segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Palácio do Bispo, atual Paço Municipal/ Palácio João Brígido

Para quem já viveu sobre seu piso de madeira vermelha, o prédio ainda hoje é conhecido como Palácio do Bispo. A alcunha é devido ao fato de o local ter abrigado – por mais de cem anos, de 1860 a 1973 – a residência episcopal. Serviu de morada aos bispos e padres, além de seminaristas que recebiam aulas de religião em seus aposentos.


Localizado num terreno atrás da Catedral Metropolitana de Fortaleza, na Rua São José, o palácio e a área que o circunda, passou do poder religioso ao poder público municipal, e é hoje a sede da Prefeitura de Fortaleza. Considerando o passado arquitetônico, trata-se de um prédio raro, embora não muito antigo do ponto de vista histórico. Não tem nem 200 anos. Porém, em termos de Fortaleza, é um dos mais antigos, de acordo com o historiador Antônio Luiz Macedo.


No século XIX, mesmo com a expressão econômica da cidade sendo diminuta, começaram a proliferar as edificações de alvenaria, mais passíveis de preservação. Construções mais modestas e abundantes, de madeira trançada, não tiveram como resistir à passagem do tempo.

A partir de 1973, o casarão foi palco das decisões políticas dos prefeitos de Fortaleza, mas foi deixado de lado em 1991, no primeiro mandato do prefeito Juraci Magalhães. O resultado foi o total esquecimento da manutenção do edifício durante esse período, ocupado por algumas secretarias municipais. Em 2005, foi tombado, o que, no entanto, não significou uma restauração imediata, o que só veio a ocorrer três anos depois.

Ao ocupar o Palácio, o Paço Municipal não preservou sua fachada original. Ao longo dos anos e dos diferentes usos que foram dados ao imóvel, ele foi sendo modificado. Sua estrutura é original, mas as diversas intervenções foram agregando elementos de outras concepções.

O edifício da Rua São José era um armazém de alimentos de propriedade do Sargento-Mor e comerciante português Antônio Francisco da Silva, um ascendente da família Albano. Dos Albano, o armazém passou para os Guimarães, outro poderoso clã da cidade.  No século XIX, a chácara dos Guimarães era um oásis à beira do Pajeú e ainda afastado do Centro da cidade, embora fosse perto da Catedral .

imagem da área do Centro com a antiga Igreja de São José (demolida em 1938), e logo atrás, o Palácio do Bispo e o Bosque Dom Delgado 

E foi essa proximidade com a Catedral o principal motivo que levou o casarão a mudar de dono mais uma vez. Em 1860, o prédio foi comprado pelo Governo Imperial por 60 mil réis para ser a sede do Bispado de Fortaleza. Ainda não havia bispo naquela época.  Dom Luiz Antônio dos Santos, embora nomeado o primeiro prelado da diocese do Ceará em 1859, só chegou a Fortaleza em 1861, mas não ocupou o Palácio.

Mais tarde a casa passou aos cuidados de Dom Joaquim – bispo de 1884 a 1912 – que foi responsável por manter junto à igreja, a posse do prédio, mesmo depois da Proclamação da república (1889) e da Primeira Constituição Republicana, quando a igreja perdeu a relação com o Estado.

fachada interna do Palácio João Brígido 

A venda do Palácio do Bispo para a Prefeitura foi feita por Dom José Delgado. Para conseguir vender o casarão, Dom Delgado recorreu ao Vaticano, devido a falta de autorização local. Conseguido o apoio, foi passada a edificação, com área de mais de dois mil metros quadrados, ao prefeito Vicente Fialho, por Cr$ 3.094.500,00.

Bosque Dom Delgado, no quintal do Palácio, cortado pelo riacho Pajeú. Foto de 1991

Dom Delgado alegou “a pobreza da arquidiocese, que não suportava o ônus da manutenção do patrimônio, aos ecos do Concilio Vaticano II, que propagava a pobreza pelos quadrantes do mundo, levando aos bispos a despojar-se do poder e riqueza,e a presença constante de comensais no Palácio, que obrigava as religiosas a redobrados trabalhos”, escreveu no O Povo, em março de 1979.

Dom José de Medeiros Delgado

A justificativa era em resposta ao artigo “Devolva-se o quanto antes à Arquidiocese o histórico Palácio do Bispo”. Assinado por Daniel Carneiro Job, publicado no mesmo jornal, em fevereiro, no qual acusava o bispo de vender o casarão “a preço de bolo de milho em fim de festa”.

O antigo Palácio do Bispo, o atual Paço Municipal é denominado oficialmente de Palácio João Brígido, em homenagem ao político e jornalista João Brígido dos Santos (1829-1921). 


Fontes:
Anuário de Fortaleza 2012-2013
fotos O Povo, Arquivo Nirez e Anuário do Ceará

    

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