A antiga igreja de baixo, construída nas areias do Mucuripe
pelos pescadores e suas famílias, segundo contam, uma moradora levou uma imagem
de Nossa Senhora da Saúde para o Mucuripe. A princípio os moradores iam venerar
a santa na casa da moradora. Depois uma outra moradora devota da Santa, de mais posses
do que a primeira, mandou erigir uma capela em pagamento de uma graça
alcançada. Então levaram a imagem para essa capela, que recebeu o nome de sua
padroeira, Nossa Senhora da Saúde.
A igrejinha tinha a sua frente dois pés de flamboyant e a uma proximidade deslumbrante com o mar verde do Mucuripe. As festas reuniam multidões, com fortes manifestações de devoção a Nossa Senhora, quando se queimavam centenas de velas.
A igreja original, com janelas no sótão. Depois de reformas, o sótão foi removido.
Alguns moradores passaram a comercializar velas e outros artigos religiosos no patamar e nas proximidades do templo, o que desagradou ao vigário padre Luiz Rocha. Como os moradores insistiram na prática, o padre mandou fechar a igreja. Mas o povo não concordou e arrombou as portas da igreja, o que provocou a ira do padre e do bispo Dom Manuel, que mandou excomungar todos os envolvidos no episódio e interditar a igrejinha. Inconformados, os moradores se juntaram em mutirões se empenharam na construção de uma nova igreja, no alto de uma duna, a atual matriz da paróquia do Grande Mucuripe, concluída em 1932.
Depois de algum tempo, em 1937, atendendo reivindicação de moradores, foi dada permissão do arcebispo, para reabertura do pequeno templo dos pescadores, que depois de restaurada passou a cultuar a devoção a São Pedro, o santo pescador. Essa igrejinha outrora, tinha um sótão, onde ficavam o coral e um órgão. Possuía três frentes e, no lugar onde hoje está o sino, havia duas janelinhas que davam vista para o mar. A planta original foi sendo modificada à medida que aconteceram as reformas. O sótão desapareceu com as mudanças.
Era na igrejinha de baixo que os pescadores vinham pagar suas promessas, não só eles, mas todo o povo do Mucuripe e de outros lugares da cidade e até do interior. Centenas de ex-votos, talvez milhares deles, atestando a fé da gente praiana na sua padroeira: miniaturas de jangadas que se salvaram em dias de mar revolto, garrafas com preces recolhidas na praia, braços, pernas e mãos em gesso, em cera, em osso, em madeira, um mundo de provas dos milagres de Nossa Senhora. Todos esses ex-votos desapareceram com o fechamento da igrejinha.
A igrejinha foi fechada, considerada “porta do inferno” por Monsenhor
Luiz Rocha, que convenceu o arcebispo a interditar a capelinha onde os moradores
faziam suas preces e agradeciam os milagres de sua mãe protetora. A comemoração
da festa de São Pedro, com procissão de barco pela enseada do Mucuripe, existe
desde a década de 1930.
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Foto Diário do Nordeste |
A programação em homenagem a São Pedro, realizada anualmente,
tem início no dia 20 de junho, com a tradicional novena realizada todas as
noites na Igreja de São Pedro, na Avenida beira Mar. As celebrações encerram no
dia 29 de junho com uma missa realizada logo nas primeiras horas da manhã. Após
a cerimônia, a imagem do santo é conduzida em cortejo terrestre por pescadores
vestidos com roupas tradicionais até uma embarcação. Em seguida, tem início a procissão
marítima em direção ao espigão do Náutico.
A Festa de São Pedro dos Pescadores, é primeiro bem imaterial
registrado oficialmente em Fortaleza.
fontes:
Mucuripe, de Pinzon a Padre Nilson, de Blanchard Girão/Jornais O Povo/Diário do Nordeste. Fotos Pinterest/Anuário do Ceará.
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