Até os anos 50, as cerimônias religiosas de casamentos
eram voltadas para a liturgia. A preocupação com decoração do templo e recepção
para convidados eram coisas eventuais e ficavam em segundo plano. Uns poucos
vasos com flores resolviam a ornamentação da igreja. Quanto a recepção,
consistia, de modo geral, num jantar na residência dos pais da noiva ou mesmo
uma reunião mais simples, onde eram servidos bolos e guaraná. Outra regra quase
generalizada dizia respeito à igreja, por tradição a sede da paróquia dos
nubentes, onde não raro eles haviam sido batizados e também feito a primeira
comunhão. Em muitos casos, o padre oficiante da cerimônia era amigo da família
e até casara os pais dos noivos.
Casamento de Yvonne Gadelha e Mário Vieira
Dois casamentos, no entanto, quebraram essa tradição,
uma vez que foram celebrados numa igreja que na ocasião ainda não havia sido
sagrada como matriz, sede paroquial, no caso, a Igreja do Coração de Jesus, dos
frades capuchinhos, a antiga igreja dos Albanos, construída pelo Barão de
Aratanha para seu filho frade, mais tarde bispo, Dom Xisto Albano. Era então
uma igreja elegante, suave, construída sobre um elevado pedestal, com
escadarias, toda contornada por colunas onde se postavam os doze apóstolos,
moldados em ferro e em tamanho natural.
Quanto aos dois casamentos realizados ali, pelo seu
ineditismo chamaram a atenção e se tornaram notícias além dos limites da
capital. O primeiro foi dos jovens Artemilce Guedis e Glauco Lobo, realizado no
final dos anos 40. A noiva residia na esquina das ruas Assunção e Clarindo de
Queiroz, distante cerca de três quarteirões daquela igreja, e o acontecimento
ultrapassou a barreira da realidade adquirindo conotações lendárias.
Dizia-se
que o vestido da noiva era uma reprodução do modelo usado pela então princesa
Elisabeth da Inglaterra, que casara recentemente com o Duque de Edimburgo. Segundo
ainda os mesmos comentários, a noiva teria sido conduzida até a porta da igreja
numa carruagem, também cópia do veículo que conduzira a futura rainha da Inglaterra.
Conta-se ainda que um gigantesco tapete vermelho cobria o calçamento, desde a
porta da residência dos pais da noiva até o altar da igreja, algumas centenas
de metros adiante.
Outra cerimônia de casamento realizado no Coração de Jesus foi o da miss Emília Correia Lima, quando ainda havia todo um clima pelo fato da noiva ter sido eleita Miss Brasil. Daí, seu enlace com o oficial do Exército Santa Cruz Caldas ter parado a cidade naquela tarde-noite de 1956. Uma compacta multidão encheu o adro da igreja e toda a praça José Júlio para ver a mais linda noiva de todos os tempos.
casamento da Rainha Elizabeth
Outra cerimônia de casamento realizado no Coração de Jesus foi o da miss Emília Correia Lima, quando ainda havia todo um clima pelo fato da noiva ter sido eleita Miss Brasil. Daí, seu enlace com o oficial do Exército Santa Cruz Caldas ter parado a cidade naquela tarde-noite de 1956. Uma compacta multidão encheu o adro da igreja e toda a praça José Júlio para ver a mais linda noiva de todos os tempos.
Mas era a Igreja do Patrocínio a preferida pela elite
de Fortaleza, notadamente a população da Aldeota que ainda não dispunha de uma
igreja-matriz. Padre Nini pároco do Patrocínio tinha esmero pelo templo. Tudo ali
era bonito, limpo e do maior bom gosto e as famílias escolhiam aquele santuário
para o casamento de seus rebentos.
A Igreja do Carmo, pelo seu aspecto monumental também
era bastante requisitado para bodas, especialmente entre as famílias mais
tradicionais. Outros fatores que faziam daquela matriz uma das preferidas para
casamentos, era sua localização, em meio a uma praça e tendo à sua frente uma
das mais belas artérias de Fortaleza, o Boulevard Duque de Caxias, que naqueles
idos era essencialmente residencial, com aristocráticas mansões, onde residiam famílias
antigas e conservadoras.
As cerimônias de casamento eram realizadas normalmente à tarde, algumas mais simples pela manhã e, pelo que consta, o enlace de Emília Correia Lima foi o primeiro celebrado em hora mais avançada, no início da noite. Só na década seguinte, nos anos 60, teve início a prática de cerimônias noturnas.
A mudança começou quando a ex-primeira dama do Estado Olga Barroso, fez o cerimonial do casamento de sua filha às 10 horas da noite, num cenário surrealista que era a Catedral em construção, com iluminação por archotes, o que deu ao evento um toque medieval.
A partir dai, tudo mudou, não apenas no que diz respeito ao horário das cerimônias, mas principalmente no que tange as produções, cada cerimônia mais mirabolante do que o anterior, um show de efeitos visuais e sonoros, superando o sentido da liturgia. Nem importava se os noivos seriam felizes ou se ficariam juntos até que a morte os separasse, importante mesmo era que todo mundo comentasse o espetáculo produzido.
As cerimônias de casamento eram realizadas normalmente à tarde, algumas mais simples pela manhã e, pelo que consta, o enlace de Emília Correia Lima foi o primeiro celebrado em hora mais avançada, no início da noite. Só na década seguinte, nos anos 60, teve início a prática de cerimônias noturnas.
A mudança começou quando a ex-primeira dama do Estado Olga Barroso, fez o cerimonial do casamento de sua filha às 10 horas da noite, num cenário surrealista que era a Catedral em construção, com iluminação por archotes, o que deu ao evento um toque medieval.
A partir dai, tudo mudou, não apenas no que diz respeito ao horário das cerimônias, mas principalmente no que tange as produções, cada cerimônia mais mirabolante do que o anterior, um show de efeitos visuais e sonoros, superando o sentido da liturgia. Nem importava se os noivos seriam felizes ou se ficariam juntos até que a morte os separasse, importante mesmo era que todo mundo comentasse o espetáculo produzido.
Extraído do livro
Os Dourados Anos, de Marciano Lopes.
fotos do arquivo Nirez e do Livro "Ideal Clube - história de uma sociedade
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