Rua Floriano peixoto, início do século XX
Na
manhã do dia 3 de janeiro, um domingo, chegara o paquete Maranhão. Notava-se no
porto de desembarque, uma movimentação fora do normal, uma agitação, um
corre-corre de populares e de homens do mar. As sete horas, explodiu o
movimento paredista. Aderiram, logo no início, os catraieiros e demais
empregados no tráfego marítimo. Os que não aderiram espontaneamente, foram
forçados pelos grevistas.
Em
pouco tempo, a rebeldia estava generalizada. Os 300 passageiros do Maranhão
tiveram de ficar a bordo, sem possibilidade de pisar em terra por falta de condução.
Em razão disso, avisado do ocorrido, o capitão-tenente Luís Lopes da Cruz -
apelidado de De La Croix pelo jornalista João Brígido - Comandante dos Portos,
homem violento e de temperamento exaltado, não contemporizou. Em vez de tentar
um entendimento com os grevistas, para tentar resolver o problema, optou por
pedir auxílio da força armada.
Às
8 horas, o comandante De La Croix determinou, mesmo naquele ambiente tenso,
carregado de revolta geral, que a baleeira da capitania seguisse em direção ao
navio, a fim de providenciar o desembarque dos passageiros que lá se
encontravam retidos.
O
gesto do comandante foi recebido como uma afronta pelos catraieiros;
aglomerados, em represália, impediram a saída do bote, que foi virado, e teve
os remos quebrados. Sentindo-se desacatado em sua autoridade, o comandante
requisitou força armada para manter sua determinação.
Imediatamente
seguiu para o porto um contingente de soldados do Batalhão de Segurança, sob o
comando do coronel Cabral da Silveira. A baleeira, guardada pela polícia
conseguiu deixar a ponte em direção ao Paquete Maranhão.
Mas no retorno, se deu o confronto: catraieiros armados de facas, pedaços de
paus e achas de lenha, exaltados ao extremo, tentaram impedir o desembarque. Em
resposta, os soldados abriram fogo contra os manifestantes. A fuzilaria
irrompeu violenta, durou alguns minutos, suficientes para deixar um saldo de
três mortos e quarenta feridos, todos trabalhadores do porto. Terminado o
tiroteio, a ponte e o mar estavam vermelhos de sangue.
Naquela
noite a cidade ficou em vigília, o conflito abalou a população, houve protestos
em todos os setores da sociedade. No dia seguinte, uma multidão acompanhou o
sepultamento dos catraieiros que morreram no confronto. Na tarde daquele mesmo
dia é que se deu o desembarque dos passageiros do Maranhão, por meio de
escaleres da Polícia, e da Alfândega.
vista aérea da Praia de Iracema, com a Ponte Metálica, a Ponte dos Ingleses e as marcas dos vários trapiches que funcionaram por lá. década de 50
A
greve continuou acirrada, e os jornais em longos editoriais, faziam
pesadas críticas ao Capitão dos Portos que mandara fuzilar os trabalhadores em
greve. Na praia, manteve-se um contingente policial durante todo o dia, com o
objetivo de manter a ordem. Na Secretaria de Justiça foi instaurado rigoroso
inquérito para apurar as responsabilidades.
E
uma verdadeira romaria se formou na porta do Palácio do Governo, onde várias
autoridades foram protestar junto ao presidente do Estado, Dr. Pedro Borges (12 de julho de 1900-12 de julho de 1904), pelo massacre dos
trabalhadores do porto.
Naquele
mesmo mês o Governo Federal mandou demitir o Comandante dos Portos e ordenou
sua imediata saída de Fortaleza.
Alguns
anos depois, o ex comandante foi assassinado com dois tiros, em plena capital
federal, a porta do Clube Naval por alguém que nunca foi identificado.
fonte:
Coisas
que o Tempo Levou, de Raimundo de Menezes
fotos do Arquivo Nirez
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