Quem diria que nossa
Fortaleza, atualmente com respeitáveis 2.703.391 pessoas (IBGE estimativa
2021), um dia foi tão
pequena que não tinha, (nem precisava) de placas de identificação de
logradouros, nem números das portas para localizar moradores ou comércios.
Nos primórdios da Vila os nomes das ruas e vielas eram dados pelos moradores e adotados pelo poder
público. Alguns nomes antigos eram tão naturais e apropriados que, por si
mesmos, estavam indicando sua procedência, tais como as ruas da Assembleia, da Municipalidade,
do Chafariz, do Cajueiro, do Quartel, do Gasômetro, da Cacimba, a Rua de Baixo,
de Cima, da Direita...
Com o passar do tempo, os
logradouros foram sendo disciplinados. A partir de 1800 a cidade já contava com
um arruador, mas o disciplinamento começou realmente a partir de 1812, com a
chegada do governador Sampaio que trouxe a Fortaleza, o tenente coronel de
engenheiros Silva Paulet, que elaborou a “Planta do Porto e Villa da
Fortaleza”, em 1813.
A Decisão sobre a aposição de
placas nas esquinas com indicação da nomenclatura das ruas, ocorreu em sessão
da câmara municipal de março de 1818, ainda na gestão de Sampaio, e começou e
ser implementada no ano seguinte. Dessa forma, já em janeiro o fortalezense
pode ler os nomes das vias públicas da vila.
Com o crescimento e a
consequente urbanização, ruas foram alinhadas, becos foram eliminados, as
calçadas demarcadas. A nomeação dos logradouros ganhou ares de modernidade, a
identificação pela funcionalidade virou coisa do passado. Assim, muitas vias
tiveram seus nomes modificados, algumas delas, várias vezes.
A Numeração nas portas demorou
um pouco mais. Em sessão ordinária de 12 de janeiro de 1861, o presidente da
câmara Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra indicou que se fizesse a numeração e
indicação dos nomes de ruas através de tabuletas. Mas a indicação, apesar de
aprovada, não foi logo cumprida, tendo sido objeto de nova apreciação por
vereadores de nova legislatura. A falta de numeração ensejou a que os
comerciantes usassem na divulgação dos seus estabelecimentos, nos anúncios
veiculados pela imprensa, o nome de pessoas conhecidas da população, como se
nota pelos anúncios publicados em jornais da época:
Aluga-se o armazém que fica
embaixo do sobrado onde morou o Dr. José Liberato Barroso, e presentemente a
Sra. Dona Thereza da Rocha Moreira”. (Jornal Pedro II, 27.01.1862).
Estabelecimento Fotográfico de
Madame Fletcher – Rua Nova na casa onde morou o Dr. Justa (A Constituição,
25.02.1865)
Assim o logradouro era
conhecido não pelo seu nome, mas porque fulano ou sicrano morava no local. O
costume era tão arraigado entre a população que até o vigário da Sé anunciou
pela imprensa, qual seria o percurso de uma procissão, comunicando que o
cortejo passaria em frente à casa de determinadas personalidades conhecidas.
“O Sol”, jornal que fazia
oposição à Câmara de Vereadores reagiu indignado à publicação do anúncio,
afirmando que o fato de ruas e travessas não terem nomes escritos, nem as casas
possuírem numeração, resultava na publicação de notas como aquela, como se
Fortaleza fosse uma “povoaçãozinha de meia tigela”, onde a população se
orientava pela localização das casas de moradores notórios.
Em janeiro de 1865 o assunto
da numeração dos prédios voltou a pauta na câmara, pela fala do vereador Rufino
Antunes de Alencar, que lembrou da necessidade de numerar os prédios da cidade
e solicitou orçamento elaborado por um engenheiro. Dois meses depois, em março,
já aparecem anúncios na imprensa com endereços completos, a exemplo do que foi
publicado pelo “O Cearense”, de 8 de março, sobre os serviços prestados por
Raimundo Pacheco Amora, de pintura, escultura e douramento, com endereço à Rua
da Alfândega, n° 8.
Em 29 de outubro de 1890, por
determinação do intendente municipal, José
Freire Bezerril Fontenele (01.01.1890-12.11.1890), a câmara municipal acatou a
sugestão de se trocar a denominação das ruas pela numeração, com a alegação de
por um fim as contínuas e sucessivas mudanças de nomenclatura, quase sempre
oriundas de sentimentos partidários. Fortaleza foi a primeira cidade do país a adotar esse sistema
americano. Os nomes de várias praças também foram substituídos.
A medida "não pegou", nem agradou
à população. Vários estabelecimentos comerciais continuaram a anunciar na
imprensa utilizando os antigos nomes de ruas e travessas onde estavam situados.
Raros foram os que adotaram, e passaram a publicar seus anúncios desta forma:
“Explêndido sortimento de
calçados BOSTOK para homens, senhoras e crianças, despachou a Loja Magnólia –
Rua 3 - n° 93” (Libertador, 17, 19 e 22.11.1890)
Fatos por Figurinos – Fazem-se
vestidos para senhoras e meninas e fatos para meninos pelos figurinos mais
modernos e preços módicos – Rua 7D (antiga Rua do Sampaio) n° 73. (O Cearense, 05.02.1890).
Não durou muito. Em 1891, por
determinação da câmara, todos os logradouros voltaram a ostentar seus antigos
nomes. A intendência mandou colocar em ruas e praças as placas com os nomes pelos
quais eram conhecidos. Fortaleza esteve assim oficialmente privada da nomenclatura
de suas ruas, praças, travessas por cerca de seis meses.
Até hoje, Fortaleza ostenta alguns nomes de logradouros, principalmente praças, que são conhecidos da população por nomes não oficiais.
Nomes de logradouros que “não
pegaram”:
Praça do BNB no centro, nome
oficial Praça Murilo Borges;
Praça da Estação, oficialmente
Praça Casto Carreira;
Praça da Lagoinha, nome
oficial Praça Capistrano de Abreu
Praça da Polícia, nome oficial
Praça dos Voluntários;
Passeio Público tem nome
oficial de Praça dos Mártires
Praça das Flores, na Aldeota,
nome oficial Praça Carlos Alberto Studart
Praça do Liceu, chama-se oficialmente, Praça
Gustavo Barroso
Praça dos Leões, o nome oficial é
Praça General Tibúrcio
A Praça da Bandeira no centro,
chama-se oficialmente Praça Clóvis Beviláqua
A Praça do Cristo Rei ou do Colégio Militar, na Aldeota, é a verdadeira Praça da Bandeira.
Fontes consultadas:
Coisas que o Tempo Levou –
crônicas históricas da Fortaleza antiga, de Raimundo de Menezes
Guia Turístico da Cidade –
Prefeitura Municipal de Fortaleza – 1961
Fortaleza – Casas e Ruas
Numeradas, de Ismael Pordeus
Disponível em > https://institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/1963/1963-FortalezaCasaseRuasNumeradas.pdf>
imagens Internet e Fortaleza em Fotos
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