Praça do Ferreira com o Abrigo Central e o Edifício São Luiz em construção. Assim era a praça no tempo dos rabos-burro.
Na
então pacata Fortaleza do início dos anos 50, que contava menos de 300 mil
habitantes, a bebida da moda era Ron Montila com Coca-Cola, dançava-se ao som
do bolero e da música romântica em geral. Muitas paixões, encontros e
desencontros, marcaram as idas e vindas do agregado familiar nos clubes, em
busca de diversão, desafogo e sobretudo, de romances e casamentos. Num tempo de
tanto romantismo, a cidade deparou-se com um fenômeno de violência urbana
absolutamente discrepante de sua existência tranquila.
Nessa época, a população assistiu estarrecida o surgimento de um bando de desordeiros que ficariam conhecidos por “rabos-de-burro”, jovens endiabrados e rebeldes, pertencentes às classes média e alta. Os rabos-de-burro perturbavam as festas, os cabarés, o trânsito. Ostentavam lambretas e carrões da moda importados, que o Brasil ainda não tinha indústria automobilística.
A ação desses desordeiros não representava nenhum movimento de contracultura ou rebeldia sem causa, era apenas e simplesmente, molecagem de “filhinhos de papai”, insubmissos às regras do ordenamento social e policial do seu tempo.
Famílias atingidas buscavam sem êxito, a proteção policial. Os “meninos” de luxo, fortes, saudáveis, bonitos e em sua maioria ricos, pertenciam a classes abastadas, andavam em reluzentes cadilacs, que fascinavam as moçoilas do seu mesmo estamento social e varavam os quatro cantos da cidade na prática dos mais absurdos e inacreditáveis desmandos.
Enquanto a maioria, temerosa e impotente se encolhia; enquanto os pais de família da burguesia, minimizava e acobertava a ação de seus filhos marginais; enquanto a Polícia e a justiça revelavam sua face ostensivamente classista, os “meninos” avançavam mais e mais em suas arruaças.
Já não mais se limitavam às perturbações que promoviam nas famosas "sessão das quatro" do Diogo, ou das ruidosas matinês do Cine Rex, na Rua General Sampaio. Ao contrário, eles atuavam com uma crescente violência: acabavam com festinhas de 15 anos, entrando como penetras, na marra, afrontando e agredindo os donos da casa e seus convidados, truncavam sessões de cinema com sua algazarra, jogavam seus automóveis sobre logradouros públicos, inclusive em plena Praça do Ferreira. Batiam e feriam desafetos nas pensões alegres, costumeiramente depredadas por eles, de modo particular a Gaguinha, a Santa e a Margô, as mais elegantes daquela fase de Fortaleza.
Nessa época, a população assistiu estarrecida o surgimento de um bando de desordeiros que ficariam conhecidos por “rabos-de-burro”, jovens endiabrados e rebeldes, pertencentes às classes média e alta. Os rabos-de-burro perturbavam as festas, os cabarés, o trânsito. Ostentavam lambretas e carrões da moda importados, que o Brasil ainda não tinha indústria automobilística.
A ação desses desordeiros não representava nenhum movimento de contracultura ou rebeldia sem causa, era apenas e simplesmente, molecagem de “filhinhos de papai”, insubmissos às regras do ordenamento social e policial do seu tempo.
Famílias atingidas buscavam sem êxito, a proteção policial. Os “meninos” de luxo, fortes, saudáveis, bonitos e em sua maioria ricos, pertenciam a classes abastadas, andavam em reluzentes cadilacs, que fascinavam as moçoilas do seu mesmo estamento social e varavam os quatro cantos da cidade na prática dos mais absurdos e inacreditáveis desmandos.
Enquanto a maioria, temerosa e impotente se encolhia; enquanto os pais de família da burguesia, minimizava e acobertava a ação de seus filhos marginais; enquanto a Polícia e a justiça revelavam sua face ostensivamente classista, os “meninos” avançavam mais e mais em suas arruaças.
Já não mais se limitavam às perturbações que promoviam nas famosas "sessão das quatro" do Diogo, ou das ruidosas matinês do Cine Rex, na Rua General Sampaio. Ao contrário, eles atuavam com uma crescente violência: acabavam com festinhas de 15 anos, entrando como penetras, na marra, afrontando e agredindo os donos da casa e seus convidados, truncavam sessões de cinema com sua algazarra, jogavam seus automóveis sobre logradouros públicos, inclusive em plena Praça do Ferreira. Batiam e feriam desafetos nas pensões alegres, costumeiramente depredadas por eles, de modo particular a Gaguinha, a Santa e a Margô, as mais elegantes daquela fase de Fortaleza.
Alunas
de estabelecimentos de ensino tradicionais como Escola Normal, Colégio da
Imaculada Conceição e outros viviam em polvorosa diante da possibilidade de
serem vítimas do próximo ataque. A preocupação dos pais com a segurança das
filhas era constante.
Em 1954 uma vereadora pedia uma resposta concreta da policia ao terror implantado na cidade pelos chamados rabos de burro, especialmente com relação aos estabelecimentos de ensino mais atingidos por esses indivíduos.
Ninguém estava livre da sanha dos desordeiros: certa noite, no auge da movimentação das quermesses da Igreja de São Benedito – festa ao ar livre promovida pelas igrejas em datas festivas – aportou uma turma de rabos-de-burro, chefiada por um elemento dado a arruaças, valentão e perigoso, mas que exercia indiscutível liderança entre os que, como ele, se dedicavam a desordens e confusões. Tratava-se de um jovem de classe média alta, filho de um empresário.
À chegada deles se instalou o caos. Praticaram toda sorte de desmandos. Quebraram mesas e cadeiras, agrediram rapazes, desrespeitaram mulheres e crianças e os que tentavam contê-los em sua fúria. Como sempre acontecia quando eles chegavam, a festa acabava.
Os fatos de tal gravidade, começaram a ganhar espaços nos jornais, a princípio através de tímidas notinhas na seção de queixas e reclamações, depois em registros de notícias policiais.
Em outra ocasião, os baderneiros promoveram um violento quebra-quebra no boate Tabariz, casa noturna localizada na Praia de Iracema, que costumava receber figuras de certa expressão social na cidade. Os rabos-de-burro resolveram destruir a conhecida casa noturna. Não deixaram nada em pé, bateram forte em homens e mulheres, num desvario realmente estarrecedor.
Em 1954 uma vereadora pedia uma resposta concreta da policia ao terror implantado na cidade pelos chamados rabos de burro, especialmente com relação aos estabelecimentos de ensino mais atingidos por esses indivíduos.
Ninguém estava livre da sanha dos desordeiros: certa noite, no auge da movimentação das quermesses da Igreja de São Benedito – festa ao ar livre promovida pelas igrejas em datas festivas – aportou uma turma de rabos-de-burro, chefiada por um elemento dado a arruaças, valentão e perigoso, mas que exercia indiscutível liderança entre os que, como ele, se dedicavam a desordens e confusões. Tratava-se de um jovem de classe média alta, filho de um empresário.
À chegada deles se instalou o caos. Praticaram toda sorte de desmandos. Quebraram mesas e cadeiras, agrediram rapazes, desrespeitaram mulheres e crianças e os que tentavam contê-los em sua fúria. Como sempre acontecia quando eles chegavam, a festa acabava.
Os fatos de tal gravidade, começaram a ganhar espaços nos jornais, a princípio através de tímidas notinhas na seção de queixas e reclamações, depois em registros de notícias policiais.
Em outra ocasião, os baderneiros promoveram um violento quebra-quebra no boate Tabariz, casa noturna localizada na Praia de Iracema, que costumava receber figuras de certa expressão social na cidade. Os rabos-de-burro resolveram destruir a conhecida casa noturna. Não deixaram nada em pé, bateram forte em homens e mulheres, num desvario realmente estarrecedor.
A Boate Tabariz funcionava na Avenida Pessoa Anta, 120, na Praia de Iracema. Era de propriedade do famoso Zé Tatá, alcunha de José Vicente de Carvalho
A
destruição da Tabariz chegou às manchetes dos jornais, ao noticiário das
emissoras de rádio. E a partir daquele acontecimento, os jornais, especialmente
os da rede “Associada” – Correio do Ceará e Unitário – decidiram declarar
guerra aos delinquentes grã-finos. A questão tornou-se assunto diário,
obrigatório das folhas, e o Correio do Ceará escalou alguns dos seus melhores
repórteres para escrever matérias de profundidade, uma espécie de jornalismo
investigativo, denunciando as ações das quadrilhas e exigindo ação das
autoridades policiais que continuavam omissas.
O acobertamento das desordens, a omissão da polícia (havia ao que se sabe, relações de parentesco entre altas autoridades e membros das gangues de rabos-de-burro), e a impunidade assegurada provocaram a proliferação desses bandos. Surgiram outros, autênticas quadrilhas – genericamente cognominados de rabos-de-burro: desordeiros da Aldeota, do Jacarecanga, do Benfica, do Alagadiço, de toda parte, vinham se agregar ao grupos do “Pinduca”, do “Cabeção” e de outros chefetes da malta de delinquentes milionários que infernizavam a vida citadina.
O acobertamento das desordens, a omissão da polícia (havia ao que se sabe, relações de parentesco entre altas autoridades e membros das gangues de rabos-de-burro), e a impunidade assegurada provocaram a proliferação desses bandos. Surgiram outros, autênticas quadrilhas – genericamente cognominados de rabos-de-burro: desordeiros da Aldeota, do Jacarecanga, do Benfica, do Alagadiço, de toda parte, vinham se agregar ao grupos do “Pinduca”, do “Cabeção” e de outros chefetes da malta de delinquentes milionários que infernizavam a vida citadina.
Os
desmandos dos rabos-de-burro atingiram seu clímax com o espancamento e morte de
um rapaz em plena praça do Carmo. O moço desafiara a truculência do bando e foi
covardemente assassinado. Trata-se de um bancário chamado Vanir, e o crime
obrigou a polícia a agir com mais rigor na realização do inquérito, de modo a
punir os autores. Três ou quatro arruaceiros acabaram condenados a penas
relativamente suaves, de dois a três anos, recuperando cedo a liberdade.
A ação foi arrefecendo e teve, mais tarde, um desfecho trágico: um dos principais líderes daquela turma de baderneiros viria a ser morto num manhã de Domingo na Praia de Iracema, vítima da vingança de outro jovem, que horas antes ele havia surrado num cabaré. Aquele fato, já no ano de 1957, marcaria o fim da carreira de violências de um numeroso grupo de jovens bem-nascidos, que tiveram um período de vida assinalado pela turbulência de suas ações.
A ação foi arrefecendo e teve, mais tarde, um desfecho trágico: um dos principais líderes daquela turma de baderneiros viria a ser morto num manhã de Domingo na Praia de Iracema, vítima da vingança de outro jovem, que horas antes ele havia surrado num cabaré. Aquele fato, já no ano de 1957, marcaria o fim da carreira de violências de um numeroso grupo de jovens bem-nascidos, que tiveram um período de vida assinalado pela turbulência de suas ações.
Fontes:
Girão,
Blanchard. Sessão das Quatro cenas e atores de um tempo mais feliz. ABC:
Fortaleza, 1998.
JUCÁ,
Gisafran Nazareno Mota. Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza
(1945-1960) São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto
do Estado do Ceará, 2000
fotos IBGE, Anuário do Ceará e Arquivo Nirez
fotos IBGE, Anuário do Ceará e Arquivo Nirez
15 comentários:
Por favor, teria como citar os nomes dos envolvidos, pois precisamos saber mais a historia de nossa cidade e de seus cidadões.
Devem ser os "homens de respeito" de hoje, com pomposos sobrenomes. É uma pena ocultar esses nomes. Não sei se nos jornais da época os traziam.
Pena que, ainda hoje, existem muitos rabos-de-burro.
Junior chevalier, Santiago Vieira, os artigos que utilizei como fontes não citam nomes; os jornais da época seguramente identificavam os baderneiros, mas não pesquisei por nenhum deles. O que os jornais faziam, a Policia não conseguia fazer, talvez por influência das famílias importantes de onde vinham os rabos de burro: os principais cabeças da gangue nunca foram punidos porque a polícia nunca os identificou.
A expressão rabo de burro passou a designar pelas décadas seguintes qualquer jovem fora dos padrões, na maioria não violentos.
Um dos famosos "rabos de burro", chamava-se Ivan Paiva, o qual atormentou as famílias cearenses na década de 60.
Omissão das autoridades, corporativismo... E eu achando que isso era coisa nova no Brasil! Kkkkkkk
Outro rabo de burro conhecido era o Mário Pinheiro,filho do então Deputado Aldisio Pinheiro,ja nos anos 70/80 surgiu o Graffite ,Também considerado um rabo de Burro.
E o tal grafite teve o trágico fim que procuro,ao estatelar seu carro, em alta velocidade, contra um muro de pedra de uma residência, na Av. Beira Mar, nos idos da década de setenta.
Antigamente, e ainda hoje, os pais são os culpados pelo comportamento dos jovens arruaceiros e delinquentes. São o filhos mal nascidos, e não bem-nascidos.
Isso mesmo....nome aos bois .
Não foi carro, foi moto.
Pena que ainda hoje seja guardado os nomes!
Grafite teve seu fim trágico , morreu fazendo o que mais gostava, em alta velocidade com sua moto e quando bateu foi direto com a cabeça em um poste. Acabara naquele momento o rápido Grafite que fazia pouco da polícia local desfilando com sua namorada de moto, os dois totalmente nus pelas ruas da Aldeota.
Me lembro da minha infância algum episódios de Ivan Paiva pois ele casou com uma jovem de Sobral da Época casau com com ele e tiveram filhos e nos jovem na época morria de medos de passar até em frente da casa deles que horror.
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