quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A Imprensa Partidária

Na primeira metade do século XIX os engenhos movidos a tração animal para aproveitamento da cana, oficinas com teares ou para o preparo da carne eram as atividades manufatureiras que funcionavam no Ceará. A única atividade a empregar maquinário e desenvolver uma produção regular é a composição e impressão nas tipografias.

Somente com a intensificação das relações sociais, comerciais e culturais em Fortaleza na segunda metade do século, que os jornais vão ganhar vida mais longa. A Vila, já transformada em capital da província, experimenta uma infraestrutura mais moderna. Mantém contatos com os portos estrangeiros a partir da exportação de algodão. Fomenta a circulação de ideias e supera o relativo isolamento, repercutindo no crescimento da imprensa. Os jornais de facções partidárias começam a ser impressos, seguidos de outros periódicos, panfletos, revistas e folhas literárias de jovens intelectuais.

As gazetas e revistas cumpriram destacado papel na difusão das ideias nas últimas décadas do século XIX ampliaram o número de leitores, tornaram possível o acesso a lista e extratos de obras e a divulgação de livros editados no exterior. O período fica marcado pela efervescência jornalística. Um desses jornais foi o Jornal do Ceará.

Jornal do Ceará

O Jornal do Ceará era dirigido por Agapito Jorge dos Santos, onde o poeta Américo Facó escrevia uma seção diária com o título “Olho da rua”, que intrigava a toda gente. O jornal fazia oposição ao governo de Nogueira Accioly e publicava, de vez em quando, uma famosa poesia contra o velho Accioly, que terminava assim:

“hei de açoitar-te a cara branca
Como se açoita a anca
Dum mau cavalo, para pô-lo a trote”.

O resultado disso foi terrível: ao entardecer do dia 21 de dezembro de 1907, dois soldados de polícia à paisana, deram uma violenta surra no poeta, nas imediações da praça Marquês de Herval (atual José de Alencar). Salvou-lhe talvez a vida, a interferência do Capitão do Exército Castelo Branco, morador das proximidades, que foi atraído pelos gritos. 

Após deixar o hospital, Américo Facó retirou-se para o interior; reapareceu no carnaval de 1908, em Fortaleza nas batalhas de confetes da Praça do Ferreira, usando barbas. Os estudantes que haviam se indignado com a violência oficial, estavam certos que o agredido tomaria alguma atitude, mas tiveram uma grande decepção. Facó deixou a cidade e o emprego no Jornal do Ceará, sendo substituído por Gustavo Barroso.

Depois de deposto, Nogueira Accioly (de cartola) deixa Fortaleza em um bote que o levará ao navio rumo ao Rio de Janeiro 

No dia da posse de Accioly, reeleito Presidente do Ceará, a 12 de julho de 1908, a polícia agredira cruelmente, abandonando como morto no bairro do Outeiro (atual Aldeota), o gerente do jornal do Ceará, Antônio Clementino de Oliveira. Em 1912, quando o Presidente, deposto pelo povo de Fortaleza, rumava para o Rio de Janeiro com sua família, num paquete do Loyd, o gerente do jornal foi a bordo, no porto de Natal, tentar uma desforra. Morreu no confronto mais assassinou o filho de Accioly, Antônio Pinto Nogueira Accioly Filho. Ainda assim, Nogueira Accioly chega ao Rio, onde residiu até falecer em 14 de abril de 1921.  

fontes:
O Consulado da China, de Gustavo Barroso
Revista Fortaleza - fascículo 11- jun/2006     


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