domingo, 14 de outubro de 2012

As Elegantes Lojas do Centro

Lá pelos anos 40/50,  a loja mais importante de Fortaleza era a Casa Sloper, que integrava uma famosa rede nacional que tinha matriz no Rio de Janeiro. Era estabelecimento especializado  em alta moda: vestidos para todas ocasiões, lingerie, calçados, meias, luvas e chapéus, bijuterias, perfumaria e cosmética etc.  
A Casa Sloper era tão sofisticada que causava inibição a muita gente, salvo às senhoras muito elegantes, já habituadas à frequência a estabelecimentos comerciais de alto luxo, inclusive, às matrizes, na então Capital Federal, o Rio de Janeiro, onde o melhor acontecia.

Casa Sloper entre o edificio Granito e o Edificio São Luís, ainda em construção. No térreo do Ed. Granito funcionava a Broadway, loja de tecidos finos. Foto do arquivo Nirez)

Quando aconteceu o fechamento da Casa Sloper, o já sofisticado endereço não foi posto de lado, ao contrário, um comerciante de reconhecido bom gosto assumiu o local. Era Romeu Aldigheri, paulista de origem italiana que já era dono dos maiores magazines locais, as Lojas de Variedades, duas unidades, em pontos especiais, no Centro da cidade. 

A mesma esquina algum tempo depois, já com a loja Flama, no lugar da Sloper (arquivo Nirez)

Pois, no mesmo local da extinta Casa Sloper foi aberta uma loja do mesmo nível, a Flama, que marcou presença enquanto ficou em cena. A exemplo de sua antecessora ocupava local em plena Praça do Ferreira, entre a elegante Broadway, loja de tecidos finos e o futuro Cine São Luiz, ainda em obras para ser o mais luxuoso cinema do Brasil. Pois é, a Flama foi instalada naquele "point" tão aristocrático que marcou época no nosso mundo de elegância.

A Flama mudou comportamentos, impôs parâmetros e fez história na cidade, apoiada no slogan "Simbolo de Distinção" (foto do blog do Laprovitera)

Outro estabelecimento da maior importância que assinalou sua permanência em Fortaleza, foi A Cearense, loja especializada em tecidos finos, ocupando instalações amplas e luxuosas, no meio do quarteirão Sucesso, na Rua Barão do Rio Branco, entre as ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso. Seu proprietário, Aprígio Coelho de Araújo era reconhecido por seu notório bom gosto, haja vista a maneira como mantinha seu estabelecimento comercial. A loja era composta por vastos salões e as artísticas vitrines que eram uma grande marca da  casa.  
O alto nível e visível bom gosto de Aprígio Coelho era motivo para comentários generalizados. Daí, cada vez ele ampliava e melhorava sua big loja.

A Cearense investiu bastante na decoração da loja e era um dos espaços mais requintados de Fortaleza na década de 40. Tinha como slogan “a casa que cresce diminuindo os preços”


 A Casa Parente Foi inaugurada em 10 de junho de 1914 por Inácio Parente, no velho sobrado do Comendador Machado, onde hoje se localiza o edifício Excelsior. Em 1923 mudou-se para a Rua Barão do Rio Branco esquina com Guilherme Rocha.(Arquivo Nirez)

Na esquina da mesma Rua Barão do Rio Branco com a Rua Guilherme Rocha, ficava a Casa Parente, loja de moderníssimas instalações que atendia tanto no setor de roupas feitas quanto no ramo da perfumaria e congêneres. Sem qualquer exagero, um mundo delicioso dos mais deliciosos aromas. Casa Parente, do também saudoso, Inacinho Parente.


texto reproduzido da coluna Tirada do Baú, de Marciano Lopes

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Fortaleza tinha tudo para não dar certo

A crônica histórica de Fortaleza se iniciou, de maneira mais precisa, com o filho de inglês Henry Koster, ao escrever o livro Travels in Brazil, publicado em Londres em 1916 e traduzido por Luís da Câmara Cascudo, em 1942, com o título Viagens ao Nordeste do Brasil. Nascido em Portugal, veio por motivo de saúde fixar-se no Recife, por sugestão de amigos e da família.
Em 1810, a 3 de novembro, inicia uma viagem maluca – cerca de 156 léguas a cavalo, em tempo de seca, varando agreste, praia, caatinga, tabuleiro e sertão, até Fortaleza. Viaja anotando tudo, os homens, as raças, as paisagens, os animais, a natureza dos terrenos, crianças, tarefas agrícolas, produtos, indumentárias, ferramentas de trabalho, crenças, usos e costumes.

 A Igreja do Rosário é a mais antiga de Fortaleza (construída por escravos em 1730)  e foi uma das avistadas por Henry Koster

Koster demorou em Fortaleza de 16 de dezembro de 1810 a 8 de janeiro de 1811, e consignou no seu diário de viagem, valiosas informações sobre a capital da Colônia do Siará Grande, à época governada por Luis Barba Alardo de Menezes (junho de 1808 a março de 1812).
“A Vila de Fortaleza do Ceará – escreve o luso-inglês – é edificada sobre terra arenosa, em formato quadrangular, com quatro ruas partindo da praça (Praça do Conselho, hoje Praça da Sé) e mais outra, bem longa, do lado norte desse quadro, correndo paralelamente, mas sem conexão”. 

  residência do governador das Armas do Ceará em 1824. Ficava na Praça da Sé na atual Rua Sobral, em frente ao Paço Municipal. 
Um governador das armas constituía cada um dos comandantes territoriais do Exército Português, entre 1641 e 1836. Cada governador das armas tinha a seu cargo um governo das armas, sendo responsável pelas tropas estacionadas numa província

“As casas têm apenas o pavimento térreo e as ruas não possuem calçamento,  mas em algumas residências, há uma calçadas de tijolos diante. Tem três igrejas, o Palácio do Governador, a Casa da Câmara e Prisão, Alfândega e Tesouraria. Os moradores devem ser uns mil e duzentos. A fortaleza de onde a vila recebe a denominação fica sobre uma colina de areia, próxima às moradas e consiste num baluarte de areia ou terra, do lado do mar, e uma paliçada enterrada no solo, para o lado da Vila (somente em 1812, no governo de Manuel Sampaio a fortaleza foi reconstruída em alvenaria), contém quatro peças de canhão, de vários calibres, apontadas para muitas direções. Notei que a peça de maior força estava voltada para a Vila. A que estava montada para o mar não tinha calibre suficiente para atingir um navio no ancoradouro comum. O armazém da pólvora está noutro ponto e é visto do porto”. 

 Casa dos Governadores na Rua dos Mercadores (atual Conde D'Eu). No mesmo local hoje funciona o Centro de Referência do Professor

“Não é muito para compreender-se a razão da preferência dada a este local.  Não há rio nem cais e as praias são más e de acesso difícil. O porto é exposto e mau. Os ventos são sempre do sul e do leste. Fossem mais variados, e seria raro um navio chegar à costa. Os edifícios públicos são pequenos e baixos, mais limpos e caiados, e perfeitamente adaptados aos fins a que se propõem. Não obstante a má impressão geral, pela pobreza do solo em que a Vila está situada, confesso ter ela boa aparência, embora escassamente possa este ser o estado real dessa terra. A dificuldade de transporte terrestre, particularmente nessa região, a falta dum porto, as terríveis secas, afastam algumas ousadas esperanças no desenvolvimento, não tomará grandes impulsos. Os longos créditos que se é obrigado a conceder aos negócios locais, fecham os cálculos de rápidos pagamentos como estão habituados os comerciantes ingleses”.

 prédio da Tesouraria Provincial em 1842

A capital do Siará Grande, a julgar por essas impressões de Koster, não passava de uma pobre aldeia, sem melhor vitalidade e sem esperança de se desenvolver. Pobreza sobre pobreza: sem calçamento, sem iluminação pública, sem transportes, senão no lombo de cavalos. Naquele areal, nem os carros de bois podiam trafegar. O viajante francês L.F. Tollenare quase cobriu o roteiro de Koster, alguns anos mais tarde, em 1817, quando administrava a Colônia do Siara Grande, o governador Manuel Inácio de Sampaio (março de 1812-janeiro de 1820). A capital cearense é chamada de Cidade do Ceará, e o viajante calcula de 1.000 a 1.200 o número de seus moradores, enfatizando ainda a precariedade do porto.

prédio da Assembleia Provincial
 
Essa pobreza da capital do Ceará continuaria por longo tempo, mesmo depois de promovida à categoria de cidade, por decreto imperial de 17 de março de 1823, as ruas sem pavimentação, às escuras durante à noite, todos andando à pé, pois não havia ainda qualquer espécie de veículos. As casas não apresentavam nenhuma estética em suas fachadas e o conforto interno era quase rudimentar, sem serviço de água e com iluminação mortiça a azeite de peixe.


Centro de Fortaleza, anos 70

Mesmo depois do início do seu povoamento, de se transformar em cidade, a capital do Ceará tinha tudo para não dar certo, conforme previa Koster. Das dificuldades geográficas e naturais que impunha a seus exploradores, ao desinteresse econômico e político por parte da Coroa Portuguesa em relação ao seu território, muitos foram os fatores que fizeram o povoado atravessar mais de três séculos em total ostracismo.

Avenida Barão de Studart (foto Fátima Garcia)

Tanto que, historiadores, cronistas e geógrafos, até hoje não sabem explicar com precisão, o que levou aquele povoado ermo e abandonado à própria sorte - fincado numa planície arenosa, sem grandes potenciais agrícolas, sujeita à secas periódicas, sem baías aportáveis e sem uma foz de rio navegável - se transformar numa das maiores metrópoles do País. Fortaleza tinha tudo para não dar certo. E deu.     


fotos do Arquivo Nirez
fontes:
Fortaleza e a Crônica Histórica, de Raimundo Girão
Revista Fortaleza, fascículo 2, de 13/04/2006 
Wikipédia
 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Vida em Fortaleza durante a 2ª. Guerra Mundial


 Cidade de Fortaleza em 1937 (foto de Amélia Earhart)

Quando em 1942, visando amedrontar o governo brasileiro e impedir uma maior aproximação do Brasil com os Estados Unidos, a Alemanha deu início ao afundamento dos navios mercantes nas costas brasileiras, o povo se enfureceu. E a fúria do povo tornou-se incontrolável. 
Foi assim no chamado quebra-quebra acontecido no dia 18 de agosto daquele ano, quando não se sabe como, nasceu um movimento enlouquecido, e a multidão incontrolável passou a depredar tudo o que tivesse qualquer ligação com os países do eixo, ou seja, alemães, italianos e japoneses. 

Os sócios da Loja "A Pernambucana", sequer eram alemães, mas foram confundidos como tal

Lojas como “As Pernambucanas”, a Sapataria Veneza, representações de laboratórios como a Bayer e outros foram destruídos com violência, seguindo-se saques por parte de aproveitadores. Era a explosão do sentimento nacional contra os países agressores, e particularmente, contra a posição indefinida do governo ditatorial de Getúlio Vargas, que continuava neutro, não obstante os atentados contra a nossa soberania.
Havia grande agitação entre os estudantes do Liceu do Ceará, que desafiando a policia estadual, que não admitia qualquer tipo de manifestação popular, realizavam animadas passeatas, saindo da então Praça Fernandes Vieira, atual Gustavo Barroso, e terminavam sempre ao pé da Coluna da Hora, onde exaltados oradores conclamavam o governo a declarar guerra aos países do Eixo. 

Prédio do Liceu na antiga Praça Fernandes Vieira, atual Praça Gustavo Barroso

Foram tempos de muita agitação, com a população inquieta e querendo a imediata declaração de guerra. E esta não tardou. O presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, preso à sua cadeira de rodas, veio ao Brasil e manteve um encontro histórico com Vargas, a bordo de um navio da esquadra americana nas águas mansas do Rio Potengi, em Natal (RN). 
Poucos meses depois chegavam os americanos ao Nordeste, em especial a Fortaleza e Natal, onde instalaram suas bases, pontos de apoio fundamentais aos planos estratégicos de assalto aos nazistas, na África e posteriormente na Europa.
O clima belicoso tomou conta dos alunos do velho Liceu. Falava-se inclusive, que nos planos de preparação da tropa brasileira que iria para as frentes de combate, a sede do colégio seria transformada em quartel.
Os Estados Unidos montaram uma agência consular em Fortaleza, funcionando próximo à Praça do Ferreira. O Consulado da Inglaterra, instalado no prédio da Ceará Light, ficava a cargo de Mister Hull, inglês radicado em Fortaleza. 

Prédio da Ceará Tramway Light and Power, onde foi instalado o Consulado Britânico a cargo do Mister Hull

Muita coisa mudou em Fortaleza com a presença dos americanos. Trouxeram novos costumes, e vulgarizou-se o estudo do inglês. Engraxates, garçons, motoristas, recepcionistas aprendiam a comunicar-se com os soldados de Tio Sam, marinheiros e soldados do exército, que estavam por toda cidade. Os cigarros em voga eram  “Camel”, “Chesterfield”, “Lucky-Strike”, e “Pall-Mall”, que os gringos popularizaram entre nós. Tempos do “Xore e gás”, um tipo popular que se aproximou dos americanos e lhes servia de cicerone por todo canto.
O governo americano implantou duas bases aéreas em Fortaleza, a do Pici e a do Cocorote. A cidade realizava exercícios preparatórios contra possíveis ataques aéreos que nunca aconteceram, mas a realidade da guerra ficava próxima dos habitantes nas noites dos chamados blecautes, quando era necessário pregar papéis ou tecidos escuros nas vidraças das residências. 
O povo solidário com a nova situação do país promovia campanhas em prol do esforço de guerra. Surgiram as Pirâmides de Metal, montes de restos de latas, tubos de dentifrícios vazios, talheres imprestáveis, tudo enfim, que pudesse ser aproveitados na fabricação de utensílios, armas e equipamentos para os soldados que iriam em breve, partir para o front. Os jornais, cujas edições eram avidamente disputadas pela população, noticiavam a convocação de jovens da sociedade para servir como oficiais do Exército, entre médicos, dentistas, até advogados. 

 Avião bombardeio B-25, patrulhando os céus de Fortaleza

As patrulhas da PE, tanto do exército Brasileiro como dos Americanos, vasculhavam as ruas da cidade. Temia-se andar à noite e havia toque de recolher. A vida da cidade tranquila, com suas rodas de cadeira nas calçadas, modificou-se bastante. 
Por esse tempo surgiram as filas. O abastecimento ficou difícil, alguns gêneros escasseavam. Para comprar carne, os consumidores acordavam de madrugada e ficavam horas na fila à espera da chegada do açougueiro. A aquisição era limitada a 1 quilo do produto. Havia a fila do açúcar, da farinha, do leite, da gasolina. Foi também quando apareceram os motores a gasogênio, aparelho movido a carvão que acionava os veículos na crise aguda da falta de combustível, inteiramente importado naqueles idos.
Durante a guerra apareceu por aqui, com os soldados e marujos americanos o refrigerante Coca-Cola. Não era fácil obter uma das garrafinhas, mas sempre havia alguém com acesso aos locais dominados pelos gringos para consegui-las.  

Vila Morena, na Praia de Iracema, onde funcionou o USO, clube de oficiais americanos durante a 2a. guerra. Era o reduto das chamadas "Coca-Colas"

Na Praia de Iracema, onde posteriormente se instalaria o restaurante Estoril, funcionava o USO – um clube de oficiais americanos de muita frequência, especialmente feminina. Muitas jovens conterrâneas se encantaram  com o tipo físico dos americanos. Mas a natural ciumeira dos rapazes da terra não as perdoava e as meninas passaram a ser chamadas de “Coca-Colas”. Circulava no Liceu do Ceará, em cópias datilografadas, uma relação com nomes de namoradas de americano, moças faladas, que não serviam para casar. Várias dessas moças acabaram casando com soldados e, ao término da guerra se transferiram para os Estados Unidos. Outras, sem a mesma sorte, enfrentaram valentemente a maledicência provinciana. Por vários anos, entre 1943 e 1946, tropas americanas permaneceram em Fortaleza, e sempre havia desavenças entre ianques e nativos.

Desfile dos "pracinhas" em despedida. Uma multidão foi às ruas no adeus aos rapazes cearenses que partiam para se incorporar à Força Expedicionária brasileira - FEB

No dia 07 de maio de 1945, o Jornal O Povo anunciava em grande manchete o fim da guerra na Europa, publicando a Declaração do Almirante Doenitz, novo chefe do Governo da Alemanha, através do qual notifica a rendição alemã. A guerra continuaria ainda por algum tempo no Pacífico. Veio a bomba atômica e a destruição de Hiroshima e Nagasaki, então o Japão também se rendeu. 
E dos escombros da terrível hecatombe, surgiu um novo mundo.

extraído do livro de Blanchard Girão
O Liceu e o Bonde na paisagem sentimental da Fortaleza-Província
fotos do Arquivo Nirez


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os Incomodados se Retiram

A grande presença da população operária pobre, a transformação da área da Avenida Francisco Sá na maior concentração industrial do Estado, e o surgimento de favelas, foram  motivos para que os setores mais abastados – que se instalaram em belas e confortáveis residências no bairro Jacarecanga, e em menor escala no bairro do Benfica nos anos 1920/30/40 – buscassem outros espaços da cidade onde pudessem morar, distantes daqueles incômodos. 

A Praça Fernandes Vieira (atual Praça Gustavo Barroso)em tempos áureos(Arquivo Nirez)

 As antigas mansões do bairro Jacarecanga perderam a pompa e viraram comércios (foto de Fátima Garcia)

Ainda hoje o Jacarecanga guarda lembranças de sua época de glamour, como os grandes casarões, órgãos da administração pública e escolas, a exemplo do Liceu do Ceará, que foi durante décadas, o orgulho da sociedade cearense. Assim, as elites e os crescentes segmentos médios que antes já haviam abandonado o Centro Histórico de Fortaleza, passaram a se dirigir, cada vez mais, para os bairros nobres, da zona leste da capital, como a Praia de Iracema, Meireles e em especial a Aldeota, onde a ocupação foi mais regular, com lotes grandes, ruas largas e praças. É essa zona leste a cidade moderna e bonita, geralmente conhecida pelos turistas e divulgada pelos meios de comunicação e propaganda oficial. Para boa parte das elites, Fortaleza se restringe aquela área e adjacências, onde moram, trabalham e se divertem – as demais regiões são ignoradas. 

Vista da Aldeota - início da década de 1970 (Arquivo Nirez)

A Aldeota tornou-se o bairro mais valorizado da cidade, assistido de forma privilegiada pelo poder público, e apresentando uma boa infraestrutura de serviços, comércio e diversos equipamentos. Transformou-se num novo centro de Fortaleza, direcionado, porém às elites econômicas. Nos anos 1970 e na década seguinte, a Aldeota sofreu grande processo de verticalização. A extrema competição pelo solo dessa parte da cidade e a busca de comodidade e segurança, conduziram a mudanças no tipo de residências das elites: em vez de enormes residências ajardinadas – comuns nos anos 1950-60 – passou-se a morar em apartamentos. Os antigos casarões foram sendo demolidos, ante a especulação imobiliária, sendo erguidos grandes espigões para consultórios, escritórios e estacionamentos. 

 A valorizada região sudeste, ocupada em sua maioria por imóveis de alto padrão, também tem suas áreas carentes. Na foto, o Bairro Papicu, em primeiro plano, a Comunidade do Pau Fininho (foto de Rodrigo Paiva)

Com o adensamento populacional e de serviços na Aldeota e suas proximidades, e todos os seus inconvenientes, muitos dos moradores de alta renda começaram a procurar locais mais tranquilos para a sua habitação. Com a ausência de planejamento e controle do poder público, os agentes especulativos e imobiliários começaram a preparar novas áreas residenciais para aquele segmento social que preferiam habitar amplas e luxuosas mansões. Não raras vezes, tais setores adquiriam enormes terrenos, esperavam a valorização, construíam belos prédios, realizavam intensa propaganda para atrair eventuais compradores, vendiam ou alugavam as propriedades e obtinham lucros fabulosos.

Bairro Dunas. O nome do bairro conta sua origem: dunas que foram loteadas e ocupadas (foto de Rodrigo Paiva) 

Assim foi iniciada a ocupação dos bairros Cocó, Dunas, Papicu, Água Fria, Edson Queiroz, Parque Manibura, Cambeba e Alagadiço Novo, na região sudeste de Fortaleza, onde havia grandes terrenos disponíveis e destinados, anteriormente, ao uso rural. 

 Bairro Dunas área ainda sem urbanização (foto de Rodrigo Paiva)

Depois de receber moradores de alta renda, então os setores públicos e privados iniciaram a estruturação da área, elaborando planos, ofertando serviços, construindo grandes obras, vias e equipamentos urbanos. A transferência da sede do governo estadual deu mais ênfase à valorização dessa zona, que nesse começo de século XX se transformou num dos eixos mais dinâmicos da cidade. 

fonte:
Fortaleza: uma breve história
de Artur Bruno e Aírton de Farias

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Palacete Ceará


Em 1914 o banqueiro José Gentil Alves de Carvalho contratou a firma Rodolfo F. da Silva e Filho para construir o Palacete Ceará, um projeto de João Sabóia Barbosa. 
O prédio foi uma das obras mais representativas das primeiras décadas do século XX, período em que ocorre grande transformação na aparência arquitetônica da cidade e de inúmeras obras relevantes no centro de Fortaleza.
Por muitos anos o palacete abrigou no seu andar térreo o Rotisserie Sportman, restaurante, sorveteria, café e casa de chá de Efrem Gondim, e no andar superior, o Clube Iracema, que ocupou o local de 1922 a 1936.

 O Palacete Ceará ficou todo iluminado para comemorar o cinquentenário do Clube Iracema, que funcionava no andar superior

Em 1922 o palacete foi ampliado em dois blocos pelo lado da Rua Floriano Peixoto e o Rotisserie instalou um salão de bilhares. Também em 1922 a Academia Cearense de Letras instalou-se no Salão de Honra do palacete.
Na década de 1930 foi sede da Secretaria do Interior e Justiça do Estado. Em 10 de maio de 1946 a Caixa Econômica adquire o prédio vizinho (Palacete Fortaleza), esquina da Rua Guilherme Rocha com Rua General Bezerril. 


Com as transformações por que passou a cidade, principalmente depois do fim da última guerra, novas funções foram dadas ao prédio que acabou por ter uso degradado, sofrendo, em consequência, algumas intervenções nos interiores. Finalmente foi adquirido pela Caixa Econômica Federal em 1945, que adaptou às novas funções, instalando ali sua agência centro.

O Palacete Fortaleza também foi adquirido pela Caixa Ecônomica Federal. Fica vizinho ao Palacete Ceará, na Rua Guilherme Rocha esquina com a General Bezerril. (foto Fátima Garcia) 

 Palacete Ceará e sua aparência atual (foto Tarcísio Garcia)

Em 1982 o prédio foi quase totalmente destruído por um grande incêndio, restando apenas sua fachada. Chegaram a planejar sua demolição para levantar um prédio moderno, mas diante dos protestos de vários segmentos da sociedade, os dirigentes da Caixa reconsideraram e o Palacete Ceará foi restaurado dois anos depois, sob a supervisão de um arquiteto do IPHAN.  
Está localizado na esquina das Ruas Floriano Peixoto e Guilherme Rocha, na Praça do Ferreira.
Tombamento Estadual de 1983

fotos antigas do Arquivo Nirez