segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Na Vigência da Lei de Gerson


Estava na fila do Correio da Av. Gomes de Matos, quando entrou um homem muito idoso, andando devagar, com dificuldade, com alguns papéis em mãos. Imediatamente, foi encaminhado para o início da fila dada sua condição de prioritário, até mesmo pelos outros da mesma condição que também esperavam na fila. Depois que ele foi atendido, acompanhei sem sair do lugar, a saída do homem, preocupada em saber se ele iria atravessar a Avenida Gomes de Matos, via onde carros e motos  estacionam em cima das calçadas, os pedestres caminham  pelo asfalto disputando espaços inclusive com ônibus, atravessam a pista correndo, enquanto a AMC (Autarquia Municipal de Trânsito), que de vez em quando passa por lá, faz de conta que não vê. 





Que nada! Na calçada, uma mulher jovem, robusta esperava pelo homem, pegou  um volume que ele retirou no Correio, embarcou-o num carro (estacionado em cima da calçada),  e levou-o embora.  

Concluí que ali estava uma fiel cumpridora da Lei: da Lei de Gerson. São muitos os que usam seus idosos ou suas crianças para usufruírem de benefícios a que não fazem jus, que ocupam vagas de deficientes sem serem especiais,  que “dormem” nos ônibus, confortavelmente sentados em assentos destinados a um público  específico e do qual ele(a)  não faz parte. São os que acham que o tempo deles é mais valioso do que o do resto do mundo, os espertalhões que não respeitam as filas, os vivaldinos, que infringem as regras de boa convivência, e que querem se dar bem sempre, em qualquer circunstância, em qualquer lugar. 
  
Em alguns estabelecimentos os responsáveis pelos estacionamentos são obrigados a colocar obstáculos para impedir que essa gente incivilizada pare nas vagas de idosos e deficientes. Note-se que a falta de educação e a esperteza não estão relacionadas à classe social dos infratores, muito pelo contrário, a maioria anda de carro (joga lixo pela janela) e anda bem vestida. 

Sem querer, Gerson criou uma lei   

Gerson foi um jogador que fez parte da seleção brasileira de futebol, que se sagrou tricampeã do mundo em 1970, no México. Craque da bola, teve participação importante e decisiva na conquista da taça, ganhou respeito dos torcedores e da mídia, e ao que se sabe, não há nada que desabone ou ponha em dúvida o caráter do homem ou do atleta. 

A história da “Lei de Gerson” surgiu de um comercial de cigarros veiculado pela TV, numa dessas propagandas ambíguas, em  que o “tiro sai pela culatra” e acaba repercutindo negativamente no produto ou no anunciante. Nesse caso, sobrou para o Gerson. Depois de exaltar as qualidades do produto, Gerson termina com a frase: “gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve o cigarro tal...”. Desde logo, a expressão virou símbolo da esperteza, do indivíduo que faz uso de subterfúgios para obter vantagens, que atinge seus objetivos sem cumprir os trâmites legais.

Segundo o Wikipédia, A "Lei de Gérson acabou sendo usada para exprimir traços bastante característicos e pouco lisonjeiros do caráter midiático nacional que passa a ser interpretado como caráter da população, associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito a regras de convívio para a obtenção de vantagens."
Fossemos um país mais civilizado, a lei de Gerson já teria sido revogada. 

foto da Avenida Gomes de Matos (google)

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