quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os Incomodados se Retiram

A grande presença da população operária pobre, a transformação da área da Avenida Francisco Sá na maior concentração industrial do Estado, e o surgimento de favelas, foram  motivos para que os setores mais abastados – que se instalaram em belas e confortáveis residências no bairro Jacarecanga, e em menor escala no bairro do Benfica nos anos 1920/30/40 – buscassem outros espaços da cidade onde pudessem morar, distantes daqueles incômodos. 

A Praça Fernandes Vieira (atual Praça Gustavo Barroso)em tempos áureos(Arquivo Nirez)

 As antigas mansões do bairro Jacarecanga perderam a pompa e viraram comércios (foto de Fátima Garcia)

Ainda hoje o Jacarecanga guarda lembranças de sua época de glamour, como os grandes casarões, órgãos da administração pública e escolas, a exemplo do Liceu do Ceará, que foi durante décadas, o orgulho da sociedade cearense. Assim, as elites e os crescentes segmentos médios que antes já haviam abandonado o Centro Histórico de Fortaleza, passaram a se dirigir, cada vez mais, para os bairros nobres, da zona leste da capital, como a Praia de Iracema, Meireles e em especial a Aldeota, onde a ocupação foi mais regular, com lotes grandes, ruas largas e praças. É essa zona leste a cidade moderna e bonita, geralmente conhecida pelos turistas e divulgada pelos meios de comunicação e propaganda oficial. Para boa parte das elites, Fortaleza se restringe aquela área e adjacências, onde moram, trabalham e se divertem – as demais regiões são ignoradas. 

Vista da Aldeota - início da década de 1970 (Arquivo Nirez)

A Aldeota tornou-se o bairro mais valorizado da cidade, assistido de forma privilegiada pelo poder público, e apresentando uma boa infraestrutura de serviços, comércio e diversos equipamentos. Transformou-se num novo centro de Fortaleza, direcionado, porém às elites econômicas. Nos anos 1970 e na década seguinte, a Aldeota sofreu grande processo de verticalização. A extrema competição pelo solo dessa parte da cidade e a busca de comodidade e segurança, conduziram a mudanças no tipo de residências das elites: em vez de enormes residências ajardinadas – comuns nos anos 1950-60 – passou-se a morar em apartamentos. Os antigos casarões foram sendo demolidos, ante a especulação imobiliária, sendo erguidos grandes espigões para consultórios, escritórios e estacionamentos. 

 A valorizada região sudeste, ocupada em sua maioria por imóveis de alto padrão, também tem suas áreas carentes. Na foto, o Bairro Papicu, em primeiro plano, a Comunidade do Pau Fininho (foto de Rodrigo Paiva)

Com o adensamento populacional e de serviços na Aldeota e suas proximidades, e todos os seus inconvenientes, muitos dos moradores de alta renda começaram a procurar locais mais tranquilos para a sua habitação. Com a ausência de planejamento e controle do poder público, os agentes especulativos e imobiliários começaram a preparar novas áreas residenciais para aquele segmento social que preferiam habitar amplas e luxuosas mansões. Não raras vezes, tais setores adquiriam enormes terrenos, esperavam a valorização, construíam belos prédios, realizavam intensa propaganda para atrair eventuais compradores, vendiam ou alugavam as propriedades e obtinham lucros fabulosos.

Bairro Dunas. O nome do bairro conta sua origem: dunas que foram loteadas e ocupadas (foto de Rodrigo Paiva) 

Assim foi iniciada a ocupação dos bairros Cocó, Dunas, Papicu, Água Fria, Edson Queiroz, Parque Manibura, Cambeba e Alagadiço Novo, na região sudeste de Fortaleza, onde havia grandes terrenos disponíveis e destinados, anteriormente, ao uso rural. 

 Bairro Dunas área ainda sem urbanização (foto de Rodrigo Paiva)

Depois de receber moradores de alta renda, então os setores públicos e privados iniciaram a estruturação da área, elaborando planos, ofertando serviços, construindo grandes obras, vias e equipamentos urbanos. A transferência da sede do governo estadual deu mais ênfase à valorização dessa zona, que nesse começo de século XX se transformou num dos eixos mais dinâmicos da cidade. 

fonte:
Fortaleza: uma breve história
de Artur Bruno e Aírton de Farias

Nenhum comentário: