quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Os Amigos da Praça José Valdez Botelho

A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.

(Castro Alves)

A praça pode ser definida como qualquer espaço público urbano, livre de edificações que propicie convivência ou recreação para os seus usuários. É por excelência o local de encontros e sociabilidades. Os espaços livres existentes nas cidades e marcados pelas aglomerações humanas estavam geralmente relacionados à existência de mercados populares (comércio) ou ao entorno de igrejas. Foi somente no século XIX, que o desenho de praças entrou em cena, preconizado pelo trabalho de profissionais como Frederick Law Olmsted, que projetou o Central Park de Nova Iorque.

Praça Marquês de Herval (atual José de Alencar), 1908

Esse espaço, existente há milênios, utilizado por civilizações de maneiras distintas, nunca deixou de exercer a sua mais importante função: a de integração e sociabilidade. Mas ultimamente, as praças têm perdido essas funções de aproximação e encontros entre pessoas por razões várias, a principal delas, sem dúvida, a violência urbana. 

Violência que se traduz não apenas na ameaça à integridade física, mas na destruição dos equipamentos, nas pichações, no vandalismo de estátuas e monumentos, bancos e fontes (quando tem). Por conta de tantos percalços, a população deixou de frequentar um espaço feito para ela e por ela.

Praça José de Alencar em 2015 (imagem Diário do Nordeste)

Um exemplo são as praças do centro de Fortaleza, tradicionais, centenárias, históricas, tomadas por moradores de rua, que ali vivem, dormem, fazem suas necessidades e ali mesmo descartam todo o lixo que produzem; ou ocupadas por ambulantes, vendedores de toda sorte de quinquilharias, que se apoderaram do espaço e também produzem sujeiras e depredações. A Praça do Ferreira, tradicional reduto de aposentados, intelectuais, e um sem número de frequentadores habituais, perdeu muito desse público, hoje é considerado local de risco principalmente à noite. 

Em alguns bairros as praças continuam sendo apropriadas pelos moradores, para caminhadas e conversas rápidas, porque a mesma violência que ameaça o centro, também se faz presente nos bairros. Mas há uns três ou quatro anos, moradores do bairro Luciano Cavalcante, resolveram mudar essa história. 



Começou com um pequeno grupo que se sabiam vizinhos, mal se conheciam, e se viam durante a caminhada diária que faziam ao redor da Praça José Valdez Botelho. Um dia combinaram fazer um café da manhã, para se conhecerem melhor e trocar umas ideias. O local do evento seria a própria praça. 


A Praça José Valdez Botelho recebeu o nome em homenagem póstuma ao Vice-Reitor da Universidade Federal do Ceará, falecido em 2001. 

Cada um se encarregou de levar um componente para o café: (pães, bolos, sucos, tapioca, frutas, etc). No início eram cerca de 15 pessoas. Com o passar do tempo, a adesão foi aumentando, e os eventos foram sendo ampliados para praticamente todas as datas comemorativas: São João, Natal, Páscoa, aniversariantes do mês, etc.

Também promovem bingos e rifas para angariar recursos para fazer a decoração alusiva à data, como São João. Além dos comes e bebes, os participantes levam ainda mesas, toalhas e cadeiras, e ao final, todos ajudam a recolher o lixo. Devido a interação agora todos se conhecem e se ajudam nas necessidades individuais.



Eis um bom exemplo de apropriação do espaço público, uma espécie de “volta ao começo”. Como é um espaço relativamente novo, a Praça José Valdez Botelho não tem muitos equipamentos, e ainda ostenta uma vegetação nativa com árvores de grande porte. Mas vem cumprindo com brilhantismo a antiga e sempre atual função para a qual a praça foi inventada: um local de encontros e sociabilidades. 

obra consultada:
Praças Públicas: origem, conceitos e funções – autores: Verônica Crestani Viero & Luiz Carlos Barbosa Filho
Disponível em > http://www.ceap.br/material/MAT1511201011414.pdf< 
fotos do grupo cedidas pelo "amigo da praça" Tarcísio Garcia

3 comentários:

Tarcísio Garcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valéria disse...

Perfeito seria se iniciativas como essa fossem uma realidade em toda a nossa cidade. Bom para o espaço público que acaba sendo cuidado, melhor ainda para a comunidade que exerce a cidadania, ao mesmo tempo que colhe os frutos de um convívio salutar com amigos e vizinhança.

Tarcísio García disse...

Muito verdadeira a postagem, Fátima. Ao longo deste 2016, partilhamos celebramos bons momentos nesta praça. Cultivamos amizades, cuidamos da saúde e tentamos reconquistar nosso direito de ir e vir, tão em baixa neste Brasil de hoje. Obrigado pelo carinho.