrenos nas áreas beneficiadas ou coagindo os setores mais pobres a deixarem o local, originando sérios conflitos pela posse da terra – exemplo disso foram as truculentas tentativas de expulsão dos moradores da Praia do Futuro, do Papicu e da Avenida José Bastos. 

 Avenida no Bairro José Walter, que a principio, era um conjunto residencial

Na luta pelo direito de moradia digna, ressurgiriam no final dos anos 70, início dos 80, vários movimentos e organizações de bairros e favelas, normalmente ligados a grupos de esquerda e que se engajariam também na crítica à Ditadura Militar.
Durante a Ditadura Militar brasileira (1964-1985), diante do estrondoso déficit habitacional e da enorme pressão popular, foram construídos conjuntos habitacionais para as camadas de médias baixas e populares – caso do Conjunto José Walter, de 1970, e Conjunto Ceará, de 1977 – mediante financiamentos do antigo BNH – Banco Nacional de Habitação.  Estes conjuntos habitacionais situavam-se em terrenos baratos e distantes do Centro e das áreas nobres, na direção do Distrito Industrial de Maracanaú.

 Avenida no Conjunto Ceará 

Os novos conjuntos habitacionais provocaram o deslocamento de parte da população da cidade e freou o acesso à metrópole. Na proximidade daqueles conjuntos, não por coincidência, migrantes constituíram, igualmente bairros pobres e favelas, a exemplo do Bom Jardim (vizinho ao Conjunto Ceará) e Planalto Ayrton Senna (vizinho ao Conjunto Zé Walter). 

Conjunto habitacional em área periférica de Fortaleza

Nos anos 1980, a construção de conjuntos habitacionais ultrapassou os limites do município de Fortaleza, sendo implantados em outras áreas da região Metropolitana, a exemplo do Nova Metrópole, em Caucaia, Timbó e Jereissati, em Maracanaú. A expansão urbana de Fortaleza, ia além de seu próprio território.    

 extraído do livro de Artur Bruno e Aírton de Farias
Fortaleza: uma breve história

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