Os primeiros moradores
chegaram ali no final dos anos 40, todos vindos de diversas localidades do
interior. Vinham de trem, numa época em que os ônibus só iam até a atual
Avenida Virgílio Távora. Ocuparam o caminho aberto durante a construção da
ferrovia que liga a Parangaba ao Porto do Mucuripe, no lugar antes ocupado pelo
matagal que estava no percurso. Construíram uma comunidade ao longo da linha do
trem, uma fileira de casas em cada lado dos trilhos. Casas rústicas, de taipa,
sustentadas de varas e barro. Em frente, a via férrea; ao redor, só mato, de
onde emergiam de vez em quando, raposas e cobras. Assim nasceu a Comunidade
Trilha do Senhor e muitas outras que se instalaram ao longo dos trilhos. Durante
muito tempo a água consumida no dia a dia era buscada em um chafariz localizado
perto do parque do Cocó. A estrutura básica (água, luz, saneamento) só foi
conseguida ao longo dos anos.
Um dos primeiros a morar no
local, por isso mesmo muito conhecido entre os moradores, foi Seu Edivaldo
Alves Maia, que chegou por lá em 1946. A fama se deve ao fato de ter sido o
primeiro a ter uma televisão na comunidade.
E foi com a chegada da luz, em
meados dos anos 60, que seu Edivaldo comprou um espaço na comunidade onde antes
funcionava uma pequena creche: um salão com algumas carteiras estudantis. Seu
Edivaldo, dono de múltiplas habilidades – era pedreiro, marceneiro, bombeiro e
dono de bodega – pretendia utilizar o local para exibir filmes, e arrecadar
algum recurso. Ele mesmo fez as adaptações.
Depois, foi ao Centro da
cidade, entrou numa loja de eletrodomésticos e comprou a primeira televisão da
Trilha do Senhor. Voltou à comunidade exibindo orgulhoso o aparelho, que foi
colocado no salão, em local de destaque. Estava inaugurado o Cinema do Seu
Edivaldo.
Todas as noites, depois da
passagem do trem Maria Fumaça, ele divulgava seu cinema: 500 Réis para assistir
ao filme, sentados nas carteiras do salão. E ficava na porta, com uma lata na
mão, vestido com uma calça de pescador e uma camiseta para receber os
telespectadores que iam assistir ao filme anunciado. Mas o que a televisão
exibia na época era sua programação diária, inclusive os capítulos das novelas,
exibidas pela TV Tupi e pela Excelsior.
E quem queria assistir as duas
novelas – O Direito de Nascer e Sangue do meu Sangue – tinha que pagar duas
vezes. Seu Edivaldo passava novamente o caneco cobrando o ingresso dos que
haviam assistido à primeira sessão. Todos os dias, em média, 50 a 60 pessoas
compareciam ao cinema do Seu Edivaldo. Ele ligava a TV, deixava as luzes
acesas, as portas abertas e o povo sentado nas carteiras escolares.
Em 2010, após Fortaleza ser escolhida
como uma das cidades para sediar a Copa do Mundo no Brasil, o então governador
Cid Gomes assinou um Decreto declarando de utilidade pública, portanto, sujeita
à desapropriação, toda a área ao longo do trecho do antigo ramal Parangaba –
Mucuripe da Rede Ferroviária Federal e suas margens, correspondente a um
traçado de 12,7 km, que cortava 22 bairros de Fortaleza. Para implantação do VLT foram desapropriados cerca de 3.500 imóveis envolvendo aproximadamente 12.250 pessoas. Todas as comunidades
localizadas às margens do trilho foram atingidas, e tiveram suas áreas
reduzidas. A Comunidade Trilha do Senhor fica na Aldeota, entre as avenidas Santos Dumont e Padre Antônio Tomaz, de frente para a atual
Via Expressa.
Fontes:
Jornal Laboratório da UFC n° 15
Jornal O Povo
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