O crescimento de Fortaleza se deu de forma rápida,
desordenada e sem planejamento, com grandes disparidades sociais e mais
recentemente, com especulação imobiliária. A própria formação espacial da
cidade evidenciou a questão da segregação e diferenciação social e de classes –
ou seja, áreas ocupadas por determinadas camadas sociais e com tratamento
diferenciado pelo poder público.
Familia no Passeio Público em 1908 (foto do álbum de vistas do Ceará)
O Passeio Público foi um dos primeiros espaços segregados da cidade. No inicio do século XX, foi rodeado de grades, e dividido em três planos ou avenidas.
A elite frequentava a Avenida Caio Prado, de frente para o mar.
A classe média frequentava a parte central denominada Avenida Carapinima,e os pobres ficavam na Avenida Padre Mororó.(arquivo Nirez)
Os migrantes e as camadas pobres se alojavam preferencialmente
na periferia da cidade, especialmente nas zonas oeste e sul, nas proximidades
de ferrovias, nas estradas de acesso à cidade e nas praias. Ocorria, não raras
vezes, a ocupação de dunas e das margens de riachos e lagoas, gerando
complicações ambientais com a destruição daquelas áreas e problemas sociais com
inundações dos casebres em épocas chuvosas. Essa situação se verificava
comumente na região ribeirinha do rio Cocó, atingindo moradores do Lagamar e da
Aerolândia, antigo Campo da Aviação.
parte da comunidade do Lagamar, instalada às margens do Rio Cocó (foto arquivo do Blog)
Na região Oeste, onde as áreas até então não tinham
urbanização nem contavam com infraestrutura, os terrenos tinham preços mais em
conta para as massas, que em muitas oportunidades os ocupavam clandestinamente,
daí a urbanização irregular, com a propagação de lotes de tamanhos irregulares,
casas modestas e favelas, becos e ruas estreitas, tortuosas e sem saída,
inexistência de espaços públicos e áreas de lazer. Nestas áreas era comum a existência de
chafarizes com filas enormes para obter água, ou de cacimbas nos quintais, (perto de fossas), montanhas de lixo, terrenos
baldios, logradouros sem calçamento ou saneamento. A atenção do poder público
era mínima.
Rua no Pirambu (arquivo do Blog)
Não por acaso, nestas áreas periféricas da zona Oeste,
várias fábricas se instalaram, de têxteis, de confecções e de beneficiamento de
óleos vegetais, a exemplo dos bairros Antônio Bezerra, Parangaba e, sobretudo,
na Avenida Francisco Sá, que na verdade corresponde ao conjunto de favelas do
Pirambu.
A ideia das indústrias era
aproveitar a disponibilidade de terrenos de baixo preço e explorar a farta e
barata mão-de-obra da zona oeste. As indústrias instaladas, por sua vez, atraíam
mais pessoas humildes em busca de trabalho, as quais, em virtude dos baixos
salários, dificuldades de obter moradia própria ou pagar aluguel, acabavam se
deslocando para as favelas.
Fábrica de Tecidos São José, de propriedade de Pedro Philomeno Ferreira Gomes. Instalou-se em 1926, no bairro Jacarecanga
Fábrica Brasil Oiticica, que em 1934 foi instalada na Avenida Francisco Sá.(foto IBGE)
Processo parecido, de instalação de indústrias, deu-se num
trecho da zona leste, no entorno do Porto do Mucuripe, pela óbvia facilidade de
transporte. Também naquele trecho surgiram vários bairros operários e favelas,
visto que o Porto e as indústrias necessitavam de muitos trabalhadores braçais.
Com a construção do Porto do Mucuripe na década de 1930/40 e depois da Avenida Beira Mar, nos anos 1960, a zona de meretrício, até então localizada no entorno do Arraial Moura Brasil e Poço da Draga, foi se deslocando para a área do farol do Mucuripe (Serviluz), enquanto os pescadores eram empurrados para o alto das dunas e para a Rua Manuel Jesuíno, onde havia sido erguida em 1945, a Vila dos Estivadores.
A formação de favelas foi provavelmente, a única maneira dos migrantes ficarem em Fortaleza. Normalmente, assim que chegava à cidade, o migrante permanecia por um pequeno período em casa de amigos ou parentes. Depois, ao resolver a questão onde morar, acabavam se fixando numa favela ou ocupando um lote vago, erguendo casebres frágeis, geralmente de taipa, com cobertura de zinco ou palha. Se o Estado ou particulares não criassem problemas, a ocupação avançava, atraindo outras pessoas em situação semelhante. Acontecia também de pessoas sem renda, instalarem seus casebres em espaços públicos, destinados às ruas e Praças, situação em que os proprietários vizinhos não podiam reclamar, pois seus lotes estavam livres. Esta situação criava problemas de circulação e irritava os setores imobiliários, pela desvalorização da área, provocada pela proximidade da invasão.
Com a construção do Porto do Mucuripe na década de 1930/40 e depois da Avenida Beira Mar, nos anos 1960, a zona de meretrício, até então localizada no entorno do Arraial Moura Brasil e Poço da Draga, foi se deslocando para a área do farol do Mucuripe (Serviluz), enquanto os pescadores eram empurrados para o alto das dunas e para a Rua Manuel Jesuíno, onde havia sido erguida em 1945, a Vila dos Estivadores.
Casa de jangadeiro na Praia do Meireles. Nos anos 1960, com a súbita valorização da área, os jangadeiros foram obrigados a morar noutros locais. (foto IBGE)
A formação de favelas foi provavelmente, a única maneira dos migrantes ficarem em Fortaleza. Normalmente, assim que chegava à cidade, o migrante permanecia por um pequeno período em casa de amigos ou parentes. Depois, ao resolver a questão onde morar, acabavam se fixando numa favela ou ocupando um lote vago, erguendo casebres frágeis, geralmente de taipa, com cobertura de zinco ou palha. Se o Estado ou particulares não criassem problemas, a ocupação avançava, atraindo outras pessoas em situação semelhante. Acontecia também de pessoas sem renda, instalarem seus casebres em espaços públicos, destinados às ruas e Praças, situação em que os proprietários vizinhos não podiam reclamar, pois seus lotes estavam livres. Esta situação criava problemas de circulação e irritava os setores imobiliários, pela desvalorização da área, provocada pela proximidade da invasão.
Em 1953, calculava-se em 18.100 o número de habitações do
Arraial Moura Brasil e do Pirambu onde moravam, sobretudo, pescadores,
operários, e outros trabalhadores sem qualificação, onde muitas das casas ali existentes, foram erguidas
sobre as dunas.
Casas construídas sobre as dunas: no Pirambu...
e na Barra do Ceará (fotos arquivo do Blog)
Diante dessa ameaça, lideres comunitários, muitos deles
ligados à Igreja Católica, como o Padre Hélio Campos e ao Partido Comunista Brasileiro
(PCB), se articularam, para garantir às famílias a posse legal dos seus
pequenos lotes de terra. A 1° de janeiro de 1962, foi organizada a Marcha do
Pirambu sobre Fortaleza, com cerca de trinta mil pessoas dirigindo-se ao centro
para chamarem a atenção da sociedade e das autoridades sobre os problemas da comunidade.
Padre Hélio Campos, um dos grandes benfeitores do Pirambu
Apesar do medo que o evento provocou entre os setores
abastados da cidade, não houve nenhum confronto, tratando as elites e
a Igreja de evitar qualquer ato de
radicalismo. Emissoras de rádio acompanharam o evento, a população em geral foi
convocada para participar daquele evento, por um mundo melhor, e o próprio
bispo da capital, Dom Antônio Lustosa, esteve presente. A Marcha do Pirambu foi
um sucesso – em maio de 1962, no governo do presidente João Goulart (1961-1964),
foi baixado um decreto desapropriando a área.
Extraído do
livro de Artur Bruno e Airton de Farias
Fortaleza:
uma breve história
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