Na Fortaleza de antigamente, até por volta do início dos anos 30, os incêndios na capital eram combatidos à base dos baldes de água, dependendo também de haver água disponível. Sem maiores recursos a serem empregados na atividade, geralmente os incêndios se extinguiam por si mesmos, depois de queimar tudo o que tinha para queimar, com perda total dos bens.
Em razão da inexistência de
equipamentos de combate ao fogo, diversos estabelecimentos desapareceram,
consumidos pelas chamas. Os incêndios ocorriam com maior frequência no centro
da cidade, onde se concentrava o maior número de estabelecimentos comerciais. Há
registros de vários incêndios naquela região.
No dia 13 de junho de 1885, um incêndio destruiu a Casa Conrado Cabral, loja que comercializava máquinas, ferragens e acessórios, de propriedade de Raul Conrado Cabral, situada na Rua Major Facundo;
em 31 de agosto de 1886, um incêndio consumiu a casa de negócios de José Pinto Coelho, na esquina das Ruas Major Facundo e Liberato Barroso;
Já em 1902
um grande incêndio acabou com o sobrado do coronel José Eustáquio Vieira, na
esquina da Rua Barão do Rio Branco com Rua Senador Alencar. O que restou foi
demolido em 1907. Hoje nesse endereço está o Palacete Guarani, construído em
1908, por Geminiano Maia, o Barão de Camocim.
À medida que a cidade se
expandia, e aumentava o número de comércios e serviços, o alcance e os
prejuízos causados pelo fogo sem controle, aumentavam também. Assim, no 20 de
junho de 1907, um incêndio consumiu a mercearia de José Carvalho, na esquina
das ruas Barão do Rio Branco com Liberato Barroso;
Em 24 de janeiro de 1924, um
incêndio de grandes proporções, destruiu o prédio do Ceará Sporting Club, a
mercearia de Rios e Companhia, a Sapataria Catete e a Alfaiataria Cyrino, todos
localizados na Rua Senador Pompeu.
13 de março de 1925 foi a vez
da Fábrica de Redes Iracema, essa situada fora do centro comercial, na Avenida
da Universidade, de propriedade de Casimiro de Melo e Benjamin Nogueira. Duas
pessoas perderam a vida nesse sinistro.
17 de julho de 1925 a Farmácia
Fênix, localizada na Rua Floriano Peixoto, foi destruída por um incêndio;
O mesmo ocorreu no 5 de fevereiro de 1926, na mercearia Cabo Velho, de Frutuoso Afonso de Lima, na Avenida Visconde do Rio Branco, esquina com a Pedro I.
A 24 de agosto de 1926 o fogo
destruiu um armazém de algodão, de propriedade de Isaac Telles de Menezes,
localizado na Rua Floriano Peixoto.
No dia 17 de novembro de 1927,
incendiou-se a Farmácia Globo, na Rua Major Facundo, esquina com a Rua São
Paulo.
Em 20 de fevereiro de 1928, o
fogo atingiu três estabelecimentos comerciais, localizados na Rua Floriano
Peixoto, trecho Praça do Ferreira: as lojas A Capital, de Braga e Irmão; Estiva
e Miudezas, de j. Leopoldino da Silva; e Germânia, de José Cabral Ribeiro.
A 13 de outubro de 1929, o
prejudicado foi o coronel Plácido de Carvalho, que viu o prédio de sua propriedade,
situado na Praça Capistrano de Abreu, onde funcionava a empresa Torrefação
Iracema, ser totalmente queimado.
Outro incêndio de grandes proporções,
que causou prejuízos incalculáveis, foi o que ocorreu numa madrugada de setembro
de 1929, e teve início no Hotel Avenida, prédio de três andares localizado na
esquina das ruas Barão do Rio Branco com Guilherme Rocha. O fogo irrompeu a
partir do térreo, e rapidamente tomou conta de todo o prédio.
Era por volta de 1 hora da
madrugada, todos dormiam e o proprietário, um certo “Seu” Abílio, saiu batendo
de porta em porta, acordando os hóspedes, alertando-os para que abandonassem o
local rapidamente. Além do Hotel Avenida, o incêndio consumiu o Café Poty, que
ficava bem ao lado, a Casa Primor, A Fascinadora, a Alfaiataria Job, e a
Relojoaria Cancão, deixando ainda grandes prejuízos na Casa Zenith e na
Samaritana. Não houve vítimas por conta da pronta intervenção do proprietário,
mas os hóspedes perderam tudo, até as roupas. Hoje no local está a loja
Esmeralda.
Incêndios devastadores, como o
do Hotel Avenida, convenceram de vez as autoridades da necessidade da criação
de uma corporação pública, destinada ao combate de incêndios na cidade. Assim,
atendendo a reivindicações de comerciantes e de autoridades, o governador José
Moreira da Rocha determinou a criação do pelotão de Bombeiros de Fortaleza, em
8 de gosto de 1925, subordinado ao Regimento Policial do Ceará. Desaparelhado e
sem autonomia, o pelotão de bombeiros tinha uma atuação discreta e ineficiente.
No dia 28 de dezembro de 1931,
um grande incêndio consumiu a Casa Maranguape, de Agapito Sales e a Casa
Simpatia, de Elias Áfora, ambas localizadas na Rua Major Facundo, Praça do
Ferreira.
A 3 de janeiro de 1932, outro
incêndio que atingiu a loja Para Todos de Vicente Alves Monteiro e o Foto Sales,
de Tertuliano Sales, na Praça do Ferreira.
Em 20 de janeiro de 1933, também em estabelecimentos localizados na Praça do Ferreira um incêndio consumiu o Café Art-Nouveau, e o Restaurante Chic, e causou danos a Casa Mário Campos, A Gávea, a Casa Parente, a Sorveteria Nice e ao restaurante A Gruta.
Em 1º de janeiro de 1934, a corporação
começou a funcionar de fato, sob o nome de Corpo de Bombeiros de Segurança Pública
do Estado. Tendo como comandante o primeiro-tenente Francisco das Chagas
Nogueira Caminha e com um efetivo de 30 homens, advindos do Corpo de Segurança
Pública (hoje Polícia Militar do Ceará) e da extinta Guarda Civil. O prédio que
viria a abrigar o quartel do Pelotão de Bombeiros foi inaugurado no dia 7 de
setembro de 1934, na então Praça Fernandes Vieira, atual Praça Gustavo Barroso,
no bairro Jacarecanga.
Quando havia qualquer incêndio na cidade, Mané Coco, o
folclórico proprietário do Café Java, localizado na Praça do Ferreira, era
chamado, com urgência, para apagar os incêndios, e aparecia sempre sozinho, munido
unicamente de dois baldes de madeira e uma machadinha. Desse modo, Mané Coco, comerciante, admirador das letras e das artes, acumulava também as funções de bombeiro.
Fontes:
Cronologia Ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo
histórico e cultural/ Miguel Ângelo de Azevedo(Nirez)-Fortaleza, Banco do
Nordeste, 2001
Um Certo Contato com a Lua, depoimento de Antônio Girão
Barroso em Roteiro Sentimental de Fortaleza, Coordenação de Simone de Souza e
Sebastião Rogério Ponte. Fortaleza: UFC-NUDOC/SECULT-CE, 1996.
Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga/Raimundo
de Menezes: introdução, Sebastião Rogério Ponte – Fortaleza: Edições Demócrito
Rocha, 2000.
https://www.bombeiros.ce.gov.br/institucional/
fotos do Arquivo Nirez, Pinterest e postais antigos
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