sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Expandindo a cidade

Do Passeio Público nasciam paralelas e em direção a Praça do Ferreira as três mais importantes ruas da cidade: Boa Vista, Palma e Formosa, hoje respectivamente,   Floriano Peixoto, Major Facundo e Barão do Rio Branco. Cortadas perpendicularmente por travessas – como eram chamadas as ruas que tinham seu desenvolvimento na direção Leste-Oeste – formavam quarteirões, identificados por suntuosos edifícios. 

Pelos velhos casarões alinharam-se as ruas, disciplinando assim, a expansão da cidade, iniciada por Silva Paulet.  A Rua Floriano Peixoto foi a primeira a ser retificada. Serviu como sua balizadora a direção que ia do forte à antiga residência dos Governadores. Ressaltando o seu início, frente ao Passeio Público, erguia-se o belo edifício que foi a sede própria do Clube Cearense e que abrigaria o Grande Hotel do Norte.
A primitiva Residência dos Governadores, que mais tarde pertenceria a Martinho de Borges, tinha seu pátio atravessado por esta rua. Nesta área atualmente encontram-se o Banco do Brasil, o Palácio do Comércio e o prédio dos Correios.  Da Rua Floriano Peixoto originaram-se importantes travessas. A partir do casarão do português  Manuel Nunes de Mello, o Barão de Santo Amaro, delineou-se a Travessa das Hortas, atual Rua Senador Alencar. Esta travessa prolongava-se até o primitivo matadouro da cidade, onde hoje se ergue o Palacete Guarani, na Rua Barão do Rio Branco, onde funcionou a partir de 1913, o Clube dos Diários.  
No cruzamento sudoeste dessas ruas, Barão do Rio Branco e Senador Alencar, deparava-se com a esquina do Telles, assim chamada pela presença do grande sobrado do comendador Antônio Telles de Menezes, que se prestava ao alinhamento da Rua Barão do Rio Branco. No alto do casarão residia o Comendador Telles e no pavimento térreo distribuíam-se os conhecidos “quartos do Telles” servindo de armazéns de víveres, e de hospedarias, provavelmente as primeiras da cidade. Estes corriam ao longo de uma das chamadas “calçadas altas”, elevações formadas no desnível da rua, pela convergência de águas pluviais – até a Rua Amélia, hoje, Senador Pompeu. Atualmente esses quartos da antiga Fortaleza são ocupados por diversas lojas comerciais e pela sede do Instituto de Previdência do Estado (IPEC).

Rua Floriano Peixoto esquina com a Rua São Paulo -1929 

Em 1893, na esquina das ruas Floriano Peixoto e Senador Alencar, estabeleceu-se a firma Frota e Gentil, que em 1917 criou uma seção bancária, transformada em 1931 no Banco Frota e Gentil.
O capitão-mor Joaquim José Barbosa recepcionava em sua residência a elite de Fortaleza. De seu casarão, edificado na parte norte da atual  Praça General Tibúrcio, originou-se a travessa da Assembleia, hoje Rua São Paulo. Posteriormente funcionou neste sobrado “ A Central”, de Pedro Lazar.
No dia 25 de maio de 1940 inaugurou-se o Palácio do Comércio, projetado pelo renomado arquiteto francês George Henri Munier e construído por Omar O’Grady. Na parte térrea deste edifício passaria a funcionar, a partir de junho de 1940, a segunda sede do Banco União, tendo como endereço a Rua Floriano Peixoto, 397. Também em 1940, no térreo do Palácio do Comércio foi inaugurado o Restaurante Belas Artes, propriedade de Osvaldo José Azin e filhos. 

Sobrado do Comendador Machado, na esquina das Ruas Guilherme Rocha com Rua Major Facundo, demolido para dar lugar ao Excelsior Hotel

A residência de Francisco José Pacheco de Medeiros, abrigaria desde 1831, a Intendência Municipal e  a Câmara dos Vereadores. Daí, até o sobrado do Comendador Machado, onde hoje se encontra o Excelsior Hotel, estendia-se a Travessa Municipal, hoje Rua Guilherme Rocha . Este casarão alinhava também a Rua Major Facundo.
O Palacete dos Borges Telles iniciava a Rua Major Facundo em frente ao Passeio Público. Essa residência serviu de última sede ao aristocrático Clube Cearense e, a seguir, ao Hotel de France, sediando de 1927 a 1971 o Palace Hotel. A partir de 1977 passou a funcionar ali a sede da Associação Comercial do Ceará. O Palace Hotel teve seu tempo de brilho. Ali realizaram temporadas artísticas cantores famosos como Vicente Celestino, Augusto Calheiros e o regente Ercole Varet. 

 Rua Major Facundo, 1913

Nas baixadas da lagoinha e no antigo Campo da Amélia, ao lado do Morro do Croatá,  sítios onde mais tarde seriam construídos o Hospital César Cals e a Estação Central da Estrada de Ferro Baturité, nascia um afluente do Pajeú. Corria pela quadra entre as ruas São Paulo e Castro e Silva, atravessando o centro da cidade, unindo-se a este principal riacho, no lado sul da Praça da Sé. No tempo das chuvas as águas corriam para seu antigo leito, inundando ruas e terrenos vizinhos. No antigo vale deste afluente, a colônia libanesa instalaria seus armazéns de fazendas e miudezas. Já em 1922 ali se encontravam: Elias Asfora & Cia; Jacob Elias e Irmão; Salomão Hissa, Salim Nasser e Irmão, Simão Jereissati, Jorge Honsy e Filho, Kalil Otoch e Filho, Jamil Rabay, Elias Bachá, e outros.

Dessa colônia surgiria a Sociedade União Síria, fundada em 17 de março de 1923, nos altos do Armazém Esplanada de Abraão Otoch, na Rua Major Facundo, n° 55. Posteriormente juntamente com a Colônia Libanesa formaria a União Sírio-Libanesa, instalando-se na Avenida Santos Dumont. Por essa época, foi fundado o Clube Líbano Brasileiro, que construiu sua sede na Rua Tibúrcio Cavalcante, até seu encerramento.

extraído do livro Ideal Clube - história de uma sociedade
de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos do Arquivo Nirez 

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