A primeira tentativa de
ocupação da capitania do Ceará ocorreu pouco mais de um século depois do
descobrimento, em 1603, quando Pero Coelho de Sousa, resolveu, por sua conta e
risco, organizar uma bandeira, tentando diminuir os prejuízos que teve em outras
empreitadas. Ao então governador-geral Diogo Botelho (8º Governador -Geral do
Brasil – 1602/1607), declarou como seus objetivos descobrir minas de ouro e
prata, expulsar os franceses que invadiram o Maranhão e estabelecer a paz com
os nativos.
Pero Coelho saiu da Paraíba a
pé rumo ao Maranhão, acompanhado de 65 soldados (dentre eles o jovem Martim
Soares Moreno) e 200 índios pacificados, até atingir a foz do rio Jaguaribe.
Prosseguindo, atingiu a Ponta do Mucuripe, depois seguiu até a Ibiapaba, quando
travou combates com índios da tribo dos Tabajaras e comandos franceses. Venceu
o combate com grandes baixas e pretendia retomar sua viagem ao Maranhão, mas em
razão da escassez de alimentos e das más condições físicas dos seus homens,
decidiu retornar ao Ceará.
Estabeleceu-se na Barra do
Ceará, onde levantou o forte de São Tiago. A região do entorno chamou de Nova
Lusitânia, formada por uma tosca paliçada de paus de quina e umas poucas
casinhas de palha. Mas Pero Coelho decidiu se estabelecer ali. Seguiu para
Recife para buscar sua mulher Maria Thomazia e seus cinco filhos. Voltou um ano
e meio depois para constatar que o relacionamento entre índios e soldados
estava deteriorado, resultado da rígida obediência que os portugueses exigiam
dos nativos para impor autoridade. Essa atitude implantou o ódio e a discórdia.
Acuado pelos inimigos
(indígenas e soldados franceses), decidiu abandonar o forte e mudar-se para a
foz do Jaguaribe. Nos anos de 1605/1607, o Ceará enfrentou uma forte estiagem
que coincidiu com a viagem de Pero Coelho para a região do Jaguaribe. No
percurso os viajantes encontraram rios e lagoas naturais totalmente secos, a
vegetação morta, produzindo um cenário de fome, miséria e desespero.
Para completar a visão
apocalíptica, apareceu nos céus o cometa de Halley, que os índios chamavam de
“tata-bebe” (fogo voador), misturando terror e misticismo, uma vez que a
aparição de fenômenos no céu eram considerados de mau-agouro.
Seguindo em sua árdua
caminhada Pero Coelho perdeu alguns de seus soldados e seu filho mais velho,
que morreram de inanição. Sua mulher Maria Thomázia, chegou ao Jaguaribe em
grave estado de desnutrição, transportada numa espécie de maca. Depois se
recuperou. Do Jaguaribe, com pouco mais da metade dos 50 homens que tinham
iniciado a viagem, o aventureiro desloca-se até o forte de Reis Magos, em
Natal, e depois à Paraíba, onde embarcou de volta para Lisboa.
Na Corte fez um relato
dramático de suas andanças pelas inóspitas terras do Nordeste, na esperança de
receber alguma compensação pelos seus serviços. Não sensibilizou ninguém,
porque todos conheciam sua impetuosidade. Martim Soares Moreno, que fez parte
de sua expedição, registrou em sua “Relação do Ceará”, sem identificar nomes,
que houve muita importunação aos indígenas sem razão. Pero Coelho de Souza
morreu sem receber nada.
Na Revista do Instituto do
Ceará, o historiador Studart Filho, deixou registrada sua impressão sobre a
primeira investida colonizadora no Ceará. “efêmera e sem brilho havia de ser a
vida desse reduto, testemunho mudo dos sofrimentos e das misérias dos primeiros
colonizadores do Ceará. Evacuado em 1605, depois de ter servido de refúgio aos
expedicionários durante mais de 18 meses, caiu em ruínas, desaparecendo sem
deixar vestígios”.
A tentativa seguinte de colonização
também falhou. Era a dos padres jesuítas Francisco Pinto e Luiz Filgueira.
Fonte:
Caravelas, Jangadas e Navios –
uma história portuária, de Rodolfo Espínola.
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