foto muito antiga da Praça general Tibúrcio (antigo Largo do palácio) no século XIX
O
general José Clarindo de Queiroz, ex-presidente da província do Amazonas,
“herói” da Guerra do Paraguai, ficou a frente do governo cearense por apenas
dez meses, consequência direta do apoio que prestou ao fracassado golpe de
Estado de Deodoro da Fonseca em novembro de 1891 no Rio de Janeiro – por tal
razão, Deodoro renunciou.
A
ascensão de Floriano Peixoto à presidência da República e sua caça aos
governadores que apoiaram Deodoro, soou como uma desgraça para Clarindo de
Queiroz. Contando com o apoio do Congresso cearense, de parte da imprensa, da
maioria dos oficiais do 11° Batalhão do Exército e até com certa simpatia
popular, o general começou a sofrer intensa pressão do Presidente da República
para que deixasse o governo. Recebeu de delicados memorandos pedindo seus
serviços na capital do país a agressivos ultimatos. A oposição bem articulada por Nogueira
Accioly conspirava abertamente contra Clarindo. Este, a tudo resistiu, pelo
menos até 16 de fevereiro de 1892.
Nessa
data, após o governo federal mandar o 11° Batalhão “realizar exercícios
práticos” em Maranguape (no intuito de esvaziar o apoio a Clarindo), alunos do
Colégio Militar, marinheiros e o restante da força federal dirigidos pelo major
Bezerra de Albuquerque, se revoltaram e usando canhões e metralhadoras,
exigiram a renúncia do general.
Uma multidão se postou nas imediações do Palácio da Luz, onde o governador Clarindo de Queiroz resistiu por uma noite, ao cerco dos revoltosos que queriam sua saída do governo do Ceará
O centro de Fortaleza
virou uma praça de guerra. Clarindo de Queiroz
apoiando-se numa minguada força policial e em alguns civis (entre os
quais o Conselheiro Rodrigues Junior) resistiu aos golpistas. Os oposicionistas
levantaram barricadas, bombardearam a sede do governo na Praça general
Tibúrcio. O tiroteio se estendeu por toda a noite e provocou pânico na
população. Na manhã do dia 17, com o Palácio da Luz crivado de balas, o
governador sem munição para continuar a luta, rendeu-se aos inimigos e entregou
o cargo ao tenente-coronel José Freire Bezerril Fontenele, deputado e
comandante interino do Colégio Militar. Treze pessoas perderam a vida no
confronto. A praça foi completamente destruída – num canto desta, curiosamente,
encontrou-se a estátua do General Tibúrcio, tombada de seu pedestal, em pé,
após ser atingida por tiros de canhão.
aspecto da Praça General Tibúrcio depois do cerco ao Palácio da Luz
Clarindo em seguida, partiu para o Rio
de Janeiro, onde em dezembro de 1893 viria a falecer em decorrência das
torturas sofridas na prisão, pois fora um dos 13 generais desterrados por
decreto de Floriano Peixoto ao pedir a renúncia deste. A 18 de fevereiro de
1892. No dia posterior ao golpe, Bezerril passou o comando do executivo
cearense ao vice-presidente Liberato Barroso.
Começa então, uma intensa perseguição aos partidários de Clarindo de
Queiroz e Deodoro da Fonseca. O grupo dos maloqueiros e Rodrigues Junior eram
os mais visados. Foram efetuadas várias prisões arbitrárias e demissões de
funcionários públicos e até de quatro desembargadores do Tribunal de Apelação (atual
Tribunal de Justiça) e 12 juízes do interior. Além disso revogou-se a
Constituição Estadual de 1891, promulgada durante a gestão de Clarindo de
Queiroz e dissolveu-se o congresso cearense – composto por câmara, e senado
estadual de maioria pró-Deodoro – sendo convocado outro com poderes
constituintes a 12 de maio. Este novo congresso, promulgou a segunda
Constituição do Ceará em 12 de julho de 1892. Na mesma data, Liberato Barroso
deixou o governo do Estado, sendo substituído interinamente por Nogueira
Accioly, eleito pelo Congresso primeiro vice-presidente. A 27 de agosto
empossou-se no governo o tenente-coronel José Freire Bezerril Fontenele,
escolhido também indiretamente pelos deputados estaduais.
a Praça em 1900
O grande articulador e
vitorioso com a queda de Clarindo de Queiroz foi Nogueira Accioly. Contando com
o apoio dos cafinfins, do Comendador Boris (da Casa Boris), do Barão de
Ibiapaba e do governo federal, seu grupo ascendeu ao controle da máquina
administrativa cearense. Durante o governo de Bezerril consolidou-se do regime
republicano no Brasil e no Estado. O governador procurou adequar os municípios
ao novo regime, e aqueles que não cumprissem as novas exigências, seriam
anexados ao vizinho que tivesse a situação já regularizada. Vários adversários
acabaram perseguidos e forçados a emigrar. O presidente Bezerril não realizou
nenhuma obra de relevo para o Estado. Limitou-se a arrecadar quantia
considerável de recursos através de uma
eficiente máquina tributária. Era o que ele chamava de “reserva sagrada”. Nisso
tudo, Nogueira Accioly – escolhido senador em 1894 – contribuía, participava,
influenciava. Em 1896 foi escolhido como sucessor de Bezerril. Nas décadas
seguintes sofreria o Estado nas mãos de uma das mais duradouras oligarquias de
sua história: a Oligarquia Accioly.
Extraído
do livro de Airton de Farias
História do Ceará
2 comentários:
PARABENS PELA DIVULGAÇÃO DE NOSSA HISTÓRIA, O POVO HOJE PREOCUPADO APENAS COM ATUALIDADES DEIXAM PRA LÁ VERDADEIRA RELÍQUAS DO NOSSO PASSADO.
muito o texto. informação é cultura.
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