Muitas mulheres tiveram papéis
relevantes na formação histórica de Fortaleza: professoras, escritoras, médicas,
educadoras, artistas. Mas as mulheres foram pouco lembradas por ocasião do
batismo de praças e monumentos da cidade. Várias se tornaram nomes de ruas, postos
de saúde e escolas de primeiro grau. Mas a maioria absoluta, são homenagens a
homens, alguns totalmente desconhecidos para a maior parte da população,
outros, até que são nomes conhecidos, mas não se sabe por que foram
homenageados com nomes de ruas e praças da cidade, quando havia tantas mulheres
notáveis que mereciam todas as homenagens.
Praça Argentina Castelo Branco
Dona Argentina Viana Castelo
Branco nasceu em Cataguases – MG, em 16 de novembro de 1899. Aos 18 anos
casou-se com o então cadete Humberto de Alencar Castelo Branco. Faleceu em
abril de 1963, aos 74 anos de idade, na cidade do Recife, um ano antes da revolução
de 31 de março, deixando viúvo o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco,
que seria presidente do Brasil no período de 15 de abril de 1964 a 15 de abril
de 1967.
Seus restos mortais juntamente
com os do seu marido, estão sepultados no mausoléu vizinho ao Palácio da
Abolição. Argentina Castelo Branco é nome de uma simpática e bem cuidada praça,
localizada no bairro de Fátima, criada em 1964, no governo do General Murilo
Borges Moreira.
Praça Gracinha Soares
Maria da Graça Figueiredo dos
Santos nasceu em São Luís – MA, em 21 de dezembro de 1940. Atriz e diretora
teatral. Foi considerada uma das maiores atrizes do Ceará, desde que chegou
aqui, em 1954. Estreou no grupo Teatro-Escola, dirigido por Nadir Papi Sabóia,
e foi uma das primeiras alunas do Curso de Arte Dramática da Universidade
Federal do Ceará. Em 1960, fundou com o marido, o ator Edilson Soares, o grupo
Experiência, que montou duas peças infantis. Maria da Graça (Gracinha)
diplomou-se no Curso Normal do Colégio São João, no Curso de Formação de Atores
e no Curso de Arte Dramática da UFC.
Gracinha Soares faleceu em 1982.
Gracinha Soares é o nome da
praça localizada no bairro Edson Queiroz, criada em 1983, na gestão do Prefeito
César Cals Neto. Fica entre a Avenida Sapiranga, Ruas Conselheiro Gomes de
Freitas, Lourival Correia Pinho, Evilázio Miranda e Poeta Otacílio Azevedo.
Praça Margarida Sabóia de
Carvalho
Margarida era professora
diplomada pela Escola Normal, casada com Jáder de Carvalho, professor, advogado
e jornalista. Junto com a irmão Hortênsia, fundou o Curso Eduardo Saboia, de
preparação ao Admissão. Lecionou no Colégio Castelo Branco quando de
propriedade do professor Odorico Castelo Branco, seu fundador. Além de
educadora Margarida era Jornalista, escritora e cronista, escreveu: Por Entre
Dedos; Crônicas; Santos do Céu - Santos da Terra; Imperfeição e A Vida em
Contos. Morreu, vítima de atropelamento, em 11 de maio de 1975.
Colégio Castelo Branco fundado a 1º de junho de 1900 pelo professor Odorico Castelo Branco - foto Arquivo Nirez
A Praça está localizada entre
as Ruas Dr. Carlos Ribeiro Pamplona e Edmar Villar de Queiroz no bairro Edson
Queiroz. O espaço sem nenhuma urbanização, foi criado em 1978, com o nome de
Praça Edmar Villar de Queiroz. No mesmo ano teve a denominação modificada para
Margarida Sabóia de Carvalho. Conhecida popularmente como praça da CTC, a praça
foi revitalizada em 2019, na gestão do prefeito Roberto Cláudio.
Praça Narcisa Borges
Dona Narcisa Borges da Cunha
Moreira, casada com José da Rocha Moreira, eram os pais do tenente Murilo
Borges Moreira (que mais tarde seria prefeito de Fortaleza no período 1963-1967),
e sogra do capitalista José Maria Filomeno Gomes. Dona Narcisa, foi vítima de
um rumoroso crime que abalou a sociedade de Fortaleza, ao ser brutalmente
assassinada pelo marido de uma empregada da sua casa, ao defendê-la da agressão
do marido, no dia 21 de dezembro de 1936.
Narcisa Borges é nome de uma praça localizada no bairro Vicente
Pinzon, e de uma escola municipal
localizada na travessa Costa Rica no bairro Antônio Bezerra (ou Paes de
Andrade).
Hospital e Maternidade Zilda
Arns (Hospital da Mulher)
Zilda Arns Neumann nasceu em
Forquilhinha, Santa Catarina, no dia 25 de agosto de 1934. Era médica pediatra e sanitarista, irmã de
Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo. Fundou em 1983 a Pastoral da Criança, um programa de ação social
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Em 2006, foi indicada ao Prêmio
Nobel da Paz. Zilda Arns faleceu em Porto Príncipe, Haiti, no dia 12 de janeiro
de 2010, quando participava de uma palestra sobre as atividades da Pastoral da
Criança, no momento em que a cidade foi atingida por um violento terremoto. O hospital
foi Inaugurado em 2012, localizado na Avenida Lineu Machado, 155, bairro Jóquei
Clube.
Luiza Távora
Luiza Silva de Moraes Correia
nasceu em Fortaleza no dia 01 de julho de 1923, filha de Luiz Moraes Correia,
professor de direito da Faculdade de Direito do Ceará e Esmerina Silva Correia,
proveniente de uma abastada família do Piauí. Casou-se com o coronel Virgílio
Távora com quem teve dois filhos. A partir do casamento mudou o nome para Luiza
Moraes Correia Távora. Foi uma das primeiras damas mais atuantes do Ceará
durante os dois mandatos de governador de Virgílio Távora (1963/1966 –
1979/1982). Luiza Távora faleceu em 1992, aos 68 anos de idade.
Equipamentos públicos
que receberam o nome da primeira data:
Luiza Távora em companhia de Virgilio Távora na inauguração da energia de Paulo Afonso em fevereiro de 1965 - foto do livro História da Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite
Praça Luiza Távora -
Localizada entre a Avenida Santos Dumont e as ruas Carlos Vasconcelos,
Monsenhor Bruno e Costa Barros, construída onde antes existia um castelo erguido
por Plácido de Carvalho, no início da década de 1920, no então rarefeito bairro
do Outeiro.
Posto de Saúde Luiza Távora,
no bairro Itaperi
Restaurante Escola Luiza
Távora – criado em 1981 a pedido da primeira dama. É vinculado ao Centro Educacional
Padre João Piamarta, localizado na Avenida Aguanambi, bairro Aeroporto.
EEFM Dona Luiza Távora –
Bairro São João do Tauape
EEFM Luiza Távora – Bairro
Jardim das Oliveiras
Rachel de Queiroz
Raquel de Queiroz nasceu em
Fortaleza, em 17 de novembro de 1910. Apesar de ter nascido na capital era em
Quixadá, sertão central que a escritora tinha suas raízes. Autora de destaque na literatura nacional, estreou
em 1927, com o pseudônimo de Rita de Queiroz, no jornal O Ceará. Em 1930, publicou o romance O Quinze, que
retrata os horrores vivenciados pela escritora na terrível seca daquele ano.
Com apenas 20 anos Rachel de
Queiroz se projetava na vida literária do país, com um romance de fundo social.
O livro editado às expensas da autora surgiu em modesta edição de mil
exemplares, e recebeu críticas dos maiores escritores da época. O entusiasmo da
crítica diante do lançamento de “O Quinze” tornou Rachel de Queiroz um nome
nacional, e aos vinte anos já era uma figura pública.
Trecho do Parque Rachel de Queiroz em 2010 - foto Fortaleza em Fotos
A consagração veio com o
prêmio Fundação Graça Aranha em 1932. Rachel de Queiroz foi primeira mulher a
ingressar na Academia Brasileira de Letras em 1977. Foi a primeira mulher a
receber o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa. Rachel fez sólidos contatos com algumas lideranças
políticas, e terminou sendo uma das fundadoras do Partido Comunista do Ceará.
Quando a ditadura de Getúlio
Vargas começou a atuar com mão de ferro, intensificando o combate aos
“vermelhos” Raquel foi presa incomunicável no Quartel do Corpo de Bombeiros em
Fortaleza. A convivência com os bombeiros rendeu uma crônica onde a então presa
política relata sua rotina. A escritora faleceu em 04 de novembro de 2003, no
Rio de Janeiro.
Homenagens a Rachel de Queiroz em Fortaleza:
Escola Municipal Rachel de
Queiroz na Barra do Ceará
Centro de Educação Infantil Rachel
de Queiroz no bairro Prefeito José Walter
Praça Rachel de Queiroz – Rua
Cel. Raimundo Guanabara, 608-132 - São Gerardo
Estátua na Praça General
Tibúrcio
Parque Rachel de Queiroz – o Parque
Rachel de Queiroz no papel desde 1995, tinha previsão de iniciar a primeira
etapa no primeiro trimestre de 2020. Localizado na zona Oeste de Fortaleza, terá
10 km de extensão e uma área total de aproximadamente 203 hectares. As
intervenções no Parque irão beneficiar diretamente 285 mil pessoas, em uma área
de abrangência de 14 bairros.
Colégio Militar do Corpo de
Bombeiros Escritora Rachel de Queiroz – fundado no dia 13 de abril de 1998 no bairro
Jacarecanga.
Colégio Militar do Corpo de Bombeiros Escritora Rachel de Queiroz - foto Governo do Estado
A Incendiária e os Bombeiros (Crônica de Rachel de Queiroz)
Praça General Tibúrcio foto: Fortaleza em Fotos 2012
Em 1937, quando Getúlio Vargas preparava seu golpe de estado,
todos os possíveis opositores que se espalhavam pelo território nacional foram
apanhados. No Ceará, mandaram os jornalistas para a cadeia pública. Mas comigo
tiveram consideração, pois eu era uma senhora de boa família. Fui presa no
quartel do Corpo de Bombeiros em Fortaleza.
No início de outubro,
trabalhava em uma firma que embarcava algodão para Europa. Fui surpreendida por
um delegado de polícia, que me conduziu a uma viatura para o Quartel do Corpo
de Bombeiros, onde fui entregue não aos soldados, mas a Senhora do Comandante,
que praticamente me pedia desculpas ao mostrar as precárias comodidades do
local: uma cama de solteiro, uma mesa e duas cadeiras.
Levou-me a uma das janelas e
disse que bastava eu chegar ali e dar um grito que ela imediatamente seria
chamada. Assim, morando com os bombeiros, passei cerca de um mês, enquanto
Getúlio dava e consolidava seu golpe.
Praticamente, tornei-me
bombeira. Da minha janela assistia aos exercícios. É impressionante como
aqueles homens arriscavam a vida, adestrando-se para salvar a vida de outros.
Eles vinham marchar debaixo das minhas janelas.
A Senhora do comandante me
mandava, por eles, guloseimas da sua mesa. Sua filha adolescente que me chamava
de "Tenente", também me visitava. Era uma menina bonita a quem às
vezes ajudava com problemas da escola. Era como se eu tivesse uma família
afetuosa ao alcance das mãos. Já a minha família não tinha o direito de me visitar.
Afinal, Getúlio deu seu golpe,
o Brasil voltou à normalidade possível, e nós, presos políticos, fomos soltos. Voltei
para casa, mas confesso, senti saudades... das serenatas dos músicos sob minhas
janelas, das ocasiões em que eu ajudava os bombeiros, estudantes aflitos, em
hora de exames, que mandavam bilhetinhos das questões mais difíceis de
português; bilhetinhos que devolvia com as respostas.
Saí afinal, mas fiquei amiga
da família do Comandante, principalmente fiquei amiga dos bombeiros. Alguns
vinham me visitar nas folgas e infalivelmente ao me encontrar na rua, assumiam
posições de sentido e batiam solene continência e eu, confesso, ficava morrendo
de orgulho.
E o carinho se renovou no
coração da velha senhora.
Rachel de Queiroz
Pesquisa:
Praças de Fortaleza, de Maria
Noélia Rodrigues da Cunha
Rachel de Queiroz, de Heloisa
Buarque de Holanda
wikipédia
Um comentário:
Parabéns pelo seu trabalho amo demais esse blog sou um apaixonado pela história do ceará
Postar um comentário