Parada de ônibus no Abrigo Central, Praça do Ferreira
No ano de 1948 uma Resolução do poder público municipal
obrigava as empresas de ônibus a conceder gratuidade a pessoas idosas e meia
passagem aos estudantes. Houve protestos de todos os lados, uns prós (a maioria
da população), outros contra. O Jornal O
Nordeste declarou-se "contra" porque a medida iria concorrer para prejudicar a
eficiência do serviço. A solução encontrada pelos empresários consistia em batalhar pelo aumento
no preço das passagens, e a reação aos protestos manifestava-se de forma
agressiva, como ocorreu em 18 de setembro de 1948 na Praça José de Alencar,
sendo presas diversas pessoas, inclusive dois vereadores e duas mulheres.
ônibus na Praça Clóvis Beviláqua (arquivo Nirez)
O problema veio à tona novamente, dois anos
depois, em virtude da aprovação da lei municipal que, garantindo o abatimento
de 50% aos estudantes, também autorizou o transporte gratuito de guardas e dos
funcionários dos Correios em serviço. Os empresários de ônibus paralisaram o
transporte, pois só aceitavam o
abatimento de 30% do valor da passagem dos estudantes. O prédio do Liceu do
Ceará chegou a ser cercado pela polícia em razão das manifestações dos
estudantes que resistiam contra a decisão dos empresários.
A deficiência do transporte urbano tornara-se comum às
diferentes empresas do setor. Desde a década de 1930, funcionavam diversas
linhas de ônibus, atendendo aos moradores da Praia de Iracema, Santos Dumont,
São Gerardo, Joaquim Távora, Benfica, Fernandes Vieira, João Pessoa, Escola de
Aprendizes Marinheiros e Parangaba. Como a maioria dos terminais se localizava
na Praça do Ferreira, foi estabelecido que ali só poderiam demorar o tempo
necessário para o embarque e desembarque de passageiros.
Parada de ônibus na Praça do Ferreira (arquivo Nirez)
De 1946 a 1949 o número de automóveis em Fortaleza subiu em
mais de 100% e a quantidade de ônibus ultrapassava os 300%. No entanto, esses
dados não significaram um serviço regular prestado à população. O crescimento
representava a substituição dos antigos bondes, mas efetuado de maneira
carente, pois a maioria dos veículos não estava em boas condições de
funcionamento, e diversos deles permanecia muito tempo nos fins de linha, sem
obedecer a horário regular.
Ônibus da Empresa Severino, que fazia a linha do Benfica (Arquivo Nirez)
Como o centro de convergência era a Praça do
Ferreira, em 1948, jornais e a emissora
de rádio Ceará Rádio Clube manifestaram-se contra a decisão do prefeito Acrísio
Moreira da Rocha de transformar a Praça do Carmo em local de estacionamento de
ônibus. Reclamava-se que seria prejudicial colocar os veículos num logradouro tão
distante do centro comercial. Na realidade, a distância representava apenas
quatro quarteirões até a Praça do Ferreira. Na verdade, os motivos do protesto
prendia-se ao fato de ali residirem diversas famílias que se sentiriam
prejudicadas com o barulho dos carros, inclusive durante as missas diárias na
Igreja do Carmo.
Os moradores dos bairros mais afastados também sofriam com a
deficiência dos transportes urbanos. No Pirambu e em Messejana os moradores
sempre reclamavam dos atrasos e da falta de cumprimento de horários. O problema
de horário se agravava, sobretudo nas linhas que serviam a municípios vizinhos,
como Caucaia e Maranguape.
Ônibus que
fazia a linha Prado da Viação César, ao lado da Escola Industrial ainda
em construção. Ano de 1947 (Arquivo Cepimar).
Nas linhas de
Monte Castelo, São Gerardo e Coqueirinho sempre faltavam ônibus. A Viação
Brasil chegou a retirar, temporariamente, de circulação os três ônibus que
atendiam ao Pirambu, em virtude do calçamento esburacado, que ia da Fábrica
José Pinto do Carmo até o fim daquela linha.
Situação semelhante vivia os moradores de diversos bairros como a
Parangaba. Os moradores do Km 8 protestavam contra a Empresa Tabajara, pois
alguns de seus ônibus andavam sem freios e gastavam 45 minutos para chegarem à
Praça. Além de os meios de transporte não atender aos reclamos da população,
havia também as exigências dos poderes públicos de forma esparsa.
ônibus que fazia a linha Porangabussu
Como transitavam
na cidade diversos carros em condições precárias, a Inspetoria de Trânsito
passou a fiscalizar os transportes coletivos, principalmente por ocasião do
emplacamento. Em 1949 foram retiradas de circulação duas camionetes que
atendiam parte da população da Aldeota. Alguns meses depois, nove ônibus foram
retirados dessa linha, pois pouca segurança oferecia aos passageiros.
Anos mais tarde o terminal de ônibus passou para a Praça José de Alencar (arquivo Fortalbus)
A Empresa
Elery, concessionária da linha da Aldeota, uma das de maior circulação, tinha a
maioria dos seus carros em péssimo estado. Como as exigências da Inspetoria de
Trânsito enfrentavam barreiras ante a realidade, devido à falta de outro meio
de transporte, foi permitida a volta dos velhos ônibus, ou seja, quatro dos
nove que haviam sido retirados de circulação voltaram a servir à população.
Consequentemente, as críticas contra a empresa aumentaram, pois os ônibus
quebravam com frequência e viajavam com excesso de passageiros, o que se
tornara comum em outros bairros da cidade.
Texto Retirado
do livro de Gisafran Nazareno Mota Jucá
Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza
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