Estava na fila do Correio da Av. Gomes de Matos, quando entrou um homem muito idoso, andando devagar, com dificuldade, com alguns papéis em mãos. Imediatamente, foi encaminhado para o início da fila dada sua condição de prioritário, até mesmo pelos outros da mesma condição que também esperavam na fila. Depois que ele foi atendido, acompanhei sem sair do lugar, a saída do homem, preocupada em saber se ele iria atravessar a Avenida Gomes de Matos, via onde carros e motos estacionam em cima das calçadas, os pedestres caminham pelo asfalto disputando espaços inclusive com ônibus, atravessam a pista correndo, enquanto a AMC (Autarquia Municipal de Trânsito), que de vez em quando passa por lá, faz de conta que não vê.
Que nada! Na calçada, uma mulher jovem, robusta esperava pelo homem, pegou um volume que ele retirou no Correio, embarcou-o num carro (estacionado em cima da calçada), e levou-o embora.
Concluí que ali estava uma fiel cumpridora da Lei: da Lei de
Gerson. São muitos os que usam seus idosos ou suas crianças para usufruírem de
benefícios a que não fazem jus, que ocupam vagas de deficientes sem serem
especiais, que “dormem” nos ônibus,
confortavelmente sentados em assentos destinados a um público específico e do qual ele(a) não faz parte. São os que acham que o tempo
deles é mais valioso do que o do resto do mundo, os espertalhões que não respeitam
as filas, os vivaldinos, que infringem as regras de boa convivência, e que
querem se dar bem sempre, em qualquer circunstância, em qualquer lugar.
Em alguns estabelecimentos os responsáveis pelos estacionamentos são obrigados a colocar obstáculos para impedir que essa gente incivilizada pare nas vagas de idosos e deficientes. Note-se que a falta de educação e a esperteza não estão relacionadas à classe social dos infratores, muito pelo contrário, a maioria anda de carro (joga lixo pela janela) e anda bem vestida.
Sem querer, Gerson criou uma lei
Gerson foi um jogador que fez parte da seleção
brasileira de futebol, que se sagrou tricampeã do mundo em 1970, no México.
Craque da bola, teve participação importante e decisiva na conquista da taça, ganhou
respeito dos torcedores e da mídia, e ao que se sabe, não há nada que desabone
ou ponha em dúvida o caráter do homem ou do atleta.
A história da “Lei de Gerson”
surgiu de um comercial de cigarros veiculado pela TV, numa dessas propagandas
ambíguas, em que o “tiro sai pela
culatra” e acaba repercutindo negativamente no produto ou no anunciante. Nesse
caso, sobrou para o Gerson. Depois de exaltar as qualidades do produto, Gerson
termina com a frase: “gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem
você também, leve o cigarro tal...”. Desde logo, a expressão virou símbolo da
esperteza, do indivíduo que faz uso de subterfúgios para obter vantagens, que atinge
seus objetivos sem cumprir os trâmites legais.
Segundo o Wikipédia, A "Lei de Gérson acabou sendo usada para exprimir traços bastante característicos e pouco
lisonjeiros do caráter midiático nacional que passa a ser interpretado como
caráter da população, associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito a
regras de convívio para a obtenção de vantagens."
Fossemos um país mais civilizado, a lei de Gerson já teria sido revogada.
foto da Avenida Gomes de Matos (google)
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