Quando visitou a então Vila
de Fortaleza em 1810, o visitante britânico Henry Koster ressaltou a grande
dificuldade de transportes terrestres, e a falta de um porto. “As
terríveis secas que assolam a região afastam algumas ousadas esperanças no
desenvolvimento de sua prosperidade”. Contra todas as evidências, contra o areal que
parecia não ter fim, contra o sol escaldante, Fortaleza cresceu. Principalmente
a partir da segunda metade do século XIX, por conta de um ditame econômico.
O algodão produzido no
interior, beneficiado pela crise que abalara o mercado norte-americano do
produto, passava pela capital para abastecer em grande medida, a indústria da
Inglaterra e fomentar o capitalismo europeu.
Os ingleses suplantaram
as empresas portuguesas na área e os empresários locais se aproveitaram
sabiamente da conjuntura para realizar negócios com os anglo-saxões. Foi um
período de esplendor financeiro, artístico, urbanístico, científico para
Fortaleza.
Mas, por muito tempo, o
porto foi de trapiches que se seguravam de pé à revelia do vento. Somente em
1906 surge a Ponte Metálica, erguida em concreto – um escoadouro menos
improvisado para uma cidade que fazia sua fortuna da exportação de algodão pela
via marítima. Localizada na Avenida Tamandaré, a Ponte Metálica seria o porto
oficial da cidade até a década de 1950, quando a função foi transferida para o
Mucuripe, lugar, cuja profundidade permitia a atracação de embarcações de maior
porte.
Avenida Almirante Tamandaré, que já foi chamada de Avenida Atlântica (acervo Jesuíno Vianna)
O marco foi a inauguração
da Estação Central; depois vem ao sul a Estação da Parangaba, antiga Arronches,
inaugurada também em 1873, e, em seguida, as de Mondubim e Maracanaú (1875),
Marítima (1878), Pajuçara (1918), Otávio Bonfim (1922) e Couto Fernandes (1940).
Ao norte, Antônio Bezerra, Caucaia (1917) e Álvaro Weyne (1926).
A construção da Estrada
de Ferro Baturité e a conexão de trem com o porto, marcam o período da economia
calcada no cultivo de algodão num contexto muito favorável à Fortaleza e a todo
o Estado. A cidade abre-se ao mundo e amplia sua relação com o sertão. Para que
os mascates fortalezenses ganhassem dinheiro, o trem teve de se expandir e se
conjugar com o porto. Mas acabou ajudando a modernizar a urbe.
Depois vieram os bondes. Só
embarcava nos bondes quem estivesse decente.
Decente, no vocabulário do século XIX queria dizer paletó, colarinho,
sapato. O aviso servia tanto para o transporte público, lançado em 1880, por
atração animal, quanto para o elétrico, de 1913.
Os primeiros bondes, 25
ao todo, com 25 lugares cada, andavam 7.500 metros, de meia em meia hora, e
enquanto houvesse passageiros nas avenidas centrais. Os bondes significaram
novo e importante espaço de sociabilidade; em livros, jornais e revistas não é
raro encontrar referências a conversas e acontecimentos advindos de seus
bancos.
Em 1895, a
concessionária dos transportes urbanos, a Companhia Ferro Carril do Ceará,
contava com 11.527 metros de linha, atendendo a diversos pontos da cidade e
arrabaldes, como a linha da Praia, a da Estação do Caminho de Ferro, a da Rua
Padre Mororó, a de Pelotas, a da Fábrica de Tecidos, do Benfica, e a do
Bouvelard Visconde do Rio Branco.
A instalação dos
serviços de transportes coletivos, possibilitou o crescimento da cidade em
direção aos arrabaldes, uma vez que os que residiam fora do núcleo central passaram
a utilizar os bondes em seus deslocamentos. O crescimento orientou-se para as
zonas sul e oeste, no sentido oposto ao litoral. A expansão acompanha as
antigas estradas do Jacarecanga, Soure, Arronches e Aquiraz.
Foram, assim como as ferrovias,
objetivados como símbolo de modernidade; não por acaso, pouco tempo depois
surgiu um pasquim intitulado o Bond, contemporâneo de outros ditos jocosos. Os bondes
elétricos exigiam certas características que a cidade ainda se recusava a ter.
As calçadas e os
calçamentos – se estenderam ainda mais sobre o areal em brasa; as praças, sem
bordas ou limites, foram redimensionadas; e o pedestre se adaptava a um trânsito
ainda incipiente. Segundo Mozart Soriano Aderaldo, foi o automóvel que obrigou
os administradores a melhorar a pavimentação, imaginando-se a situação provisório
do trilho de pedra para ônibus, seguida do piso de concreto e, finalmente, de
asfalto.
O primeiro automóvel
chegou em 1909; a primeira linha de ônibus, em 1928. Mais rápidos e mais
lucrativos, os ônibus aposentariam os bondes em 1947. A prefeitura vende os
trilhos de aço e os fios de cobre e dá fim a uma era. Começava assim a
Fortaleza movida a petróleo.
A população se multiplica
vertiginosamente: 16 mil habitantes em 1863; 27 mil em 1887; 50 mil em 1900; em
1930 ultrapassa os 100 mil; em 1950, 270 mil; em 1960, 500 mil; na década de
70, atinge a casa de 1 milhão.
O quadrilátero formado
pelas avenidas Duque de Caxias, Dom Manuel e Imperador, data de 1875, quando
Adolfo Herbster desenhou a Planta Exacta de Fortaleza. Durante muito tempo
foram as vias que delimitavam o centro da cidade. As ligações com o sertão
foram determinantes neste desenho. Mas a expansão veloz a oeste e leste
desafiava os urbanistas.
fonte: Anuário de Fortaleza
fotos arquivo Nirez
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