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sexta-feira, 17 de maio de 2024

As Ruínas da Cidade

 

Fortaleza é a cidade onde o poder público não investe na recuperação de bens que precisam de manutenção ou reparação. A filosofia é deixar se degradar até o ponto de não ter mais como restaurar. Ai, acham a solução final. Abandonar ou mandar demolir. Não é uma questão da mentalidade desse ou daquele gestor, é uma prática danosa generalizada; é a cidade onde não existe nenhuma preocupação com a preservação de qualquer bem que possa vir a ser identificado com a formação da cidade. Conseguimos criar uma cidade sem memória, sem passado, sem história. Devido à condição de cidade moderna, não são toleradas estruturas ou edificações que lembrem seu hábitos ou usos passados. Primeiro passo é abandonar, fazer de conta que não existe.  Abandonados estão o Farol do Mucuripe, a Ponte Metálica, a Ponte dos Ingleses, a Escola Jesus, Maria José, as Caixas d’água da Praça Clóvis Beviláqua.    

Abandonada foi a velha Ponte Metálica, primeiro porto de Fortaleza, equipamento que contribuiu decisivamente para o crescimento da cidade, quando os exportadores de couro e algodão aproveitaram a inauguração da estrada de ferro e passaram a embarcar seus produtos pelo porto de Fortaleza, em detrimento dos portos de Aracati e Camocim, que até então cumpriam esse papel.  Concluída em 1906, a ponte metálica foi o necessário porto de embarque de passageiros e cargas até 1947, quando começou a ser gradativamente desativada, à medida que entravam em operação os serviços do Porto do Mucuripe.



Ponte Metálica em 1935 e atualmente (imagens UWM Libraries e G1)

Para justificar a falta de investimentos no equipamento, deram-lhe o pomposo título de ruína histórica”, que no caso, equivale a cercá-la com tapumes para evitar o acesso de incautos e curiosos que insistiam em visitar o local. Em outros plagas, “ruínas históricas” são atrações turísticas devidamente preservadas, que rendem grandes recursos na medida que atraem visitantes. Viraram ruínas porque não existem mais os materiais originais de suas construções, nessa situação, restaurá-las significaria descaracterizá-las. No Brasil, por exemplo, uma das ruínas históricas mais visitadas estão no Rio Grande Do Sul, as ruínas dos “Sete Povos das Missões” cuja fundação pelos jesuítas remonta ao tempo das acirradas guerras entre portugueses e espanhóis pela conquista das terras onde hoje se localiza o Rio Grande; batalhas épicas, descritas na magnifica obra de Érico Verissimo “O Tempo e o Vento”; ou as ruinas do “Castelo Garcia D’Ávila”, construção de 1551,  em Praia do Forte, na Bahia. São ruinas/monumentos abertos à visitação, com acesso pago, aptos a contar uma parte importante dos primórdios desses Estados. No Ceará, ruína histórica é sinônimo de abandono e esquecimento.

Outros fadados ao apagamento são o farol velho do Mucuripe, e a Ponte dos Ingleses. O farol teve suas obras iniciadas em 1840, e concluídas em 1846. Foi construído com mão-de-obra escrava, passou por inúmeras reformas e foi desativado no fim da década de 1950. Por um breve período funcionou como sede do museu do jangadeiro, mas o projeto não vingou e o equipamento desde então ficou abandonado. Apesar do abandono, é tombado como patrimônio histórico do Ceará. 


Ponte dos Ingleses em 2012 e atualmente (imagens Fortaleza em Fotos e G1)


A Ponte dos Ingleses seria originalmente o porto de Fortaleza em substituição a Ponte Metálica, mas não chegou a ser concluída, portanto, não tinha uma função específica. Passou anos sem nenhuma função. Mas caiu bem como equipamento turístico, quando foi recuperada em 1994, como espaço de lazer. Virou point de encontro e de contemplação da cidade. O mais interessante é que já foi anunciado reiteradas vezes pelas mídias, que o poder público dispõe de recursos para recuperação de ambos, tanto do farol quanto da ponte. Já houve até disputa entre gestores municipais e estaduais para ver quem levava o privilégio de recuperar a Ponte dos Ingleses. Até agora, nada.



     Caixas d'água da Praça Clóvis Beviláqua (imagens Arquivo Nirez e Mapio)                            

As Caixas d’água localizadas na Praça Clóvis Beviláqua datam as duas mais antigas, de 1912, quando da implantação do sistema de abastecimento de água. Os reservatórios armazenavam as águas do açude Acarape do Meio. Ao lado está o pequeno edifício destinado ao escritório da administração O terceiro reservatório é da década de 1960. Com o crescimento de Fortaleza veio a necessidade de expandir o sistema de distribuição de águas, tendo as caixas d’aguas do Benfica sido desativadas. Hoje, tudo está abandonado: os reservatórios, o prédio da administração, as grades que as cercam.



Escola Jesus Maria José, na inauguração e atualmente (fotos Pinterest e Diário do Nordeste)

Já o prédio da Escola Jesus Maria José é um exemplar da arquitetura eclética tão em voga em fins do século XIX e início do século XX. A construção foi iniciada em 1902, sendo inaugurado 1905, numa iniciativa do bispo de Fortaleza Dom Joaquim José Vieira, para abrigar uma escola para meninos pobres ou órfãos. Merece ser recuperado em reconhecimento ao seu valor arquitetônico e histórico. 

publicação Fortaleza em Fotos/por Fátima Garcia 



quinta-feira, 7 de março de 2024

Fortaleza sem memória: a história se repete

 

A estratégia é a mesma: os imóveis mais antigos, passiveis de tombamento por possivelmente conterem elementos importantes para a história patrimonial ou para a arquitetura da cidade, são deixados de lado, sem nenhum tipo de manutenção, sem nenhuma cobrança aos seus proprietários, sem emprego de nenhum recurso que possibilite sua manutenção. Quando chegam a um ponto sem retorno, tamanha é a deterioração, e metade da população aprova a medida, por perceber o risco que representa, então é chegada a hora, é dado o grito heroico de redenção, que elimina riscos de desmoronamentos e esconjura moradores indesejados: derruba!


Nos anos 50 (imagem arquivo Nirez)

Como a estratégia não é nova, e o resultado tampouco, era de se esperar que o próximo da fila, fosse inevitavelmente o Edifício São Pedro, na orla marítima. O edifício construído no início da década de 1950, inicialmente não tinha pretensões de abrigar um hotel; a transformação decorreu de um encontro promovido pela Junta Comercial em Fortaleza, no qual a rede hoteleira não seria suficiente para atender a demanda por acomodações.

Assim foi inaugurado como Iracema Plaza Hotel, a primeira edificação da orla de Iracema, com a fachada inspirada em hotéis de Miami. Foi inaugurado ainda inacabado, pois faltava concluir o último andar, o sétimo. Todo o edifício era habitado, inclusive o térreo. Nas alas Leste e Oeste ficavam as entradas de acesso à parte residencial. Na parte Norte, de frente para o mar, funcionava o Iracema Plaza Hotel, ocupando os sete andares. Na área Sul, que tem acesso para a antiga avenida Aquidabã, atual Historiador Raimundo Girão, estavam os flats.


Em 2013 (imagem blog Fortaleza em Fotos)

Naqueles festejados anos 50, o edifício São Pedro era o mais alto da Praia de Iracema, chamava a atenção por sua fachada diferenciada que imitava o formato de um navio antigo, abrigava um hotel luxuoso, que atraía artistas e pessoas conhecidas para o local. No térreo, de frente para o mar, foi instalado o restaurante “Panela”, que durante muito tempo, serviu como ponto de encontro da elite local e de turistas que visitavam a cidade.


atualmente (imagem Portal GCMais)

A decadência começou aos poucos com a chegada na Beira-Mar de outros hotéis, mais luxuosos, mas condizentes com as novas diretrizes que a cidade pensava para o turismo. Com o tempo o hotel fechou as portas e o prédio continuou como residencial, mas bastante esvaziado e com a procura por apartamentos cada vez menor. Sem manutenção, ou novos investimentos por parte dos poucos proprietários, atingiu o caos e ofereceu a desculpa ideal para demolição. Fim da história. 

no cenário original da Praia de Iracema (imagem IBGE)
 

No local deve surgir mais um desses edifícios modernosos, os envidraçados que abundam em Fortaleza, que refletem a intensa luz solar nas suas paredes espelhadas, e ofuscam olhos, sentidos e confundem o senso estético. Mas essa é sempre a solução fácil encontrada para a cidade: demolir. Qualquer um pode fazer, nem precisa ser autoridade.  Nosso palpite de quem será o próximo a cair: antiga escola Jesus, Maria José, na Rua Coronel Ferraz.   


publicação www.fortalezaemfotos.com.br.

domingo, 18 de outubro de 2015

A Praça Figueira de Melo e o Conjunto Arquitetônico Tombado

O Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza aprovou, por unanimidade, o tombamento do conjunto arquitetônico que integra o Colégio da Imaculada Conceição, a Igreja do Pequeno Grande, a Escola Jesus Maria  José e o Colégio Estadual Justiniano de Serpa, localizados no entorno da Praça Figueira de Melo, no centro da cidade. Esse foi o primeiro tombamento do tipo em Fortaleza. De acordo com a instrução de tombamento, o entorno do conjunto conserva inúmeros imóveis do fim do século XIX e início do século XX que mantêm muitas características originais. Além disso, possui elevado interesse histórico e valor arquitetônico.


A própria Praça Figueira de Melo é tão antiga quanto os imóveis tombados. Sua construção data de meados do século XIX. Inicialmente recebeu o nome de Praça dos Educandos, em razão da existência de um colégio com essa denominação, dirigido pelo padre Antônio Nogueira Braveza. Mais tarde passa ser chamada de Praça do Colégio, quando em 1867 foi fundado o Colégio da Imaculada Conceição, que ocupou o mesmo imóvel da antiga Casa dos Educandos.  Depois, em 1879, por proposta do vereador João Moreira, recebeu o nome de Senador  Figueira de Melo, depois simplificado para Praça Figueira de Melo, em 1932. 

A Praça Figueira de Melo está localizada entre a Avenida Santos Dumont, e as ruas Coronel Ferraz, Franklin Távora e 25 de Março. No centro encontra-se o busto em bronze do ex-presidente do Ceará (1920-1923), e patrono da antiga Escola Normal, Justiniano de Serpa.

O homenageado Jerônimo Martiniano Figueira de Melo nasceu em Sobral em 1809. Formado em Direito em 1832, ocupou os seguintes cargos: Juiz de Direito, Secretário do Governo de Pernambuco, Presidente do Maranhão, Juiz dos Feitos da Fazenda, Chefe de Polícia de Pernambuco, Chefe de Polícia do Rio de Janeiro, Desembargador do Tribunal do Rio de Janeiro, Presidente do Rio Grande do Sul e Ministro do Supremo Tribunal. Foi Deputado Provincial de Pernambuco, Deputado Geral por Pernambuco e pelo Ceará e Senador do Império pelo Ceará. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de agosto de 1878.

O Conjunto Arquitetônico

Colégio da Imaculada Conceição




O Colégio da Imaculada Conceição instalou-se em 1867 no prédio onde atualmente se encontra – a antiga Casa dos Educandos – que havia sido construída para servir de asilo a meninos pobres, mas que fora fechada por falta de recursos para sua manutenção. Uma ajuda financeira oferecida pelo então Presidente da Província, possibilitou que as irmãs adquirissem o prédio.  Ocupa toda a quadra situada entre as ruas Coronel Ferraz, Costa Barros, 25 de março, e a Avenida Santos Dumont,  integrando na confluência das Avenida Santos Dumont, com a rua Coronel Ferraz, a Igreja do Pequeno Grande.

Igreja do Pequeno Grande 

A pedra fundamental foi lançada em 1896, pelo Padre Chevalier, como capelão do Colégio. As obras sofreram paralisação um ano depois, sendo reiniciadas em 1898, até sua conclusão em 1903. Com doações das próprias irmãs e de diversas instituições foram obtidos os recursos para as obras. A estrutura metálica foi trazida da Bélgica, e a montagem esteve a cargo do mestre de obras Deodato Leite da Silva. A planta da igreja consta de nave única, com pórticos de perfiles metálicos em forma de H que formam sua estrutura de coberta; o telhado com inclinação acentuada, forma um ângulo bastante fechado dando um teto pontiagudo, pouco comum em nossa arquitetura.


Em estilo neogótico, a Igreja do Pequeno Grande foi construída para  substituir a pequena e antiga capela do Colégio da Imaculada, ainda hoje de pé.Tanto o Colégio da Imaculada Conceição quanto a igreja do Pequeno Grande têm as fachadas principais voltadas para a Praça Figueira de Melo, e sua arborização, com muros e gradis criam pequenos espaços privados de recuo em relação à calçada para permitir um acesso mais resguardado aos edifícios.

Escola Jesus Maria José

A construção do prédio foi iniciada em 14 de setembro de 1902, sendo inaugurado em 22 de janeiro de 1905, numa iniciativa do bispo de Fortaleza Dom Joaquim José Vieira, para abrigar a Escola Jesus Maria José, para meninos pobres.  A administração ficou a cargo das irmãs Vicentinas do Colégio da imaculada Conceição, auxiliadas por órfãs. Tinha capacidade para 350 alunos, e inicialmente foram matriculados entre 250 e 300 alunos, em 1906. A  construção foi administrada pelo Monsenhor Vicente Pinto Teixeira. O prédio da antiga Escola,  exemplo da arquitetura eclética tão em voga em fins do século XIX e início do século XX, encontra-se em péssimo estado de conservação.


O imóvel de propriedade da Arquidiocese de Fortaleza, está localizado entre as ruas Coronel Ferraz e Visconde de Saboia e o início da Avenida Santos Dumont. Voltada para a lateral da Igreja do Pequeno Grande, o destaque das alas laterais do edifício, permitem à fachada principal um recuo em relação à calçada. Atualmente, o edifício está devoluto e a área de recuo é ocupada como estacionamento, no entanto este espaço foi, no passado, murado, permitindo um acesso resguardado à semelhança do que acontece com o Colégio da Imaculada Conceição.

Colégio Estadual Justiniano de Serpa, antiga Escola Normal Pedro II


Começou a ser erguido em 11 de agosto de 1922, projeto do Engenheiro  José Gonçalves da Justa, na gestão do Presidente Justiniano de Serpa, mas inaugurada em parte, pelo seu sucessor  (faleceu o Dr. Serpa em 1 de agosto de 1923),  Ildefonso Albano. A conclusão do edifício verificou-se no governo do interventor Roberto Carneiro de Mendonça (1931-1934). Mais tarde, teve o nome de Instituto de Educação Justiniano de Serpa.

O imóvel possui localização privilegiada, no centro da Praça Figueira de Melo, entre a Avenida Santos Dumont, e as ruas 25 de Março, e Coronel Ferraz. Envolvida por arborização, a escola desfruta de um ambiente tranquilo, que ameniza os ruídos e outros inconvenientes da inserção urbana.


fontes:
ofipro
prefeitura de fortaleza
Praças de Fortaleza, de Maria Noélia Rodrigues da Cunha
Descrição da Cidade de Fortaleza, de Antônio Bezerra de Menezes
fotos antigas do arquivo Nirez
fotos novas de Rodrigo Paiva - out/2015

segunda-feira, 18 de março de 2013

Prédio da Escola Jesus Maria José



A construção do prédio foi iniciada em 14 de setembro de 1902, sendo inaugurado em 22 de janeiro de 1905, numa iniciativa do bispo de Fortaleza Dom Joaquim José Vieira, para abrigar a Escola Jesus Maria José, para meninos pobres.  A administração ficou a cargo das irmãs Vicentinas do Colégio da imaculada Conceição, auxiliadas por órfãs. Tinha capacidade para 350 alunos, e inicialmente foram matriculados entre 250 e 300 alunos, em 1906. A  construção foi administrada pelo Monsenhor Vicente Pinto Teixeira.

Abandonado, o prédio tem suas estruturas comprometidas, tanto que amarrações de madeiras foram instaladas na  Rua Coronel Ferraz. 

O prédio, de propriedade da Arquidiocese de Fortaleza,  abrigou uma loja de máquinas agrícolas, os estúdios da Rádio Assunção e a Casa Paroquial da Catedral da Sé. Em 1979 abrigava os cursilhos e o secretariado da Arquidiocese; em novembro recebeu provisoriamente parte do Fórum Autran Nunes, e também foi sede do Jornal O Nordeste.


A partir de 1980 abrigou a Escola Nossa Senhora Aparecida, fundada em 1963, que promovia a qualificação de empregados domésticos.  A Escola passou a funcionar no salão paroquial e passou a ser administrada pela Paróquia da Catedral de Fortaleza.
O prédio, é tombado, mas nunca foi recuperado.  Quando o imóvel tombado é de propriedade privada, como é o caso da escola, não é papel da Prefeitura de Fortaleza recuperá-lo e sim do proprietário, de acordo com informações da Coordenação de Patrimônio Histórico da Secultfor.



O prédio da antiga Escola,  exemplo da arquitetura eclética tão em voga em fins do século XIX e início do século XX, aguarda até hoje providências de restauro, cujo processo anda a passos lentos. Enquanto isso, o teto do imóvel caiu e as paredes estão ancoradas por estacas. O prédio é um exemplo do descaso.


o Imóvel foi cedido à Prefeitura em regime de comodato por meio de acordo, firmado em 2008, pelo qual a prefeitura se prontificava a restaurá-lo e mantê-lo por 20 anos. Quando de seu tombamento, em 2006, a expectativa era de que a obra de restauro do prédio começasse ainda em 2007. Fica na Rua Coronel Ferraz, n° 120.


Fontes:
Caminhando por Fortaleza, de Francisco Benedito
jornal Diário do Nordeste
fotos de Ricardo Vianna em março de 2013