O bairro Outeiro da Aldeota ou simplesmente Outeiro era a continuação do Outeiro da Prainha, estendendo-se na direção oposta à praia. Nas primeiras décadas do século XX, o Outeiro era um dos bairros mais desprezados de Fortaleza. Depois do Colégio Militar havia um matagal na qual se escondiam antros de marginais.
A partir de 1932, quando a antiga Rua do Colégio tornou-se Avenida Santos Dumont, o Outeiro, como por encanto, foi-se expandindo para os lados do nascente, além da Rua João Cordeiro. No lugar onde havia matas, surgiu o bairro da Aldeota, famoso nos anos 50 pela construção de suntuosas mansões, muitas delas copiadas das telas de cinema.
Foi nesse bairro então desvalorizado e longe do Centro que o comerciante Plácido de Carvalho ergueu seu castelo, onde dois chafarizes ladeavam o imponente portão principal. Plácido
de Carvalho era filho de Plácido Carvalho e Alexandrina Barbosa
Cordeiro, da ilustre família Barbosa Cordeiro, descendente do fidalgo
Fructuoso Barbosa, que em 1573 foi nomeado governador da Paraíba.
Para a construção desse palacete florentino, Plácido adquiriu uma cópia da planta de um castelo na Itália, e contratou o arquiteto Luiz Gonzaga Flávio da Silva, que reproduziu o imóvel em Fortaleza. A construção foi iniciada em 1918 e concluída em 1920.
Para além do Castelo só se encontravam terrenos baldios, muita vegetação e casas humildes. Mas ali foi o local escolhido para abrigar o romance entre o comerciante cearense e a bela italiana de Milão, Maria Pierina.
O encontro entre ambos deu-se acidentalmente, em Paris. Pierina, de sobrenome Vaccom Rossi, tinha forte personalidade e assumira sozinha a criação de sua única filha. A emancipação feminina estava longe de ocorrer, no entanto em Paris ela encontra trabalho num estabelecimento frequentado por Plácido. De resto, o destino se encarregou de unir os dois corações de tão distintas origens.
Em 1917, com 28 anos, Pierina chega à Fortaleza, cidade pacata de ritmo lento e longe das tensões da 1a Guerra Mundial. Plácido de Carvalho, homem elegante, recebe a sua amada colocando a seus pés o que de melhor havia em solo equatorial. Faltavam-lhes, no entanto, como nas lendas ou contos de fadas, um castelo, onde poderiam acalentar sonhos e firmar suas próprias raízes.
No projeto do castelo estavam reunidos, o requinte europeu à singeleza da terra tropical. O mármore e vitrais importados conviviam harmoniosamente com as preciosas madeiras brasileiras. A decoração exibia ricos e variados estilos, caracterizando um exótico ecletismo pautado no mais fino bom-gosto. Os jardins com seus inúmeros canteiros de rosas e dálias, eram também recheados por coloridas plantas regionais. No pomar os mais saborosos frutos amadureciam sob o sol dourado e intenso da nossa cidade.
A residência do Plácido tornou-se o mais belo símbolo do bairro. Construída em plena Belle Epoque de Fortaleza, a mansão foi vendida em 1974 por 2 milhões de cruzeiros, muitos anos depois do falecimento de seus proprietários. Plácido de Carvalho falecera em 03/06/1935 e sua viúva em 11/12/1958.
Ao ser demolida para que em sua área fosse erguido um supermercado, destruiu-se um dos mais importantes equipamentos culturais da cidade. Sua imagem no entanto permanece como um dos símbolos de um tempo em que a prosperidade econômica permitia a construção de imóveis que envaideciam e encantavam a cidade.
Só muito tempo depois da construção do Palácio apareceram novas construções naquela parte de Fortaleza. Em frente ao Palácio do Plácido residiram as famílias Correia Câmara e Câmara Ribeiro, cujo patriarca foi o capitalista Abel Ribeiro.
Na vizinhança do Palácio, na esquina nordeste da Avenida Santos Dumont com a Rua Ildefonso Albano, Myrtil Meyer construiu, no antigo sítio Itarema, adquirido de Lindolfo Gondim, em 1919, a "Ville Alsace" e ali viveu com sua família. Mais tarde seus filhos construiram várias residências nas adjacências.
Em outro ângulo da mesma esquina, ladeando a Ville Alsace, ocupava a quadra até o encontro da Rua Antônio Augusto a "Villa Adolpho", de Adolpho Quixadá.
fontes:
Ideal Clube, história de uma sociedade, de Vanius Meton Gadelha Vieira
http://www.guiace.com.br/guia-de-turismo/cultura/historia/locais-historicos/palacio-do-placido
fotos: Arquivo Nirez,
livro Cidade, Saudade Fortaleza dos anos 70 de Nelson F. Bezerra
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