terça-feira, 29 de setembro de 2009

Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza

Edificio da Santa Casa da Misericórdia na rua Barão do Rio Branco, de frente para o Passeio Público


A instituição surgiu em Lisboa, no ano de 1498, por iniciativa de frei Miguel de Contreiras, confessor da rainha Leonor, esposa do rei Dom João II. Daí surgiu a Irmandade da Misericórdia, que passaria a cuidar de pessoas doentes e necessitadas.

Com a expansão do domínio português, a irmandade foi sendo implantada nas novas terras conquistadas. Foi trazida para o Brasil em 1540, com a Santa Casa da Misericórdia de Santos. Depois vieram a de Vitória-ES (1545), a de Porto seguro- BA e a de Olinda-PE (1560), a do Rio de Janeiro - RJ (1582).

A Irmandade da Misericórdia gozava de grande prestígio durante o império, seus membros participavam de vários privilégios, tinham poder político e opinavam em vários assuntos ligados a cidade. Eram identificados pelo uso de uma capa preta e a sua bandeira era olhada com grande respeito pela sociedade.

Enquanto as Santas Casas se espalhavam pelo Brasil, a do Ceará só se instalou 300 anos depois da Santa Casa de Santos. Preocupado com as conseqüências da seca de 1845, que deixara grande número de pessoas doentes e sem tratamento, o presidente da província Cel. Inácio Correia de Vasconcelos, tomou a iniciativa de construir o que ele chamou de Hospital da Caridade.

Mas o presidente foi exonerado em julho de 1847 e as obras foram paralisadas, pois seu sucessor, Casemiro José Morais Sarmento, preferiu investir na construção de um cemitério no Morro do Croatá, que recebeu o nome de São Casemiro, em homenagem ao fundador. (O cemitério de São Casemiro ficava na atual Praça Castro Carrero, mais conhecida por Praça da Estação).

Somente em 1854 as obras foram retomadas. Na época, todo o estado do Ceará havia sido atingido por uma epidemia de cólera, que devastou a população. O então presidente Padre Vicente Pires da Mota, com o apoio de pessoas de posses, resolveu retomar as obras do Hospital da Caridade. Entregou a direção da construção ao Boticário Ferreira, que era intendente da cidade e realizara um excelente trabalho na urbanização de Fortaleza.

O prédio ficou pronto em 1857 no mesmo local onde funciona até hoje a Santa Casa, que tinha o nome de Largo da Pólvora, por causa da existência de um paiol; depois que o paiol foi retirado, passou a chamar-se Largo da Misericórdia, e por fim, Praça dos Mártires.
A construção foi concluída, mas não iniciou o funcionamento porque não havia pessoal treinado para trabalhar no hospital.

O Hospital da Caridade, mais tarde, Santa Casa da misericórdia. O 2° andar só foi construído em 1920
Foto Arquivo NIREZ

Em 07 de outubro de 1859, o presidente Antonio Marcelino Nunes Gonçalves decidiu organizar a Irmandade da Misericórdia em Fortaleza, processo que durou até 1861. A Partir daí, o Hospital da Caridade passou a denominar-se Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza, tendo como mantenedora a irmandade beneficente da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.

A Santa Casa da Misericórdia funciona na Rua Barão do Rio Branco, n° 20, Centro de Fortaleza, e atende em torno de 13 mil pessoas por mês. O hospital também trabalha com atendimento a preços populares.
Uma consulta para não segurados dos SUS custa R$ 15,00.

Fontes:
Sucupira, Luis. Origem e Desenvolvimento da Santa Casa de Fortaleza. Revista do Instituto Histórico do Ceará. Tomo XCIX, 1985. Pg. 212-220.
http://www.santacasace.org.br/

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Fortaleza e o aquecimento local

Praia de Iracema

Nos últimos 30 anos, a temperatura média histórica de Fortaleza aumentou em 0,5 graus Celsius. A mudança pode não estar ligada diretamente ao aquecimento global e à queima de gases de efeito estufa, mas é atribuída ao desenvolvimento descontrolado da cidade, ao aumento da área asfaltada, à ocupação da orla e a interferências no regime de ventos.
Mesmo não estando diretamente associadas com o aumento da temperatura do planeta, as mudanças locais podem afetar fenômenos naturais no Ceará. Futuramente, se as tendências se confirmarem, os ventos fortes podem mudar de período, as chuvas tendem a diminuir em até 30% e as secas acontecerão com mais freqüência.
Quanto maior o aumento da temperatura, mais irregularidades haverá no clima e na ocorrência de chuvas, explica o coordenador da Área de Satélites e Radar da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Raul Fritz Teixeira. Ele afirma ainda que, se as tendências se sustentarem, as secas aumentarão no Nordeste e na Amazônia.
Como informa o físico, o prognóstico mundial é que até 2100 a temperatura do planeta se eleve em até seis graus Celsius e o nível do mar, em 80 centímetros. "Isso causará derretimento das calotas polares", observa. Até 2000, o aumento havia sido de 10 centímetros.
Em Fortaleza, a temperatura média gira em torno de 27 a 28 graus Celsius. Porém, não raramente a sensação de calor sugere que o índice seja maior. Mas não é. É que essa sensação depende muito do vento e da umidade do ar. Exemplo disso é que, se a temperatura local for de 29 graus; a umidade, de 70%; e a velocidade do vento, de 12,5 a 21,5 quilômetros por hora, a sensação térmica equivale a 32 graus.
Portanto, o calor de que todos reclamam não é tanto dos 0,5 graus a mais, mas da sensação térmica elevada.
Estudo realizado pela EMBRAPA em 2004 revela que a temperatura média histórica de Fortaleza que até 1966 era de 26,9° Celsius, passou para 27,3° em 2003.


Fontes:
Jornal Diário do Nordeste, 29 de Junho de 2006
Dados climatológicos: Estação de Fortaleza, 2003. / Maria de Jesus
Nogueira Aguiar... [et al.] - Fortaleza : Embrapa Agroindústria
Tropical, 2004
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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum)

O relatório Brundtland já em 1987, alertava para o aquecimento global, problema que, à época não era objeto de discussão.
Em 1983 foi criada por iniciativa da ONU, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, para avaliar os avanços dos processos de degradação do meio ambiente e as políticas ambientais vigentes. A decisão de criar a Comissão ocorreu após uma avaliação dos 10 anos da Conferência de Estocolmo, com objetivo de promover audiências em todo mundo e produzir um resultado formal das discussões.
Somente quatro anos após, em 1987, a comissão publicou suas conclusões num documento intitulado “Nosso Futuro Comum” também conhecido como Relatório Brundtland.
O documento ficou conhecido por esse nome porque a Comissão era presidida por Gro Harlem Brundtland, então primeira-ministra da Noruega.
O Relatório Brundtland apontou para a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes;
reconheceu as disparidades entre as Nações e a forma como se agravaram com a questão da dívida dos países pobres;
profetizou problemas ambientais como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio, que eram conceitos novos para a época;
expressou preocupação em relação a velocidade das mudanças estar excedendo a capacidade das disciplinas cientificas e das habilidades humanas de avaliar e propor soluções.
Também apresentava uma lista de ações a serem tomadas pelos Estados e definia metas a serem realizadas no nível internacional, tendo como agentes as diversas instituições multilaterais.
Entre as medidas apontadas pelo relatório, constam
a diminuição do consumo de energia,
a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade,
o controle da urbanização desordenada,
o desenvolvimento de tecnologias para uso de fontes energéticas renováveis, e
o aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas.
O Relatório Brundtland busca um terreno comum onde propor medidas de consenso, capaz de reduzir as diferentes visões e interesses dos países na questão do desenvolvimento. O modelo também não sugere a estagnação do crescimento econômico, mas sua conciliação com as questões ambientais e sociais.
Teve como uma de suas principais recomendações a realização de uma conferência mundial para direcionar os assuntos ambientais – o que culminou com a Rio-92.
Nesse relatório foi cunhada a clássica definição de desenvolvimento sustentável: o desenvolvimento que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade de as futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas.

Fontes:
LEFF, Enrique. Saber Ambiental: Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder.
Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
NOSSO FUTURO COMUM. Relatório da Comissão Mundial sobre Meio ambiente e
Desenvolvimento. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: FVG, 1991.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Conferência de Estocolmo

cidade de Cubatão na década de 80: o lugar mais poluído do mundo

No ano de 1972, representantes de governos de 113 países reuniram-se em
Estocolmo, na Suécia, para a primeira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.
A Conferência de Estocolmo foi o primeiro marco da ONU, no trato das questões ambientais. A partir desse evento a segurança ecológica passou a ser o seu quarto objetivo principal. Até então as preocupações do órgão estavam restritas à paz mundial, aos direitos humanos e ao desenvolvimento eqüitativo.
Na década de 1970, o mundo vivia o auge da guerra fria. Os países socialistas ligadas à hoje extinta União Soviética não compareceram ao evento, boicotaram a conferência em solidariedade à Alemanha Oriental, cuja participação fora vetada pela ONU.
Sem a presença dos países socialistas, o principal embate do encontro de Estocolmo ocorreu entre os países desenvolvidos do hemisfério Norte e os países subdesenvolvidos do Sul.
Os primeiros preocupados com a poluição industrial, a escassez de recursos naturais, a degradação ambiental e outros problemas decorrentes dos seus processos de desenvolvimento; os segundos, com a pobreza e a perspectiva de se desenvolverem nos moldes que eram até então conhecidos.
A posição do Brasil foi a de defender o desenvolvimento a qualquer custo e não reconhecer a gravidade dos problemas ambientais. O Governo do Brasil defendia que para se chegar a um nível de desenvolvimento adequado não se podia poupar qualquer esforço para alcançá-lo. Alegava, ainda, que a maior poluição era a nossa pobreza.
A postura brasileira deveu-se a pelo menos a dois fatores:
primeiro devido ao fato de o país ter um projeto de combate à pobreza, através do crescimento econômico, amparado na industrialização e na expansão de fronteiras agrícolas, nos mesmos moldes que estavam sendo questionados na Conferência.
Em segundo lugar, porque o Brasil encontrava-se se sob uma ditadura militar, e o
governo brasileiro temia que a questão ambiental pudesse servir de veículo para interferência da ONU em assuntos internos.
No ano da Conferência de Estocolmo, o Brasil era comandado pelo General Emilio Garrastazu Médici (1969-1974), cujo governo ficou conhecido como “os anos negros da ditadura”.
O objetivo maior da Conferencia de Estocolmo era encorajar a ação governamental e de organismos internacionais, bem como oferecer diretrizes para a proteção e aprimoramento do meio ambiente humano mediante cooperação internacional.
Incluiu entre seus temas para discussão, o crescimento populacional, a necessidade de crescimento econômico, principalmente dos países em desenvolvimento, e a conservação do meio ambiente, trazendo uma nova percepção sobre uso dos recursos naturais.
Os debates giraram em torno da constatação de que o modelo tradicional de
crescimento econômico levaria ao esgotamento completo dos recursos naturais, pondo em
risco a própria sobrevivência do planeta.
O principal documento da Conferência foi a “Declaração sobre o Ambiente Humano” conhecido como Declaração de Estocolmo, defendendo que tanto as gerações
presentes como as futuras tenham reconhecido como direito fundamental, a vida num
ambiente sadio e não degradado.
A Declaração de Estocolmo incluiu alguns princípios destinados às necessidades
especiais dos países do terceiro mundo: reafirmava a soberania e o direito dos países de
explorarem seus próprios recursos; no caso de dúvida, o desenvolvimento econômico tinha
prioridade sobre a proteção ambiental.
Essas atenuantes deram margem para os países tratarem as questões ambientais
como bem entendessem. Além do mais a Declaração de Estocolmo não era de caráter
vinculante, ou seja, não obrigava os países legalmente.
No mesmo ano da Conferência de Estocolmo, foi publicado o estudo do Clube de
Roma intitulado “Limites do Crescimento”. O documento alerta para os riscos de um
crescimento exponencial do consumo dos recursos naturais, bem como da população mundial.
O trabalho do Clube de Roma colocou a questão ambiental num novo patamar técnico e político, apesar de todas as distorções que uma abordagem excessivamente global pode apresentar, apesar das criticas e da grande controvérsia gerada pelo documento.
Apesar das divergências, a Conferência de 1972 representou um avanço nas negociações entre países na discussão dos problemas relacionados às questões desenvolvimento econômico e preservação ambiental. O Brasil firmou sem restrições a Declaração de Estocolmo. No ano seguinte o governo brasileiro assinou um decreto instituindo a Secretaria Especial de Meio Ambiente, que iniciou suas atividades em janeiro de 1974.
O dia 5 de junho, que marcou o início dos trabalhos da Conferência, foi oficializado pela ONU como o Dia Mundial do Meio Ambiente.


Bibliografia
AMARAL, Weber A. N. do et al. Políticas Públicas em Biodiversidade: Conservação e Uso Sustentado no País da Megadiversidade. International Studies on Law and Education. EDF - Dep. de Filosofia e Ciências da Educação da Faculdade de Educação da USP. São Paulo: Editora Mandruvá, 1999.
BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as Estratégias de Mudanças da Agenda 21. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
BUARQUE, Sérgio C. Desenvolvimento Sustentável: conceitos e desafios. BAHIA, Análise & Dados. Salvador. SEI. V 6 n° 2, p.5-15 Set /96.
GADOTTI, Moacir. Agenda 21 e Carta da Terra. Disponível em Acesso em 15.06.2006

KÜSTER, Ângela. Democracia e Sustentabilidade. Experiências no Ceará, Nordeste do
Brasil. (Tradução e Revisão: Tito Lívio Crus Romão). Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora,2003. 230p.
NOGUEIRA NETO, Paulo. Conferência de Estocolmo. Ministério das Relações Exteriores. Disponível em

Acesso em 02.07.2006.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Imóveis antigos e suas histórias II

O requinte e o luxo das residências também ocorriam nos imóveis destinados ao comércio.
Palacete Ceara, conhecido popularmente como “Rotisserie. (foto Marciano Lopes
Em 1914 o banqueiro José Gentil Alves de Carvalho contratou a firma Rodolfo F. da Silva & Filho para construir o Palacete Ceará, um projeto de João Sabóia Barbosa. Por muitos anos o prédio abrigou no seu andar térreo o Rotisserie Sportman , restaurante, sorveteria, café e casa de chá, e na parte superior, o aristocrático Clube Iracema.
Palacete Ceará após a restauração
Em 1922 o palacete foi ampliado em dois blocos pelo lado da rua Floriano Peixoto e o Rotisserie instalou um salão de bilhares. Em 1955 a Caixa Econômica comprou o Palacete Ceará
Em 1982 o prédio foi destruído por um grande incêndio, restando apenas sua fachada. Chegaram a planejar sua demolição para levantar um prédio moderno, mas diante dos protestos de vários segmentos da sociedade, os dirigentes da Caixa reconsideraram e o Palacete Ceará foi reconstruído. 
Fica localizado na rua Floriano Peixoto na Praça do Ferreira.

Fachada do Cine Moderno. foto arquivo Marciano Lopes)
O Cine Moderno tinha uma fachada com duas torres e uma marquise de vitral que sugeria uma cauda de pavão. Sua sala de espera era um monumento “art-Nouveau” em madeiras lavradas e entalhadas, espelhos bisotés e sofás de couro negro.
Foi inaugurado em 7 de setembro de 1921, na rua Major Facundo, 594, na Praça do Ferreira, e era propriedade do grupo Severiano Ribeiro. A sala de projeção ficava de frente para a rua, e tinha 709 poltronas também de couro preto. 
Foi o primeiro cinema a adotar a sonorização, com o filme Broadway Melody, em 1930. O Cine Moderno foi fechado em 21.05.1968 e o prédio foi vendido para o grupo Edson Queiros.

fontes:
Lopes, Marciano.Royal Briar: A Fortaleza dos anos 40. Fortaleza: ABC, Coleção Nostalgia, 1996
Azevedo, Miguel Ângelo de (NIREZ). Cronologia Ilustrada de Fortaleza:roteiro para um turismo histórico e cultural. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2001.