domingo, 5 de abril de 2015

A Instalação da Vila de Fortaleza

Por ordem régia de 13 de fevereiro de 1699, a Coroa Portuguesa  determinava a criação de uma vila no Ceará – a de São José de Ribamar – cuja localização foi motivo de muita controvérsia. 
 

 A cruz assinala o local onde em 1604 foi erguido o Forte de Santiago na Barra do Ceará. O forte construído por Simão Nunes, ficou em atividade até 1607, quando foi abandonado.

Ocorreu que o documento régio de 1699 dava margem a dúvidas sobre o local exato em que deveria ser instalado o pelourinho, (uma coluna de madeira, ferro ou tijolo que representava a autonomia municipal), o que rendeu muita polêmica, muitas idas e vindas, muita discussão  entre as autoridades Fortaleza e Aquiraz, que só tiveram fim quando, em 1711, o próprio rei de Portugal através de uma Ordem Régia determinou a instalação do pelourinho em Aquiraz.

A 27 de junho de 1713, agora sob fortes protestos dos moradores da fortaleza, a vila foi definitivamente instalada em Aquiraz. Por esta razão muitos consideram Aquiraz a primeira capital do Ceará. 

A decisão de instalar a vila em Aquiraz não foi das mais acertadas. Em agosto daquele ano, os índios atacaram o lugar, ocasionando muita destruição e morte – cerca de 200 pessoas  perderam a vida –  o que levou  muitos habitantes a buscarem proteção dos ataques no forte de Nossa Senhora de Assunção.  Dos ataques dos índios Paiacus e Anassés, só escapou quem fugiu para Fortaleza. A ofensiva levou os próprios integrantes da Câmara, os chamados camareiros, a mudarem de ideia. Passaram então a defender que a sede da Vila do Ceará deveria ficar em Fortaleza.

Informado sobre a situação, o Rei de Portugal, D. Manuel, em vez de simplesmente transferir a sede da vila, mandou criar outra. Assim, em 9 de maio de 1725, foi criada a segunda vila da Capitania do Siará Grande, instalada a 13 de abril de 1726, com o nome de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, pelo capitão-mor Manuel Francês. A motivação para a instalação desta segunda vila foi o de incentivar o desenvolvimento da capitania.


Primeira planta da Villa Nova da Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção da Capitania do Siará Grande, atribuída ao Capitão-Mor Manuel Francês - 1726

Mesmo depois da criação da vila de Fortaleza, conservou-se o pelourinho de Aquiraz, ficando cada câmara com seu espaço de poder. Fortaleza passou a ser a sede da Capitania com status de capital e Aquiraz, sede da Ouvidoria da Vila, como autoridade máxima da justiça.

Os Limites entre as duas vilas cearenses, São José de Ribamar do Aquiraz e Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção eram estabelecidos pelo riacho Precabura: o que ficava a leste do riacho até Aracati ou Mossoró, era Aquiraz; o que ficava a Oeste até a Ibiapaba, era Fortaleza.É dessa época, mais ou menos, a primeira planta da capital cearense, descoberta pelo historiador Padre Serafim leite e publicada no 3° volume de sua História da Companhia de Jesus no Brasil.

Um dos muitos locais de embarque de Fortaleza 

Mesmo assim, a Vila de Fortaleza, longe dos sertões, da pecuária, continuaria sendo por mais de um século, um mero aglomerado sem sustentação econômica ou expressividade política, permanecendo assim até as primeiras décadas do século XVIII.A chegada do primeiro governador só aconteceria em 1799. Onze anos depois, segundo os registros da época, o aglomerado tinha cerca de dois mil habitantes.


Prospecto da Vila de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção ou Porto do Siará, atribuído a Francisco Antônio Marques Giraldi - 1811

A lenta projeção política da vila só começou com a emancipação do Brasil de Portugal, em 1822. Durante o período monárquico, que vai até 1889 (ano da Proclamação da República), o Brasil vive uma fase de concentração política. É dessa época a criação das províncias do Império brasileiro, entre elas, a do Ceará.

Fortaleza acaba se beneficiando com o fato. Por ordem de D. Pedro I, a vila é elevada à categoria de cidade, no dia 17 de março de 1823. Passou a se chamar Fortaleza de Nova Bragança, depois voltando à denominação anterior. 

Praia Formosa em 1892, nesta que é considerada a foto mais antiga de Fortaleza

A situação de estagnação de Fortaleza só começou a ser superada em 1866, quando a cidade passou a ser  o principal centro coletor de algodão, couro, açúcar e café do Estado.  Nessa época o algodão produzido no interior atingia os maiores preços no mercado internacional, por causa da suspensão do fornecimento do produto dos Estados Unidos – mergulhado na Guerra de Secessão – para a Inglaterra.

livros consultados:
História Abreviada de Fortaleza e Crônicas sobre a Cidade Amada, de Mozart Soriano Albuquerque
História do Ceará, de Airton de Farias
Revista Fortaleza, fascículo 4
Inscrição Mural - Breves Memórias dos Fortes do Ceará, de Virgílio Maia 
fotos do Arquivo Nirez 

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns,Fátima... bem vinda de volta...sejas feliz na tua mutável capital de sempre! Humberto de Campos, quando aqui aportou pela segunda vez após uma década de ausente já atestava no famoso volume primeiro de suas MEMÓRIAS, que a Nossa Capital perdera algo que ele julgava não mais presente pela fisionomia do Centro... ali asseverou que ele não mais era "pitoresco"! O ano seria 1925, cem anos depois que esse mesmo Centro passara ao Foro de Cidade !

Renato Mourão disse...

Olá Fátima ! Parabéns pelo seu trabalho.
Quero pedir a correção de um pequeno equívoco na postagem
"A Instalação da Vila de Fortaleza" publicada em 05/04/2015.
Na verdade a Ordem Régia criando a Vila de Fortaleza foi assinada pelo Rei Dom João V, que reinou em Portugal de 1706 a 1750; e não Dom Manuel, como consta.
Caso já tenha corrigido, peço desconsiderar.
Abraço
Obrigado