A Empresa Ferro Carril do Ceará foi fundada no dia 3 de
fevereiro de 1877, pelo comendador Francisco Coelho da Fonseca e Alfredo
Henrique Garcia. Entre a instalação da empresa e o início das operações, três
anos se passaram, somente em 1879 são concretizadas as obras de construção da
estação e sede da companhia, e a partir de novembro, foi cumprida a etapa de
assentamento dos trilhos.
Na manhã de domingo do dia 25 de abril de 1880, a Ferro Carril
do Ceará inaugura sua primeira linha, com 4.210 metros, da Estação na Estrada
de Messejana (Boulevard Visconde do Rio Branco) até a rua São Bernardo (atual
Rua Pedro Pereira) e a partir desta, interligando a Praça da Assembleia ao
Matadouro Modelo, bairro do Prado. Os veículos tinham 4 ou 5 bancos, eram
pequenos, modestos, providos de cortinas que protegiam do sol e da chuva, e
dirigidos por um boleeiro quase sempre vestido de fraque. Mesmo assim serviram
a muitos usuários que pagavam passagens de 100 réis, que possibilitaram a
melhoria do serviço, com bondes ampliados em sua capacidade para até para sete
bancos, comportando 28 passageiros.
Do período de funcionamento dos bondes movidos a tração
animal em Fortaleza, restaram muitas histórias. Uma delas, atribuída a Quintino
Cunha, notório advogado e humorista da terra. Contam que em viagem a Belém do Pará,
Quintino se deslocava ao lado de um indivíduo que reclamava do mal
funcionamento dos bondes, comparando aos do Ceará, com ares de troça. Ao que
Quintino lhe respondeu: - meu caro, o senhor está redondamente enganado, há uma
grande diferença: no Ceará os burros puxam o bonde, mas aqui se dá o contrário,
os burros é que as vezes andam de bonde.
Em 6 de junho de 1912, deu-se a transferência, por compra, da
empresa Carril do Ceará à The Ceará Tramway Light and Power Ltd. Para
administrar a empresa em Fortaleza, foi contratado Hugh Mackeen. Ele seria o
primeiro gerente local e teve papel decisivo na realização das obras iniciadas naquele
mesmo ano. O primeiro bonde elétrico circulou às 4:30 da tarde, no dia 9 de
outubro de 1913, sendo beneficiado o bairro da Estação, continuando as outras
linhas com os bondes de burros. No dia da inauguração, além das autoridades,
inclusive o intendente Ildefonso Albano e convidados, uma multidão de curiosos
foi conferir a novidade, com gente que embarcava, e só abandonava o veículo
quando acabava o dinheiro.
Os demais bairros foram pouco a pouco sendo beneficiados pela
tração elétrica, porém, enquanto se instalavam os cabos, se estabeleceu uma
espécie de tráfego provisório. Como a linha do bairro Soares Moreno, hoje
Jacarecanga, foi uma das últimas eletrificadas, os enterros que demandavam o
Cemitério São João Batista eram feitos em bondes de burros, que iam buscá-los
em qualquer bairro, mesmo os que já estavam eletrificados.
Os engenheiros ingleses, encarregados de dirigir os trabalhos
em Fortaleza, pouco afeitos ao ambiente e ao idioma, sofreram alguns
dissabores. Certa vez, uma turma de trabalhadores abria o mato no então final
da linha do Outeiro, procurando levar os trilhos para mais além, quando se
depararam com enormes moitas de urtiga-cansanção; enquanto viam uma maneira de
prosseguir, foram advertidos pelo técnico britânico, que para mostrar como se
fazia, se pôs a arrancar as plantas com as mãos, dizendo entredentes “não pode
arrancar com a mão? Vejam como eu fazer”. Minutos depois, porém os braços e
mãos do mister ficaram seriamente afetados e, em consequência, levou um mês
inteiro de cama.
Em outra oportunidade, o mesmo engenheiro fazia a condução de trilhos e gritava “push”. Mas os trabalhadores, sem entenderem o idioma, em vez de empurrar, como solicitava o engenheiro, faziam era puxar.
O último bonde de burro que rodou pelas ruas de Fortaleza foi o de número 25, guiado por um certo Sr. Fialho, na linha do Alagadiço, a última a ser eletrificada. Quase todos foram vendidos à Empresa Teixeira Leite, do Maranhão, sendo embarcados para a capital. Quando os velhos bondes iam ser desembarcados, os catraieiros, indignados com o mau serviço da empresa, deixaram cair no mar alguns veículos, como forma de protesto, que São Luís não era a rampa de lixo do Ceará.
Por muito tempo, a
Light ainda conservou dois daqueles burros dos antigos bondes, que mesmo
velhos, foram usados para puxar o carro torre de consertos da rede aérea.
Extraído dos livros “Coisas que o Tempo Levou, crônicas históricas da Fortaleza antiga”/Raimundo de Menezes/Edições Demócrito Rocha/Fortaleza:2000. “História da Energia do Ceará/Ary Bezerra Leite/Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha,1996/Publicação FortalezaemFotos/Imagens Arquivo Nirez e Instituto Moreira Sales
Um comentário:
amoooooooooo história do Ceará.
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