Primeira sede da Tipografia Minerva, nos anos 20 e atualmente:
virou estacionamento
A última década do século XIX trouxe para o Ceará a
marca da arte e da cultura. Em maio de 1892 nascia a Padaria Espiritual,
agremiação que reunia jovens pintores, músicos e escritores cearenses, para falar
abertamente sobre suas expressões artísticas. Seus componentes chamados de
padeiros, assinavam crônicas, contos, editoriais e poesias, num jornal editado
por eles e simbolicamente chamado “O Pão”. Pouco antes, em 15 de março o
livreiro Gualter Rodrigues Silva instalava uma nova oficina tipográfica em
Fortaleza em um antigo prédio da Travessa da Assembleia, n 41 (atual Rua São
Paulo), inspirado na deusa romana da sabedoria e das artes, das técnicas de
guerra e padroeira das artes úteis, dá a empresa o nome de Tipografia Minerva.
Ali seriam impressos “A Fome” de Rodolfo Teófilo e “Lendas e Canções Populares”
de Juvenal Galeno.
Pouco tempo, no entanto, lhe restaria para
experimentar a arte de perpetuar em tipos impressos o falar dos amigos. Ao completar
48 anos foi vítima e de um aneurisma que o levou para a eternidade, deixando à
pintora Isabel Ribeiro da Silva Gualter o triplo desafio de pintar, imprimir e
vender livros. Seis anos depois, em 1898, optando por manter a Libro Papelaria Gualter,
Isabel vende para Francisco Assis Bezerra de Menezes uma oficina com três
pequenas impressoras, uma máquina de cortar e algumas caixas de tipos. Junto iria
o único operário da Minerva, o impressor José Flamínio Benevides.
Proprietários e funcionários da Tipografia Minerva. O
proprietário Assis Bezerra, está na fila da frente, sentado, o 4° da esquerda
p/direita
De acordo com Aluísio Bezerra, no mesmo ano de
fundação da Tipografia Minerva em 1892, Assis Bezerra havia perdido o pai,
Antônio Bezerra de Menezes e assumira, juntamente com o irmão mais velho,
Manuel Felício (Bezerrinha) a responsabilidade de amparar a mãe e os irmãos. Em
1894 havia trabalhado como dirigente de um hotel em Quixeramobim; mais tarde,
em sociedade com um primo, instalara uma indústria de beneficiamento de algodão
na então vila de Pedra Branca. Agora, com 29 anos de idade, investe dois contos
e 800 mil réis em um empreendimento que marcaria para sempre a vida da família Bezerra.
Em 1904 a Tipografia
Minerva mudaria suas instalações para a Rua Major Facundo, n° 111 a 113, em
prédio alugado por 110$000 mensais. Pouco mais de 20 anos depois, o aluguel já
alcançava a casa dos 500$000, o que inviabilizava o negócio. Em 1926, Moacir
Bezerra faz um investimento de 50.000$000 e compra duas casas na Rua Barão do
Rio Branco n° 788, promove ampla reforma e instala as máquinas da gráfica
naquela que seria a primeira sede própria da Tipografia Minerva. Ali permaneceu
por quatro décadas, mudando-se para outro imóvel localizado na Avenida
Imperador, ficando na antiga sede a livraria e a papelaria.
Extraído do livro
Sindgráfica – 70 anos, de Francílio Dourado Filho
Sindgráfica – 70 anos, de Francílio Dourado Filho
7 comentários:
Muito bom, ver essa postagem. Acabei de enviar por e-mail, para o primo Aluísio Bezerra.
Quando menina, passava muito na Tipografia Minerva,com a minha mãe, que era prima os irmãos proprietários.
trabalhei no ultimo ano da Livraria,foi meu primeiro emprego de carteira assinada foi muito bom fazer parte desta historia, o Sr. Aluísio é uma figura, lembro até hoje " seu menino" .
Olá,Minerva também é um tipo de impressora (meu pai é tipógrafo e ele tem uma impressora minerva)... talvez o nome da tipografia seja em relação ao tipo de impressora, mas obviamente a impressora recebeu o nome em homenagem a deusa....
Procuro muito o livro “ Os Bezerra de Menezes: Origens. 1976, Fortaleza. Tipografia Minerva, 21p. (BARROS LEAL, Vinicius)” Infelizmente não encontrei em lugar algum. Alguém teria uma dica ? Queria ao menos uma cópia. Meu fone (83) 98844-1284, Augusto. Por ser um livro curto (aparentemente 21 páginas) me contentaria com fotos enviadas via whatsapp. Gostaria mesmo de comprar um exemplar mas numa tentativa de ter algo sobre valem as opções citadas. Desde já, grato.
Meu avô e bisavô paternos Caubi Bezerra e Assis Bezerra eram homens sobressalentes, pelo que se conclui da leitura de um trecho do livro "Teoria da Classe Ociosa", de Thorstein Veblen: "A habilidade adquirida em qualquer imprensa ou cidade pode aproveitar-se com facilidade em qualquer outra empresa ou localidade; quer dizer, a inércia devida à profissão é pequena. Ademais, essa ocupação requer uma inteligência e uma informação geral superiores às normais, e por isso os homens dedicados a elas estão, em geral, mais dispostos que muitos outros a aproveitar-se da ligeira variação que possa haver na demanda de seu trabalho de um lugar a outro. Ao mesmo tempo, os salários que se pagam na profissão são o suficientemente altos para fazer com que o movimento de um lugar a outro possa realizar-se com relativa facilidade." O trecho da obra de Thorstein Veblen que acabo de citar se adequa ao caso do meu avô Caubi Bezerra e ao seu pai, Assis Bezerra, pai e avô, respectivamente, de meu pai, José Moacir Furtado Bezerra. Note-se que Veblen escreveu seu livro nos Estados Unidos de 1899. A Tipografia Minerva nasceu em 1892. "A Teoria da Classe Ociosa", de Thorstein Veblen -- que estou lendo agora, e por cujo impulso busquei informações sobre a Tipografia Minerva na internet e acabei descobrindo esta página --, é um dos mais importantes clássicos da literatura econômica do século XX. Sem mais, quero parabenizar à autora do blog por proporcionar-me tão significativas recordações.
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