Em uma de suas inúmeras
crônicas, o escritor, jornalista, poeta, editor, professor e membro da Academia Brasiliense de Letras, Francisco José Lustosa da Costa, conta que o
sítio onde hoje se instala a Porciúncula – atual sede das irmãs Missionárias da
Ordem das Capuchinhas, em Messejana, era de propriedade de sua família. Seu pai
comprara o sítio quando ainda era solteiro, e o vendeu no início da década de
60.
Messejana era então muito
longe de Fortaleza. Era um lugarejo tranquilo, com uma poética igreja no meio
de um largo, rodeada de frondosas mangueiras. Ainda não havia asfalto, a
pavimentação era com pedra de calçamento. Os ônibus eram velhos, maltratados. Em
suas reminiscências, o jornalista relembra de coisas e pessoas de quando
residiam no local: quando vinham da capital, desciam do ônibus em frente ao
sítio da Rosa, uma solteirona meio doida que tinha mania de limpeza, e que
ocupava o tempo varrendo infatigavelmente o terreno, envolta em uma nuvem de
pó, dizendo palavrões dirigidos às galinhas, que atrapalhavam seu trabalho.
Para chegar em casa passava
pela bodega de um certo Seu Oliveira, e percorria cerca de um quilômetro de
areal. O trecho era tido como perigoso, à noite. Nos seus tempos de criança, a
grande aventura consistia em atingir o final do sítio, na atual BR-116, onde se
situava a casa de um morador, um preto velho de nome José Pinto, que recebia
com mimos e agrados, as visitas dos filhos dos patrões.
Uma grande tradição do sítio
da família, era a comemoração ao 13 de maio, dia da aparição de Nossa Senhora
de Fátima. As novenas organizadas pela tia do jornalista, eram concorridíssimas,
geralmente apareciam os vizinhos, e os pobres da vizinhança vinham ver as
sobrinhas e as protegidas da dona da casa, todas vestidas de anjos com asas de
papelão. A avó do cronista era uma velha faladeira , destemida, amiga do
general Eudoro Correia.
À frente da paróquia de
Messejana estava o padre Pereira, (Francisco Pereira da Silva, pároco de 1938 a 1980) que implicava, em vão, com os namorados mais
acalorados, que escolhiam os fundos e a calçada da igreja, como local de
encontro para troca de carinhos. No auge da indignação, o velho sacerdote sentenciava:
“se peito de moça fosse buzina de carro, quem mora perto da igreja não ia poder
dormir à noite, tamanho o barulho!”
Fundos da Igreja de Messejana imagem: acervo IPHAN
Nas águas transparentes da lagoa
de Messejana, onde Iracema se banhava ao chegar do Ipu, o cronista se afogou e
quase morreu ainda criança. Escapou por um triz, para usar uma das expressões
da época.
Lustosa da Costa - Cajazeiras (PB) 1938 - Brasilia (DF) 2012
Hoje o belo e aprazível sítio –
sede das Irmãs Missionarias Capuchinhas, funciona como lugar de retiro e acolhida
de religiosos, promove eventos de cunho social e religioso e atua na área
educacional. O terreno foi adquirido pela ordem religiosa e no dia 19 de março
de 1961 foi lançada a pedra fundamental para a construção da Porciúncula. No dia primeiro de maio de 1964, a Porciúncula
acolheu o noviciado ocupando a terceira ala do prédio e dia 25 de maio chegou o
Governo Geral e a partir daí, foi reconhecida como Sede Geral da Congregação.
Em 1973, uma parte da casa foi cedida para encontros e cursos de maior e menor
duração, em regime de internato.
Fontes:
Louvação
de Fortaleza, de Lustosa da Costa
Fotos: Fortaleza em Fotos - 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário