quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

As Primeiras Plantas de Fortaleza

 

A primeira planta da Vila de Fortaleza ficou desconhecida dos historiadores até que o Padre Serafim Leite a identificou em suas pesquisas sobre a história dos jesuítas no Brasil, nos arquivos portugueses. No desenho, supostamente de 1726, são assinalados o forte; a Casa da Câmara com doze portas e 12 janelas, situada no lado oeste da praça da Sé; a capela de São José, com uma cruz no frontispício e voltada para o mar; o pelourinho em frente à Câmara; a forca em frente ao forte; e a casa dos jesuítas, também com uma cruz em sua fachada, que se situava mais ou menos onde hoje está o Paço Municipal, antigo Palácio do Bispo. O maior número de prédios está à esquerda do riacho Pajeú, no entanto a cidade cresceu e se expandiu mais para o leste, à direita do riacho, em busca de ares mais puros.

a autoria da primitiva planta de Fortaleza é atribuída ao capitão-mor Manuel Francês
 

A cidade foi se desenvolvendo, embora lentamente, a partir da autonomia da Capitania do Ceará, desmembrada da capitania de Pernambuco, e a consequente nomeação do seu primeiro governador Bernardo Manuel de Vasconcelos, em 1799. Seu sucessor foi João Carlos Augusto de Oeynhasen e Grevenbourg, que governou de 1803 a 1810, período em que Fortaleza foi visitada pelo inglês Henry Koster que dá algumas informações não só sobre Fortaleza, mas de razoável trecho do Ceará. “A Vila de Fortaleza é edificada sobre terra arenosa, em formato quadrangular com quatro ruas, partindo da praça, (do Conselho, hoje da Sé) e mais outra, bem longa, do lado Norte, desse quadrado, correndo paralelamente, mas sem conexão. As casas têm apenas o pavimento térreo e não possuem calçamento, mas n’algumas residências, há uma calçada de tijolos diante. Tem três igrejas, o palácio do Governador, a Casa da Câmara e prisão, Alfândega e Tesouraria. Os moradores devem ser uns mil e duzentos. Não é muito para compreender-se a razão da preferência dada a este local”.

No mesmo ano de 1810 o jornalista João Brígido já apresenta uma descrição da Vila com algumas divergências em relação à descrição de Henry Koster. Segundo João Brígido, “Ceará-Homens e Fatos” os logradouros existentes naquele ano de 1810, eram: 1 – rua do Quartel, atual General Bezerril, tudo indicando que se trata da mesma rua da Cadeia, de que falam antigos documentos, posto que esta era dependência do quartel; 2 – a praça do Conselho, hoje Praça da Sé, formada pela matriz a leste e por uma linha de casas em frente a ela, tendo pelos fundos a rua do Quartel; 3 – a rua das Flores, atual Castro e |Silva, que é a rua longa a que se referiu Henry Koster, cujo alinhamento era mais ao norte que o atual; 4 – a rua da Boa Vista, atual Floriano Peixoto; 5 – a rua Direita dos Mercadores, hoje Conde D’Eu, que terminava no Beco do Pocinho e margeava o riacho Pajeú; 6 – rua do Rosário, por trás da igreja; 7 – Praça do Palácio, hoje General Tibúrcio; 8 – Beco do Monteiro, que cortava o quarteirão formado pelas ruas Major Facundo, São Paulo e Floriano Peixoto e Travessa Pará, hoje desaparecido; 9 – Beco das Almas, atual rua São José; 10 – rua da Fortaleza, hoje Dr. João Moreira. Eram, pois, oito ruas e duas praças da Fortaleza de 1810, não cinco ruas e uma praça, como simplificara Henry Koster.

antiga rua Direita dos Mercadores, trecho da atual Sena Madureira

A cidade crescia, mas seu desenvolvimento era desordenado, ao sabor de acidentes geográficos, tendo como eixo principal a rua Direita dos Mercadores que, apesar do nome, era torta, visto que seguia paralela ao leito do riacho; e dos morros ou outeiros, que eram vistos por toda a vila. O cenário começou a mudar com a chegada do governador Manuel Inácio de Sampaio, empossado pouco tempo depois da visita de Henry Koster, no dia 19 de março de 1812, ficando no cargo até 12 de janeiro de 1920. O governador trouxe consigo na qualidade de seu assistente, o engenheiro militar Antônio José da Silva Paulet, que fez uma planta ordenando os logradouros, disciplinando seu crescimento sob inspiração do conceito da época – o traçado xadrez, corrigindo traçados irregulares e sugerindo ruas em linhas retas, cruzadas e perpendiculares.

E o plano de Silva Paulet foi o primeiro passo para eliminação de vielas e becos, visando a regularização urbanística da vila, à exemplo do que já ocorria com todas as vilas e cidades da colônia. O trabalho de Paulet dentro das concepções do urbanismo moderno, ao mesmo tempo de remodelação e ampliação, tirou a pequena vila, da desordem, para uma orientação lógica, pois a tendência era o povoado acompanhar as tortuosidades impostas pelo riacho.

Planta de Fortaleza de 1818 de Silva Paulet 

A planta de Paulet inclui o contorno da nova Fortaleza; a inspiração é a das cidades ortogonais, com as ruas cortando-se em ângulo reto de 90 graus, seguindo a modelo vigente e dominante, como as cidades hispano-americanas. Ideias desta ordem dominaram o século XIX, porque os alinhamentos e os ângulos retos eram os mais convenientes para o traçado das ruas e construção de prédios, sobretudo se for levado em conta a pouca importância que o tráfego urbano representava para as cidades. 

Rua Floriano Peixoto

A primeira rua em linha reta de Fortaleza, que serviu de parâmetro para as futuras que se desdobrassem de norte a sul, do mar para o sertão, partiu da fortaleza, tomando como referência a Praça Carolina e aproveitando-se dos arruados conhecidos como Rua das Belas, rua da Pitombeira e rua da Alegria, correspondentes a atual rua Floriano Peixoto, primeiro logradouro nos conformes da planta de Silva Paulet.

 

Publicação Fortaleza em Fotos. Fontes: Aderaldo, Mozart Soriano. A Praça. Tiprogresso, Fortaleza, 1989// Girão, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Imprensa Universitária. Fortaleza, 1959. Imagens Arquivo Nirez/Internet

 

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