Inspirado em um artigo do Prof. José Borzacchiello da Silva
de 06.05.2001
Basta olhar o estado de conservação de nossas praças, estátuas, logradouros públicos, boa parte dos equipamentos culturais, edifícios históricos, para ver o descaso com que são tratados o nosso patrimônio. Até os bens imóveis protegidos sofrem com o abandono, pois o tombamento não garante sua manutenção. A situação é mais notória no Centro, parte mais antiga da cidade, que concentra a maior incidência de abandono do patrimônio histórico e cultural, a exemplo do que acontece com o Teatro São José, criado em 1914, protegido por lei municipal, que se encontra em ruínas, apesar das reiteradas promessas de recuperação, por parte de sucessivos gestores municipais. Na mesma situação está o prédio da antiga Escola Jesus, Maria, José, localizado na Rua Coronel Ferraz, também tombado e também abandonado. Nos monumentos, bustos e estátuas – em sua maioria – não constam datas, nem identificação do homenageado, nem do autor da obra. Estão sempre mal cuidados, pichados e anônimos.
Sendo Fortaleza uma cidade de clima quente, com temperatura média anual de 27º, situada próxima a linha do Equador, com sol brilhando forte praticamente o ano inteiro, era de se esperar que fossem tomadas todas as medidas necessárias, para evitar que intervenções ambientais mal planejadas viessem a agravar as condições climáticas por si só, tão adversas. Mas não é bem assim: a prática tem demonstrado que não há nenhuma preocupação com os elementos que poderiam minimizar o desconforto provocado pelas altas temperaturas. Historicamente, Fortaleza é a capital das lagoas aterradas, dos riachos canalizados e aprisionados embaixo de pistas de concreto por onde correm os automóveis. Além disso os moradores e os que se deslocam a pé ou em bicicletas e motos e outros, sofrem com a retirada desenfreada da cobertura vegetal. Arvores de grande porte, são impiedosamente eliminadas por qualquer pretexto. Nos últimos cinco anos, logradouros importantes como as Avenidas Dom Luiz, Santos Dumont, Bezerra de Menezes, Paulino Rocha, Alberto Craveiro e outras, perderam toda a cobertura vegetal, em nome de um progresso desvairado - crimes ambientais praticados por quem não aprendeu a conciliar crescimento com preservação ambiental - para abrir espaços para construção de viadutos, túneis e alargamento de vias. Como se não bastasse, Fortaleza é uma cidade tomada pelo lixo, a coleta é insuficiente, não há varrição nem capinagem de ruas nos bairros, nem cooperação dos moradores. Os recursos hídricos que ainda sobrevivem, estão repletos de lixo, descartados pela população.
Consultados:
Passeio Público: cadê a estátua?
De repente, andar pelas ruas e exercer o básico direito de ir
e vir, tornou-se atividade de risco em Fortaleza. Portar relógios, celulares,
bolsas e objetos de valor, ou nem tanto, nem pensar. Os números da violência em
Fortaleza são assustadores e atingem a todos os bairros e todos os segmentos
sociais. Uma pesquisa realizada por uma ONG Mexicana, coloca Fortaleza como a
cidade mais violenta do Brasil e 12ª mais violenta do mundo. Outra, mais recente, aponta que Fortaleza é a
capital brasileira com o maior Índice de Homicídios de Adolescentes (IHA),
segundo estudo do Programa de Redução da Violência Letal Contra Adolescentes e
Jovens, divulgado no dia 28 de junho deste ano. O mais preocupante é ver as
autoridades do Estado minimizando o problema, questionando a metodologia
utilizada pelas ONG’s, contestando os números que eles mesmos
contabilizam. E seguem reafirmando que
as forças policiais estão aparelhadas e preparadas para atuarem fortemente no
combate à criminalidade e em prol da segurança. Mas o que vê, e o que resta
comprovado é que essa intervenção não tem produzido os resultados desejados.
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Ceará indicam que entre janeiro e
junho de 2016, 1.746 pessoas foram assassinadas no Estado. Fortaleza não era
assim, nem merece esses títulos.
2 – Desigualdade social
Bairro Bom Jardim com o Rio Maranguapinho - foto maio/2013
A abissal diferença de renda que separa ricos e pobres em
Fortaleza, a colocou como a 5ª cidade mais desigual do mundo, de acordo com o
relatório das Nações Unidas State of the World Cities. Ainda de acordo com o
relatório, 7% da população de Fortaleza detém 26% de toda a riqueza da cidade.
Entre as cidades do Brasil, Fortaleza é a segunda mais desigual, atrás apenas
de Goiânia. Em seguida aparecem Belo Horizonte, Brasília e Curitiba. Ainda
segundo o relatório da ONU, o nível de aglomeração urbana na capital cearense
deixa a população em nível de risco "muito alto" em inundações,
deslizamento de terra e outros desastres naturais.
Estudo
realizado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE)
nos 119 bairros de Fortaleza mostra que a renda média dos moradores do bairro
mais rico da capital, o Meireles, é 15,3 superior aos dos residentes no bairro
mais pobre, o Conjunto Palmeiras. O estudo, mostra ainda que 7% da população de
Fortaleza vive nos 10 bairros mais ricos e que os 44 bairros de menor renda
concentram 49% da população da capital cearense. Para completar o quadro de
indigência social de uma parcela não contabilizado da população, os moradores
de rua, os sem teto, os mendigos e similares, abandonaram seus guetos na
periferia e ocuparam as praças centrais de Fortaleza. A miséria exposta aos
olhos de quem passa, exibe também a ineficiência das políticas públicas
voltadas para esse segmento de baixa renda.
O Ceará é o
terceiro Estado do País com o maior número de óbitos no trânsito, atrás somente
de São Paulo e Minas Gerais. Um total de 11.132 mortes no Ceará foram
contabilizadas entre 2001 e 2012 e estão apresentadas no Retrato da Segurança
Viária no Brasil 2014, relatório desenvolvido pelo Observatório Nacional de
Segurança Viária (ONSV). Os dados ainda apontam que entre as dez cidades mais
populosas do país, as que possuem a maior taxa de mortes por 100 mil habitantes
são Fortaleza, ocupando a segunda colocação com 27,1 e em primeiro lugar, Recife,
com 34,7 por 100 mil habitantes.
De acordo
com estatísticas da AMC e Detran, as causas mais comuns de acidentes são: 1º lugar,
falha humana; 2º dirigir sob efeito de álcool e substâncias entorpecentes; 3°
trafegar em alta velocidade sem a devida experiência; 4° problemas mecânicos e
5° má conservação das vias de tráfego.
As motocicletas
estão envolvidas em metade das mortes, onde a frota é a terceira do
País. Os acidentes são causados por motociclistas, muitos sem habilitação, que
realizam travessias perigosas inclusive nas rodovias e que não usam capacete, segundo o chefe
de comunicação da PRF, indicando que o não uso de capacete pelo condutor
aumenta em cinco vezes o risco de morte, em caso de acidente.
Em abril de
2016, Fortaleza completou 290 anos. Como a data escolhida faz referência a sua
elevação à categoria de Vila (13 de abril de 1726), é fácil concluir que a
cidade é de fato, bem mais antiga. No entanto, considerando apenas os 290 anos,
encontramos apenas duas edificações que sobreviveram a implacável busca de
modernidade, e atestam o seu tempo de existência: O Forte de N.S. de Assunção –
construído em 1649, portanto, 367 anos em 2016 – e a Igreja de N.S. do Rosário
fundada em 1730, com 288 anos. Lembrando que as duas edificações foram
levantadas em taipa e palha e passaram por reformas que lhes deram a aparência
atual. A fortaleza de N.S. Da Assunção foi reconstruída em alvenaria em 1816, no
governo de Manuel Inácio Sampaio (1812-1820), com projeto do engenheiro Silva
Paulet. Já Igreja do Rosário, ameaçando ruir em 1753, foi reconstruída a pedra
e cal, com a utilização de recursos doados pelos fiéis. Todas as demais
edificações, monumentos, e outras referências que contavam a origem e a
evolução da cidade, foram destruídos ou radicalmente modificados. Mesmo as vias
públicas foram e continuam sendo renomeadas com tanta frequência, que
suas denominações não tem qualquer significado para a população, que não conhece os homenageados e nem o que representaram para a cidade. Suas origens, seu passado, sua arquitetura, seus símbolos, vem sendo sistematicamente apagados, transformando Fortaleza numa cidade sem
memória, que não lembra nem sente saudade.
Basta olhar o estado de conservação de nossas praças, estátuas, logradouros públicos, boa parte dos equipamentos culturais, edifícios históricos, para ver o descaso com que são tratados o nosso patrimônio. Até os bens imóveis protegidos sofrem com o abandono, pois o tombamento não garante sua manutenção. A situação é mais notória no Centro, parte mais antiga da cidade, que concentra a maior incidência de abandono do patrimônio histórico e cultural, a exemplo do que acontece com o Teatro São José, criado em 1914, protegido por lei municipal, que se encontra em ruínas, apesar das reiteradas promessas de recuperação, por parte de sucessivos gestores municipais. Na mesma situação está o prédio da antiga Escola Jesus, Maria, José, localizado na Rua Coronel Ferraz, também tombado e também abandonado. Nos monumentos, bustos e estátuas – em sua maioria – não constam datas, nem identificação do homenageado, nem do autor da obra. Estão sempre mal cuidados, pichados e anônimos.
Sendo Fortaleza uma cidade de clima quente, com temperatura média anual de 27º, situada próxima a linha do Equador, com sol brilhando forte praticamente o ano inteiro, era de se esperar que fossem tomadas todas as medidas necessárias, para evitar que intervenções ambientais mal planejadas viessem a agravar as condições climáticas por si só, tão adversas. Mas não é bem assim: a prática tem demonstrado que não há nenhuma preocupação com os elementos que poderiam minimizar o desconforto provocado pelas altas temperaturas. Historicamente, Fortaleza é a capital das lagoas aterradas, dos riachos canalizados e aprisionados embaixo de pistas de concreto por onde correm os automóveis. Além disso os moradores e os que se deslocam a pé ou em bicicletas e motos e outros, sofrem com a retirada desenfreada da cobertura vegetal. Arvores de grande porte, são impiedosamente eliminadas por qualquer pretexto. Nos últimos cinco anos, logradouros importantes como as Avenidas Dom Luiz, Santos Dumont, Bezerra de Menezes, Paulino Rocha, Alberto Craveiro e outras, perderam toda a cobertura vegetal, em nome de um progresso desvairado - crimes ambientais praticados por quem não aprendeu a conciliar crescimento com preservação ambiental - para abrir espaços para construção de viadutos, túneis e alargamento de vias. Como se não bastasse, Fortaleza é uma cidade tomada pelo lixo, a coleta é insuficiente, não há varrição nem capinagem de ruas nos bairros, nem cooperação dos moradores. Os recursos hídricos que ainda sobrevivem, estão repletos de lixo, descartados pela população.
A história
de Fortaleza começou no Centro; as primeiras igrejas, as praças mais antigas,
os edifícios mais representativos que contam a trajetória da cidade, estão no
Centro. No Centro estão o Museu do Ceará, o Teatro José de Alencar, com seus
jardins projetados por Burle Marx, a Catedral Metropolitana, o Paço Municipal,
a sede da Academia Cearense Letras, o Palácio da Luz, construído no final do século XVIII, e a farmácia mais antiga, a Oswaldo Cruz.
Mas o Centro foi abandonado à própria sorte, a partir do momento em que os
serviços públicos se retiraram de lá. O Governo do Estado, o Fórum, a Assembleia
Legislativa, várias repartições estaduais e municipais. Depois vieram os
Shopping Centers e levaram com eles as grandes lojas ligadas à moda do
vestuário e calçados, os cinemas e as lanchonetes. Mais tarde, os hotéis se
mudaram para a orla marítima da Praia de Iracema e do Meireles, assim, os
hotéis do centro ficaram esvaziados e fecharam (quebraram). Com a saída desses
agentes, o local ficou entregue ao comércio popular, e na falta de diretrizes,
e regras a serem observadas, criaram suas próprias formas de ocupação, o que
gerou uma desorganização espacial jamais vista. O Centro praticamente não recebe
mais investimentos públicos, as praças, apesar de bem frequentadas, estão sujas,
com bancos quebrados, piso esburacado, iluminação precária, ocupadas por
moradores de rua; as calçadas estão tomadas por camelôs que se instalam em
qualquer lugar, espalham suas mercadorias ao bel-prazer, sob os olhos
complacentes dos gestores. Uma boa parte dos edifícios mais antigos, construídos
no século XIX, foram demolidos para virarem estacionamento ou estão fechados.
Urbanistas defendem que, a valorização do Centro de Fortaleza, passa por uma reocupação dos espaços, atribuindo-lhe funções administrativas, artísticas, culturais, lazer e habitacional, o que é pouco provável, pois grandes setores econômicos privados não têm interesse na região. Atualmente é relativamente pequena a quantidade de imóveis residenciais efetivamente ocupados. O Centro de Fortaleza está encolhendo. Um dia some.
Urbanistas defendem que, a valorização do Centro de Fortaleza, passa por uma reocupação dos espaços, atribuindo-lhe funções administrativas, artísticas, culturais, lazer e habitacional, o que é pouco provável, pois grandes setores econômicos privados não têm interesse na região. Atualmente é relativamente pequena a quantidade de imóveis residenciais efetivamente ocupados. O Centro de Fortaleza está encolhendo. Um dia some.
por Fátima Garcia
Consultados:
jornais O
Povo, Diário do Nordeste, O Nordeste
Portais
Tribuna do Ceará e G1
fotos: Fortaleza em fotos
fotos: Fortaleza em fotos
2 comentários:
Sei que é um velho chavão, exaustivamente repetido, mas tudo (ou quase tudo) passa pela "Educação" ; Desse 7 problemas mencionados, pelo menos 5 deles são relexos do nível precário de educação do povo.Excelente reflexão, parabéns
também concordo Bel, quando falta educação,tudo fica fora dos eixos, acaba refletindo em tudo. Obrigada pela visita. abs
Postar um comentário