Gonçalo Ignácio de Loiola Albuquerque e Mello, que
acrescentou Mororó ao seu nome durante a Confederação do Equador, nasceu no dia
24 de julho de 1778, na povoação do Riacho Guimarães, em Sobral, filho do
alferes Félix José de Souza e Oliveira – escrivão e vereador da Câmara de
Sobral – e Theodósia Maria de Jesus Madeira. Depois de infância dedicada ao
estudo da gramática latina, segue para Pernambuco, matriculando-se, com 22
anos, no Curso de Teologia, onde se aprofunda também em ciências físicas e
história natural. Ordenou-se sacerdote em 1802, no Seminário de Olinda.
Igreja matriz de Sobral
De volta ao Ceará celebra a primeira missa na Matriz
de Sobral e exerce atividades religiosas em várias cidades do interior,
especialmente em Boa Viagem, Santa Quitéria e Quixeramobim. Durante três anos
foi professor de latim, em Aracati.
Em 1816 profere sermão de Ação de Graças em
Fortaleza, nas comemorações da elevação do Brasil à categoria de reino,
ocorrida através do decreto de 16 de dezembro de 1815. A atuação eloquente de
padre Mororó chama a atenção do então governador Sampaio, que o convida para
participar dos “oiteiros”, reuniões literárias e artísticas, nascendo daí uma
estreita amizade.
Alguns anos depois Mororó se envolve com ideias
liberais, motivado principalmente pelas leituras do jornal “Correio Braziliense”
publicado em Londres por Hipólito da Costa. Em 1821 Padre Mororó já demonstra
afinidade com o movimento. Onde passa residir, elege-se vereador. Com a notícia
da dissolução da Assembleia Constituinte, ocorrida em 12 de novembro de 1823, o
padre lidera movimento de repúdio à medida autoritária do Imperador, na Câmara
de Quixeramobim. O jornalista João Brígido, em trabalho publicado em 1889, na
Revista do Instituto do Ceará, afirma que a Câmara, em sessão de 9 de janeiro
de 1824, declarou a deposição do trono do imperador e seus descendentes. Deliberou
ainda que se curasse dos meios de substituir a forma de governo convidando as
demais câmaras da província para cooperarem na organização de uma república.
Rua Conde D'Eu, antiga Rua dos Mercadores e Rua de Baixo
Por esse tempo, a exemplo de outros, o padre
Gonçalo, substituiu seu cognome, de Mello para Mororó, planta brasileira. Vêm
dessa época os apelidos de Araripe, Ibiapina, Sucupira, Buriti, Antas,
Sussuarana e tantos outros, que se perpetuaram na província e traduzem adesões
à independência.
Em 1° de abril de 1824 surge o “Diário do Governo do
Ceará”, o primeiro jornal publicado na província. Padre Mororó é escolhido
diretor e redator do principal veículo de divulgação dos ideais republicanos. Por
esta razão, Padre Mororó é considerado o patrono da imprensa cearense.
No dia 16 de agosto de 1824, em Fortaleza, na sessão
do Grande Conselho do Ceará, cujo secretário é Padre Mororó, sob a presidência
de Tristão Gonçalves, proclama-se a República, em total adesão ao movimento
iniciado em Pernambuco, que culminou com a Confederação do Equador. Apesar dos
esforços militares de Tristão Gonçalves e Pereira Filgueiras, as forças
imperiais retomam o poder em violenta contra-revolução. Inicia-se então, a
perseguição aos revoltosos.
Preso em Fortaleza na antiga Rua dos Mercadores,
hoje Conde D’Eu, Padre Mororó é
condenado à pena de morte pela Comissão Militar presidida por Conrado Jacob de
Niemeyer. A pena deveria ser morte por enforcamento, tendo como carrasco um
preso comum, na forma estipulada no código de Processo Criminal do Império.
Mas
nenhum preso aceitou o papel de carrasco do Padre Mororó. Jacob Bernardo,
aborrecido com a recusa dos presos, resolve eleger para verdugo Agostinho
Vieira, condenado pela justiça comum. Este, no entanto, recusa a indicação,
atraindo para si imediato castigo. Dois soldados invadem a prisão, autorizados
pelos carcereiros, espancam o preso até deixa-lo estendido no chão. Usando
métodos ainda mais eficazes, colocam a ferros dois prisioneiros, que são
ferozmente espancados, mas ainda assim, nada conseguem.
Indignado, Niemeyer resolve o impasse convertendo verbalmente, o suplício da forca para fuzilamento. A data da execução fica marcada para a manhã do dia 30 de abril de 1825, quando também seria executado Pessoa Anta, outro implicado na rebelião.
Passeio Público em 1907 - vista do 2º plano, espaço hoje ocupado pelo quartel da 10ª região Militar.
Indignado, Niemeyer resolve o impasse convertendo verbalmente, o suplício da forca para fuzilamento. A data da execução fica marcada para a manhã do dia 30 de abril de 1825, quando também seria executado Pessoa Anta, outro implicado na rebelião.
Quartel da 10ª Região Militar, antigo Quartel de 1ª. linha na Av. Alberto Nepomuceno em 1933.
Barão de Studart relata o início da cerimônia de
fuzilamento de Padre Mororó e Pessoa Anta: “saíram os dois do oratório no andar
superior do quartel de 1ª. Linha, guardados por grossa leva de soldados
comandados por dois oficiais, em direção à Igreja do Rosário, onde ouviram
missa celebrada pelo Frei Luiz do Espírito Santo Ferreira. O cortejo viera pela
Rua dos Mercadores ou Rua de Baixo (hoje Conde D’Eu), e concluído o ato
religioso, seguiu pelo trecho da hoje Rua Guilherme Rocha, dobrando na Rua
Major Facundo e prosseguindo até o Largo de Fortaleza, lado norte do Campo da
Pólvora, hoje Passeio Público, local marcado para o sacrifício".
Numa manhã de sol claro, Mororó terá a primazia. Colocado
em posição de tiro, recusa a venda e pede para que não ponham no peito a fita
indicativa do local de mira. Os carrascos o atendem. Em seguida, sem perder a
fleuma do mártir resignado, coloca sobre o coração a mão direita e
resolutamente diz: “Camaradas, o alvo é este, atirem certeiro para que não me
deixem sofrer muito”. Temia certamente o conhecido “tiro de misericórdia”, suplício muitas vezes continuado e de extremo padecer. Nesse momento, as
carabinas ecoam, três dedos da mão rolam por terra e o herói tomba sem vida.
Extraído
do livro A História do Ceará passa por esta rua,
de
Rogaciano Leite Filho
fotos do Arquivo Nirez
fotos do Arquivo Nirez
Um comentário:
Nossos heróis do passado, como o Padre Mororó, morto injustamente por não se submeter às vontades dos tiranos, parece, ainda hoje, gritar pelas ruas da cidade, pela busca de justiça para todos! É a história se repetindo, avisando da sucessão de violências, arbitrariedades, mas os poderosos nunca se emendam, perpetrando os mesmos erros, as mesmas loucuras! Tanto se deseja um futuro pródigo de boas ações, muita justiça e bem estar para o povo, mas os defensores dos maus sempre se interpõem para dificultar tudo, alimentando e arregimentando as desgraças de sempre!
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