segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Bairro Henrique Jorge (Antigo Casa Popular)

Até por volta do Século XIX a área que hoje pertence ao bairro Henrique Jorge - que nessa época não era definido geograficamente - fazia parte da Parangaba, a antiga Vila Nova do Arronches. Nesse período a Parangaba se destacava como ponto intermediário no transporte de gado, com a estrada do Barro Vermelho-Parangaba, estrada essa que ligava o bairro Antônio Bezerra a  Parangaba.

Casa do pai de Rachel de Queiroz, no antigo Sítio Pici.O casarão quase centenário está localizado na Rua Antonio Ivo. A área do sítio foi loteada nos anos 1970, expandindo assim os limites do bairro.  (foto Fortaleza em Fotos)

Nos anos 1920, o advogado Daniel de Queiroz Lima, pai da escritora Raquel de Queiroz, adquiriu o Sitio Pici,  localizado naquele ermo, que passou a ser utilizado como local de veraneio para sua família. Depois disso, a ocupação deu-se lentamente. Os primeiros moradores encontraram um lugar com muito mato, muita vegetação, poucos vizinhos e nenhuma estrutura.

trecho Antônio Bezerra/Caucaia da antiga estrada do Barro Vermelho, hoje correspondente a Avenida Mister Hull (arquivo Nirez) 

Na década de 50 já existia no bairro o Núcleo Residencial Getúlio Vargas, conhecido como "Vila dos Sargentos", destinado aos sargentos do Exército que serviam no 23° Batalhão de Caçadores.

Ainda na década de 50, paisagem começou a se transformar radicalmente, quando em 1952, a Prefeitura de Fortaleza fez a doação de um grande terreno para construção de um conjunto de casas populares, sob responsabilidade da  Fundação da Casa Popular, ficando a cargo da prefeitura a urbanização, pavimentação e energia. Daí surgiu o Conjunto Habitacional Casa Popular, constituído de 456 unidades residenciais. 

A Fundação da Casa Popular era uma entidade do governo federal voltada para a construção de moradias populares, criada no dia 1° de maio de 1946, no governo do presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951). Tinha alcance nacional e pregava a importância do trabalhador tornar-se proprietário de sua moradia. Visava angariar apoio das camadas de rendas mais baixas, através da facilidade de obtenção da casa própria. A Fundação construiu em Fortaleza um total de 526 casas populares, distribuídas em dois conjuntos habitacionais.

O imenso conjunto habitacional acabou por emprestar o nome ao bairro que se formava, que passou a ser chamado Casa Popular. As casas do conjunto residencial formavam um quadrado que abrangiam desde as ruas Heribaldo Costa até a Audízio Pinheiro e a Rua Paissandu (atual Porto Alegre) até a Paulo Lopes. 

No mais, ao redor, tudo era mato. As ruas eram de terra, a água encanada era salobra, e as mulheres lavavam roupas na Lagoa da Parangaba. O transporte coletivo só chegava até o vizinho bairro Jóquei Clube, o que demandava em longas caminhadas. Havia também a limitação imposta pelo Maranguapinho, nessa época, um riacho de águas cristalinas, e quem precisava atravessar, fazia uso de balsa. 

imagem: Francisco Edson Mendonça Gomes - Google 
   
No final dos anos 50 foi iniciada a construção da Igreja do Imaculado Coração de Maria, em terreno doado por um antigo morador e construída com doações e arrecadação de materiais. Antes da existência do templo, as missas eram celebradas no local onde hoje se encontra a Praça Afonso Pena, à sombra das mangueiras e cajueiros. Os fiéis levavam tudo: cadeiras, mesas, altar, imagens, etc. Os celebrantes vinham de outras localidades ou de outras paróquias. O primeiro registro da igreja é de 1981. 

Maestro Henrique Jorge, com sua mulher Júlia e a filha Isolda no Passeio Público, 1908. O nome do bairro é uma homenagem ao maestro (arquivo Nirez)

No início da década de 1960, o bairro Casa Popular ganhou uma nova denominação (Lei nº 2.487, de 29/10/1963): Henrique Jorge, nome do pai do ex-deputado, ex-governador do Estado entre 1955 e 1958 e ex-senador da República Paulo Sarasate. Henrique Jorge, músico e regente foi o fundador do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno. 

Nos anos 60 o bairro já havia sido beneficiado com alguns equipamentos como o Colégio Mariano Martins, o Centro Educacional Demócrito Rocha, um Posto de Saúde, a Maternidade Argentina Castelo Branco e linhas de ônibus.
 
A denominação das ruas do bairro eram em sua maioria, o nome de capitais brasileiras. Mas ultimamente alguns nomes foram trocados para prestar homenagens a personalidades  ilustres. Assim a antiga Avenida Brasília, a principal do bairro, agora é a Avenida Senador Fernandes Távora; a antiga Rua Salvador teve o nome modificado para Eurico Medina, que foi líder comunitário atuante no bairro; a Rua Recife perdeu o nome para Audízio Pinheiro, proprietário de uma fábrica de têxteis, localizada naquela rua.



Estrada do Pici (imagem Google)

Do período da formação daquela região, ainda é possível se ver o restante da antiga estrada do Barro Vermelho, que atualmente é conhecida como Estrada do Pici e que é um dos limites do bairro.

O Bairro Henrique Jorge está localizado no Distrito de Antônio Bezerra - Área da regional III. Limita-se com os seguintes bairros: ao Norte: Dom Lustosa e Pici; ao Sul: João XXIII; a Leste: Jóquei Clube e a Oeste: Autran Nunes e Genibaú.
De acordo com o IBGE (Censo Demográfico de 2010) conta com 26.994 habitantes, distribuídos em 7.816 domicílios

pesquisa:

Marcia Maria da Silva      
Trajetória de Vida dos Velhos Moradores do Bairro Henrique Jorge. 
Monografia submetida à aprovação do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense, FaC, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social. 
Orientadora: Prof.ª Ms. Valney Rocha Maciel     
Fortaleza - Ceará 2014
Thêmis Amorim Aragão  
Influência das Políticas Habitacionais na Construção do Espaço Urbano Metropolitano de Fortaleza - Histórias e Perspectivas.  
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional.
Rio de Janeiro - 2010 

Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez
Wikipédia 
IBGE  

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Bairro da Paupina

Na memória de Fortaleza, três aldeamentos famosos: Parangaba, Paupina (atual Messejana) e Soure (Caucaia). Quando o Marquês de Pombal decretou o fechamento da Companhia de Jesus, em Ordem Régia de 14 de setembro de 1758, as missões foram convertidas em vilas. 

Estrada de acesso a Caucaia antiga Vila Nova de Soure (foto de 1919.)
 
Assim Caucaia se transformou em Vila Nova de Soure, guiada pelo vigário Antônio Carvalho da Silva; Parangaba mudou para Vila Nova de Arronches, sob o comando do padre Antônio Coelho Cabral; Paupina passou a Vila Nova de Messejana, dirigida pelo vigário Manuel Pegado de Siqueira Cortez. Os jesuítas da extinta Companhia de Jesus seguiram para Pernambuco, e de lá, para as masmorras de Portugal.

 Estrada de acesso a Messejana, antiga Aldeia da Paupina, em foto de 1919.

A colonização portuguesa no Ceará começa a florescer efetivamente com a incursão de Martim Soares Moreno. Um dos fatores para esse processo foi a construção do Forte de São Sebastião na região conhecida hoje como Barra do Ceará, com o auxílio de Jacaúna e de sua tribo, vindos da região do Jaguaribe, o que gerou uma aglomeração junto à fortaleza. Tempos depois, essa aglomeração foi destacada para as terras do Mondubim, onde foi formado o Arraial do Bom Jesus da Parangaba por solicitação dos jesuítas. 

 Estrada de acesso a Parangaba, antiga Vila Nova de Arronches, em foto de 1919

Apenas nos idos dos anos de 1690 é que é formada a aldeia de Paupina, povoada por parte da população que fazia parte da aldeia de Parangaba, criada por volta de 1662. Sobre a Paupina conta-se que havia uma aldeia indígena de nome Paranamirim, sob o comando espiritual do padre Luis Jacome. Um dia o padre aplicou um  castigo a um índio rebelde, o que causou grande revolta contra os padres por parte de toda a aldeia. Tal celeuma levou a Junta Missionária de Pernambuco a transferir essa aldeia para a Paupina. A nova aldeia formada em 1741, comandada pelos jesuítas, ficou assim dividida: de um lados, os índios de paranamirim; do outro, os índios da Paupina, com uma grande praça no meio separando os povos. 
Dizia-se que Paupina seria uma corruptela de Padre Pinto, nome escolhido pelos índios em memória do Padre Francisco Pinto  chefe da missão jesuítica, sacrificado pelos índios no sopé da Serra da Ibiapaba. Para os historiadores dificilmente se pode provar a procedência de tal nome, dada a distância de 152 anos que separam o mártir da Ibiapaba, morto em 1608, dos índios que viviam em 1760, em Paupina. Acreditam que os índios não teriam tanta memória nem tal preocupação. O nome Paupina é indígena, e significa, segundo o historiador Teodoro Sampaio, "lagoa limpa" ou "lagoa descoberta".
No Guia Turístico elaborado pela Prefeitura de Fortaleza em 1961, não figura um bairro chamado Paupina. Hoje, na Fortaleza do século XXI, o bairro Paupina, urbanizado a partir dos anos 70, já não se confunde com Messejana.



Localizado no limite entre os municípios de Fortaleza e Eusébio, Paupina conta com privilégios que muitos já perderam: uma extensa área verde, baixa densidade demográfica, ruas calmas, poucos automóveis, moradores que se conhecem desde sempre. As árvores ainda estão pelo bairro, especialmente nos sítios que resistem numa área que ganha cada vez mais condomínios fechados. Um dos sítios pertence a Manoel Bezerra da Silva, de 78 anos. Talvez mantendo vivo um hábito da meninice vivida ali, o portão do terreno amplo, cheio de pássaros, não se fecha. Casas vizinhas também mantêm portas abertas.

 foto de Macilio Gomes - site Panorâmio

O equipamento mais famoso do bairro é o Mosteiro de São Bento,  fundado há 19 anos e localizado numa parte elevada, no limite entre a Paupina e o Bairro São Bento. Os monges beneditinos rezam a missa, aos domingos, com cânticos gregorianos e orações em latim. É a única missa nesse estilo na Capital. O canto de entrada é em português, mas logo começam os cânticos gregorianos e as orações em latim como o Credo e o Pai Nosso.
Do alto do templo, a cidade se alarga. Do lado direito, vê-se o Eusébio. Do lado esquerdo, um paredão de prédios, também chamada de Fortaleza. Na vista da frente, a Lagoa da Precabura, limite entre os dois municípios. O Mosteiro, para os moradores, torna-se mais atrativo no último dia do ano. Como é muito alto. Muita gente vai para lá no dia do Réveillon. Dá para ver os fogos de artifício de toda a cidade.


O bairro sofre com graves problemas como acúmulo de lixo nas ruas, desabastecimento de água, escassez de postos de saúde, ruas sem pavimentação e falta de segurança.  
Limita-se com os bairros Messejana, São Bento, Coaçu, Ancuri e Pedras. De acordo com o IBGE (pelo Censo de 2010) o bairro contava com 14.665 habitantes, sendo 7.042 homens e 7.623 mulheres. 

fontes:
História do Ceará, Airton de Farias
Revista do Instituto do Ceará - A Aldeia de Paupina e Outras Aldeias, de Aires de Montalbo.
Guia Turístico da Cidade, 1961
fotos P&B do site Brasiliana Fotográfica 
demais fotos: Fortaleza em Fotos - jan/2016

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O Acordo dos Coronéis e o Governo Gonzaga Mota

Do início dos anos 70 até a metade da década seguinte, a política cearense foi partilhada por três grupos oligárquicos liderados pelos coronéis Adauto Bezerra, César Cals e Virgílio Távora


A alternância de poder evidenciava a fragilidade das elites cearenses. Não havia um grupo político local, forte o suficiente para hegemonizar o poder no Estado e para impor seu domínio sozinho. Na verdade, o próprio controle que os coronéis exerciam sobre o Ceará decorria, sobretudo, de um fator externo: o apoio que recebiam da Ditadura Militar. 

Com o centralismo político imposto no País após 1964, a escolha dos grupos dominantes estaduais passava pela aprovação do Regime Militar, o que as fracas elites locais aceitaram ou foram obrigadas a aceitar. Virgílio Távora, César Cals e Adauto Bezerra governavam sob as bênçãos dos generais de Brasília e do autoritarismo reinante no País, tanto que, com o fim da ditadura, os coronéis perderam o governo e o poder nos anos 1980.

Fortaleza dos anos 80

Na impossibilidade de apenas um grupo político hegemonizar o poder no Estado, foi formulado uma espécie de pacto - o chamado Acordo dos Coronéis - pelo qual dividiam entre si o comando da cúpula do Ceará, afastando a possibilidade de que outros setores políticos pudessem interferir nas esferas de decisão do governo.
 
Com o Acordo dos Coronéis notava-se a tendência das facções da classe dominante em formar grandes coligações na intenção de conservar a ordem socioeconômica ou evitar a divisão do poder com outros grupos emergentes. Isso, no entanto, não impediu que ocorressem disputas entre os próprios coronéis ao longo dos anos , pois a fração de cargos e poder político variava conforme a influência de cada um junto ao governo federal.


 

Quando do golpe de 1964 o Estado era governado por Virgílio Távora, eleito pelo voto popular em 1962, pela coligação entre PSD e UDN. Virgílio ficou à frente do governo estadual até agosto de 1966. A eleição do próximo governador já seria indireta de acordo com o AI-3, feita entre os deputados estaduais. O indicado foi o deputado Plácido Aderaldo Castelo (1966-1971). A partir daí, começa a vigorar o Acordo dos Coronéis e a alternância no poder:
César Cals, (1971-1975);  Adauto Bezerra (1975-1978); Virgílio Távora (1979-1982).


No início dos anos 80, mudanças sociais, econômicas e políticas abalaram o prestígio dos coronéis. Para completar, o elemento externo e fundamental para a sustentação do Acordo dos Coronéis estava desmoronando: a Ditadura Militar. o Acordo estava com os dias contados. Não era mais possível conciliar seus interesses num regime democrático. 


A dificuldade de convivência entre os coronéis ficou evidente em 1982, quando da sucessão de Virgílio Távora. Naquele ano ocorreram as primeiras eleições diretas para governador de Estado desde o golpe de 1964. Os três chefes políticos perceberam a importância do pleito para a sobrevivência de seus grupos oligárquicos. 


Adauto Bezerra, há muito havia se lançado candidato ao governo; por sua vez, Virgílio se desincompatibilizando com o cargo de governador na pretensão de concorrer a uma vaga no Senado, desejava colocar alguém de confiança no cargo, e indicou o nome de Aécio de Borba. César Cals contudo, não concordou, visto que ele próprio desejava concorrer ao cargo. Dessa forma criou-se um impasse na sucessão ao governo cearense.

O imbróglio foi levado à Brasília, com a convocação de uma reunião pelo então presidente João Batista Figueiredo. Virgílio Távora, a essa altura já decidira escolher um nome de seu antigo secretariado, de reconhecida competência e aparentemente dócil ao seu comando, para apresentar como candidato neutro: Luiz Gonzaga da Fonseca Mota, professor da UFC, técnico do Banco do Nordeste e ex-secretário de Planejamento de seu governo.


Em março de 1982, na capital federal, César, Adauto e Virgílio assinaram o esdrúxulo Acordo de Brasília. Os três decidiram que Gonzaga Mota seria o candidato de consenso; Adauto seria o vice; Virgílio seria o candidato ao Senado e César Cals ganharia a prefeitura de Fortaleza, entregue a seu filho César Cals Neto. O acordo determinava ainda que as secretarias e os cargos de 1° e 2° escalões seriam repartidos entre os três políticos, na proporção de 33,3% pra cada um. 



Gonzaga Mota disputou a eleição com o candidato do PMDB Mauro Benevides e Américo Barreira, candidato lançado pelo PT. Exceto em Fortaleza, onde o candidato do PMDB venceu por larga maioria (58,4% dos votos), a vitória do candidato do PDS no Ceará foi a mais expressiva em todo o País. Ancorado no prestígio dos coronéis Gonzaga Mota obteve 63% do total de votos, contra 22% do candidato do PMDB; O PDS elegeu 34 deputados estaduais, 17 federais e 136 prefeitos.


Gonzaga Mota, chamado pelos amigos de Totó, iniciou seu governo refém do vergonhoso Acordo de Brasília. Limita-se a despachar o que já havia sido predeterminado pelos coronéis. Entretanto, o governador não se contentou com essa situação: figura jovem, entusiasmado com o poder que  detinha, vendo a fragilidade política dos coronéis e incentivado por vários setores sociais, Totó foi ao longo do seu mandato rompendo gradativamente com os coronéis, buscando formar sua própria facção política.



O governador começou por substituir os ocupantes dos principais cargos da máquina pública, por pessoas da sua confiança. Essas pessoas, eram coincidentemente, quase todos seus familiares, o que foi denunciado pela oposição como prática de nepotismo. Recebeu inúmeras adesões de segmentos políticos do Estado. 


No entanto, Mota reproduziu em seu mandato os mesmos vícios das administrações dos velhos coronéis: clientelismo, empreguismo, desorganização da máquina pública, corrupção, ineficiência. Os escândalos explodiam a todo momento em vários órgãos do Estado. Conta-se que várias portarias de nomeação de funcionários públicos foram entregues a deputados e cabos eleitorais para distribuição entre os eleitores. As investidas do governador em busca de aliados irritavam os coronéis e contribuiu para dividir ainda mais o PDS-CE.

Nos bastidores, César, Adauto e Virgílio se articulavam para deter o rebelde Totó. Boatos davam conta que o presidente da Assembleia Legislativa, o virgilista Aquiles Peres Mota, estava preparando o impeachment do chefe do Executivo Cearense.


Ao saber das tratativas Gonzaga Mota concedeu uma dura entrevista, afirmando que era o governador e não um carimbador de mensagens. Foi o seu grito de independência: rompeu com VT, com Cesar Cals e por fim, com Adauto Bezerra, assegurando ao seu grupo o controle do Estado.


Diversos correligionários dos coronéis foram demitidos dos cargos públicos. Exemplo maior foi a exoneração de César Cals Neto da prefeitura de Fortaleza, sendo substituído por José Maria de Barros Pinho, do PMDB, partido para o qual Gonzaga se transferiu com seu grupo político.


As ações corajosas de Gonzaga Mota ganharam espaço até na mídia nacional. Em 1983, começaram as articulações visando a sucessão presidencial. Num primeiro momento, Mota se solidarizou com o presidente João Figueiredo, comprometendo-se a apoiar o candidato deste. Depois Gonzaga decidiu dar seu apoio a Aureliano Chaves, enquanto Figueiredo se pronunciava a favor da candidatura de Mário Andreazza. 


Em razão do episódio, o executivo cearense rompeu com o governo federal e ficou entregue à própria sorte. Para completar, sentiam-se os efeitos da seca de 1979-84 e da própria crise econômica do  país. A atividade agropecuária estava praticamente arruinada, e o Ceará quase falido, sem créditos e endividado. Greves eclodiam em todos os setores, o funcionalismo público teve seus vencimentos atrasados vários meses, e para atenuar a situação, o governo passou a fornecer vales para os servidores, que a irreverência popular chamava de "gonzagueta". 


Com a frustração de Aureliano Chaves em não conseguir ser indicado pelo PDS como candidato as eleições presidenciais indiretas de 1985 - o escolhido foi Paulo Maluf - Mota ganhou destaque ao ser um dos principais articuladores da Aliança Democrática, coligação entre PMDB e PFL, a qual lançou a candidatura de Tancredo Neves.



Gonzaga Mota ficou a frente do governo do Estado até o final do seu mandato, em 15 de março de 1987. Depois foi eleito deputado federal em 1990, 1994 e 2002. Em 1998 disputou a eleição para o governo do Ceará. Perdeu para Tasso Jereissati, que foi apoiado por ele nas eleições estaduais de 1986.
 
fonte: 
História do Ceará, de Airton de Farias
fotos da internet