Na primeira
metade do século XIX os engenhos movidos a tração animal para aproveitamento da
cana, oficinas com teares ou para o preparo da carne eram as atividades manufatureiras
que funcionavam no Ceará. A única atividade a empregar maquinário e desenvolver
uma produção regular é a composição e impressão nas tipografias.
Somente com
a intensificação das relações sociais, comerciais e culturais em Fortaleza na
segunda metade do século, que os jornais vão ganhar vida mais longa. A Vila, já
transformada em capital da província, experimenta uma infraestrutura mais
moderna. Mantém contatos com os portos estrangeiros a partir da exportação de
algodão. Fomenta a circulação de ideias e supera o relativo isolamento,
repercutindo no crescimento da imprensa. Os jornais de facções partidárias
começam a ser impressos, seguidos de outros periódicos, panfletos, revistas e
folhas literárias de jovens intelectuais.
As gazetas e
revistas cumpriram destacado papel na difusão das ideias nas últimas décadas do
século XIX ampliaram o número de leitores, tornaram possível o acesso a lista e
extratos de obras e a divulgação de livros editados no exterior. O período fica
marcado pela efervescência jornalística. Um desses jornais foi o Jornal do
Ceará.
Jornal do
Ceará
O Jornal do
Ceará era dirigido por Agapito Jorge dos Santos, onde o poeta Américo Facó escrevia uma
seção diária com o título “Olho da rua”, que intrigava a toda gente. O jornal
fazia oposição ao governo de Nogueira Accioly e publicava, de vez em quando,
uma famosa poesia contra o velho Accioly, que terminava assim:
“hei de
açoitar-te a cara branca
Como se
açoita a anca
Dum mau
cavalo, para pô-lo a trote”.
O resultado
disso foi terrível: ao entardecer do dia 21 de dezembro de 1907, dois soldados
de polícia à paisana, deram uma violenta surra no poeta, nas imediações da
praça Marquês de Herval (atual José de Alencar). Salvou-lhe talvez a vida, a interferência
do Capitão do Exército Castelo Branco, morador das proximidades, que foi atraído pelos
gritos.
Após deixar o hospital, Américo Facó retirou-se para o interior; reapareceu no carnaval
de 1908, em Fortaleza nas batalhas de confetes da Praça do Ferreira,
usando barbas. Os estudantes que haviam se indignado com a violência oficial,
estavam certos que o agredido tomaria alguma atitude, mas tiveram uma grande
decepção. Facó deixou a cidade e o emprego no Jornal do Ceará, sendo
substituído por Gustavo Barroso.
Depois de deposto, Nogueira Accioly (de cartola) deixa Fortaleza em um bote que o levará ao navio rumo ao Rio de Janeiro
No dia da
posse de Accioly, reeleito Presidente do Ceará, a 12 de julho de 1908, a
polícia agredira cruelmente, abandonando como morto no bairro do Outeiro (atual
Aldeota), o gerente do jornal do Ceará, Antônio Clementino de Oliveira. Em 1912,
quando o Presidente, deposto pelo povo de Fortaleza, rumava para o Rio de
Janeiro com sua família, num paquete do Loyd, o gerente do jornal foi a bordo,
no porto de Natal, tentar uma desforra. Morreu no confronto mais assassinou o
filho de Accioly, Antônio Pinto Nogueira Accioly Filho. Ainda assim, Nogueira
Accioly chega ao Rio, onde residiu até falecer em 14 de abril de 1921.
fontes:
O Consulado da China, de Gustavo Barroso
Revista Fortaleza - fascículo 11- jun/2006
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