A grande presença da população operária pobre, a transformação
da área da Avenida Francisco Sá na maior concentração industrial do Estado, e o
surgimento de favelas, foram motivos
para que os setores mais abastados – que se instalaram em belas e confortáveis
residências no bairro Jacarecanga, e em menor escala no bairro do Benfica nos
anos 1920/30/40 – buscassem outros espaços da cidade onde pudessem morar,
distantes daqueles incômodos.
A Praça Fernandes Vieira (atual Praça Gustavo Barroso)em tempos áureos(Arquivo Nirez)
As antigas mansões do bairro Jacarecanga perderam a pompa e viraram comércios (foto de Fátima Garcia)
Ainda hoje o Jacarecanga guarda lembranças de sua época de
glamour, como os grandes casarões, órgãos da administração pública e escolas, a
exemplo do Liceu do Ceará, que foi durante décadas, o orgulho da sociedade
cearense. Assim, as elites e os crescentes segmentos médios que antes já haviam
abandonado o Centro Histórico de Fortaleza, passaram a se dirigir, cada vez
mais, para os bairros nobres, da zona leste da capital, como a Praia de
Iracema, Meireles e em especial a Aldeota, onde a ocupação foi mais regular,
com lotes grandes, ruas largas e praças. É essa zona leste a cidade moderna e
bonita, geralmente conhecida pelos turistas e divulgada pelos meios de
comunicação e propaganda oficial. Para boa parte das elites, Fortaleza se restringe
aquela área e adjacências, onde moram, trabalham e se divertem – as demais
regiões são ignoradas.
Vista da Aldeota - início da década de 1970 (Arquivo Nirez)
A Aldeota tornou-se o bairro mais valorizado da cidade,
assistido de forma privilegiada pelo poder público, e apresentando uma boa
infraestrutura de serviços, comércio e diversos equipamentos. Transformou-se
num novo centro de Fortaleza, direcionado, porém às elites econômicas. Nos anos
1970 e na década seguinte, a Aldeota sofreu grande processo de verticalização. A
extrema competição pelo solo dessa parte da cidade e a busca de comodidade e
segurança, conduziram a mudanças no tipo de residências das elites: em vez de
enormes residências ajardinadas – comuns nos anos 1950-60 – passou-se a morar
em apartamentos. Os antigos casarões foram sendo demolidos, ante a especulação
imobiliária, sendo erguidos grandes espigões para consultórios, escritórios e
estacionamentos.
A valorizada região sudeste, ocupada em sua maioria por imóveis de alto padrão, também tem suas áreas carentes. Na foto, o Bairro Papicu, em primeiro plano, a Comunidade do Pau Fininho (foto de Rodrigo Paiva)
Com o adensamento populacional e de serviços na Aldeota e
suas proximidades, e todos os seus inconvenientes, muitos dos moradores de alta
renda começaram a procurar locais mais tranquilos para a sua habitação. Com a
ausência de planejamento e controle do poder público, os agentes especulativos
e imobiliários começaram a preparar novas áreas residenciais para aquele
segmento social que preferiam habitar amplas e luxuosas mansões. Não raras
vezes, tais setores adquiriam enormes terrenos, esperavam a valorização,
construíam belos prédios, realizavam intensa propaganda para atrair eventuais
compradores, vendiam ou alugavam as propriedades e obtinham lucros fabulosos.
Bairro Dunas. O nome do bairro conta sua origem: dunas que foram loteadas e ocupadas (foto de Rodrigo Paiva)
Assim foi iniciada a ocupação dos bairros Cocó, Dunas,
Papicu, Água Fria, Edson Queiroz, Parque Manibura, Cambeba e Alagadiço Novo, na
região sudeste de Fortaleza, onde havia grandes terrenos disponíveis e
destinados, anteriormente, ao uso rural.
Bairro Dunas área ainda sem urbanização (foto de Rodrigo Paiva)
Depois de receber moradores de alta
renda, então os setores públicos e privados iniciaram a estruturação da área,
elaborando planos, ofertando serviços, construindo grandes obras, vias e
equipamentos urbanos. A transferência da sede do governo estadual deu mais
ênfase à valorização dessa zona, que nesse começo de século XX se transformou
num dos eixos mais dinâmicos da cidade.
fonte:
Fortaleza: uma breve história
de Artur Bruno e Aírton de Farias
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