Zona era o termo usado até por
volta dos anos 60 para designar a região dos prostíbulos da cidade. Era onde
estavam localizadas as pensões alegres, cabarés, casas de tolerância, boates, lupanares e mais uma variedade de nomes que ao fim e ao cabo, designavam o mesmo tipo de
estabelecimento que explora a prostituição. Fortaleza tinha algumas zonas famosas: a do Mucuripe, do
arraial Moura Brasil, do Centro, e outras menores, dispersas nos bairros.
O Mucuripe já era conhecido
por causa de sua colônia de pescadores, e das aventuras dos jangadeiros Manoel
Jacaré, Tatá, Jerônimo, Manoel Preto que no dia 14 de setembro de 1941,
partiram rumo ao Rio de Janeiro, então capital federal, em busca de
reconhecimento dos direitos de sua categoria. Na ponta do Mucuripe, meia dúzia
de casas de palhas, dunas alvíssimas, muitos coqueiros e cajueiros. Seus
habitantes viviam única e exclusivamente da pesca, que era farta e
diversificada. Na orla, algumas casas de pescadores, muita vegetação, a
igrejinha de São Pedro e um grande pedregal na frente, onde moradores locais
faziam ponto.
Os equipamentos no Mucuripe eram
poucos naquela época: havia o símbolo maior do Mucuripe, o velho farol, já
inativo quando a zona de prostituição ensaiava os primeiros passos; o prédio do
SERVILUZ – Serviço de Luz e Força, Usina de que abastecia a cidade de energia
elétrica, inaugurada no dia 23 de março de 1955; seis meses depois entrava em
funcionamento experimental o Moinho Fortaleza, do grupo J. Macedo; e o
promissor Porto do Mucuripe, que acabou se tornando uma fonte inesgotável de novos
clientes para as prostitutas, vindos de terras diversas e distantes: os
marinheiros estrangeiros.
A prostituição no bairro
surgiu praticamente com o início das atividades do Porto, inaugurado em 1947. Em
1952 cerca de 600 mulheres foram ameaçadas de despejo pelas Secretaria de
Polícia, em razão da pressão exercida por grupos familiares, que exigiam a
transferência dos prostíbulos para outros lugares. Os botequins e a prostituição
eram acusados de promover a degradação do lugar.
A zona de baixo meretrício do
Mucuripe teve seu apogeu a partir da década de 60, quando a rua principal do
então distante bairro, com inúmeros e movimentadíssimos cabarés, com músicas
bregas e luzes coloridas, chegou a ser conhecida como a “Las Vegas do Ceará”. As
atividades foram incrementadas com a chegada de centenas de meretrizes que
ocupavam a região litorânea, ao longo da denominada “Rua de Frente”, que foram
intimadas a deixar seus estabelecimentos por determinação da prefeitura, para
construção da atual Avenida beira-Mar.
As mulheres se estabeleceram
na região portuária, nas proximidades do porto, e enfrentaram resistência tanto
por parte das famílias residentes, quanto por parte das outras prostitutas, que
já atuavam no local, temerosas com o aumento da concorrência. Após este
primeiro momento, de transferência do meretrício do Mucuripe, a zona do Farol
receberia outros grupos de mulheres, das pensões do Centro da cidade, do
Curral, e da zona da rua Franco Rabelo, todas expulsas de seus locais originais
pela Secretaria de Polícia.
Nesta época o Porto do
Mucuripe recebia embarcações com bandeiras de várias nacionalidades, de forma
rotineira. A circulação constante de marítimos de diversas culturas, a e a proximidade
com o porto, acabou se tornando uma grande vantagem para os prostíbulos, que
prosperaram, e se multiplicaram.
No Mucuripe, essas mulheres constituíram
família, criaram filhos enquanto continuavam exercendo a profissão mais antiga
do mundo. algumas se casaram com antigos clientes estrangeiros e foram embora
do País; algumas retornam regularmente, para visitar as amigas e relembrar a
vida que deixaram para trás. Hoje, a prostituição não é mais setorizada, a zona
está na cidade toda, e o Mucuripe, desmembrado em vários bairros, ainda enfrenta
velhos e novos problemas, desde o abandono de equipamento histórico como o velho
farol, a problemas ambientais e sociais, até a exagerada especulação imobiliária
na orla da Beira-Mar.
Fontes:
Memórias de mulheres e amigos:
interesse e afeto no meretrício de Fortaleza (1960-1980) - Érika Bezerra de
Meneses Pinho (UFC) – Autora Cristian Paiva (UFC) – CoAutor Francisca Ilnar de
Sousa – CoAutora Disponível em http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/21738/1/2012_eve_ebmpinho.pdf
-
Mucuripe: Verticalização, Mutações e resistências no Espaço Habitado Lidiane Costa Ramos – Dissertação de Mestrado >disponível em <http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/16718/1/2003_dis_lcramos.pdf
Jornal o Povo
http://www.fortalezaemfotos.com.br/2013/05/em-nome-da-moral-e-dos-bons-costumes.html
fotos: IBGE, Anuário do Ceará, Ah, Fortaleza!
Nenhum comentário:
Postar um comentário