Do início dos anos 70 até a metade da década seguinte, a política cearense foi partilhada por três grupos oligárquicos liderados pelos coronéis Adauto Bezerra, César Cals e Virgílio Távora.
A alternância de poder evidenciava a fragilidade das elites cearenses. Não havia um grupo político local, forte o suficiente para hegemonizar o poder no Estado e para impor seu domínio sozinho. Na verdade, o próprio controle que os coronéis exerciam sobre o Ceará decorria, sobretudo, de um fator externo: o apoio que recebiam da Ditadura Militar.
Com o centralismo político imposto no País após 1964, a escolha dos grupos dominantes estaduais passava pela aprovação do Regime Militar, o que as fracas elites locais aceitaram ou foram obrigadas a aceitar. Virgílio Távora, César Cals e Adauto Bezerra governavam sob as bênçãos dos generais de Brasília e do autoritarismo reinante no País, tanto que, com o fim da ditadura, os coronéis perderam o governo e o poder nos anos 1980.
Fortaleza dos anos 80
Na impossibilidade de apenas um grupo político hegemonizar o poder no Estado, foi formulado uma espécie de pacto - o chamado Acordo dos Coronéis - pelo qual dividiam entre si o comando da cúpula do Ceará, afastando a possibilidade de que outros setores políticos pudessem interferir nas esferas de decisão do governo.
Com o Acordo dos Coronéis notava-se a tendência das facções da classe dominante em formar grandes coligações na intenção de conservar a ordem socioeconômica ou evitar a divisão do poder com outros grupos emergentes. Isso, no entanto, não impediu que ocorressem disputas entre os próprios coronéis ao longo dos anos , pois a fração de cargos e poder político variava conforme a influência de cada um junto ao governo federal.
Quando do golpe de 1964 o Estado era governado por Virgílio Távora, eleito pelo voto popular em 1962, pela coligação entre PSD e UDN. Virgílio ficou à frente do governo estadual até agosto de 1966. A eleição do próximo governador já seria indireta de acordo com o AI-3, feita entre os deputados estaduais. O indicado foi o deputado Plácido Aderaldo Castelo (1966-1971). A partir daí, começa a vigorar o Acordo dos Coronéis e a alternância no poder:
César Cals, (1971-1975); Adauto Bezerra (1975-1978); Virgílio Távora (1979-1982).
No início dos anos 80, mudanças sociais, econômicas e políticas abalaram o prestígio dos coronéis. Para completar, o elemento externo e fundamental para a sustentação do Acordo dos Coronéis estava desmoronando: a Ditadura Militar. o Acordo estava com os dias contados. Não era mais possível conciliar seus interesses num regime democrático.
A dificuldade de convivência entre os coronéis ficou evidente em 1982, quando da sucessão de Virgílio Távora. Naquele ano ocorreram as primeiras eleições diretas para governador de Estado desde o golpe de 1964. Os três chefes políticos perceberam a importância do pleito para a sobrevivência de seus grupos oligárquicos.
Adauto Bezerra, há muito havia se lançado candidato ao governo; por sua vez, Virgílio se desincompatibilizando com o cargo de governador na pretensão de concorrer a uma vaga no Senado, desejava colocar alguém de confiança no cargo, e indicou o nome de Aécio de Borba. César Cals contudo, não concordou, visto que ele próprio desejava concorrer ao cargo. Dessa forma criou-se um impasse na sucessão ao governo cearense.
O imbróglio foi levado à Brasília, com a convocação de uma reunião pelo então presidente João Batista Figueiredo. Virgílio Távora, a essa altura já decidira escolher um nome de seu antigo secretariado, de reconhecida competência e aparentemente dócil ao seu comando, para apresentar como candidato neutro: Luiz Gonzaga da Fonseca Mota, professor da UFC, técnico do Banco do Nordeste e ex-secretário de Planejamento de seu governo.
Em março de 1982, na capital federal, César, Adauto e Virgílio assinaram o esdrúxulo Acordo de Brasília. Os três decidiram que Gonzaga Mota seria o candidato de consenso; Adauto seria o vice; Virgílio seria o candidato ao Senado e César Cals ganharia a prefeitura de Fortaleza, entregue a seu filho César Cals Neto. O acordo determinava ainda que as secretarias e os cargos de 1° e 2° escalões seriam repartidos entre os três políticos, na proporção de 33,3% pra cada um.
Gonzaga Mota disputou a eleição com o candidato do PMDB Mauro Benevides e Américo Barreira, candidato lançado pelo PT. Exceto em Fortaleza, onde o candidato do PMDB venceu por larga maioria (58,4% dos votos), a vitória do candidato do PDS no Ceará foi a mais expressiva em todo o País. Ancorado no prestígio dos coronéis Gonzaga Mota obteve 63% do total de votos, contra 22% do candidato do PMDB; O PDS elegeu 34 deputados estaduais, 17 federais e 136 prefeitos.
Gonzaga Mota, chamado pelos amigos de Totó, iniciou seu governo refém do vergonhoso Acordo de Brasília. Limita-se a despachar o que já havia sido predeterminado pelos coronéis. Entretanto, o governador não se contentou com essa situação: figura jovem, entusiasmado com o poder que detinha, vendo a fragilidade política dos coronéis e incentivado por vários setores sociais, Totó foi ao longo do seu mandato rompendo gradativamente com os coronéis, buscando formar sua própria facção política.
O governador começou por substituir os ocupantes dos principais cargos da máquina pública, por pessoas da sua confiança. Essas pessoas, eram coincidentemente, quase todos seus familiares, o que foi denunciado pela oposição como prática de nepotismo. Recebeu inúmeras adesões de segmentos políticos do Estado.
No entanto, Mota reproduziu em seu mandato os mesmos vícios das administrações dos velhos coronéis: clientelismo, empreguismo, desorganização da máquina pública, corrupção, ineficiência. Os escândalos explodiam a todo momento em vários órgãos do Estado. Conta-se que várias portarias de nomeação de funcionários públicos foram entregues a deputados e cabos eleitorais para distribuição entre os eleitores. As investidas do governador em busca de aliados irritavam os coronéis e contribuiu para dividir ainda mais o PDS-CE.
Nos bastidores, César, Adauto e Virgílio se articulavam para deter o rebelde Totó. Boatos davam conta que o presidente da Assembleia Legislativa, o virgilista Aquiles Peres Mota, estava preparando o impeachment do chefe do Executivo Cearense.
Ao saber das tratativas Gonzaga Mota concedeu uma dura entrevista, afirmando que era o governador e não um carimbador de mensagens. Foi o seu grito de independência: rompeu com VT, com Cesar Cals e por fim, com Adauto Bezerra, assegurando ao seu grupo o controle do Estado.
Diversos correligionários dos coronéis foram demitidos dos cargos públicos. Exemplo maior foi a exoneração de César Cals Neto da prefeitura de Fortaleza, sendo substituído por José Maria de Barros Pinho, do PMDB, partido para o qual Gonzaga se transferiu com seu grupo político.
As ações corajosas de Gonzaga Mota ganharam espaço até na mídia nacional. Em 1983, começaram as articulações visando a sucessão presidencial. Num primeiro momento, Mota se solidarizou com o presidente João Figueiredo, comprometendo-se a apoiar o candidato deste. Depois Gonzaga decidiu dar seu apoio a Aureliano Chaves, enquanto Figueiredo se pronunciava a favor da candidatura de Mário Andreazza.
Em razão do episódio, o executivo cearense rompeu com o governo federal e ficou entregue à própria sorte. Para completar, sentiam-se os efeitos da seca de 1979-84 e da própria crise econômica do país. A atividade agropecuária estava praticamente arruinada, e o Ceará quase falido, sem créditos e endividado. Greves eclodiam em todos os setores, o funcionalismo público teve seus vencimentos atrasados vários meses, e para atenuar a situação, o governo passou a fornecer vales para os servidores, que a irreverência popular chamava de "gonzagueta".
Com a frustração de Aureliano Chaves em não conseguir ser indicado pelo PDS como candidato as eleições presidenciais indiretas de 1985 - o escolhido foi Paulo Maluf - Mota ganhou destaque ao ser um dos principais articuladores da Aliança Democrática, coligação entre PMDB e PFL, a qual lançou a candidatura de Tancredo Neves.
Gonzaga Mota ficou a frente do governo do Estado até o final do seu mandato, em 15 de março de 1987. Depois foi eleito deputado federal em 1990, 1994 e 2002. Em 1998 disputou a eleição para o governo do Ceará. Perdeu para Tasso Jereissati, que foi apoiado por ele nas eleições estaduais de 1986.
fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias
fotos da internet
2 comentários:
A história politica do nosso estado só se repete e troca se os nomes mais sempre aquele velha politicagem.
2/11/2006
O lulismo e a imprensa tentei falar sobre o assunto com Marco Aurélio Garcia, presidente do PT. Mas ele se recusou a atender dizendo o seguinte: ''Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista''. Tudo bem é um direito dele. Na semana que vem prometo falar com Paulo Henrique Amorim. Paulo Henrique Amorim é meu lulista preferido, mas acho que estou proibido de dizer que ele é lulista. Ele está me processando por causa disso. Mino Carta também está me processando, porque eu disse que ele era lulista. Assim como Franklin Martins, quero que Mino Carta e Franklin Martins se danem eu sou zono do Paulo Henrique Amorim. Tereza Cruvinel é lulista daquelas que fazem campanha de rua. Outro dia mesmo durante a campanha eleitoral ela foi vista em Brasília distribuindo santinhos do PT. Paulo Henrique Amorim pertence a outra raça de lulistas. Ele é da raça dos lulistas aloprados, dos lulistas bolivarianos. Ele acha que a primeira tarefa do lulismo é quebrar a Globo e a VEJA. Paulo Henrique Amorim certamente daria uma bandeirada na cabeça de um repórter da VEJA. Eu também daria uma bandeirada na cabeça de Paulo Henrique Amorim. Ele formulou a seguinte pergunta a Ciro Gomes, cito literalmente:
''A questão da mídia no Brasil na minha modestíssima opinião, não é apenas o fato de que a mídia no Brasil é uma mídia de oposição maciçamente, com exceções honrosas como por exemplo a Carta Capital. Mas é também uma mídia que age no processo político. E a mídia na minha opinião tem se comportado como uma ameaça ao funcionamento do sistema democrático do Brasil. Como o presidente Lula deve reagir diante desse quadro?''
Foi essa pergunta de Paulo Henrique Amorim. Antes de tudo fico feliz que ele saiba que sua opinião é de fato modestíssima. Como todos os lulistas, ele acha que se opor a Lula é anti-democrático. Ele acha também que Carta Capital é uma revista honrada. Por isso Paulo Henrique Amorim é meu lulista preferido, por isso dava uma bandeirada na cabeça dele.
A resposta de Ciro Gomes foi igualmente aloprada e bolivariana, ele disse:
''É preciso incentivar dramaticamente os meios de comunicação alternativos fortalecer coperativas de jornalistas, financiar, e, nisso conceder canais de televisão''.
No processo que move contra mim. Paulo Henrique Amorim me acusa de ter insinuado que em troca de dinheiro, ele abriu mão de sua independência, imparcialidade como profissional de imprensa. Como ensinam Paulo Henrique Amorim, Ciro Gomes, Marco Aurélio Garcia, Walter Pinheiro, Bernardo Kucinski é o oposto. Um jornalista só pode ser realmente independente, imparcial quando leva grana do lulismo. Eu daria uma bandeirada na minha cabeça.
por PODCAST VEJA Diogo Mainardi (https://www.youtube.com/watch?v=MkNPuIXHGdg)
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