sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Cinema era a Melhor Diversão

 

Por volta do ano de 1955 havia muitos cinemas espalhados pelos Centro e em alguns bairros de Fortaleza. Frequentá-los implicava em ter que aceitar algumas regras. Assistir filme no Cine Diogo, por exemplo, exigia pompa e circunstância. Para entrar no cinema tinha que estar de paletó e gravata, da mesma maneira que para comparecer à aula da Faculdade de Direito.

Por essa época vários estabelecimentos do Centro alugavam paletós. Um desses locais era o Café Cearazinho, que dispunha de meia dúzia de paletós surrados, para emprestar aos clientes da casa, que pretendiam ir assistir uma fita, mas viviam esquecendo tal formalidade. Numa das paredes do café, alguém escreveu um versinho à mão:

Estás desanimado?

Esmorecido, sem fé?

Põe o trabalho de lado.

Vem tomar um café...

Uma letrinha miúda, encabulada, completava o convite:

(“No Cearazinho”)

O Diogo pertencia, como o futuro Cine São Luiz, à cadeia nacional de cinemas, fundada por um cearense de Baturité, Luiz Severiano Ribeiro. Mas não era a única. Havia outra rede de casas exibidoras montada com capital cearense, pertencente a Amadeu de Barros Leal, Álvaro Melo, Pedro Coelho de Araújo e Rui Firmeza e possuía entre outros, o Cine Atapu, localizado na esquina da Avenida Pontes Vieira com Visconde do Rio Branco, no rumo de Messejana. Ficava ao lado da casa do Sr. Amadeu de Barros Leal, um bangalô branco, com placa na porta, como era moda então, anunciando seu nome e sua profissão. Foi o segundo cinema da rede Cinemar, e como era longe do centro, era assegurado aos frequentadores das sessões noturnas, que ao final destas, haveria um ônibus da empresa São Francisco, com destino ao Centro.



Cine Atapu, fachada original e depois da reforma

Numa época em que os filmes americanos ainda seguiam alguns critérios de censura, que proibia alguns deslizes de comportamento no campo da moral e dos bons costumes, o Atapu levou ao seu público o realismo do cinema francês. Assim, começou a exibir sessões clandestinas de filmes eróticos, em sessões noturnas às 22horas. O público ficava sabendo por avisos que se propagavam rapidamente em conversas informais da Praça do Ferreira. O fato é que esses festivais de filmes curtos de sexo explícito, despertavam interesse do público, simplesmente por se constituir em evento proibido. Como resposta, o Atapu sofreu denuncias de jornais como O Povo e censuras de publicações da Igreja Católica. O Cine Atapu se manteve por 11 anos, fechando em 1960.

 

Cine Samburá, onde depois funcionou o Cine Fortaleza

Outro cinema importante era o Cine Samburá, principal investimento da Cinemar e o quarto de sua propriedade, onde se dizia que, com os movimentos certos, podia-se namorar sem qualquer limitação. Era um cinema amplo, com 700 lugares, com endereço à Rua Major Facundo, 802, a dois quarteirões da Praça do Ferreira. Com uma inauguração festiva, a sessão de abertura no dia 15 de agosto de 1952, exibiu uma produção histórica italiana: “Pompeia, Cidade Maldita”. Nove anos depois, a 18 de maio de 1969, o cine Samburá fecha as portas com o filme “Aquele que Deve Morrer”.

Fazia parte da rede cearense o Toaçu, localizado à Rua General Sampaio, 927 – Praça José de Alencar. Era um cinema popular, inaugurado as 9 horas do dia 13 de março de 1956 em concorrida solenidade, que contou com a presença de autoridades e da imprensa. As instalações do Toaçu eram um forno e uma armadilha. O calor era intenso e a decoração toda feita de esteiras de palha de carnaúba, um perigo sempre presente. E não deve ter sido à toa que passou por um incêndio, tendo sido recuperado e equipado com tela panorâmica. O único cinema a se instalar na Praça José de Alencar teve duração de 8 anos, encerrando as atividades em 1963.

 

Cine Toaçu, fachada original e depois da reforma

Fora do perímetro central havia o Cine Ventura, o primeiro cinema da Aldeota, propriedade do português Júlio Ventura, que visando investir no segmento, construiu um imóvel destinado a exibição de filmes, que fosse um divertimento barato e acessível aos moradores. Ficava na Avenida Barão de Studart, 1521, esquina com a Rua João Carvalho. Foi inaugurado em 1941 e encerrou as atividades em 1973.  

Na Praça da Estação à rua General Sampaio, 526, havia o Cine Luz, com 800 lugares, status de cineteatro, propriedade de Luiz Severiano Ribeiro, Inaugurado em 1939, fechado em 1951.

O Cine Rex na Rua General Sampaio, 1263, empreendimento da empresa Clóvis Janja & Cia Ltda, foi entregue ao público no dia 10 de agosto de 1940. Era dotado de ampla sala de espera, extenso hall com cartazes e vasto salão com 640 cadeiras. O cinema fechou as portas pouco mais de um ano depois da inauguração, em 13 de setembro de 1941. Foi reaberto em 10 de maio de 1944, como sala secundária do Grupo Severiano Ribeiro.


Cine Rex, na Rua General Sampaio

O Cineteatro Centro Artístico Cearense funcionava na Rua Tristão Gonçalves, 1008, e esteve em atividade entre 1926 e 1956, quando foi fechado.  

Muitas outras salas de projeção  ofereciam a mais pura diversão com a oferta de grandes filmes, que despertavam diversão e bom entretenimento no público: o Cine Moderno, o Araçanga, o Majestic, o Nazaré, o Cristo Rei, o Popular, o  Benfica, o Merceeiros, o Navegantes, o Parangaba, e muitos outros.

 

Fontes:

A Tela Prateada, de Ary Bezerra Leite, 2011

Louvação de Fortaleza, de Lustosa da Costa. 1995  

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Praça Capistrano de Abreu (Praça da Lagoinha)

 

Localizada no centro entre as Avenidas Tristão Gonçalves, Imperador e Rua Guilherme rocha, ao lado do Hospital e Maternidade Cesar Cals. Sua demarcação é anterior a 1859, ano em que o Conselho de Intendência autorizou a construção de uma cacimba de pedra. A praça foi construída sobre uma pequena lagoa, formada por um dos afluentes do riacho Pajeú, daí a origem dessa primeira denominação. Como a população trazia o lixo de quase toda a cidade para ser descartado ali, a cacimba converteu-se num foco de doenças, ameaçando a saúde pública e teve que ser aterrada.

A partir de 1881 recebeu a denominação de Coronel Teodorico, em homenagem a Antônio Teodorico da Costa, médico, vice-presidente da província, deputado, presidente da Assembleia e Comandante da Guarda Nacional.

Após a Proclamação da República o Conselho de Intendência resolveu que todos os nomes de ruas e praças da cidade seriam substituídos por números e datas. Assim, a praça Coronel Teodorico recebeu a nova denominação de Praça 16 de novembro – data da instalação do governo provisório do Estado do Ceará, em 1889. Mas essa deliberação só vigorou por seis meses, e a praça recebeu o antigo nome de volta, mudando só a titulação do homenageado, de Coronel para Comendador Teodorico.

Nessa ocasião a praça foi arborizada com mongubeiras, que fizeram parte do paisagismo da praça por 39 anos, sendo derrubadas para seu ajardinamento. Por outro lado, por meio de leis municipais de 1919 e 1923, a sua área foi diminuída para a construção de dois institutos de beneficência e caridade.

Havia na praça uma caixa d’água de alvenaria para abastecimento dos trens que passavam pela avenida Tristão Gonçalves, demolida na década de 1920,  pelo diretor da Rede de Viação Cearense por solicitação da prefeitura municipal. Em seu lugar foi construído um coreto, que durante anos foi utilizado para as exibições da Banda da Polícia Militar. 

  


Em junho de 1930, na gestão do prefeito Álvaro Weyne foi construído um jardim que foi chamado de Thomaz Pompeu, em homenagem ao Dr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil, vice-presidente da Província em 1889, diretor da faculdade de Direito. Nessa mesma gestão foi instalada uma fonte de águas coloridas (que atualmente se encontra na Praça Murilo Borges).

A partir dessa urbanização, a praça caiu nas graças da população, e passou a ser frequentada por todas as classes sociais. Era chique circular em volta dos canteiros, na área arborizada e bem delineada. A exemplo do que já acontecia no Passeio Público, a divisão de classes se fazia espontaneamente, sem regulamento, sem normas escritas.



No meio da praça circulavam as pessoas da elite, os endinheirados; na periferia, os cidadãos comuns. Virou ponto de encontro de poetas, violeiros, dos casais de namorados, estudantes de rédeas soltas. Ali se realizavam verdadeiras sessões literárias e musicais ao ar livre. Também era o quartel-general de alunos da Fênix Caixeiral, quando este era o grande centro educacional do centro.  

Em 1965, o nome da praça mudou novamente, passando a denominar-se praça Capistrano de Abreu, em homenagem ao historiador nascido em Maranguape. A partir da década de 70 a praça inicia um processo de decadência, comum a outros logradouros do centro, serviu como feira de pássaros, e depois como local de negócios duvidosos, ficando por muito sendo conhecida como feira dos malandros.

A Praça em 2010 (imagem Fortaleza em Fotos)
 

Praça Capistrano de Abreu (imagem do Google Earth set/2024)

Nos últimos anos a Praça da Lagoinha foi fechada por tapumes para a construção da primeira fase do Parque da Cidade, nome dado à obra de integração daquele logradouro à Praça José de Alencar, local da mais importante estação do metrô. O trecho entre as duas praças já foi inaugurado. A praça oficialmente Capistrano de Abreu, nunca perdeu a denominação popular que lhe foi atribuída desde seu surgimento: Praça da Lagoinha 

 

Fontes:

Praças de Fortaleza/Maria Noélia Rodrigues da Cunha/1990//Caminhando por Fortaleza/FranciscoBenedito/1999/ Jornal O Povo/Jornal Diário do Nordeste/Publicação Fortaleza em Fotos - Fotos do Arquivo NIREZ  

domingo, 10 de agosto de 2025

Oficinas da rede de Viação Cearense – Oficinas do Urubu

 

A chegada do trem e da Estação da Estrada de Ferro Baturité representou um grande progresso para a cidade provinciana que era Fortaleza. E veio aos poucos, primeiro, uma estação improvisada, um percurso que foi sendo ampliado à medida que aumentavam os recursos financeiros e a demanda pelo transporte.

Estação João Felipe, na Praça Castro Carrera, Centro

Em 1925, já em poder da Rede de Viação Cearense, a rede ferroviária iniciou a construção de sua oficina, com projeto do engenheiro Emílio Henrique Baumgart. Era um projeto grandioso, composto de oficinas de montagem e reparação de locomotivas, reparação de carros e vagões, pintura de carros e vagões, fundição, ferraria, casa de força (termoelétrica), almoxarifado e administração. O projeto previa 12 pontes rolantes, formando um conjunto harmônico em 16 mil metros quadrados de área edificada com concreto armado

As novas oficinas da Rede Viação Cearense (RVC) foram inauguradas em 04 de outubro de 1930. O espaço estava apto para atender 125 locomotivas e 1200 carros de passageiros e carga. Foi considerada a oficina ferroviária mais completa do país, admirada por muitos como uma obra prima da engenharia nacional. Foi construída em terras do Sítio Santo Antônio da Floresta, doadas pelo coronel Antônio Joaquim de Carvalho, que tinha interesse em valorizar suas terras. O empreendimento ficou conhecido como “Oficina do Urubu” porque havia nas proximidades um grande aterro de lixo, que atraía muitas aves da espécie. A própria avenida era chamada informalmente de “Estrada do Urubu”, atualmente chama-se Avenida Francisco Sá.



Oficina do Urubu

Ao mesmo tempo que construía novas locomotivas e fazia manutenção em máquinas e equipamentos utilizados no funcionamento das locomotivas, as Oficinas do Urubu passaram a funcionar como centro de treinamento e habilitação de trabalhadores e espaço de formação de alunos aprendizes do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

O Ensino profissional e Industrial foi instituído em 1937, pela Constituição promulgada no governo Getúlio Vargas, que definiu que as indústrias e os sindicatos econômicos deveriam criar escolas de aprendizes na esfera da sua especialidade. No Ceará, o nascimento do SENAI está ligado ao Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional de São Paulo. Dessa relação foi criada a Escola Profissional de Fortaleza, que tinha como diretor Antonio Urbano de Almeida, chefe das oficinas do Urubu, nomeado em 1943 administrador do SENAI Ceará. Em 1944, foi firmado plano entre a RVC e o SENAI para oferecimento de diversos cursos que foram ministrados nas oficinas da RVC.


oficina do Urubu

Assim, a nova oficina era local de trabalho, manutenção e construção das locomotivas, e espaço de formação dos aprendizes e alunos do curso do SENAI. A preocupação com a formação dos trabalhadores incluía como pano de fundo a necessidade de mão de obra qualificada para atender à crescente demanda da indústria nacional por operários, que além dos conhecimentos básicos precisavam deter, sobretudo, os conhecimentos técnicos para operar, consertar e fabricar o maquinário presente nas empresas.

Em 1951 denominou-se este complexo de Demostenes Rockert. A Rede de Viação Cearense (RVC) foi extinta em 1975, quando foi transformada em 2ª Divisão Cearense pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que a havia incorporado em 1957. A RFFSA, por sua vez, foi extinta em 2007. Atualmente as antigas Oficinas do Urubu fazem parte da Ferrovia Transnordestina. Fica na Avenida Francisco Sá, 4289. 


 Fontes:

https://www.even3.com.br/anais/arte_patrimonio_industrial/220714-a-oficina-do-urubu-e-o-ensino-ferroviario--o-papel-do-senai-na-formacao-do-trabalhador-fortalezace-1928-1944/

LASTROS DE UM PASSADO INDUSTRIAL E FERROVIÁRIO EM FORTALEZA: O

PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO DAS “OFICINAS DO URUBU” TAINAH RODRIGUES FAÇANHA

file:///C:/Users/mfati/Downloads/2022_dis_trfa%C3%A7anha%20(1).pdf

https://mapacultural.secult.ce.gov.br/files/agent/27027/hist%C3%B3rico_do_museu_ferrovi%C3%A1rio_do_cear%C3%A1.pdf

https://www.ceara.gov.br/2024/01/07/museu-ferroviario-estacao-joao-felipe-e-destino-obrigatorio-para-conhecer-a-formacao-do-ceara/

Fotos Museu Ferroviário

 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Padre Quinderé

Padre Quinderé 
 (imagem do blog As Trilhas da Vida)

Padre Quinderé é uma figura lendária. Falecido em 1960, ainda vive nas memórias da cidade, graças à maneira cativante de externar-se, de comunicar-se com todo mundo, seus gracejos oportunos e o seu invencível repentismo. Estava sempre bem-humorado e marcou época nas funções que ocupou, seja como religioso, jornalista e professor.

Como professor do Liceu do Ceará, fazia o gênero linha dura, ameaçando céus e terras para o aluno que não aprendesse os rudimentos da língua latina. O colégio realizava quatro provas escritas de avaliação por ano, e antes de cada uma, semblante fechado, o mestre anunciava: “é agora cambada, que chegou a hora da onça beber água. Quem prestou atenção, quem estudou, quem vai se dar bem, quem malandrou, entra no zero, zerorum...e aquele que eu apanhar pescando, boto pra fora no mesmo instante”


Prédio onde funcionava o Liceu do Ceará, na Praça dos Voluntários
(imagem Arquivo Nirez) 

Sentado na cadeira de professor, vez por outra levantava-se, dava uma volta na sala de aula, esmiuçava cada um dos alunos em busca de pesca. De repente, faltando uns 10 a 15 minutos para terminar o horário da prova, ele avisava: “olhem, vou até a cantina tomar um chá. Quero comportamento exemplar, se eu souber que alguém pescou já sabem, o zero vai cair sem piedade, em cima de vocês”

E se retirava estrategicamente, convencido de que era inútil seu esforço de conscientizar aquelas crianças da importância do ensino do Latim, para uma melhor compreensão do Português, do Francês, do Espanhol, enfim, de todas as línguas modernas que direta ou indiretamente, nasceram do idioma espalhado no mundo antigo pelo Império Romano.

Com esse sistema, nunca reprovou ninguém, em compensação, o estudo do Latim ficou para depois... ou para nunca. Monsenhor Quinderé patrimônio moral e cultural do Ceará, escritor e jornalista, ganhou fama também por sua espirituosidade. Gostava de contar anedotas, fazia rir sem ser ofensivo.

E deixou em seus alunos a lembrança do professor devotado e severo, ao mesmo tempo generoso, porque cedo entendeu que o estudo do latim positivamente era uma carga pesada demais que o currículo impunha aos alunos secundaristas.

Contam que certa vez o padre recebeu um grupo de alunos e alunas do Liceu que o convidaram a um piquenique comemorativo do término do curso. Argumentaram que a presença dele daria mais destaque ao evento. Padre Quinderé agradeceu, mas respondeu “não posso ir, mas peço-lhes, porém, uma coisa: me tragam depois os meninos nascidos desse piquenique para eu  batizá-los.” 

Amigo da família do Comendador Nogueira Acióli, Presidente do Estado durante muitos anos, Monsenhor Quinderé recebeu de "presente" uma cadeira de deputado Estadual. Eleito, cumpriu dois mandatos, onde ele próprio afirmava: "Fui deputado, sem conhecer um eleitor, e jamais qualquer deles me procurou para tratar de interesses pessoais. Os chefes é que defendiam junto ao governo as pretensões dos seus correligionários''.

Simpático e acessível, frequentava as residências ricas ou pobres, como pessoa de casa, e jamais alguém duvidou da lisura dos seus procedimentos morais e das suas virtudes de clérigo. Certa vez, para fazer gracejo, perguntaram-lhe se ele era um sacerdote sério, e a resposta foi: "sério eu sou, não sou é sisudo".

Quando faleceu, no dia 26 de agosto de 1960, Monsenhor Quinderé já estava privado da visão há alguns anos e o seu passamento resultou de um insidioso câncer. Foram suas últimas palavras: "A batalha está terminada. Encontrei o caminho do céu". Morreu aos 78 anos, como sempre viveu: em paz com sua consciência. Está sepultado na cripta da Catedral Metropolitana de Fortaleza.

Capela do Cristo Ressuscitado na Cripta da Catedral
(imagem Fortaleza em Fotos 2012) 

José Alves Quinderé nasceu em Maranguape, filho de João Gualberto Quinderé e Josefina Pinheiro Muniz, no primeiro dia do ano de 1882. Ingressou no Seminário de Fortaleza em 1904, com estudos custeados pela irmã Gagnet, madre superiora do Colégio da Imaculada Conceição, que admirava a sua inteligência e as suas virtudes. Depois da ordenação passou a trabalhar no Palácio Episcopal, até que em 1910 foi nomeado professor de latim do Liceu do Ceará. Três anos depois, fundou o Colégio Cearense, que em 1916 passou a ser dirigido pelos irmãos Maristas. Na hierarquia da igreja atuou como Secretário-Geral do bispo Dom Joaquim José Vieira. Em 1920, foi distinguido com o título de Cônego, tornando-se Monsenhor em 1929. Exerceu o mandato de deputado estadual em duas legislaturas e foi Vice-Presidente da Assembleia. Suas atividades literárias começaram em 1939, quando escreveu um trabalho intitulado "Subsídio para a História Eclesiástica do Ceará", inserido numa edição de "O Ceará".

Monsenhor José Quinderé publicou, além de "Subsídio Para a História Eclesiástica do Ceará", o "Ano Litúrgico", "Sinal Sensível", (Editora Agir-Rio), "Palavra de Vida Eterna"(Editora Vozes, de Petrópolis), "A Mais Antiga Constituição" (Editora Beneditina, Salvador), "A Vida de D. Joaquim José Vieira- 29 Bispo do Ceará" (Editora Instituto do Ceará), "Vida de Santa Filomena" (Editora A. Batista Fontenele) e, finalmente, "Reminiscências".

 

Fontes: O Liceu e o Bonde/Blanchard Girão/Editora ABC/Fortaleza, 1997

Padre Quinderé, por Raimundo Girão. Disponível em https://academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/1982/ACL_1982_22_O_Padre_Quindere_Raimundo_Girao.pdf 



segunda-feira, 28 de julho de 2025

O Jardim Zoológico da Cidade da Criança

 


Em 1946 Onélio Porto mantinha um terreno particular, cedido pelo Colégio Cearense da Ordem dos Irmãos Maristas. Nesse local Onélio criava pássaros e outros animais. Em 1951, o vereador Lúcio Magalhães propôs a criação de um jardim zoológico, na área do Parque da Liberdade, para onde seriam transferidos os animais de Onélio Porto, juntamente com outros criados pelo sargento do Exército, conhecido por Prata.

Eram ao todo 565 animais, de diversas espécies, que ficariam sob a responsabilidade da Secretaria de Educação e Cultura do Município, e aos cuidados de Onélio Porto. O mini zoológico permaneceu por quase duas décadas na Cidade da Criança sempre com muitas dificuldades, com instalações inadequadas à maioria dos bichos e água sem tratamento e alimentação escassa. Também tiveram alguns problemas devido a interação entre animais e crianças do Jardim de Infância. Então Onélio Porto retirou seus animais como forma de protesto. A partir de 1979 o zoológico foi transferido para o Horto Florestal numa área do Parque Ecológico do Passaré.




Uma crônica de Blanchard Girão relata um incidente havido com um amigo quando o zoológico ainda estava no Parque da Liberdade.

O amigo ficou até altas horas bebericando com outros notívagos contumazes no bar localizado no Passeio Público, na Avenida Caio Prado. Encerrada a noitada etílica, os antigos companheiros de bancos da faculdade, tomaram cada qual o seu rumo. O amigo do cronista dirigiu-se à Praça do Ferreira, ponto habitual do local de encerramento das noitadas do bloco dos que ficavam na praça até muito depois da meia-noite e ponto de partida para os cabarés que funcionavam nas redondezas.

Tomou o rumo da praça, quando à altura da Rua Senador Alencar proximidades da Rua Major Facundo, avistou algo estranho, a poucos metros. Mas estranho ainda, porque na sua visão aquilo era uma onça... e vinha em sua direção. Uma onça em pleno centro da cidade! raciocinou que realmente devia estar muito bêbado, e o bicho vindo em sua direção! Aquilo era grande demais para ser confundido com um cachorro!  

Os efeitos do álcool não tinham lhe tirado todos os sentidos, especialmente o instinto de preservação. Com medo, recostou-se à parede, como a procurar um abrigo salvador. E a onça como se estivesse em seu ambiente, caminhava sem pressa, investigando. De repente, pelo olfato interessou-se por uma grande lata de lixo entreaberta na calçada. Para lá se dirigiu, faminta, à procura de algo que lhe aplacasse a fome.



Foi o chamado instante decisivo. Arrancando as últimas forças das pernas, o amigo fugiu em desabalada carreira em direção à praça. Lá encontrou alguns companheiros de boemia, a quem relatou a sua incrível visão: ninguém o levou a sério. Desacreditado, tonto pela cerveja consumida no bar do Passeio Público, resolveu ir embora, em direção a sua casa na Floriano Peixoto. De longe, ainda ouvia os gritos de gozação dos amigos: “olha a onça, nego véi” “cuidado com a onça”,” eta cachaça da peste, dá até pra ver onça na Praça do Ferreira”

O susto ainda estampado no rosto, o rapaz se depara ao entrar em casa, com a avó, a quem transmite sua fantástica história. E a avó carinhosa foi preparar um café forte e amargo, servido junto com a reprimenda “você andou bebendo de novo, menino! deixe disso!”.  

Assim, desacreditado por todos o nosso boêmio notívago foi dormir; manhã cedo, ainda de ressaca, não tardou em ler nas bancas, as manchetes dos jornais em letras grandes: “Onça foge do Parque e é morta a tiros pelos bombeiros”.  Era a confirmação do episódio para desmoralizar a todos os incrédulos, se um dos seus companheiros que estivera na Praça do Ferreira na noite anterior, não tivesse espalhado um boato pela cidade: a de que o rapaz fora ao Parque da Liberdade, onde ficava o mini zoológico de Onélio Porto, soltar a onça para provar sua história”.

Na verdade, a onça escapara de sua jaula, perambulava pelas ruas centrais, quando esteve a poucos passos de nosso personagem. Horas depois, pôs em polvorosa os moradores do Pirambu, quando acabou abatida a tiros de fuzil pelos soldados do Corpo de Bombeiros.

    

Fontes: 

Caminhando por Fortaleza, Francisco Benedito. 1999

Sessão das Quatro, cenas e atores de um tempo mais feliz, de Blanchard Girão, 1998.

fotos do Parque da Liberdade: IBGE e postais antigos


 

terça-feira, 22 de julho de 2025

A Criação do bairro Pirambu

 

O Pirambu está localizado no litoral oeste da cidade.  No passado, finais do séc. XIX, a região do Pirambu, era uma vasta zona de praia, formada por dunas, areias alvíssimas, algumas lagoas e um ou outro casebre de pescadores, que preferiam habitar a região do Mucuripe ou da Praia de Iracema.




A área começou a ser ocupada a partir de emigrantes que fugiam das secas, que periodicamente assolavam as cidades do interior do Estado,  e das calamidades que as estiagens traziam, fome, miséria, doenças, desemprego. Os governantes ficaram alerta pelos problemas que precisaram enfrentar em estiagens anteriores, decorrentes do aumento súbito da população, carente e faminta, e pensaram numa solução para situações vindouras: Os Campos de Concentração.

Os retirantes da seca de 1932, que chegaram nos trens, foram isolados num dos tais espaços; cerca de 1800 pessoas ficaram no lugar hoje conhecido por Pirambu. Depois que passou o período crítico da seca, muitos voltaram para seu lugar de origem, e muitos ficaram em Fortaleza, no Pirambu. Os que desistiram de voltar construíram barracos, conseguiram trabalho nas fábricas que se instalaram ao longo da Avenida Francisco Sá e na rede ferroviária, nas oficinas do urubu. A vizinhança de poder aquisitivo reduzido, incomodou os ricos moradores do Jacarecanga, que iniciaram busca por novos locais de moradia. 



As dunas foram ocupadas, as lagoas foram aterradas, os moradores se multiplicaram e o Pirambu se firmou como a maior favela de Fortaleza. O lugar não tinha nenhuma urbanização nem contava com infraestrutura, os terrenos tinham preços mais em conta para as famílias de migrantes. Haviam os que em muitas oportunidades os ocupavam clandestinamente, daí o crescimento irregular, com a propagação de lotes de tamanhos irregulares, casas modestas e favelas, becos e ruas estreitas, tortuosas e sem saída, e inexistência de espaços públicos e áreas de lazer. O bairro foi criado em 1932.  

Os ocupantes do Pirambu já contavam em torno de 5 mil pessoas, quando apareceram duas famílias alegando que eram donas da área, os Braga Torres e os Carvalho. Pressionavam os moradores para que desocupassem as terras ou vendessem os terrenos. Sentindo-se ameaçados, os moradores começaram a se organizar, a se reunir. Mas não tinham uma liderança, não queriam interferência política e não chegavam a um acordo sobre o que fazer.

Então convidaram o padre Hélio Campos, que havia pouco tempo tinha se formado capelão da Marinha, e atuava na Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. Corria o ano de 1958, quando descobriram que nem os Braga Torres e nem os Carvalho eram donos da área. E sob a liderança do padre, iniciaram um movimento pela manutenção da posse da terra, pela melhoria das condições sociais e de moradia e contra novas ameaças de expulsão. Por força do decreto nº 1058, de 25 de maio de 1962, que declara tais terras de utilidade pública para execução de plano habitacional em favor dos seus moradores, hoje, os terrenos são considerados de propriedade comunitária.


Com o aumento da ocupação da área, o Pirambu foi dividido em vários bairros, embora a região situada entre o bairro Moura Brasil e a Barra do Ceará continue sendo conhecido como o “Grande Pirambu”. Vários projetos, associações e ONG's atuam na área do Grande Pirambu, na busca de melhorar a qualidade de vida dos moradores, equacionar problemas estruturais e dessa forma, mudar a história daquela região, contada por anos e anos de pobreza, preconceito e exclusão social. De acordo com o IBGE (Censo de 2022), o Pirambu abriga a maior favela do Ceará.   


Consultados: 

https://www.ebc.com.br/especiais-agua/campos-de-concentracao

Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza, de Gisafran Nazareno Mota Jucá. 

Fotos G1/Jornal Diário do Nordeste/IBGE/


segunda-feira, 14 de julho de 2025

Bairro Centro

 Praça do Ferreira
1933 (foto Diário do Nordeste)

2013

A região de Fortaleza que denominamos Centro, é o local mais antigo, onde a cidade surgiu, no rastro da ocupação holandesa e da edificação do forte Schoonenborch, no século XVI. Por muito tempo a cidade se restringiu a área central, chamada inicialmente de Povoado do Forte, depois Vila da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, nascida ao pé do forte que lhe emprestou o nome, às margens do riacho Pajeú.

A vila se desenvolveu primeiro na região ao redor do forte, que também foi responsável pela construção da primeira igreja, dedicada à Nossa Senhora da Assunção. Depois apareceu o quartel de linha, a Igreja de São José, e assim a cidade ganhou a sua primeira catedral. Junto ao forte ainda foi construído o Passeio Público, a Praça da Sé, a Casa dos Governadores.

Passeio Público

Início do século XX

2013

Depois o Centro começou a se expandir porque construíram uma igreja de escravos num lugar ermo, distante do aglomerado, e resolveram construir um Palácio para a Câmara e que acabou ficando virando sede do Governo naquele local. Mais tarde, chegou à cidade um boticário que virou administrador, e construiu a Praça do Ferreira, que desde então, tornou-se o coração da cidade e inaugurou uma nova centralidade. 

No centro foram construídos as primeiras igrejas, as primeiras praças, os primeiros arranha-céus, os primeiros hotéis, primeiros cinemas, e os primeiros casarões, de propriedades dos potentados sertanejos, que enriqueceram com a exportação de algodão, cera, couro e outros produtos da terra. No centro, o comércio floresceu pelas mãos de estrangeiros e nativos, que inauguraram linhas marítimas que se conectaram com a Europa e trouxeram à Fortaleza ainda provinciana, as maravilhas fabricadas em Londres e Paris.´

ainda estão lá


 

Até pelo fim da década de 70, o Centro era o endereço de tudo quanto era relevante para a cidade: A Assembleia Legislativa, o Governo Estadual e Municipal, O Fórum, o Palácio do Bispo, as Lojas, os Cinemas, os Hotéis, os Bancos e uma infinidade de estabelecimentos e prestadores de serviços que atraiam todo tipo de público. Os logradouros eram bem cuidados e havia transporte coletivo partindo do Centro para toda a cidade.

Mas quando a cidade começou a se expandir, primeiro para o Leste e depois para todos os quadrantes, o Centro foi quem pagou o maior preço, com um esvaziamento acentuado e progressivo, que acontece até os dias atuais. O abandono ficou patente nos inúmeros imóveis vazios, nas ruas esburacadas, nas praças com equipamentos quebrados e pichados, na insegurança das instalações e dos frequentadores, na desordem da ocupação dos espaços, no acúmulo de lixo, e no grande contingente de moradores de rua. De acordo com o Censo de 2022, o Centro conta com 24.096 moradores. Limita-se ao Norte: Oceano Atlântico; ao Sul: Benfica, José Bonifácio e Joaquim Távora; a Leste: Praia de Iracema, Meireles e Aldeota; e a Oeste: Jacarecanga, Otávio Bonfim e Moura Brasil.

por Fátima Garcia

fontes consultadas: IBGE (censo 2022), Prefeitura de Fortaleza

fotos Fortaleza em Fotos 



quinta-feira, 10 de julho de 2025

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A Seca dos Três Setes no Ceará

 


A tragédia já se anunciava desde o ano anterior. O ano de 1876 foi chuvoso durante os três primeiros meses, depois, de junho a dezembro, não caiu uma gota d’água. Em janeiro de 1877, apenas uma neblina e baixíssimos índices de pluviosidade nos meses seguintes. Em março os sertanejos já estavam alarmados e em abril, perdidas as esperanças de inverno, começou o êxodo de habitantes do sertão para o litoral.

O gado morria à falta de aguadas, as lavouras se extinguiram e a provisão de viveres, conservada como reserva de muitos sertanejos, pouco a pouco se esgotaram. De setembro em diante a fome era geral, os socorros públicos, mal administrados, não chegavam regularmente aos locais mais afetados. Quem possuía algum bem ou valor, desfazia-se dele em troca de algum gênero de primeira necessidade.

As poucas aguadas, como açudes e poços cavados nos leitos dos rios em épocas de chuvas, evaporaram-se. Mesmo as pessoas consideradas mais abastadas, receosas de ficarem bloqueadas e sem comunicação com o litoral, longe de qualquer auxílio, fugiram, abandonando suas casas, animais e fazendas. O sertão virou um deserto.

O governo, totalmente desarticulado, recusou enviar recursos para o interior, forçando desta forma, as pessoas a procurarem o litoral. O êxodo tornou-se geral. Para Fortaleza, Aracati, Sobral, Granja, Camocim e outros povoados, afluíram milhares de pessoas. Em todos esses municípios, a população, de um dia para o outro, estava multiplicada; e como faltasse casas para abrigar tanta gente, ficavam ao relento, debaixo de árvores ou amontoados em sítios estreitos. As consequências não demoraram: doenças, prostituição, vadiagem, saques, e todos os seus efeitos, que se desenrolaram frente às cidades, antes tranquilas, agora em estado de puro desespero.

O ano de 1878 chegou, e a província continuava mergulhada no caos, mas com grandes esperanças que o ano novo trouxesse de volta as chuvas que salvariam o Ceará. De janeiro a junho caíram apenas 503 mm. A última chuva foi em 26 de junho. Depois dessa data, o céu conservou-se sem nuvens, azul e límpido.

Perdidas as esperanças de inverno, o abandono do sertão foi completo; vilas inteiras, lugares antes prósperos, ficaram vazias ou com duas ou três casas habitadas, e estas mesmo porque o governo, já mudado e melhor estruturado para lidar com o problema, envidara todos os esforços para socorrê-las. (Júlio de Albuquerque Barros, foi presidente da província do Ceará, de 08/03/1878 a 02/07/1880.

Fazendas de criação, com 200, 300 e 500 cabeças de gado, ficaram reduzidas a nada. Os fazendeiros que tentaram a retirada do gado para o Piauí, acabaram perdendo para as moléstias, furtos ou extravio. Pelas estradas morreram famílias inteiras de fome e sede, e muitas que conseguiram atingir o litoral, chegaram tão fragilizadas, que caiam agonizantes pelas calçadas e praças da capital e de outras cidades que conseguiam chegar.

A emigração para o Amazonas, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo foram incrementadas, centenas e milhares de cearenses foram apinhados no convés de vapores e navios que demandavam aquelas províncias, sem o mínimo de cuidados e sofrendo toda sorte de privações.

Dos fins de 1878 até meados de 1879, uma violenta epidemia de varíola atingiu proporções nunca vistas. Em mais de um dia o número de vítimas na capital excedeu a 1000 pessoas. Muitos mortos ficaram insepultos, não havia local nem quem realizasse os sepultamentos. Havia então na capital cerca de 180 mil pessoas, 100 mil em Aracati, e na mesma proporção, nas localidades próximas à Fortaleza, como Pacatuba, Arronches, Granja e Camocim.

Havia esperança de que o ano de 1879 viria a por termo a tanto sofrimento, mas foi só mais um ano de terríveis provações. Como pouco ou nada restava no interior, a seca não teve grande repercussão. A atenção se concentrou na capital, nos auxílios do governo, na acomodação dos emigrantes, na busca de soluções.


A população ficara reduzida talvez em um terço; cerca de 100 mil pessoas haviam falecido ou emigrado; o governo gastara 72 mil contos, fora os subsídios da caridade particular. A província ficou arruinada, sua principal atividade econômica, a criação do gado, quase foi extinta; a população ficou dispersa e reduzida; a flora e a fauna desapareceram em grandes áreas; só Fortaleza aumentou a população devido em parte ao fluxo de emigrantes e ao desenvolvimento do comércio.

As esperanças se renovaram com a chegada de 1880. Os dois primeiros meses foram desanimadores, o de março foi pouco chuvoso, em abril choveu bastante. A grande seca terminara.


Fonte: Documentos: Revista do Arquivo Público do Ceará: Ciência e Tecnologia/Arquivo Público do Ceará, v 1 – 2005/Fotos Memorial da Democracia e ANPUR.