segunda-feira, 17 de abril de 2017

A Greve dos Portuários (1904)

Rua Floriano peixoto, início do século XX

O ano de 1904 começou agitado em Fortaleza. Desde o dia 1° corria o boato de que os trabalhadores do porto entrariam em greve. A população começou a ficar inquieta, as famílias dos trabalhadores foram tomadas de verdadeiro pânico. O motivo da paralisação segundo se afirmava, era a execução da lei do sorteio militar. (Polêmica lei que instituía o serviço militar obrigatório e por sorteio. Seus defensores alegavam que só trabalhadores braçais e sem qualificação se apresentavam para servir ao exército. Com a adoção do sorteio, todas as classes sociais passariam a ser recrutadas).


Na manhã do dia 3 de janeiro, um domingo, chegara o paquete Maranhão. Notava-se no porto de desembarque, uma movimentação fora do normal, uma agitação, um corre-corre de populares e de homens do mar. As sete horas, explodiu o movimento paredista. Aderiram, logo no início, os catraieiros e demais empregados no tráfego marítimo. Os que não aderiram espontaneamente, foram forçados pelos grevistas.

Em pouco tempo, a rebeldia estava generalizada. Os 300 passageiros do Maranhão tiveram de ficar a bordo, sem possibilidade de pisar em terra por falta de condução. Em razão disso, avisado do ocorrido, o capitão-tenente Luís Lopes da Cruz - apelidado de De La Croix pelo jornalista João Brígido - Comandante dos Portos, homem violento e de temperamento exaltado, não contemporizou. Em vez de tentar um entendimento com os grevistas, para tentar resolver o problema, optou por pedir auxílio da força armada.

Às 8 horas, o comandante De La Croix determinou, mesmo naquele ambiente tenso, carregado de revolta geral, que a baleeira da capitania seguisse em direção ao navio, a fim de providenciar o desembarque dos passageiros que lá se encontravam retidos. 

O gesto do comandante foi recebido como uma afronta pelos catraieiros; aglomerados, em represália, impediram a saída do bote, que foi virado, e teve os remos quebrados. Sentindo-se desacatado em sua autoridade, o comandante requisitou força armada para manter sua determinação.

Imediatamente seguiu para o porto um contingente de soldados do Batalhão de Segurança, sob o comando do coronel Cabral da Silveira. A baleeira, guardada pela polícia conseguiu deixar a ponte em direção ao Paquete Maranhão.

Mas no retorno, se deu o confronto: catraieiros armados de facas, pedaços de paus e achas de lenha, exaltados ao extremo, tentaram impedir o desembarque. Em resposta, os soldados abriram fogo contra os manifestantes. A fuzilaria irrompeu violenta, durou alguns minutos, suficientes para deixar um saldo de três mortos e quarenta feridos, todos trabalhadores do porto. Terminado o tiroteio, a ponte e o mar estavam vermelhos de sangue.

Naquela noite a cidade ficou em vigília, o conflito abalou a população, houve protestos em todos os setores da sociedade. No dia seguinte, uma multidão acompanhou o sepultamento dos catraieiros que morreram no confronto. Na tarde daquele mesmo dia é que se deu o desembarque dos passageiros do Maranhão, por meio de escaleres da Polícia, e da Alfândega.

vista aérea da Praia de Iracema, com a Ponte Metálica, a Ponte dos Ingleses e as marcas dos vários trapiches que funcionaram por lá. década de 50 

A greve continuou acirrada, e os jornais em longos editoriais, faziam pesadas críticas ao Capitão dos Portos que mandara fuzilar os trabalhadores em greve. Na praia, manteve-se um contingente policial durante todo o dia, com o objetivo de manter a ordem. Na Secretaria de Justiça foi instaurado rigoroso inquérito para apurar as responsabilidades.

E uma verdadeira romaria se formou na porta do Palácio do Governo, onde várias autoridades foram protestar junto ao presidente do Estado, Dr. Pedro Borges (12 de julho de 1900-12 de julho de 1904), pelo massacre dos trabalhadores do porto.
Naquele mesmo mês o Governo Federal mandou demitir o Comandante dos Portos e ordenou sua imediata saída de Fortaleza.

Alguns anos depois, o ex comandante foi assassinado com dois tiros, em plena capital federal, a porta do Clube Naval por alguém que nunca foi identificado.

fonte: 
Coisas que o Tempo Levou, de Raimundo de Menezes
fotos do Arquivo Nirez



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