domingo, 14 de julho de 2013

Cidade nas Antigas

Praça Clóvis Beviláqua, antiga Praça de Pelotas

Na Fortaleza de muito tempo atrás havia na Praça de Pelotas, mongubeiras centenárias que foram criminosamente destruídas, a despeito da simetria e ordem com que foram plantadas pelos primeiros viajantes que iam e vinham das bandas do Arronches. Outrora sem palacetes, sem casas modernas e sem o belo edifício da Faculdade de Direito, atrás do qual se levantavam as duas caixas d’água que serviram à população urbana, tinha a praça o encanto das coisas silvestres e a utilidade dos parques infantis. 

 Praça do Carmo no antigo Boulevard do Livramento, atual Avenida Duque de Caxias

Um pouco mais para leste havia o Largo do Livramento, com o nicho da pequena imagem da Virgem ainda hoje exposta à veneração dos fiéis na matriz do Carmo. E passando pelo Alto da Pimenta e pelo Garrote, existia adiante o Pajeú, ao longo do qual foi construído o primeiro açude do Ceará, por iniciativa do Senador Alencar quando Presidente da Província e melhorado na seca de 1877 pelo Barão de Sobral. 
Nesses tempos antigos desenvolvia-se pacatamente a vida de alguns milhares de cearenses, com seus costumes infelizmente desaparecidos, como os Fandangos, auto popular que relembra a conquista da África, as Pastorinhas, com sua ingênua representação do Natal do Menino Jesus, as procissões, principalmente a dos Passos e a do Enterro, esta na Semana Santa, e aquela na penúltima semana da Quaresma.
   
Rua Barão do Rio Branco com o prédio da Santa Casa da Misericórdia
 
Os dois cortejos saíam da Sé, o primeiro à tarde e o segundo à noite. A procissão dos Passos percorria a Rua Castro e Silva até a Rua Barão do Rio Branco alcançando a Praça do Ferreira pela Rua Guilherme Rocha e depois a Praça General Tibúrcio, onde encontrava outra procissão menor, que transportava o andor de N. S. das Dores. 
Na sexta-feira da Paixão saía a procissão do Enterro, partindo da Sé pela Rua Castro e Silva até a Barão do Rio Branco, dobrando em direção ao mar para alcançar a capela da Santa Casa da Misericórdia, com círios iluminando as ruas escuras. 

 Rua Castro e Silva, percurso das procissões e dos enterros que saíam da Igreja da Sé

Impressionavam estes cortejos noturnos, como impressionantes eram também os enterros daquela época, todos solenes e a pé. À frente, a cruz alçada e o padre paramentado. O caixão carregado pelos amigos e parentes ou por quatro gatos pingados – origem da expressão popular – de andar lento, sobrecasacas negras e cartolas de oleado. Somente homens acompanhando, todos de preto, silenciosos. Se o falecido era importante, socialmente falando, o cortejo terminava por uma banda de música tocando funeral.

 Praça José de Alencar, com a Igreja do Patrocínio ao fundo. Fim do século XIX/início do século XX

Para neutralizar tanta seriedade, havia o Judas, nos chamados Sábados de aleluia. Havia os famosos, como o do Teodureto, bodegueiro estabelecido no começo do Calçamento de Messejana,  que soubera certa vez, defender seu Judas da investida dos cadetes da Escola Militar, desbaratando-os e pondo em fuga vários deles que pretendiam furtá-lo.
Todos queimavam seus Judas, grandes e pequenos, aprimorados ou grosseiramente vestidos, cheios de taquaris ou de palha seca adquirida nas carpintarias da cidade. E após liam-se os testamentos. Eram os do Outeiro, os de Arronches, os de outros arrabaldes da cidade. Criticando a todos, principalmente os avarentos da pacata e encantadora capital de outrora.

   Rua 24 de Maio chegando na Praça José de Alencar - 1910

Completando a alegria esboçada na véspera da ressurreição, as festas de junho – Santo Antônio, São João e São Pedro – concorriam para a diversão de um povo que não dispunha ainda do cinema nem dos clubes sociais. Fogueiras de cavacos e paus velhos enfiados numa barrica, em pleno centro das ruas. Parentescos hipotéticos – compadres, primos, afilhados. Fogos e alegria. Fortaleza, século XIX.  
fotos do Arquivo Nirez
extraído do livro de Mozart Soriano Aderaldo
História Abreviada de Fortaleza e Crônicas  sobre a Cidade Amada 
 

2 comentários:

xxx disse...

Bom dia, navegando pelo seu blog me ocorreu que talvez você pudesse me ajudar.

Onde será que eu encontro este produto em Fortaleza?

www.anjodarede.com

Um abraço,

Fátima Garcia disse...

amigo, andei perguntando em alguns estabelecimentos que vendem redes na cidade, e alguns até conhecem o produto, mas ninguém tem pra vender. Um dos fabricantes disse que fez uma encomenda, mas ainda não recebeu.