Até
a metade da década de 1950 não existiam em Fortaleza as indústrias de
confecções que oferecem roupas prontas, que preenchem as exigências de um
público diversificado no gosto e no orçamento. A demanda por figurinos que
atendessem a um determinado padrão no modo de vestir, surgiu ainda no século
XIX, quando a cidade vivia as delicias da Belle Époque.
Moda feminina nos anos 20 onde prevalecia tecidos arejados como seda, cetim,
charmeuse e o crepe da china. Foto de 1926
(imagem do livro Fortaleza Belle Époque)
Na
remota década de 1860, já havia anúncios de artigos vestuários publicados na
imprensa, oferecendo variado sortimento de finos tecidos (sedas, merinos,
veludos, caxemiras e cretones) chapéus, luvas, gravatas, sapatos e figurinos tanto para
adultos e crianças.
Atenção
– para o baile do Clube chegaram para o Bazar Cearense as verdadeiras luvas de
pelica, de Juven, para homem e senhora. Rua da Palma, n° 93.
(anúncio publicado
no jornal Pedro II – 1868)
Predominava
então, e por muitos anos depois, o comércio de tecidos, onde as pessoas adquiriam o necessário para
confecção das vestimentas, trabalho que era realizado pelas inúmeras
costureiras ou alfaiates espalhados pela cidade. Os anos 1920 considerados por
muitos historiadores como “turbulentos e anos loucos” marcaram uma época de
efervescência cultural, movimentos feministas e também de uma moda importada da
Europa, que vai ditar ousadas formas de vestir e consumir produtos de beleza no
Brasil e no mundo, tendo as mulheres como alvo principal.
A disponibilidade de materiais
e tecidos fomentou a procura por modistas e alfaiates, pois apesar de inicialmente, visar apenas as
mulheres, os homens também andavam elegantemente trajados. Assim, a elite de Fortaleza se viu disposta a consumir as novidades, frequentar espaços modernos com a
intenção de se distinguir do resto da população por seu poder aquisitivo; assim,
homens e mulheres aderiam à moda vinda de Paris como uma regra da modernidade.
Os profissionais da costura eram muito procurados especialmente quando o assunto eram
vestuários de festas e casamentos. Entre as modistas, o grande destaque ficou
por conta de Dona Edmea Mendes, considerada a “dama da moda cearense”, uma das
primeiras a usar o artesanato na alta-costura. Vestiu três gerações de mulheres
e sua especialidade eram os vestidos de noivas. Com muito talento, conseguiu se destacar a
partir da década de 40 do século passado, quando a indústria de confecções
ainda não existia em Fortaleza e engatinhava no Brasil. Além das habituais
linhas e agulhas, Edméa investia em sua loja. A “maison” inspirava-se no
requinte das casas parisienses da época, com salas para provas e boutique para
a venda do prêt-à-porter.
um dos alfaiates mais antigos de Fortaleza, com 77 anos no ofício, o Sr. Osmundo Sousa mantinha sua alfaiataria no Edifício Lobrás, no Centro, até 2015, quando faleceu
Os
alfaiates se estabeleceram em sua maioria no centro da cidade, e eram especialistas
em roupas masculinas sob medida, de forma artesanal. As peças eram exclusivas, modelo,
medidas, tipo e cor do tecido eram escolhas do cliente, totalmente personalizadas.
Nos tempos modernos, apesar da infinidade de opções de trajes prontos, para
entrega imediata, muitos alfaiates ainda são encontrados em Fortaleza, com uma
clientela fiel e seleta, já que não custa pouco, a confecção de uma peça
exclusiva.
As coisas começaram a mudar a partir de 1934, quando Rubens Lima Barros fundou a Loja "A Cruzeiro", na Rua Guilherme Rocha (mais tarde mudou-se para a Rua Barão do Rio Branco, no chamado "quarteirão sucesso da cidade"), que
inaugurou a era das camisarias. Vendia camisas pré-acabadas, fazia uma peça
em uma hora. Havia uma propaganda que mandava o cliente ir tomar um café no
Abrigo Central, que quando voltasse, a camisa estaria pronta. Depois da A Cruzeiro
surgiram outras camisarias que começaram a trabalhar com a roupa completa, o terno
pré-acabado. A Cruzeiro criou a “Confecções Dahra”, que depois virou Romac. Em
1957, a Romac foi vendida para Agenor Costa.
A
Romac S/A Confecções foi oficialmente a primeira indústria de confecções da
cidade, comercializando roupas prontas, para o público masculino. Vendida mais
tarde para Vicente Paiva, adotou o slogan “Romac veste melhor”, chegou ao
mercado internacional, exportando suas criações para vários países.
propaganda da Romac - 1975
Depois da Romac surgiram
várias indústrias de confecções, a exemplo da Saronord, que iniciou as atividades no ano de
1964, produzindo calças e camisas masculinas em grande escala, separadas por
tamanho, pequeno, médio e grande. A primeira indústria dedicada ao público
feminino, foi a Del Rio, criada em 1963, com uma linha de lingeries e peças
intimas.
propaganda da Saronord - 1970
E a indústria da moda nunca mais parou de crescer. As peças que são produzidas no
Ceará nos dias atuais, levam a um passeio por fios e máquinas que movimentam uma
indústria potente para o País. O bojo de biquínis e sutiãs, os fios de
vestidos, blusas e bermudas e o popular jeans produzidos no Estado, elevam o
Ceará ao topo do ranking da América Latina nesses segmentos. Considerando toda
indústria têxtil brasileira, o Estado está em quinto lugar. Com 2,9 mil
empresas formais, o Estado atualmente é o responsável por 6,8% da concentração
das indústrias têxtil e de confecção do Brasil.
consultados:
Diário do Nordeste
O Povo
Anuário do Ceará
Memória do Comércio
Cearense – de Cláudia Leitão
Fortaleza Belle Epoque reformas urbanas e controle social 1860-1930,
de Sebastião Rogério Ponte
fotos Internet
fotos Internet
2 comentários:
Que riqueza de informações, obrigada por esse blog.
Saudosa saronord foi lá que tive meus sonhos realizados
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