Até o ano de 1827, a população de Fortaleza sofria com
a falta de um sistema de abastecimento de água. Muito antes, em 1812, durante o
governo de Manuel Inácio de Sampaio (1812-1820), havia
sido celebrado um contrato entre o Conselho da Vila de Fortaleza e o
tenente-coronel João da Silva Feijó, a fim de que fosse aproveitada uma das
nascentes de água do seu sítio, localizado na Rua do Quartel (atual General
Bezerril) para a construção do primeiro chafariz público.
Chafariz na Praça José de Alencar, atual Praça Waldemar Falcão (foto de 1908 do álbum de vistas do Estado do Ceará)
Com a assinatura das
leis provinciais de 19 e 20 de setembro, foi autorizado o inicio desse serviço
em Fortaleza, por meio de chafarizes. Os primeiros estudos do projeto de
abastecimento e distribuição de água foram iniciados pelo engenheiro Bertholt
em 1861, com a autorização da Câmara Municipal.
No ano seguinte concedeu-se a
José Paulino Hoonholtz privilégio por 50 anos, a fim de fazer o encanamento de
água do seu sítio no Benfica, para chafarizes espalhados pela cidade, tendo
sido celebrado o contrato em 27 de maio de 1863. Quatro chafarizes foram então
construídos nas seguintes praças: da Municipalidade (atual Praça do Ferreira),
Garrote (atual Cidade da Criança), Carolina (atual Waldemar Falcão) e
Patrocínio (Marques de Herval e posteriormente, José de Alencar).
A Praça do Ferreira tinha cacimba, catavento e caixa d'água
A Praça Marquês de Herval (atual José de Alencar), foi urbanizada em 1902 e ganhou jardins uma cacimba e catavento para sua manutenção
Mais tarde,
em 1866,o presidente da Província firmou contrato com a The Ceará Water
Company, então concessionária do privilégio, para serem colocados mais três
chafarizes, na Praça do Patrocínio, (Marquês de Herval), Colégio dos Educandos
(Praça Filgueira Lima), e Alfândega. A inauguração oficial desses serviços se
registrou entre festas retumbantes, a 26 de março de 1867, às 5 horas da tarde. Compareceram ao ato todas as autoridades e uma multidão de curiosos, que
assistiram a bênção das instalações procedida pelo bispo D. Luiz Antônio dos
Santos.
Em 1834, Fortaleza possuía uma única cacimba. Assim, que foi
autorizada a construção de uma cacimba de pedra e cal por detrás da Rua do
Açougue. No ano seguinte foi autorizada a construção de nova cacimba dentro da
existente no quintal da cadeia. Mais tarde a Câmara Municipal em sessão de 12 de
novembro de 1837, autorizou a construção de uma cacimba na Travessa do Jacinto,
para utilidade pública.
Praça dos Coelhos (atual Praça José Bonifácio)
No
lado norte da praça, apoiado numa pilastra de pedra e cal, rodeado de grades de
ferro, havia um velho catavento que rodava o dia inteiro, puxando água
do cacimbão através de um enferrujado encanamento. Uma grande torneira,
suspensa a cerca de um metro de altura do chão, jorrava, e era ali que
todos enchiam seus vasilhames: camburões, alguidares, ancoretas e
panelas. (Otacílio de Azevedo, em Fortaleza Descalça)
Depois outras cacimbas públicas surgiram no Garrote e
Paiol da Pólvora, as quais eram guardadas pela policia para evitar depredações.Em
1853 ficou decidida a construção de outra cacimba na Lagoinha, visto que a que
existia no local não era suficiente. No ano de 1867, uma companhia inglesa
tentou organizar o serviço de abastecimento por meio de uma pequena rede
distribuidora de água apanhada em cacimbas, de onde era captada por meio de
bombas para dois reservatórios instalados no Benfica. Dali a água era
canalizada para o centro da cidade, aproveitando-se o declive do terreno que
facilitava o escoamento. Com a seca de 1877, as cacimbas secaram e o
abastecimento teve que ser suspenso.
Após essa primeira tentativa que fracassou,
somente no governo Accioly, o Dr. João Felipe elaborou em 1911, um projeto que
não foi concretizado de imediato em razão da deposição do governador. Mesmo
assim haviam sido construídas duas caixas de água na Praça da Bandeira, com
capacidade para 760.000 litros cada uma, além do estabelecimento de 42 km de
canos pelas ruas.
Praça da Bandeira (atual Clóvis Beviláqua) com as duas caixas d'água instaladas entre 1911/12
O prosseguimento dos trabalhos ocorreu em 1923, quando
Ildefonso Albano contratou uma firma americana e o serviço de água e esgoto foi
inaugurado em 1926, sem que se registrasse uma ampliação da área atendida pelo
reservatório do Acarape. Por isso permaneceu a costumeira preocupação dos proprietários de
imóveis com a instalação de cacimbas para atender as necessidades domésticas.
vendedores de água na Rua da Cachorra Magra (atual Marechal Deodoro) no Benfica, onde estava localizada uma das fontes mais famosas de Fortaleza: a de Zuca Acioly
Até a data da inauguração do sistema com água do Acarape, a distribuição da água ainda era feito em lombos de jumentos, com
depósitos de madeira. Algumas fontes se dedicaram a esse comércio, tornando-se
depois conhecidas no mercado por terem ampliado a oferta por um grande número
de vendedores avulsos que se lançaram no comércio ambulante.
Um vendedor de água oferece o produto na Travessa da Cacimba, atual Rua Visconde de Saboia - 1908
Nas residências
das pessoas de grandes posses, e nas praças utilizavam-se os cataventos, em
geral de fabricação norte-americana. Eram colocados juntos das cacimbas, e
regavam gramados e pomares. Com
o passar do tempo e chegada evolução no ramo, não mais se vendia a água nas
ancoretas carregadas por jumentos, mas, substituídas por carroças conduzindo
grande pipa (pintada com tinta verde) puxada por burros.
(imagem https://martaiansen.blogspot.com.br) |
A origem da água
distribuída pelas carroças era proveniente de poços localizados nos bairros da
Floresta, Itaoca, Pirocaia e Benfica. Com a implantação do sistema de
distribuição da água do Acarape – (Rio Acarape, Gavião ou Acarape do Meio), a
cidade passou a receber água tratada, ainda que o beneficio só alcançasse, no
inicio, uma pequena parcela da população.
Fotos: Arquivo NIREZ
Fontes de consulta:
JUCÁ, Gisafran Nazareno Mota. Verso e Reverso do Perfil Urbano de Fortaleza (1945-1960). São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, 2000.
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga. Introdução, Sebastião Rogério Ponte. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.
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