A Base Aérea do Pici construída entre os meses de
julho e agosto de 1941, não levou mais do que 45 dias para ter sua pista para
pouso e decolagens de aviões e alguns pequenos alojamentos concluídos. Também
não teve um papel preponderante no que diz respeito à presença de aviões
norte-americanos, em razão das dificuldades no transporte de combustível,
armamento e munições.
A Fortaleza dos anos 40 era muito tímida. A maior obra do Governo Federal naquela época era a construção do Porto do Mucuripe. Em março, em razão de informações dando conta de que as obras estavam sendo tocadas com muita lentidão, o governo enviou o general João Mendonça de Lima, Ministro da Viação e Obras, que desembarcou num hidroavião da Condor, na Barra do Ceará, para inspecioná-las.
Blimps estacionados na Base do Pici
A Fortaleza dos anos 40 era muito tímida. A maior obra do Governo Federal naquela época era a construção do Porto do Mucuripe. Em março, em razão de informações dando conta de que as obras estavam sendo tocadas com muita lentidão, o governo enviou o general João Mendonça de Lima, Ministro da Viação e Obras, que desembarcou num hidroavião da Condor, na Barra do Ceará, para inspecioná-las.
Naquela época praticamente não existiam ruas
pavimentadas na cidade. Raras eram as recobertas com paralelepípedos. O areal
ainda predominava sobre o número de ruas minimamente caçada com pedras toscas.
Nesse ínterim, os americanos, que já haviam feito um mapeamento da malha urbana da cidade, resolveram construir vias de acesso para suas bases aéreas a fim de garantir um melhor acesso aos seus veículos de carga e a consequente decolagem de seus aviões. Partiram, então para a construção de uma grande avenida – partindo das proximidades da Faculdade de Direito até onde ficava o Bar Avião – de concreto armado, com máquinas especiais trazidas dos Estados Unidos, para aguentar o tráfego dos seus veículos pesados, e os caminhões-tanques. Uma delas foi a atual Avenida João Pessoa/Avenida da Universidade*.
Nesse ínterim, os americanos, que já haviam feito um mapeamento da malha urbana da cidade, resolveram construir vias de acesso para suas bases aéreas a fim de garantir um melhor acesso aos seus veículos de carga e a consequente decolagem de seus aviões. Partiram, então para a construção de uma grande avenida – partindo das proximidades da Faculdade de Direito até onde ficava o Bar Avião – de concreto armado, com máquinas especiais trazidas dos Estados Unidos, para aguentar o tráfego dos seus veículos pesados, e os caminhões-tanques. Uma delas foi a atual Avenida João Pessoa/Avenida da Universidade*.
Avenida João Pessoa
Rua 15 de Novembro, única via de acesso ao Aeroporto do Cocorote
Quando o bairro Montese ainda era chamado de Pirocaia, a rua era apenas uma estrada
margeada de cerca de arame farpado, desde a Avenida João Pessoa ate um sítio de
propriedade da família Monteiro. Com a construção do campo de pouso do Cocorote em 1942,
ampliado no ano seguinte, aquela propriedade foi cedida aos
americanos aquartelados em Fortaleza. Uma
capelinha dedicada a Nossa Senhora Aparecida, existente ali, foi demolida. De posse dos americanos, a antiga estrada foi
pavimentada em pedra tosca revestida de cimento, passando a servir de único
acesso ao aeroporto, durante e após a guerra até a construção da Avenida
Luciano Carneiro no começo da década de 60. Com um quilometro de extensão,
começando na Avenida João Pessoa, ali onde se localiza o Bar Avião, terminava
no portão que dava acesso também à Base Aérea de Fortaleza. Atualmente ela
termina na Avenida Carlos Jereissati. As atividades na base do Pici, onde aparentemente teria ocorrido uma precipitação na sua construção, devido a sua localização e quase inacessibilidade de veículos pesados – caminhões-tanques – foram aos poucos sendo esvaziados.
Os pilotos reclamavam das correntes de vento quando
pousavam. A pista foi inaugurada quando estava com apenas 75% da sua extensão pronta
para uso, para acolher um avião americano B-17 que estava perdido de sua rota
original. A permanência da aeronave em Fortaleza foi de apenas 30 minutos. A presença da aeronave nos céus de Fortaleza causou
pânico na população em função das notícias que chegavam da Europa. O temor era
causado pela possível participação brasileira na Segunda Guerra Mundial.
O B-17 chamado de Fortaleza Voadora foi um avião bombardeiro
quadrimotor construído pela Boeing, durante a Segunda Guerra Mundial, para a
Força Aérea dos Estados Unidos. Era uma aeronave potente, de grande raio de
ação, capaz de provocar grande destruição em alvos inimigos e com grande
capacidade de autodefesa. Quando a pista do Pici ainda estava em fase final de construção, foi prematuramente
inaugurada por uma aeronave desse tipo, que precisou pousar por se encontrar
perdida em relação a sua rota original. O sobrevoo deste avião de grande
porte causou pânico em Fortaleza.
A base do Pici deixou de operar em abril de 1942, quando todo o tráfego aéreo já tinha sido desviado para a nova – mais moderna e mais segura, sem problemas de abastecimento de combustível e de ventos fortes – a base do Cocorote. No seu lugar passou a funcionar a base aeronaval de Fortaleza, com três dirigíveis pousados no Pici.
O esquadrão Z9/41 com os três dirigíveis pousados na Base do Pici. Depois os três Blimps foram transferidos para São Luís - MA.
No Cocorote, os americanos construíram além de uma
excelente pista de pouso (que hoje faz parte do Aeroporto Internacional Pinto
Martins), um hospital com mais de 50 leitos, hangares, galpões para aviões,
alojamentos, oficinas, capela, arruamento, cassino, residência para os oficiais
superiores e para o comandante, e até um clube, o B-25. Estima-se que mais de
500 árvores entre mangueiras, cajueiros e coqueiros foram cortados para a
construção desse complexo. A Base do Cocorote – que seria uma corruptela do
inglês Coco Route, Rota do (rio) Cocó –
acabou virando apenas Cocorote.
Base Aérea do Cocorote, atual Base Aérea de Fortaleza, no Alto da Balança
A Alemanha protestou contra a instalação de bases
americanas em território brasileiro como ponte para Dacar, na África,
qualificando a iniciativa americana, como uma nítida violação da neutralidade.
O protesto foi ignorado pelas autoridades brasileiras. De fato, o Brasil só entrou
na guerra em agosto de 1942.
Os aviões americanos praticamente não paravam de voar,
porque estavam sempre em missões, fazendo o patrulhamento aéreo do litoral das
regiões Norte e Nordeste, do Aeroporto de Ipitanga, em Salvador, de Valdecans,
em Belém, na expectativa de identificar e aniquilar eventuais aeronaves ou
embarcações inimigas. A base área de Parnamirim, em Natal, era a mais
movimentada e importante de todas, exatamente por sua posição privilegiada.
Um Blimp em pleno procedimento de voo no Pici. Ao fundo, um grupo de soldados para atracá-lo. Era terminantemente proibido fotografar os Blimps em operações de pouso e decolagens. As raríssimas fotos que mostram os dirigíveis nessas funções são do arquivo particular de José Maurício Rabelo Sucupira.
Na base do Pici funcionava o posto de patrulhamento costeiro, a cargo da Marinha, com os blimps – os chamados Zeppelins – que marcaram época sobrevoando a cidade. Naquela época o frenesi da guerra era muito grande. Para completar, o barulho dos aviões, sobrevoando a cidade, impregnava o quadro de inquietação, incomodando muita gente. Nesse burburinho, os acidentes eram inevitáveis, correram vários, alguns dos quais muito graves, com mortos e feridos. Raramente eram noticiados pela imprensa local.
Em 1942 foi realizado o primeiro blackout absoluto, apagando-se todas as luzes da cidade, num exercício de comportamento a ser seguido, simulando um ataque aéreo à cidade. A “Gazeta de Notícias” publicou uma nota da Secretaria do Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, de 16/12/1942, estipulando que, em função do Estado de Guerra, o movimento nas ruas deveria ser encerrado às 22 horas; a iluminação pública não seria permitida a partir desse horário, principalmente na praia e no centro da Cidade.
Na base do Pici funcionava o posto de patrulhamento costeiro, a cargo da Marinha, com os blimps – os chamados Zeppelins – que marcaram época sobrevoando a cidade. Naquela época o frenesi da guerra era muito grande. Para completar, o barulho dos aviões, sobrevoando a cidade, impregnava o quadro de inquietação, incomodando muita gente. Nesse burburinho, os acidentes eram inevitáveis, correram vários, alguns dos quais muito graves, com mortos e feridos. Raramente eram noticiados pela imprensa local.
Em 1942 foi realizado o primeiro blackout absoluto, apagando-se todas as luzes da cidade, num exercício de comportamento a ser seguido, simulando um ataque aéreo à cidade. A “Gazeta de Notícias” publicou uma nota da Secretaria do Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, de 16/12/1942, estipulando que, em função do Estado de Guerra, o movimento nas ruas deveria ser encerrado às 22 horas; a iluminação pública não seria permitida a partir desse horário, principalmente na praia e no centro da Cidade.
Dentre as normas de blackout, por tempo indeterminado, as que se referiam às residências, determinavam que todas as vidraças, venezianas, etc, externas, deveriam ser cobertas com papel ou fazenda preta, ou reforçadas com madeira, de modo que não houvesse filtração de luz. Na noite de Natal daquele ano, a Tradicional Missa do galo deixou de acontecer à meia-noite em razão das regras rígidas de iluminação noturna. A obrigatoriedade de cumprimento das leis do blackout permaneceu em vigência até o dia 1° de dezembro de 1943.
Extraído dos livros
Caravelas, Jangadas e Navios – uma história portuária, de Rodolfo Espínola
Ideal Clube – história de uma sociedade – memórias, documentos e evocações, de Vanius Meton Gadelha Vieira
* segundo outros historiadores, a Avenida João Pessoa recebeu pavimentação de concreto em 1929, no governo do presidente Washington Luís.
16 comentários:
A região conhecida por Cocorote é muitos anos anteriores à vinda dos americanos ao Ceará e à Segunda Guerra Mundial. É que temos a mania de querer ser norte americanos.
A Avenida João Pessoa existia muito antes da chegada dos americanos.
Gostei muito de seu artigo, e das fotografias de acervo pessoal! É muito gratificante que esta pequena história seja contada, pois poucos a conhecem. Eu mesmo estou escrevendo uma biografia sobre piloto brasileiro da 2a. guerra, e muita coisa está esquecida nos armários e gavetas das famílias.
Blimps eram uma coisa, Zepelin outra.
Parabéns, Fátima, também sou cearense, morei no Cocorote em 1963, dentro da Base Aérea de Fortaleza. Meu pai pediu transferência para Brasília e viemos para Brasília em 1967, onde moro até hoje.
Gostei muito de seu artigo, eu não sou cearense, mas meu pai era da aeronáutica e por isso moramos no Cocorote por um tempo. Estávamos lá na época que um avião à jato caiu, matando várias pessoas em suas casas e a tripulação do avião. Aliás fomos uns dos primeiros a chegar.
Não lembro o nome da rua onde eu morava, a área nessa época era muito arborizada e tinha um parquinho onde nossos pais nos levavam para brincar.
Lembro muito que nossa rua tinha um senhor chamado Cabo Mauro que passava filmes dos americanos na nossa rua...As crianças adoravam e ficávamos todos sentadinhos no chão da rua, assistindo os filmes, que na maioria era sobre os militares americanos, tudo em inglês e ninguém reclamava kkkk.
Obrigada Fátima, por ter acordado as lembranças desse pouco da minha infância que passei no Ceará.
Gostei muito do teu artigo, eu não sou cearense, mas meu pai era da aeronáutica e por isso moramos no Cocorote por um tempo. Estávamos lá na época que um avião à jato caiu, matando várias pessoas em suas casas e a tripulação do avião. Aliás fomos uns dos primeiros a chegar.
Não lembro o nome da rua onde eu morava, a área nessa época era muito arborizada e tinha um parquinho onde nossos pais nos levavam para brincar.
Lembro muito que nossa rua tinha um senhor chamado Cabo Mauro que passava filmes dos americanos na nossa rua...As crianças adoravam e ficávamos todos sentadinhos no chão da rua, assistindo os filmes, que na maioria era sobre os militares americanos, tudo em inglês e ninguém reclamava kkkk.
Obrigada Fátima, por ter acordado as lembranças desse pouco da minha infância que passei no Ceará.
Eu brincava nesse parquinho e subia no pé de pitomba.
Muito legal esse resgate da história. Trabalho no Campus do Pici e ainda é possível encontrar as estruturas de concreto onde os Blimps ficavam amarrados.
Alto da balança bairro ao lado da aerolandia os americanos trouxeram progresso aqui em Fortaleza a estrutura da base aérea de hoje em dia foram graças aos americanos
Ouvi dizer que a palavra Cocorote vem do termo aeronáutico em inglês "Coco route". Não sei se procede.
Morei no cocorote no número 891 meu pai tinha uma mercearia por nome Mercearia Zé da Onça de lá agente avistava o arco da entrada do aeroporto, nossos vizinhos trabalhavam na aviação Cruzeiro do Sul e a Real , Lembro do nome de alguns deles: Senhor José Moreno , Dedé Catita, Raimundo Galalau, Oliveirinha, Pedro Bandeira e outros!
Hoje tenho 70 anos e meu nome é José Maria e moro em Horizonte- Ceará!
Dizem que o porque dos nomes Pici e Cocorote são P.C. do inglês "Post of Command" e Cocorote "Coco Route" termos relacionados com a aviação militar americana que usava a Base Aérea de Fortaleza durante a Segunda Guerra Mundial. Coco refere-se ao rio Cocó. Até onde isso é verdade não se sabe.
Amigo(a) Como era o nome de seu saudoso pai? Meu pai serviu também.
Cocorote era porque os aviões não recolhiam os trem de pouso e quando encostavam as rodas no chão eles davam uns pulinhos, tipo o cascudo quando se dava na cabeça de menino danado, só que na época o termo "cascudo" era cocorote. Meu pai serviu na base aerea e me contou este fato.
Parabéns pelo seu post. Como uma área muito grande da região do Pici foi terraplanada para pavimentar a pista de pouso do Pici, utilizada da II Guerra Mundial, esse local terraplanado disponível depois da guerra serviu posteriormente para práticas esportivas, com espaço desde o CT do Fortaleza Esporte Clube até às quadras e áreas próximas ao curso da Faculdade de Educação física da UFC. Lembro que quando eu era criança, existiam vários campos e quadras ao ar livre dentro e fora da UFC que eram abertas para a comunidade jogar futebol, basquete, etc.
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