Para início de conversa, já
que o assunto é o passado da TV, necessário em primeiro lugar, esclarecer quem
é o Chacrinha original, o cidadão Abelardo Barbosa, o “velho guerreiro”, o
apresentador escrachado que inventou as chacretes, oferecia (e jogava)
bacalhau na e para a plateia, mandava um alô para a Teresinha e comandava a
massa buzinando os calouros e lançando cantores que se tornaram ídolos
nacionais. Chacrinha apresentava seu programa semanalmente, passou por todas as
emissoras de TV existentes (uma por vez), entre o final da década de 50 até 1988,
quando apresentou seu último programa. Chacrinha foi referência na TV e
inspirou diversos apresentadores que seguiram sua linha de apresentação. Um
desses artistas, era o Irapuan Lima.
O programa do Irapuan Lima,
apresentado nas tardes de sábado, era muito mais modesto, tanto em termos de
atrações, quanto ao montante de recursos empregados. A proposta era também de
revelar novos talentos, os famosos calouros e mostrar shows de variedades. Irapuan
veio do rádio, dos programas de auditório da Rádio Iracema. Mas foi na
televisão que ele alcançou seu maior sucesso e ficou no ar por 17 anos, de 1975
a 1992, passando por três emissoras, TV Ceará, Cidade e Manchete. No palco do
programa, um grupo de dançarinas, identificadas como “Irapuetes”e um júri que
avaliava os candidatos. Os participantes do show de calouros levavam como
prêmio um frango e um pacote de macarrão.
Era daqueles apresentadores
que se impunha, “apesar de não ser bonito, de não ser charmoso, de não ter uma
voz agradável (daquelas dos velhos locutores de rádio), de se vestir de modo cafona", dizia o
professor Gilmar de Carvalho. Irapuan tinha preferência por programas ao vivo,
chegando a ter quatro horas e meia de duração; não seguia roteiros, tinha
apenas um guia que lhe dava muita liberdade para improvisos. Ele mesmo era o
produtor do programa, quem criava os quadros e decidia como tudo ia acontecer.
Versátil como era, Irapuan
Lima, antes de se popularizar como apresentador de televisão, foi o Rei Momo do
Carnaval Cearense nos anos 1959, 1960, 1961. Desistiu depois de ter presenciado
(e quase participado) de um grave incidente ocorrido na segunda feira gorda,
nas dependências do Country Clube, agremiação fundada por ingleses, localizada
na Aldeota. Na segunda feira todos os clubes elegantes suspendiam seus respectivos bailes
de carnaval, só havia o do Country. O clube recebia todos os foliões dos clubes
chiques. Era o baile mais animado, mais famoso, o mais prestigiado, e a cidade
não falava de outra coisa.
O Rei Momo e sua corte
iniciaram a noite visitando os clubes de subúrbio que só paravam na quarta
feita de cinzas. No percurso, o Santa Cruz – nas imediações do Cemitério São
João Batista, o Ícaro – o clube da Base Aérea no Joaquim Távora, o Marajaique.
Quando chegaram no Country Clube já era madrugada e a festa estava parada. Estava
em curso uma fiscalização promovida pelo Juizado de Menores, acompanhados de
policiais. Queriam que os menores de idade fossem retirados. Como autoridades e
diretores não chegaram a um acordo, acabaram se formando dois grupos dentro do
grande salão de baile; de um lado, os foliões; do outro, a polícia e os
funcionários do juizado.
Do nada, alguém teve a ideia
de jogar um copo na direção dos policiais. O que se seguiu foi uma chuva de
copos, atirados de todos os lados, sobre as cabeças dos policiais, que reagiram
com tiros de metralhadora. Para o alto, diga-se de passagem. Mas a correria foi
grande. Irapuan Lima, vestido de Rei Momo, com cetro e coroa, não sabe como,
conseguiu pular o muro do clube, e caiu na calçada, bem do lado de um carro da
Rádio Patrulha. O sargento até que foi amistoso, e aceitou levar o rei Momo até
sua casa. Mas, já dentro da viatura, Irapuan raciocinou que estava em um carro
de polícia e corria perigo (por causa da confusão no clube). Alegou que ficaria
ali mesmo, que estava perto da casa de uma parenta, e acabou indo para casa a
pé, sozinho, de madrugada. No dia seguinte, na terça-feira, o Rei não desfilou
mais. Mandou colocar uma faixa preta no carro alegórico, e encerrou seu reinado.
Irapuan Lima interrompeu suas atividades na televisão por conta de uma cirurgia na vesícula, que evoluiu para uma pancreatite. Depois disso, ele fez apenas aparições em comerciais na TV e faleceu, em 2002, por conta de uma embolia pulmonar. O programa que Irapuan comandava não era muito diferente dos outros da época, com auditório sempre cheio e apresentadores cativantes. Sua grande audiência decorria de ele se mostrar como uma pessoa comum, com quem o público se identificava. Ele era espontâneo, carismático e muito criativo.
Fontes:
A imaginação de uma criança e as lembranças de um vovô contam a história de um “reinado " Disponível emhttp://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/35236/1/1999_art_ilima.pdf
Irapuan Lima: o Chacrinha do Norte disponível emhttp://www.impressoesdigitais2ed.ufc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17
Jornal o Povo
Fotos da Internet
2 comentários:
Belas lembranças. Obrigado
E tome doce real e macarrão fortaleza faixa dourada..... tempo bom.
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