terça-feira, 25 de junho de 2024

Paula Ney o poeta de Fortaleza

 


Paula Ney foi aluno do Liceu e do Seminário da Prainha. Mas nunca gostou de estudar, era um aluno rebelde. Enquanto estudava no Seminário, costumava fazer discursos contra os antigos métodos de violência empregado para o aprendizado das matérias. Como resultado, foi expulso por mau comportamento. No Liceu, a história se repetiu, sendo reprovado por conta de grande desentendimento com um professor de inglês.

Por causa de sua inadaptação, foi mandado pelo pai para o Rio de Janeiro, para estudar Direito; a mãe preferia que estudasse Medicina; no final, Paula Ney não seguiria nenhuma dessas profissões. Iniciou-se no jornalismo na “Gazeta de Notícias”, participou de comícios pela abolição da escravatura ao lado de José do Patrocínio, além de escrever em favor da liberdade. Mas, para atender as expectativas da mãe, matriculou-se na Escola de Medicina, que pouco frequentava. Comparecia apenas para realizar exames orais, conseguindo sucesso pelas amizades com os professores e gozações nas respostas:

- Diga ao menos quantos ossos tem o crânio de um homem ... – não me recordo professor... mas tenho-os todos aqui na cabeça. Fica satisfeito o primeiro examinador. Vai para avaliação do segundo:

- vou fazer a primeira pergunta. Se o senhor responder nada mais lhe perguntarei, dar-me-ei por satisfeito. “Diga-me quantos fios de cabelo tem o senhor?”

- duzentos e sessenta e cinco mil oitocentos e novecentos e quatro...

- mas como o senhor chegou a essa conclusão?

- caro professor, não se esqueça que o senhor garantiu que só faria uma pergunta. Trato é trato.

E é aprovado em Anatomia. No exame de Cirurgia teve de se haver com o Visconde de Saboia. Nada sabe do ponto sorteado. Resolve então fazer literatura.

- a mentalidade humana vive num oceano de hipóteses e de dúvidas... os sábios vão ao fundo, na ânsia das pesquisas, com o peso da inteligência...

- e a ignorância? Pergunta-lhe o Visconde.

- essa boia.

Mas essa vida fácil na Faculdade de Medicina não podia continuar eternamente. E foi ao prestar exame de Obstetrícia, com o professor Feijó Junior, que o fez dar por encerrada sua futura profissão de médico. Ao ser sabatinado, não conseguiu articular uma resposta, o que fez com que o professor dissesse: 

- “senhor Paula Ney... então não sabe isso? É incrível, uma coisa tão fácil...olhe que o que estou lhe perguntando é coisa que sei desde que nasci..."

Ney então compreende que está perdido. E quebra o silêncio fazendo a sala explodir numa gargalhada: - se o senhor sabe isso desde que que nasceu, então a senhora sua mãe devia ter uma biblioteca dentro do ventre

Estava terminada a sabatina, e encerrado o curso para o aluno. Paula Ney nunca mais voltaria à Escola.

Francisco de Paula Ney, nascido em Aracati, no dia 2 de fevereiro de 1858, representa uma geração de poetas boêmios, despreocupada com a vida e com o futuro. Somente o prazer dos amigos, as rodas literárias e as serenatas faziam sentido nessa existência alegre e poética. Fazia versos nas mesas dos cafés, na primeira folha de papel que lhe viesse as mãos. Gostava de dar asas a imaginação, comentando os mais diversos fatos, passando de literatura para a política, da política para as artes, das artes para a prisão do último ladrão. Era um orador de alta classe, porque de pequenas coisas sabia extrair grandes motivos.

Em seu "Dicionário Bibliográfico", o Barão de Studart afirma que Paula Ney foi nomeado diretor da Hospedaria de Emigrantes pelo marechal Floriano Peixoto, e foi destituído do cargo pelo governo de Prudente de Morais. A trajetória de Paula Ney foi interrompida no dia 13 de outubro de 1897, quando faleceu vítima de tuberculose. Tinha 39 anos.






Os cafés da Praça do Ferreira, que Paula Ney provavelmente frequentou, e foto ilustrativa da Praia de Iracema dos anos 90.


Ao longe, em brancas praias embalada

Pelas ondas azuis dos verdes mares

A Fortaleza – a loura desposada

Do sol – dormita à sombra dos palmares


Loura de sol e branca de luares,

Como uma hóstia de luz cristalizada

Entre verbenas e jardins pousada

Na brancura de místicos altares


Lá canta em cada ramo um passarinho

Há pipilos de amor em cada ninho

Na solidão dos verdes matagais...


É minha terra, a terra de Iracema,

O decantado e esplêndido poema

De alegria e beleza universais

 

Extraído dos livros “A História do Ceará Passa Por esta Rua”, de Rogaciano Leite Filho e Fortaleza 1910, Imprensa Universitária/UFC. Publicação FortalezaemFotos. Fotos Wikipédia, Arquivo Nirez e acervo particular. 

 

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