Construída no início dos anos 70, na gestão do
prefeito Vicente Cavalcante Fialho (1971-1975), a Avenida Presidente Humberto
de Alencar Castelo Branco, conhecida popularmente como Avenida Leste-Oeste,
tinha a proposta inicial de melhorar a mobilidade urbana, facilitando a ligação
da zona industrial da Avenida Francisco Sá com o Porto do Mucuripe.
O surgimento da via melhorou o acesso ao litoral oeste
de Fortaleza, possibilitou a abertura de ruas secundárias e perpendiculares,
facilitou o fluxo de pessoas, veículos e mercadorias entre o litoral e o
centro. Depois da construção da ponte sobre o rio Ceará, a avenida passou a ser
a via de ligação entre os municípios de Fortaleza e Caucaia.
Mas a contrapartida da melhoria da mobilidade, foi a
desestruturação dos laços de vizinhança para comunidades que residiam na área
do bairro Moura Brasil, que precisou se distanciar de vizinhos e amigos, alguns
de longa data, e do afastamento da porção do centro comercial, onde mantinham
empregos ou ocupações informais.
O bairro Moura Brasil, o mais atingido pelas obras de
construção da avenida, localiza-se numa região de antigas dunas e se caracteriza por abrigar uma população de baixa renda, formada originalmente por retirantes
da seca de 1915 e 1932. Para evitar que esses migrantes, vindos de várias
cidades do interior do Estado, ocupassem ruas e praças da capital, foram
criados os chamados “campos de concentração”, onde ficavam confinados. Um
desses campos foi montado onde hoje é o bairro Moura Brasil.
trecho desaparecido da comunidade do Oitão Preto - as casam ocupavam até a beira da praia
O final da Rua General Sampaio, conhecida como "Cinza" também desapareceu
Para abrir espaço para a construção da Avenida, a
região onde se encontra o bairro precisou ser redimensionada, o
que determinou a transferência da população que ocupavam as áreas cortadas pela
avenida, composta pelas comunidades das Cinzas, Moura Brasil, Oitão
Preto, Braga Torres e Soares Moreno.
Os moradores foram remanejados para áreas periféricas
de Fortaleza – como o Conjunto Rondom, Conjunto Palmeiras, Vicente Pinzon – para o Conjunto Jurema, em Caucaia, e outros.
A avenida foi inaugurada por etapas, e a primeira
ocorreu no dia 20 de outubro de 1973. Naquela ocasião, cerca de 20 mil pessoas
se aglomeravam no local da solenidade, quando dentro das programações, quatro
aviões AT-26 Xavante, pertencentes ao 4º Esquadrão Grupo de Aviação da FAB, da
Base Aérea de Fortaleza, subiram e sobrevoaram a baixa altitude, a área onde
estava instalado o palanque das autoridades que aguardavam a chegada do então ministro
Costa Cavalcante, representante do Presidente da República, General Emilio Garrastazu
Médici (1969-1974).
imagens do dia da inauguração
A esquadrilha subiu novamente e, no momento do ponto
mais baixo da manobra, iniciou uma descida para um "looping" sobre a
Avenida Leste-Oeste. Nesse instante, um dos aviões deixou a formação e entrou
em parafuso, dando a impressão de que isso fazia parte das manobras.
Como o Xavante começasse a descer cada vez mais
rapidamente em parafuso, a multidão que acompanhava a evolução da
esquadrilha, como que reagiu e temeu a um só tempo, pela queda do avião. E,
realmente, poucos segundos depois, ele explodia a 500 metros do palanque, num
bairro densamente povoado por famílias pobres. Do local, subiu uma nuvem negra
de fumaça. Eram 10h20min.
Menos de 10 minutos depois, o Corpo de Bombeiros
chegava até onde o avião caíra - na Rua Gomes Parente, no Bairro de Pirambu, a
40 metros da Avenida Leste-Oeste. Uma criança com o corpo todo queimado foi a
primeira a ser recolhida, sendo encaminhada, ainda com vida, ao Instituto Dr.
José Frota, onde, entretanto, veio a falecer.
Enquanto isso, o corpo de um homem ardia no meio da
rua, mas já sem vida. Os moradores da rua Gomes Parente tentavam jogar água nas
três casas sobre as quais o avião desabara, mas inutilmente, porque o fogo
crescia e atingia mais quatro casebres, que ficaram totalmente destruídos.
O prefeito Vicente Fialho suspendeu
imediatamente todas as festividades que marcariam a inauguração da avenida, a
primeira obra viária do Nordeste, construída com recursos do Fundo de
Desenvolvimento Urbano, criado pelo Banco do Nordeste do Brasil. O Ministro do
Interior, Costa Cavalcanti, apenas cumpriu um único ponto de seu programa: a
inauguração do novo prédio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
Dom Aloísio Lorscheider, arcebispo de Fortaleza e
então presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) esteve na
Assistência Municipal e ministrou a benção aos feridos graves. Saldo da tragédia: 15 mortos, entre eles o piloto da
aeronave acidentada, Tenente Pedro Rangel Molinos, gaúcho, 24 anos, há oito
anos na FAB.
Avenida Leste Oeste no trecho bairro Moura Brasil com a igreja de Santa Teresinha - postal dos anos 70
Desde sua inauguração, no ano de 1973, até os dias
atuais, a Avenida Leste-Oeste passou por algumas transformações, inclusive a
duplicação finalizada em meados dos anos 2000. Vários equipamentos urbanos e
serviços foram instalados, tais como o Instituto Médico Legal, a Estação de tratamento
de esgotos da Cagece, o Hotel Marina Park, inúmeras igrejas católicas e
evangélicas e um variado comércio.
A Leste-Oeste mede em toda sua extensão 3.500 metros,
tendo início na confrontação com a Avenida Dom Manuel, se estendendo até a Barra
do Ceará, na ponte José Martins Rodrigues, sobre o Rio Ceará.
Fontes:
Artigo: Desenvolvimento Urbano e Segregação Socioespacial
– um estudo da Avenida Leste-Oeste em Fortaleza, de Carlos Henrique Lopes
Pinheiro.
www.desastresaereos.net
fotos arquivo Nirez, O Povo e Anuário do Ceará
fotos arquivo Nirez, O Povo e Anuário do Ceará
10 comentários:
Lembro deste dia, tinha 11 e estava com meu pai no centro, mais precisamente na praça do Ferreira quando os AT 26 Xavantes passaram a baixa altitude sobre o centro na proa da Avenida Leste Oeste, bem em cima do prédio do Cine São Luis...está imagem ainda guardo na memória.
Eu lembro bem, estava em casa e ouvi a notícia do acidente pelo rádio.Eu morava próximo a Faço. Dá. A tarde fui ao local.
Graça e paz a todos!
Ainda bem que algumas pessoas decidiram guardar fotos e histórias do Ceará e de Fortaleza.
Acredito que o jovem historiador Otávio Farias possua fotos e "estórias" do nosso Ceará e da velha e querida Fortaleza.
Lembro da inauguração da avenida Leste Oeste e o acidente da "queda do avião" muito perto do local onde estavam as autoridades. Por conta dessa "proximidade" com o palanque e o local da queda do avião, também lembro que mesmo sendo do conhecimento público, o fato era pouco comentado entre as pessoas, porque PODERIA ser outra que não "um acidente", e ainda eram tempos de "chumbo quente". Só fato de muito comentar já poderia comprometer a pessoa e essa vir a ser entendida como "subversiva".
Gostaria de lembrar que existem fotos mostrando que o primeiro local onde aviões pousavam ou amerissavam em Fortaleza, era na Barra do rio Ceará onde hoje aina existem vestígios do local chamado "aeroporto Condor" usado por catalinas e hidraviões da Panay do Brasil.
Qual foi o ano do término da construção da avenida tipo o último trecho já perto do viaduto.
Hoje,superado tudo isso, acho a leste oeste um cartão postal de Fortaleza.
Também lembro bem desse dia. Tinha 11 anos e estava no jardim de casa,mas dá pra ver os aviões subirem e fazerem as manobras no ar. Bem verdade o que você falou. Quase não se falava no assunto. Hoje lendo esse artigo sou o número real de mortos.
Queria ter ido a essa inauguração, mas meu pai não nos levou e nem deixou ir com ninguém.
Graça e paz a todos!
O Brasil não conta "TODA" sua história. e quando alguns tentam fazê-lo só o fazem de forma parcial, e muitas vezes omitindo importantes acontecimentos ou distorcendo os fatos. O maior exemplo disso e a "verdadeira história da independência do Brasil", quando sempre foi omitido que por "combinação" entre Don Pedro e seu pai o rei de Portugal, ficou acertado a divisão do Brasil, quando as províncias do Piauí, Maranhão e a gigante província do Grão Pará ficariam subordinadas ao reino de Portugal como uma "COLONIA PORTUGUESA". Dai se originou a mal contada história das guerras da independência, conflitos envolvendo jagunços e camponeses brasileiros contra 3.500 soldados portugueses bem treinados e armados até mesmo com canhões. Para essas batalhas, o Ceará solidário com os habitantes das províncias do Piauí e Grão Pará, formou logo e enviou para aregião em gerra, um pequeno exército de quase 6.000 voluntários treinados e armados sob o comando do "coronel" Pereira Filgueiras. Essa tropa foi denominada de "JUNTA EXPEDICIONÁRIA" e combateu e obteve algumas vitórias sobre o exército português nos campos do Piauí e Maranhão. Posteriormente, e isto já no ano de 1823, Don Pedro certo de que o acordo com seu pai ruíra e como o Brasil AINDA NÃO POSSUÍA UM EXÉRCITO PRÓPRIO, optou POR CONTRATAR MERCENÁRIOS e os enviou para ajudar na luta contra o exército português. O Brasil venceu e as províncias do Piauí, Maranhão e do grande Grão Pará foram INCORPORADAS ao Brasil independente.
MUITO INTERESSANTE ESSE BLOG. GOSTO MUITO DESSE TEMA, SOBRE FATOS DE NOSSA CAPITAL. MATÉRIA MUITO BEM FEITA. LI E GOSTEI BASTANTE.
Estiva no Senai da av carapinima, próximo do Liceu Ceará.tinha 16 anos na época, só fui saber da tragédia quando cheguei em casa, pois meus tios escutavam muito a Ceará Rádio Clube.
Outra tragédia com aviões da FAB na década de 1970 acho que foi no Montese. E em 1967 com um bimotor que causou a morte do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco nas matas da Messejana(Pajuçara).
Queria fotos de uma churrascaria que tinha na av leste oeste anos 78 ou 79 Chico Pereira o proprietário
Postar um comentário